Passou-se a tarde. No Galaxy S9 de Daniel marcava 16:55, ele e Becca estavam à espera de Yamato. Daniel já tinha entregue a fita para Trevor antes aproveitando a tarde livre.
- Está quase na hora. – disse Daniel.
- Será que ele vem mesmo? – perguntou Becca tomando água.
- Acredito que sim. Mandei mensagem a ele, e ele respondeu que estava a caminho.
Lá fora começava a chover de forma tímida.
- Ishi! Lá vem a chuva! – Becca preocupada.
- Tomara que ela não atrapalhe os planos do Yamato.
Logo a campainha toca, e Julia descia as escadas como um raio se aventurou em abrir a porta.
- Deixa que eu abro. – Julia disse.
Ao abrir, notou um senhor de paletó marrom com olhar frio e sério contrastando com alguns raios cortando o céu de Astoria. Por um instante, os dois se encararam e uma estática de energia pairou entre eles, como que se estivessem medindo forças, Julia fria e olhos esboçando emoção nenhuma e Yamato com olhar compenetrado e visivelmente mais agitado, uma troca de piscadas foi o suficiente para perceber quem podia mais. Daniel percebeu sua chegada.
- Professor Yamato! Entre por favor!
- Vou para meu quarto. – Julia se retirando.
Yamato entrou assim que Julia saiu de cena, e com dificuldades pois quase titubeou.
- Essa é minha irmã Julia. Está tudo bem?
- Está sim! Só uma leve tontura.
- Deixe que estendo o guarda-chuva. – Becca ofereceu ajuda.
Becca guardou num canto que não atrapalhasse.
- Quer um pouco de café para esquentar? – perguntou Daniel.
- Não, obrigado. – agradeceu Yamato já indo na direção dele. - Vamos ao que interessa.
Ele vai até Daniel que estava já sentado perto de frente para a TV segurando a fita.
- Está com a fita?
Daniel mostra em destaque, Yamato olha com certa emoção e tensão porque já conhecia a sua história, porém, nunca se aventurou na maldição. Lembrou logo de seus amigos que partiram desta vida por não sobreviverem após os sete dias. Ele a segura em suas mãos, e sente uma onda negativa e de pura maldade emanando desse simples objeto, chega a desviar os olhos e devolve rapidamente a ele.
- Isso é mais do que uma maldição. É a pura manifestação do mal.
- Eu sei como é. Esta semana está sendo diferente das outras para mim, mais longa, mais difícil, mais extenuante.
- Ligue a TV e o cassete.
Daniel fez isso.
- Como que vamos fazer?
Becca voltava para sala para escutar como seria feito o processo.
- Você asseste ao vídeo, e eu vou tentar sentir pela minha ESP o que realmente vejo ou sinto.
- Mas, não é perigoso? E se você for amaldiçoado também?
- Eu não vou ver as imagens do vídeo. Eu vou ficar de costas de olhos fechados apenas com minha mão sobre seu ombro canalizando a energia que sair de você ao observar as imagens.
- Hum, entendi. Porém, professor, e se for intenso demais?
- O que intenso demais? – Yamato perguntou curioso.
- A fita.
- ... Vamos ver ao quanto.
Yamato repara Becca curiosa ouvindo toda a conversa.
- Se quiser participar disso, pode vir. Sei que está doida para vivenciar uma experiência como essa.
- Você leu minha mente de novo? – Becca perguntou irritada.
- Não, só foi uma opinião.
Becca vai até ele com cara de poucos amigos.
- Agora, fique de costas como eu e feche os olhos e segure na minha outra mão.
Becca obedeceu segurando a mão dele e fechando os olhos.
- ... Podemos? – perguntou Daniel.
- Sim, ah, só mais uma coisa.... – disse Yamato.
Logo sem virar a cabeça e o olhar ele diz:
- ....Ah, Julia. Se quiser ir à cozinha beber água, vá logo!
- Hum? – Julia percebeu que foi descoberta.
Logo todos olharam, Julia estava meio que escondida no topo da escada parecendo espioná-los lá de cima.
- JULIA! O que faz bisbilhotando aí de cima? Isso é um momento muito sério e não quero que veja! Volte para seu quarto agora! – disse Daniel irritado.
- Desculpa! Eu só queria tomar água.
- Então vá depressa!
Julia bateu o recorde, desceu, abriu a geladeira, bebeu água e guardou de volta na geladeira em menos de 15 segundos, e foi retrocedendo para cima, mas a passos vagarosos encarando eles do patamar da escada.
- Se acelerasse os passos, eu agradeceria. – ironizou Yamato sem olhar.
- Julia... – alertou Daniel ameaçando gritar.
Becca foi a única a não se irritar com a presença dela ali, talvez ou por tentar defender a raça ou sentir mais compaixão do que autoritarismo e arrogância dos rapazes ali. Julia finalmente voltou ao seu quarto.
- Agora podemos ir. Fechemos os olhos Becca. Pode rodar, Daniel.
E lá se foi Daniel encarar novamente os dois minutos mais angustiantes de sua vida. Apertou o play e a fita começou a rodar a maldição. 15 segundos. O círculo surge na tela, meio que branco e brilhante.
O círculo... – começou a relatar Daniel.
Yamato sentia e “via” através das sensações, Becca também via o círculo, mas os dois não viam da mesma forma que Daniel, e sim por energias e ondas propagadas em suas mentes que lembravam o círculo. Passaram-se segundos e Daniel retratou outra imagem. 27 segundos.
- A cadeira...
Yamato parecia estável e tranquilo. Aos 33...
- A mulher se penteando no espelho... – disse o professor.
Instantes depois a imagem de uma garotinha se afastando.
- A garotinha. – relatou Becca.
- A mulher sorrindo para ela. – disse Daniel.
45 segundos.
- Um penhasco e uma mosca “circulando” a paisagem. – Yamato sentiu.
A partir dos 50 segundos, imagens bizarras surgiam como a da corda sendo puxada da boca, dedos decepados numa caixa e se mexendo, um dedo sobre a ponta de um prego, cortes na pele, aí Yamato sentiu sensações estranhas, e Becca também, uma súbita dor de cabeça. Aos 1:13...
- Vermes se transformando em pessoas nadando sem rumo amontoadas umas nas outras. – disse Daniel.
1:22... 1:23... 1:27.... 1:29...
- O olho de um cavalo. – disse Yamato.
- Uma árvore em chamas. – disse Becca.
- Alguém sufocado numa sacola plástica. – relatou Daniel.
- A mulher olhando diretamente para você. – disse Becca.
- MMMRRRR... GGGRRRR... – Yamato reagindo as dores.
Yamato começava a demonstrar sinais de fraqueza sensorial, logo começou a apertar o ombro de Daniel e Becca sentindo mais dor de cabeça agora sendo mais forte. 1:37...
- Ca... Cavalos... m-mortos ao mar. – disse Yamato sentindo uma dor extrema.
1:41...
- GGGRRRR... A... mulher.... se jogando... do... preci-pício. – Becca rangendo os dentes tentando segurar a dor.
1:52...
- AAAAAHHH! – grita de dor Yamato.
- Não consigo aguentar mais! – Becca quase desmaiando.
- O poço. – relatou Daniel.
Segundos depois a imagem desaparece. Num momento que lá fora caía um raio, Yamato larga a mão de Daniel ele quase desmaia e Becca bota suas mãos na cabeça tombando a mesma para o chão.
- AI MINHA CABEÇA! QUE DOR! – Becca reclamando de dor.
Daniel tirou a fita e foi socorrê-los.
- Professor! Becca! – Daniel preocupado.
- Tudo bem! Está tudo bem! Vai passar! Becca, não se preocupe! Essa dor vai passar! – tranquilizou Yamato.
Os dois sentindo extrema dor, mas logo depois iam recuperando a consciência e iam melhorando gradativamente.
Querem um copo de água? – ofereceu Daniel.
- Por favor. – pediu o professor.
- Traz pra mim também. – clamou Becca.
Daniel foi para cozinha pegar um jarro e dois copos, e Julia do alto da escada observou toda aquela cena de dor deles e voltou para o quarto. Daniel retorna oferecendo água.
- Aqui! Tomem!
- Obrigado. – agradeceu Yamato.
- Ai, que sensação de dor horrível foi aquela? – Becca perguntou com a mão na testa.
- Por isso tínhamos que ficar de olhos fechados. Mesmo sentindo por ondas e energias sensoriais, eu nunca vi nada parecido como esta fita. Ódio puro! Maldade que só vai crescendo com o decorrer das cenas.
- E as imagens professor, conseguiu entender o que elas possam significar? – Daniel curioso.
Yamato tomava outro gole de água que Daniel sem hesitar ofereceu na hora.
- Sinceramente... Nada que eu possa sintetizar e canalizar numa lembrança. É como se fosse várias peças de um quebra-cabeça misturadas aleatoriamente sem sentido, onde não tem como encaixá-las porque não temos uma direção uma peça que mostre por onde desencadeia o encaixe perfeito.
- Entendo. – o garoto lamentou.
- Se não minha retrocognição teria funcionado e aí sim poderíamos ter pistas do que estas imagens realmente significam.
Becca assentiu com a cabeça concordando com ele.
- Sem isso, é como nascer sem digitais.
- Então, quem fez essa fita? De onde ela veio?
- É como disse antes:
_ Esta fita não foi feita por mãos humanas. E isso é algo que terão que descobrir por vocês mesmos. Desculpe.
- Yamato, não teria nenhum resquício ou indício de qual imagem a gente poderia pesquisar para reformular um quebra-cabeça sem sentido como este? – Becca tentou dar um fio de esperança ao seu namorado.
- ... Não sei. Realmente não sei.
Ele se levanta e se recosta na parede pensando. Os garotos também.
- E olha que sou bom em Shogi.
- O que é isso?
- A versão japonesa do xadrez que conhecemos. Onde devemos capturar o rei adversário dando o xeque-mate. – Daniel definiu.
- Viciado em Naruto você.
- Estratégia sempre é o ponto crucial para qualquer batalha.
- Desculpe interromper este debate, mas, respondendo sua pergunta Becca, se eu fosse um amaldiçoado tendo ao meu dispor imagens bizarras como estas, tentaria pela mais lógica e simples. A imagem da mulher e da menina no espelho. – opinou Yamato.
- A menina. Eu já tive uma visão dela. Hoje. No quase acidente lá na rua.
- Ela chegou a te atacar ou algo parecido?
- Não. Ela estava parada na rua quando o mesmo Volvo que quase pegou Ryajy ia passar por ela na minha visão.
- Será que elas tem algum tipo de ligação? Tipo amaldiçoadas também? – questionou Becca.
- Amaldiçoadas não. Diria mãe e filha talvez. – contemporizou Yamato.
Os dois o encaram com uma certeza e confiança nos olhos.
- É só uma probabilidade.
- Tudo bem. Vou conversar com o Trevor pedir algumas pesquisas a ele, ver se acha alguma informação sobre elas. – Daniel levando esperanças em seu amigo.
- Bom. Meu trabalho está feito. Agora é com vocês.
- Vou acompanhá-lo até a porta.
Yamato agradeceu. Ao abrir a porta estava chovendo muito forte. Quase chuva de vento.
- Quer esperar a tempestade passar?
- Não! Obrigado! Estou de carro, e tenho que ver como está Ryajy. Se ele já recuperou totalmente.
- Tudo bem.
- Arigatô! Se cuidem! E boa sorte!
- Obrigado!
- Tchau professor. – disse Becca.
- Ah, Daniel. Pegue um pano.
- Por quê?
- Seu nariz está sangrando.
Daniel sentiu algo escorrendo e passou o dedo, e viu que era verdade. Yamato pegou seu carro e saiu, Daniel fechou a porta e Becca já voltava com um pano limpando o nariz dele.
- Obrigado!
- Será que é da maldição também?
- Sem dúvidas.
- Caramba! Essa chuva está muito forte para ir embora!
- Espere um pouco, quando passar te levo até em casa de carro. Mande uam mensagem para seus pais dizendo que vai aguardar a chuva passar.
- Qualquer coisa eu falo que vou dormir aqui.
- Sério? –perguntou sorridente.
Becca percebeu o entusiasmo do garoto após dizer isso, chegou perto dele e cochichou:
- Quem sabe hoje você não descubra minha tatuagem tribal.
E sai para lavar o pano. Daniel era só o sorriso de orelha-a-orelha. Em algum lugar da cidade, uma jovem chamada Karen chegou em casa do seu serviço após um estressante dia de trabalho. A única coisa que ela queria era um senhor banho relaxante em sua banheira. Jogou sua bolsa no sofá e ligou a TV para ver o que se passava. Noticiários sobre roubo, crimes e mortes, nada fora do comum. Logo seu celular vibra. Ela olha no visor e percebeu que era de uma amiga sua.
- E ae Vic. Loira bandida.
- Já chegou em casa?
- Ainda bem, graças a Deus. Ô dia que parecia não terminar.
- E com seu chefe te azucrinando no ouvido, suponho.
- É. E falei ainda com ele que uma hora dessas vou acabar morrendo e ele vai ter de achar outra para me substituir.
- Ficou sabendo da morte de Sarah?
Ela senta no sofá para relaxar e descansar um pouco.
- É. Fiquei sim.
- Você vai no velório dela?
- Sim. Mas estou tão abalada que nem sei.
- Diz a polícia que ela foi encontrada com o rosto todo desfigurado.
Logo Karen levanta num pulo.
- Como assim, desfigurado? – Karen perguntou desconfiada.
- Não só ela, mas seus pais também. O corpo da mãe foi encontrada a caixa d’água. Há boatos sobre o tal vídeo amaldiçoado que ela tinha assistido.
Karen não dizia nada.
- ... Karen? Você está aí?
- ... Preciso tomar um banho. Depois a gente se fala.
- ... Tudo bem. Cuidado para a menina dos cabelos pretos não te pegar hein. – disse Vic rindo.
Karen desliga depois dessa, com uma cara de paisagem e perdida, esboça uma preocupação súbita e medo repentino. Vai para cozinha tomar um copo de água, trêmula um pouco ainda pela notícia. Do nada, engasga e quase caiu no chão, se apoia na beirada da pia. Como se tivesse algo agarrado na garganta põe a mão na goela e sente algo e começa a puxar. E vai saindo algo preto e ela continua puxando, não era coisa pequena, parecia uma corda preta, ela continua puxando e o engasgo não parava. Até que ela finalmente conseguiu tirar tudo, e joga no chão, para seu espanto era um pedaço grande de cabelo preto. Molhado, mas molhado mesmo. Em seguida a torneira se abre sozinha e começa a cair água, Karen assustada fecha rapidamente, mas percebe algo saindo da boca da torneira. Uma mosca. Despretensiosamente ela sai voando, para o espanto da jovem.
- Essa não! É real! Aquilo é real!
De repente, um barulho de chiadeira vindo da sala, Karen lentamente vira seu pescoço já imaginando o pior, era da sua TV vindo o barulho, ela vai até lá e percebe que estava fora do ar e vazando água, ela instintivamente pega o controle e tenta desligar, não consegue. Se agacha e vai na parede tirar da tomada. Deu certo. Porém, ouve uma voz lhe chamando.
- Kaaaaaaaaaareeeeeeeeennn...
Ela olha para cima e tenta perceber de onde veio.
- Quem está aí? – perguntou desnorteada.
Logo um barulho vindo de sua bolsa, ela volta o olhar e percebe que tinha algo de dentro dela se remexendo. Vagarosamente ela vai até lá e observar, o fundo da bolsa e laterais estavam movimentando como se algo ou alguma coisa estivesse viva, Karen colocou a mão no zíper e foi abrindo devagar, com toda sutileza e medo que tinha. Ao terminar de abrir olhou para a bolsa, estava um repleto breu, escuro. Em seguida um olhar esbranquiçado surge nesta escuridão encarando Karen e do nada um braço mais branco ainda agarra a boca de Karen fazendo surgir o mal perante aos seus olhos.
- AAAAAAAAAAAAAAAHHHH... – gritou de forma agonizante.
Karen acorda gritando e se levantando num pulo do sofá, respirando fundo. Viu que a TV estava sintonizada, sua bolsa não se mexia e ela estava viva.
- Graças a Deus! Foi só um pesadelo! Devo ter adormecido no sofá. Vou tomar um banho.
Pegou sua bolsa e foi para seu quarto tirar a roupa. Relógio marcava 19:10. Karen de toalha foi ao banheiro, deixando seu celular na pia. Abriu a torneira esperando encher na medida certa. Aproveitou e viu se tinha mensagens no whats, embora houvesse bastante, ela não queria nada mais do que saborear a água da banheira. Se encarou no espelho e por um momento se assustou ao ver seu rosto desfigurado e o vidro vibrar.
- Isso...
Ela balança o rosto e volta a se encarar, estava tudo normal. Outra perturbação? Pesadelo acordado? Karen achava que era o cansaço do dia-a-dia. Ao perceber que sua banheira estava cheia fechou o registro, tirou a toalha e entrou olhando para todos os lados de forma vigilante.
- Hum, que alívio!
Na medida e temperatura certa. Sentou e relaxou. Encostou a cabeça na quina para buscar mais inclinação quase deitando, fechou os olhos. O único som que queria ouvir era o silencio. Porém, a água começa a se agitar vagarosamente, e entre suas pernas, começa a surgir uma mão totalmente branca e sem vida na água com resquícios de um tufo de cabelo perto logo atrás, e a mão vai se aproximando do corpo de Karen, quando faltava centímetros, Karen do nada acorda e olha para água. Não viu nada, sentiu a impressão de alguma coisa emergir e vindo em sua direção, voltou a relaxar. Ela olhava para o teto e imagens veio na sua mente, a morte de sua amiga Sarah, uma estranha marca no braço alguns pesadelos tidos esta semana, mas o que mais apavorou ela foi a visão de um poço; do qual sempre acreditava que vinha um espírito vindo pegar sua alma. E as imagens surgiam como explosões em sua cabeça queimando ela por dentro, em seguida a água começa a se agitar violentamente.
- Hum. O que é isso?
Ela tentou se levantar mas não conseguiu. Forçou e forçou e não teve sucesso, estava inacreditavelmente travada e isso gerou pânico e desespero.
- AAAAAAAAHHH! EU QUERO SAIR! – gritou desesperada.
Como se não bastasse, surgiam duas mãos brancas surgindo nas laterais da banheira mas de dentro d’água de forma fantasmagórica que violentamente puxaram Karen para baixo. A jovem afundou e estava se afogando, ela tentou se remexer balançando os braços e querendo buscar a superfície, mas a escuridão tomou conta de si, e quando se deu conta não estava mais em sua banheira, a água não estava mais morna e sim gelada. Ela se viu no fundo do poço, literalmente. Ela se debatia mas em vão, as duas mãos continuavam puxando ela para o fundo, até que Karen perdeu folego, perdeu as forças e seu corpo fora totalmente invadido pelas águas. A banheira estava cheia d’água mas sem um corpo, sem mãos esbranquiçadas, sem um tufo de cabelo preto, a única coisa que se ouviu foi uma chamada de celular em cima da pia, e nada mais.
Na casa dos Foster, Daniel acorda do nada, não consegue dormir. Esfrega as mãos no rosto, sua cara estava horrível como da última noite. Coçava os olhos e estava ardendo, logo algo passa no corredor de forma repentina, e ele vira o rosto. Não viu, mas sentiu.
- Julia... É você?
Estranhamente ele ouve sons nada familiares.
- Becca?
Ele se levanta e vai no corredor. Não avista ninguém, mas nota uma sombra descendo as escadas, apressa os passos, mas ao chegar na base só vê a sombra lá embaixo na sala. Ele desce e relembrando do pesadelo anterior, desta vez no sofá Loren não estava lá. E o engraçado é que ele não ouve o barulho da chuva caindo como antes, estava calmo e claro como o dia. Daniel foi a uma das janelas e notou algo surreal. Seu quintal não existia, não o de gramas dividido ao meio por um caminho de cimento até sua porta, mas sim um quintal estilo fazenda. Grama verde cobrindo até aonde a vista alcançava, o céu esbranquiçado nublado.
- O que é isto? Perdi a noção da realidade? – pensou consigo mesmo.
Logo ele ouve ruídos na porta, rapidamente ele vê pela fresta a mesma sombra que esgueirou pela casa, ele foi até a porta e com uma sensação de incredulidade, insegurança e incerteza do que ia encontrar. Botou a mão na maçaneta.
- ... Vamos Daniel. Vamos. – se automotivando.
Abriu a porta. Paisagem solitária, ventos fortes e um cheiro de brisa do mar, quando percebeu não estava mais em casa, sua casa nem estava ali mais quando olhou ao redor. Estava numa espécie de morro onde havia o mar atrás dele, e a sua frente um farol, uma pequena casa antiga e um grupo de pessoas em posição lado-a-lado para tirar uma foto em frente ao mesmo, dez pessoas, nove senhoras e um senhor ao centro segurando uma espécie de placa comemorativa. E Daniel observando tudo aquilo de perto quase como se estivesse entre eles.
- Isso é de verdade? Aonde eu vim parar? – ainda se sentindo perdido.
Daniel estava analisando cada uma das pessoas quando uma lhe chamou atenção em especial. Uma mulher, a única de vestido perto segurando uma vela em meio as demais, Daniel reparou a feição dela e o sorriso bastante peculiar.
- Ela não em aparece estranha. Será que ela é a...
- Sorriem para foto! – gritou o fotógrafo.
Depois disso uma voz ecoou nos ares para somente Daniel ouvir a sua mensagem.
- ... Ilha Moesko...
Abruptamente uma mão surge do nada e agarra o braço direito de Daniel. Ele é levado para uma espécie de dimensão exterior onde se viu numa casa, precisamente num celeiro sentado em frente a uma pequena TV e vendo seu reflexo nela ouvindo os relinches de cavalos ao fundo e tudo isso invadindo sua mente de forma assombrosa.
- AAAAAAAAHHHHH! – Daniel acordou gritando.
Daniel dá uma levantada na cama com olhos arregalados. Respirou fundo bastante. Outro pesadelo. Desta vez bem mais realista do que o anterior, ele põe a mão na cabeça e lamenta por mais uma noite perdida ouvindo o som da chuva lá fora. Mas em seguida ouve outro som, e este era bem familiar. O mesmo de quando viu a fita. Logo seu olhar o remeteu para a sala.
- Não.
E quando pensou em ir viu uma aparição no corredor. Também bem familiar.
- Loren? – perguntou com os olhos arregalados.
Ela estava cabisbaixa de roupa branca, com o cabelo tapando o rosto apontando para frente, ou seja, para a sala. Daniel saiu logo em disparada, e quando chegou na base da escada observou pela claridade forte que a TV estava ligada e aqueles sons da fita emitida por áudio. Alguém estava assistindo, quando desceu às pressas, se deparou com o inacreditável.
- NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÕOOOOOOOOO!
Julia e Becca vendo a fita maldita. Em seguida a imagem desaparece. O estrago estava feito. Ele vai até elas e em sinal de fúria e lamentação tapa os olhos delas e vão e viram elas para buscar explicações.
- CARAMBA! EU FALEI PARA NÃO VER ISSO! – disse olhando para Julia sacudindo sua cabeça. - POR QUE DEIXOU ELA VER BECCA? MALDIÇÃO! POR QUE ME DIZ? – gritando encarando Becca.
Becca parecia fora de sintonia com olhar distante e perdido de boquiaberta, quase que querendo chorar, Daniel estava mais assustado ainda.
- ... Loren. – sentenciou Julia.
Ele se vira para a Julia.
- O quê? – perguntou Daniel com um olhar irrepreensível.
- A Loren me pediu para ver isto.
Daniel lembrou da cena bizarra do corredor minutos antes. Não queria acreditar.
- Eu não conseguia dormir. – disse Becca com medo.
Daniel quase indo as lágrimas não se sabe de tristeza ou raiva abraça as duas. Era o que pôde fazer.
- O que era aquilo, Daniel? Que imagens eram aquelas? – perguntou sua irmã.
Sem responder, o celular de Becca toca. Estava em cima da TV. Daniel nem queria saber de atender, mas não parava de tocar. Daniel rapidamente desligou a chamada. Ainda no desespero. Julia olhava aquilo de forma estarrecedora. Logo o celular toca de novo, desta vez, Daniel atende.
- VÁ PRO INFEEEEEEEEEEEEEEEEERRRNOOOOOOOO!
- .... Daniel? – surge a voz do outro lado da linha, bem familiar e reconhecível.
Daniel aliviou-se mas caindo no chão em desgraça.
- Trevor. – respondeu chorando.
- ... Eu vi a fita.... Ela é... apavorante. – Trevor dizia pausadamente e quase gaguejando.
Daniel não responde.
- ... Daniel, está me ouvindo?
- ... Elas viram a fita.
- ... Quem viu a fita?
- ... A minha família. - diz olhando para as duas.
Logo Trevor entendeu o recado.
- O furacão está tomando forma meu amigo. Daniel, nós temos um problemão gigantesco agora.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.