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História O Cheiro da Lua - Atrito


Escrita por: Moyashii

Notas do Autor


Não demorei tanto dessa vez!

Boa leitura.

Capítulo 105 - Atrito



Ren

Sven foi o primeiro lupino que achei, e assim que me transformei correndo em sua frente e expliquei o que havia acontecido. Ele partiu socorrer a minha mãe enquanto eu só podia correr para pedir mais ajuda.

E agora, os dois haviam voltados, minha mãe andando devagar apoiando-se no grande lobo branco. Todo o seu lado esquerdo parecia estar seriamente prejudicado, já trocado eu fui ao seu encontro e a peguei no colo, já que Kristine era uma loba pequena para a média, não era difícil transportá-la.

Ela reclamou de dor, mas foi quieta o resto do caminho, apenas ficou me fitando com seus gentis olhos azuis.

Que bom que está seguro. Foi a única frase que ela proferiu antes de a colocarem em uma maca, ainda como loba.

- Ren, preciso que você fique no quarto com a sua mãe e a ajude a voltar a forma humana. - Patrick, o médico favorito dela, me diz. - Pode fazer isso?

- Vou fazer. - assinto e ele nos deixa a sós.

Eu me aproximo e lhe faço um afago no pelo preto, ela grunhi baixinho.

- Mãe, você está me escutando, certo? - uso uma voz firme e baixa.

Sim, querido. Ela responde e noto a sua fraca voz.

- Precisamos que você volte a forma humana. - comento. - E eu lhe trouxe roupas...

Quero tanto ajudá-la, fazer tudo por ela, a mulher que me carregou por tantos meses e me criou tão bem, sinto os olhos marejados, mas forço-me a manter a firmeza.

Tudo bem. Seu grunhido indica que está com dor.

Kristine inicia a transformação e sente mais dor do que o normal, forço-me a olhar pois tenho de apoiá-la. Dois minutos depois, a transformação está finalizada, pego uma toalha e limpo o zuor de seu rosto, seu sorriso me agradece e em seguida, ajudo-a a se trocar. 

- Você sabe escolher as roupas mais confortáveis, obrigada. - sua voz ainda está fraca, mas seu carinho nunca diminui.

- Eu queria ter te protegido. - murmuro.

Sua mão afaga o meu cabelo e sei que sou o garoto mais sortudo do mundo, mesmo machucada e fraca, minha mãe consegue sorrir de um jeito tão gentil.

- Eu te amo, mãe! - teria me jogado em seus braços, mas sei que seu corpo não aguentaria de dor, contento-me em apenas sentir seu beijo em meu nariz.

- Eu também te amo, meu lobinho. - suas palavras doces quasem me fazem chorar.

Patrick entra no quarto e informa que Kristine precisa fazer uns exames para eles conseguirem tirar o veneno do sistema dela. Respiro fundo e a ajudo a fazer todos os exames, depois lhe dou comida na boca e até a ajudo a dormir. É tudo o que posso fazer por ela no momento.

*

Mantive sua mão direita em minhas mãos, tranquilizava-me sentir o calor de seus dedos. Kristine estava dormindo suavemente, mas algumas vezes seu rosto se contorcia de dor, parecia doer bastante.

Enquanto estávamos ali no quarto, Patrick e outros médicos estudavam o veneno e desenvolviam um antídoto, mamãe não corria risco de perder a vida, pois eles conseguiram retardar a contaminação, porém isso não significava que a parte esquerda de seu corpo não doesse.

Não notei que chorava até sentir o gosto salgado de minhas lágrimas, estava com tanto medo. Comecei a enxugá-las e ouço Kristine murmurar palavras que só consigo entender quando ela as repete: amo meus filhos, tenho de protegê-los.

Então sinto o cheiro de castanha de caju de minha irmã, em seguida, April abre a porta, seus olhos vasculham o quarto e param na maca, onde nossa mãe dorme.

- Meu Amaterasu! 

- Shhhh... - peço com o dedo na frente dos lábios. - Ela só conseguiu descansar agora.

- Entendi. - ela murmura e vem ao meu lado. - Desculpa.

Levanto e nos abraçamos, ambos queremos desabar, entretanto nos mantemos firmes. 

- Mamãe vai ficar bem, Ren. - April nos separa e sorri para mim. - Você sabe que ela é durona.

- Eu sei. - assinto devagar. - É só que eu me preocupo muito com ela, sei que ela vai sair dessa, mas...

- Quais serão as consequências? - ela tira as palavras da minha boca e nós  dois olhamos para Kristine. - Nós vamos ajudá-la a passar por isso.

Não digo mais nada, apenas volto a ficar ao lado da nossa mãe, segurando sua delicada mão, tentando lhe passar tranquilidade.

- Papai já sabe? - pergunta colocando um banco ao meu lado.

- Eu não sei, mas acho que Patrick já ligou para ele. - explico. - Eu não tinha cabeça para conversar com o papai agora.

- Tudo bem, Ren. - ela passa um braço sobre os meus ombros. - Ninguém está te culpando.

Como eu tive tanta sorte de cair numa família tão amorosa e compreensível, talvez eu seja sensível demais, pois quase volto a chorar.

- Como você soube? - pergunto já que não quero que fiquemos em silêncio.

- A mãe do Sven foi me contar. - April morde o lábio inferior. - Foi Sven que a salvou, não é?

- Sim. - lembro como foi se sentir um completo inútil. - E eu não fiz nada...

- Você chamou ajuda. - ela começa a me consolar. - Você ficou com a mamãe até agora, não acho que você seja um inútil.

- Obrigado. - dou um meio sorriso e April me dá um beijo na bochecha.

Respirei fundo e voltei a encarar a Kristine, seu cabelo preto estava um pouco sujo e seu rosto era a parte menos danificada do corpo inteiro. O silêncio começou a me deixar nervoso, por sorte, ouço meu pai abrindo a porta e a fechando atrás de si.

- Vocês estão bem? - assim que assentimos, Triton vai até o outro lado da maca e toca o rosto da mamãe. - O que o Patrick disse?

Explico o que me revelaram até agora e sinto a ansiedade em todos, principalmente em mim. Triton permaneci em pé, e com a mão na bochecha de Kristine, ele começa a conversar conosco.

- Vocês estão com fome? Sede? - tenho certeza que ele sabe que era o que minha mãe faria se estivesse no lugar dele. - Não poderemos cuidar da mãe de vocês se estiverem fracos.

April me fita, estou morrendo de fome, mas não suporto a ideia de ficar longe da minha mãe. 

- Eu vou comprar um lanche e algo para beber pra mim e pro Ren. - diz apertando levemente o meu ombro ao seu levantar. - Quer algo, pai?

- Não, obrigado, querida. - sua voz não está brava, mas está séria.

Assim que April sai do quarto, meu pai me observa com um olhar de acalme-se.

- Fui culpa minha. - é só o que se passa em minha mente. - Eu não consegui ser forte.

Incrivelmente, eu não choro e mantenho os olhos fixos nos de meu pai.

- A culpa não foi sua, Ren. - ele se levanta e vem até o meu lado. - Um perigo apareceu, e é dever de um pai ou uma mãe proteger os seus filhos.

- Mas ela pode morrer! - trinco os dentes e me levanto, ficando de frente para ele.

Somos quase do mesmo tamanho, porém Triton é muito mais velho e seu corpo é muito forte, contudo, as nossas faces são praticamente iguais.

- Ela não vai morrer. - afirma sem desviar os olhos. - Sua mãe já passou por muitas coisas e não é agora que ela vai desistir.

- Desistir não existe no dicionário dos Moore. - a voz dela me faz virar rapidamente.

Seu singelo sorriso me faz esquecer tudo e abraça-la com cuidado, apenas seu braço direito consegue me abraçar, mas já sou grato por isso.

- Nem no dos Cerutti. - meu pai comenta bem mais aliviado. - Você por acaso está testando o meu coração, Kristine? - seu tom é de brincadeira.

- Magina, meu amor. - ela ri um pouco e depois me dá aquele simples beijo no nariz. - E você, meu lobinho, está bem?

- Com muita saudade. - digo sorrindo de verdade. 

- E como você está se sentindo? - Triton volta ao outro lado da maca e a observa.

- As dores diminuíram, mas eu me sinto meio boba. - comenta fazendo uma careta. - Mas vou ficar bem.

- Disso eu tenho certeza. - meu pai sorri.

- Nós vamos cuidar de você, mãe. - informo-a.

- Obrigada, vocês são uns anjos. - ela manda um beijo para cada um de nós. - E onde está a sua irmã?

- É a voz dela? - April entra no quarto com duas sacolas. - Mãe!

Ela joga as coisas para mim e abraça a nossa mãe, Kristine faz uma leve careta quando April quase a esmaga.

- Desculpa! - minha irmã começa a ficar bem vermelha. - Sinto muito, mãe!

- Calma, querida, não foi nada. - mamãe ri do envergonhamento dela.

Aproveito que as duas começam a conversar e vou para um dos cantos do quarto, para comer um pouco, meu corpo perdeu parte da tensão quando a viu despertar.

O lanche estava muito bom e sei que meu pai vai se aproximar de mim quando as duas começam a falar sobre o Sven. 

- Como eu fui deixar isso acontecer? - ele resmunga ao meu lado.

Sei que está falando do namoro de April, e não do ataque a mamãe.

- Mas foi o Sven que salvou a mãe hoje. - comunico-o.

Triton arregala os olhos e me encara, parece que ele não sabia disso.

- Certo. - ele concorda com a cabeça devagar como se estivesse aceitando o que lhe disse. - Tudo bem, esse garoto conseguiu mais alguns pontos.

- Ele acabou de ganhar um sogro agradecido, não? - é fácil entender o meu pai, pelo menos para mim é.

- Muito óbvio? - ele pisca para mim.

- Ele salvou a mulher que você ama que também é a mãe mais linda e carinhosa do mundo. - comento.

- Pelo visto, ele também ganhou um ótimo cunhado. - Triton sorri fazendo-me ficar vermelho nas bochechas.

Sempre gostei de Sven, e admito que quando começou a se interessar pela minha irmã, eu fiquei um pouco receoso. Então, eles começaram a namorar e meu receio virou um grande ciúmes, não igual ao do meu pai, certamente.

Já agora, Sven mostrou-se ser uma pessoa em quem podemos confiar, e no meio lupino, confiança é estritamente importante.

*

Uma semana se passou, o verão começava a dar espaço para o outono, na cidade a mudança só era percebida por pessoas observadoras ou lupinos, já na floresta, tornava-se óbvia essa mudança.

Kristine ainda está se recuperando, mas afirma que quase não tem mais dores só desconforto. Ela ainda tem dificuldade em mexer o lado esquerdo do corpo, mas já melhorou bastante, infelizmente, ainda está de cama.

- Seu pai já saiu, certo? - perguntou-me quando entrei em seu quarto, eu havia acabado de chegar da escola.

- Sim. - concordo devagar. - O que você está pensando?

- Vou andar até a cozinha e fazer um bolo ou um pudim. - afirmou e jogou as cobertas longe.

- Você está louca? - impeço-a de levantar. 

- Ah, esqueci que a minha cúmplice é a April, não o meu filho guarda costas. - revira os olhos. - Ren, eu vou devagar e faço tudo com você junto, depois volto pra cama.

Observo-a, sei que não está mentindo, mas seria mesmo seguro deixá-la andar pela casa. 

- Eu vou ficar do seu lado o tempo todo. - explico.

Kristine sorri e beija a minha bochecha, depois, ajudo-a a levantar, com muito cuidado ela se apoia em apenas uma perna enquanto eu a seguro com o meu corpo.

Caminhamos bem devagar, Kristine segurando a ansiedade de fazer um doce, não que eu fosse reclamar, tanto minha mãe como meu pai eram deuses na cozinha.

- Quase lá. - ela respira fundo.

É um grande alívio quando chegamos a cozinha, puxo uma cadeira e ela se senta um pouco. Minha mãe está usando uma camisola amarela clara e descalça, isso me fez lembrar como sempre gostei que ela me colocasse meias para dormir.

- Você ficou tão lindo. - comenta me deixando sem jeito. - Você sempre foi lindo, mas agora... está maravilhoso!

- O-Obrigado. - escondo um pouco o rosto. - Mas você e o pai são muito bonitos, então eu e a April herdamos os genes.

Ela ri e eu a fito, começo a vagar em pensamentos quando ela estala o dedo a minha frente.

- Mundo da lua? - ela sorri carinhosamente.

- Mais ou menos. - coço atrás da cabeça e já me preparo para levantá-la.

Kristine me manda deixá-la apoiada na pia enquanto pego os ingredientes, no final, ela me deixou escolher o doce e lógico que pedi um pudim. Com cuidado e delicadeza, Kristine começa o preparo, auxilio-a em todos os momentos, pois apenas o seu braço direito consegue trabalhar.

Depois de duas horas e meia terminamos tudo, e como ela havia prometido, voltamos até o seu quarto. Ajudo-a a deitar na cama deixando seu torso um pouco levantado, e depois me sento na cama.

- Seu pai me contou que você pediu para ele te treinar. - sua voz é cuidadosa.

- Sim, eu pedi. - afirmo. - Quero poder proteger a minha família.

- Você sabe que a culpa não foi sua, certo? - sua mão toca a minha bochecha.

- Sei, mas se eu estivesse preparado pra lutar, talvez você não tivesse se machucado tanto. - explico. - Quero ser forte como o papai.

- Tudo bem. - ela suspira vencida. - Mas me prometa que vai tomar cuidado, ser forte não significa usar apenas força bruta em uma luta.

- Sei disso, e prometo me cuidar. - assinto e isso a faz relaxar um pouco. 

- Mas esteja preparado. - ela ri. - Seu pai é um treinador bem durão.

- Já estou me preparando. - rio, pois ela apenas confirmou as minhas expectativas. - Vou fazer vocês ficarem orgulhosos.

- Eu já me orgulho de você, Ren. - sua sinceridade me deixa sem palavras. - Eu te amo, meu lobinho.

- Também te amo, mãe. - dou-lhe um demorado beijo na bochecha e depois um no nariz.

Então começamos a conversar sobre a escola, os amigos, as garotas, o pessoal da alcateia até que Kristine fica cansada, eu a obrigo a dormir e logo seus olhos estão fechados e seu semblante está tranquilo.

*

Acordo num pulo quando ouço pessoas brigando, minha audição identifica as vozes e corre até o quarto dos meus pais. Eles estão discutindo, meu pai em pé e minha mãe sentada na cama.

- Já falei milhões de vezes que você tem que repousar! - Triton rosna.

- Eu estou repousando, mas não aguento mais ficar parada nessa cama! - Kristine responde.

Nenhum dos dois reparou que estou parado na porta.

- Você se colocou nessa situação, Kristine! - ele afirma.

- Eu? - ela aponta para si mesma. - Explique-me como me coloquei nisso? - aponta para todo o seu corpo.

- Você foi imprudente! - ele respira fundo. - Você sabe que deveria ter fugido junto com o Ren, ele podia ter se machucado no caminho e se existissem mais daquelas quimeras?

- Está dizendo que eu o abandonei? - ela rosna e nega com a cabeça. - Você é um idiota, você não faz ideia do que ocorreu e me acusa desse jeito!

- Eu nunca disse que você o abandonou! - ele bufa. - Mas essa sua mania de fazer tudo sozinha poderia ter matado vocês dois!

- Não é uma mania de escolher tudo sozinha, são as opções que aparecem, está bem? - ela grita. - Se você estivesse lá, veria como aquela coisa encarou o nosso filho, você veria como ela iria direto na garganta dele se fugissemos juntos!

Então ela começa a chorar e eu tenho vontade de esmurrar o meu pai, só que me seguro, porque sinto que ele sabe que errou. 

- Eu sou de longe uma mãe e companheira perfeita, mas eu faço o que eu posso, eu daria a minha vida por cada um de vocês! - sua única mão boa enxuga as lágrimas. 

Quero entrar, abraça-la e mandar meu pai embora, porém essa discussão é deles e não devo me meter. O silêncio domina e apenas se escuta os choramingos da minha mãe, meu pai dá um passo em sua direção, mas ela o manda embora.

- Me deixe sozinha. - pede.

Triton demora, mas faz o que ela pediu e quando se vira, encara-me surpreso. Meu olhar deve ter dito toda a fúria que estou com ele agora, sinto que vou rosnar, mas guardo os caninos.

- Sinto muito. - diz ao passar por mim.

- Não é a mim que você deve desculpas. - trinco os dentes e entro no quarto.

Devagar eu me sento ao seu lado, seu rosto está todo molhado e ela mal consegue se limpar sozinha. Uso uma toalha que há no criado mudo e seco todo o seu rosto.

- Quer um pouco de água? - pergunto.

Ela nega e continua cabisbaixa, sinto como está machucado e dessa vez digo psicologicamente. Sua mão direita esmaga o cobertor e seus lábios começam a sangrar de tanto que ela os morde.

- Mãe, não se faça isso. - peço erguendo seu rosto. - Papai devia estar nervoso com algo e descontou em você.

Não há resposta, mas seus olhos ficam marejados mais uma vez, abraço-a com delicadeza, odeio vê-la sofrer.

- Vá buscá-lo. - ela diz bem baixo. - Por favor, preciso conversar com ele.

Sinto o seu nervosismo e entendo o que ela quis dizer, se eles não se entenderem, ela vai desabar. 

- Eu já volto. - dou-lhe um beijo no nariz. - Vou trazer o papai de volta. - saio do quarto já correndo e usando meu olfato, ele não poderia estar muito longe.

*

Eu o encontro na entrada da alcateia, está sentando em cima de uma pedra e sua cabeça está completamente virada para cima.

- Pai? - chego mais perto.

Ele abaixa a cabeça e me olha, vejo que também chorou, deve estar arrependido, mas isso quase não muda a vontade que tenho de socá-lo.

- Mamãe pediu pra você voltar. - informo-o. - Ela quer muito conversar com você.

- Conversar agora só vai piorar as coisas...

- Por quê? - cerro os punhos. - Porque você não soube conversar?

- Porque vamos gritar mais um com o outro! - ele rosna.

Mas não sinto medo, só raiva.

- E você vai deixá-la naquele quarto, chorando por você? - trinco os dentes. - Ela está sofrendo e não sou eu que pode aliviar a dor dela!

- Ela vai ficar bem, mas não posso voltar agora. - respira fundo e caminha em minha direção. 

- Por que você disse aquelas coisas pra ela? - indago encarando-o.

- Quando me contaram que sua mãe estava daquele jeito porque ela enfrentou a quimera sozinha, eu fiquei muito bravo. - explica.

- E por isso você chega e briga com ela? - respiro bem fundo.

- Eu não ía brigar com ela, mas quando vi aquele pudim na geladeira, foi a gota d'água. - comenta. - Sua mãe se coloca em risco e depois não quer aguentar as consequências.

- Você fez a minha mãe chorar por isso? - sinto meus caninos aparecerem. - Você gritou com ela porque ela lutou por mim, se machucou e agora ficou UMA PORRA DE UMA SEMANA naquele quarto! Já passou pela sua cabeça que ela fica várias vezes da semana SOZINHA NAQUELA CASA?! Como você espera que ela aguente sem reclamar?!

Sei que as palavras o acertam, pois seu cheiro de arrependimento só aumenta.

- Ren...

- Não ouse! - eu grito e antes que me segure, já lhe dei um soco no maxilar, dói demais em minha mão, mas eu precisava fazer isso. - Se quiser ficar aí, fique, eu vou fazer companhia pra minha mãe.

Viro-me e saio sem esperar que ele me siga ou que diga algo. 

*

Nunca pensei que fosse sentir uma dor tão forte no peito, mas eu senti quando cheguei em casa e a encontrei chorando no quarto, seus olhos me observaram e quando notaram que Triton não estava, seu olhar de tristeza me pegou de jeito.

Eu deveria tê-lo trazido arramado.

Kristine tenta parar de chorar, pois não quer me ver triste, porém assim que ela para, algo a faz voltar a chorar. Eu lhe faço companhia e afago seu cabelo, limpo seu rosto várias vezes até que ele finalmente resolve aparecer.

Os olhos de Kristine estão vermelhos e é provável que seu nariz entupido, pois ela nem percebe que ele está parado a porta. Cerro os punhos e o encaro, mas seu olhar está na mulher que estou guardando.

- Kristine... - sua voz é receosa.

Minha mãe levanta o rosto e o vê, ela está nervosa e com muito medo, encolhe-se e se gruda mais em mim. 

- Eu não queria ter dito aquelas coisas. - começa. - Eu estava bem até que me contaram que você enfrentou a quimera sozinha, e depois eu vi o Travis dando uma de pai protetor pra cima da April e do Sven, e eu fiquei estressado e para completar descobri que você fez um pudim hoje.

Kristine limpa as lágrimas que continuam descendo.

- Eu odeio quando desconto as coisas em você. - afirma ao se sentar no pé da cama. - Eu sinto muito, mas sei que não será hoje que você vai me desculpar... Eu te magoei...

- Demais... - ela pisca várias vezes tentando parar as lágrimas. - Você duvidou de mim... 

Ele toca no pé direito dela e os ombros dela relaxam.

- Me prometa... que nunca mais duvidara de mim. - murmura.

Minha mão segura a sua com firmeza, dando-lhe um apoio e um pouco de coragem.

- Eu prometo nunca mais duvidar de você, eu juro. - suas palavras são sinceras. - Eu sinto tanto por ter feito você chorar, sofrer...

Então ela estende o único braço que consegue pedindo por um abraço, Triton desmorona naquele momento ao ver como a sua companheira está debilitada e que ele conseguiu machucá-la mais ainda.

Ele a abraça com cuidado, Kristine enterra a cabeça em seu peito e chora mais um pouco, felizmente, as lágrimas logo param e eles se separam apenas o suficiente para que ele lhe dê um beijo na testa, e um esboço de sorriso se forma nos lábios da minha mãe. 

Sinto levemente aquela conexão que eles possuem, o que já faz um alívio percorrer a minha face, e sei que eles percebem quando saio do quarto, mas ignoram pois eles ainda têm muito o que conversar.


Notas Finais


Essa briga foi séria, e a reação do Ren foi muito a minha reação shauhs admito

O que acharam? sinceramente...


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