História O castigo de Athena - O encontro

Enfim me deparei com ele, aquele que seria o meu esposo. Ele estava sentado em uma espécie de trono e usava uma túnica azul escuro e uma máscara no rosto. A julgar por suas mãos e seu corpo, ele não deveria ser tão velho quanto eu pensava. Mas o choque mesmo foi ao ouvir sua voz.

- Athena, seja bem vinda!

Sua voz era grossa e suave. Ele levantou-se e retirou a mascará que utilizava. Juro, jamais pensei que encontraria um homem tão bonito. Ele era alto, de longos cabelos azuis e seus olhos eram azuis ou verdes? Olhei para o lado e vi Kanon, que sorria discretamente, e voltei a olhar para ele. Eles eram gêmeos idênticos. A única diferença era que o meu noivo, ao contrário do irmão, tinha um semblante calmo e sereno o que o deixava ainda mais belo.

Meu coração começou a bater de forma acelerada quando ele veio em minha direção e estendi minha mão para cumprimentá-lo, mas ele se ajoelhou e pegou minha mão e a beijou. Senti que poderia derreter mas mantive a pose. Ele se levantou e cumprimentou meu avô com um aperto de mão e então nos convidou para nos retirarmos para a sala ao lado. Os demais cavaleiros haviam se ajoelhado perante ele ao entrarem no templo, inclusive o seu irmão Kanon e ele pediu para que eles se levantassem.

Eu segui junto do meu avô enquanto entravamos em uma sala de estar. Tudo naquele lugar parecia imponente. Ele se virou e fez um gesto para nos sentarmos e senti que ele me encarava. Ele estava sentado de frente para nós e pediu a umas das servas que trouxessem bebidas e lanches.

- Então Athena, mais uma vez reitero que seja bem vinda em nosso lar. – disse ele.

- Então Mestre, me surpreendi ao ver o Senhor retirar a máscara – dizia meu avô – afinal você é bem jovem.

- Me chame de Saga, Senhor Kido. Esse é o meu nome. E bem, não sou tão jovem quanto alguns cavaleiros, nem tão velho quanto o antigo mestre Shion.

- Quantos anos você tem? – eu perguntei de repente sendo dominada pela curiosidade.

- 28, Athena.

- É estranho verem todos a chamando por Athena – continuou meu avô – no Japão a chamamos de Saori.

- Para nós, ela é nossa divindade, a reencarnação da deusa Athena que juramos proteger e honrar. Espero que você não se incomode e se acostume em ser chamada assim, Athena.

Eu não conseguia dizer quase nada. Só acenava com a cabeça e o olhava. Então Saga (esse era o nome dele) tinha 28 anos, ou seja, um homem feito e com responsabilidades de Grande Mestre daquele lugar e daquelas pessoas tão jovem. Meu avô e ele conversavam sobre assuntos de administração e política e pude observar que Saga era um homem instruído. De repente meu avô tocou no assunto que eu tanto temia, o casamento.

- Bom Saga, não vou negar que eu estava preocupado de ter que entregar minha neta para você, uma vez que não sabíamos nada ao seu respeito, mas agora acho que você pode fazê-la feliz.

Ele não respondeu de imediato. Ele me encarou e parecia pensar no que iria responder. Me assustei quando ele me perguntou.

- Qual é a sua opinião sobre o casamento Athena?

Bom, o que eu poderia responder a ele? Que eu não queria nada daquilo, que minha vida parece ter virado um inferno desde que descobri que era uma divindade e piorou ainda mais quando descobri que estava sendo obrigada a me casar com um homem que eu nem mesmo conhecia. Eu já estava ponderando o que iria responder, quando vejo uma “serva” entrar para servir as bebidas. Até aí nada de mais, mas não me passou despercebido o olhar fulminante que ela me dava. Ela nos serviu e pude observar que ao servir Saga ela direcionou um sorriso para ele. Ele não pareceu perceber. Ela era muito bonita, com longos cabelos loiros e um bonito corpo. Será que ela gostava dele? Ou pior, será que eles tinham um caso? Isso eu não iria aceitar. Sem perceber respondi:

- Estou de acordo. E qual a sua opinião, Saga?

Não sei por que eu havia respondido aquilo. Vi o olhar da mulher, que permanecia colocando alguns lanches sobre a mesa se assustar e suas mãos tremerem de leve. Sim, internamente eu estava a desafiando. Vi também quando o meu avô me encarou e deu um leve sorriso e Saga também deu um imperceptível sorriso, que pode ter passado despercebido para os outros e não para mim.

- Bom – começou ele – assim como você também estou entrando neste casamento por decisão que não foi minha, mas que aceitei quando o antigo mestre me informou que essa era a vontade de seu pai. E como seu cavaleiro, leal a você irei cumprir o que você designar Athena.

- Entendo – respondi o encarando. De repente percebi algo em sua fala – Espera, você também é um cavaleiro?

- Sim. Sou o cavaleiro de ouro de Gêmeos.

Como eu não havia juntado as peças: Kanon era irmão do cavaleiro de gêmeos, eles disseram que eu encontraria o tal cavaleiro na casa do Grande Mestre e ele é o “chefe” de Aioros. Ele prosseguiu:

- Então, uma vez que você está de acordo com o casamento para qual data você sugere?

- Eu não sei... o que você acha? Vovô?

- O que acham de marcarem para daqui a 30 dias? – sugeriu meu avô.

- Por mim, tudo bem. – respondeu Saga.

Eu não imaginava que seria tão rápido. Mas agora não tem mais jeito. E a olhar que a loira me dava era um olhar indignado.

- Ok, então será daqui a 30 dias. – respondi.

- Senhor Kido eu poderia ter um minuto a sós com Athena? – perguntou Saga.

- Sim, claro... claro.

- Você também Katya – disse Saga a mulher loira.

Então esse era o nome dela. Katya. Vi meu avô e serva sair. Saga me convidou a ir até um jardim que uma daquelas imensas portas levavam. Ficamos andando lado a lado e nos sentamos em um banco abaixo das sombras.

- Você tem certeza de que é isso que você quer Athena? – ele me perguntou. Senti dúvida em sua voz.

- Não tenho escolha, tenho?

- Se você não quiser esse casamento não vou te obrigar.

- Você sabe que se não nos casarmos haverá uma grande guerra com Zeus. – eu disse olhando as flores ao redor – Diga-me Saga, você realmente quer esse casamento?

Ele parecia surpreso com minha pergunta, mas sua resposta foi firme.

- Sim.

- E a Katya? – eu disse sem pensar.

- O que tem ela? – ele realmente estava surpreso.

- Me pareceu que ela tem um grande interesse em você, Gêmeos. E eu já vou avisando, se realmente quiser esse casamento, termine com ela.

Ele soltou uma gargalhada que me deixou sem reação. Ele estava zombando de mim? Me levantei possessa de raiva e já estava me retirando quando senti ele segurar meu pulso. Eu o encarava e ele olhava para mim com olhos sérios.

- O que você quer Gêmeos?

- Eu não tenho nada com a Katya. Que fique bem claro!

Minha cara deve ter sido de ironia pura, por que ele viu que eu não estava acreditando.

- Fique sabendo que ao me tornar cavaleiro de Gêmeos tive que fazer votos de castidade, uma vez que Shion já tinha intenção de me indicar a Mestre do Santuário e desde então vivo como um celibatário. Eu sempre te respeitei Athena.

Aquilo me sensibilizou de uma forma profunda. Aquele homem, se estivesse realmente falando a verdade, também abriu mão de sua vida e continuaria a abrir.

- Por que fez isso?

- Vamos nos sentar que eu vou te contar.

Nos sentamos novamente no banco e eu o fiquei encarando.

- Bom, vou começar pelo começo. Quando eu e Kanon chegamos ao Santuário não foi como os demais. Shion nos contou que como estrelas cadentes aparecemos aqui no Santuário, na casa de Gêmeos. Fomos os primeiros cavaleiros da nossa geração. Shion então nos treinou e aos 10 anos eu fui o escolhido pela sagrada armadura de Gêmeos. Mas aquela escolha teve um custo. Depois de receber a sagrada armadura, Shion me informou que ao nascer, havia um Lemuri, que é uma personalidade maligna, junto a nós. Ele o matou, mas antes de morrer o Lemuri lançou uma maldição, dizendo que o escolhido pela armadura seria dominado por um lado maligno ao se envolver com uma mulher. Foi então que tive que jurar castidade. Quando você chegou, vi seu pai chamar Shion para uma conversa. 3 anos depois foi que descobri que Zeus disse que você deveria se casar com o próximo grande Mestre e que esse homem seria eu, e que, seu eu me envolvesse com você estaria liberto da maldição. Essa maldição na verdade foi por ser acusado de ter tirado sua castidade em uma reencarnação passada. Eu ainda tenho um lado maligno em mim, mas até hoje sempre consegui manter o controle. Por isso, posso te dizer, nunca tive nada com Katya ou qualquer outra mulher Athena. Eu sempre respeitei o nosso compromisso.

Ok, eu acreditei em tudo que ele dizia. Senti a verdade em suas palavras. Ficamos sentados sem dizer uma única palavra, apenas olhando as flores balançarem ao vento.

- Bom, te vejo no casamento. – eu disse quebrando o silêncio.

Com isso ele me olhou e de repente me assustei ao sentir ele beijar meu rosto.

- Nos vemos no casamento.

Nos levantamos e tudo o que eu conseguia pensar era no suave beijo que ele depositou na minha bochecha e o sorriso que me deu antes de entrarmos novamente. Tá ok, eu o havia achado lindo, educado e tudo mais, mas eu não o amava. Não iria me entregar a um homem que não amasse. Mas também não me senti mais tão mal com a perspectiva do casamento.

Ao entrarmos, finalizamos alguns detalhes do casamento e voltamos para a primeira sala, onde os cavaleiros de outro ainda estavam e Saga fez o anuncio sobre a data do casamento. Todos sorriram e comemoraram. Bom, pelo menos aquelas pessoas estavam felizes, exceto Katya, claro. Me despedi de Saga e eu e meu avô voltamos para o Japão.