História O Crime da Rainha - Concupiscência

Já havia passado duas semanas desde o início da Nova Edenia – foi assim que Sindel havia chamado o seu reinado. Os problemas neste reino ainda não haviam cessado por completo, existiam alguns grupos pequenos insurgentes  que habitavam em algumas regiões montanhosas. Esses grupos eram compostos por tarkataneos e alguns poucos shokans. A rainha desejava fazer uma audiência com um líder de cada grupo para poder resolver aquele conflito de forma amigável, sabia que eles queriam a volta da Exoterra com seus costumes, mas não era mais possível.

Sindel estava em um pequeno escritório, pediu para construir aquele cômodo para melhor redigir as leis e para audiências em caráter particular. Sentada em uma cadeira almofadada lia um relatório de um comandante do grupo de soldados de uma das regiões litorânea. Sheeva havia trazido o documento e estava sentada a frente da rainha esperando uma resposta para poder levar ao comandante. A shokan observava a rainha, as linhas de expressão do rosto de Sindel revelava uma preocupação a mais, por ser amiga da majestade a séculos sabia apenas pelo olhar que algo além de uma simples rebelião estava a preocupando.

- Majestade – Sheeva quebra o silêncio

Sindel apenas olha para a shokan sem expressar muita coisa. Sheeva continuou:

- Permita-me falar.

- Diga – respondeu a rainha voltando seu olhar no relatório.

- Sei que é um tempo novo em que estamos vivendo e penso que deve ser difícil para sua majestade acostumar com tamanha responsabilidade que está sobre suas costas. Mas suponho que estás preocupada com mais alguma coisa além do motim.

Sindel deixou cair os escritos caírem sobre a mesa, voltou o olhar para Sheeva e perguntou:

- Por que diz isso?

- Andas com um olhar perdido desde a festa, como se sentisse falta de algo, não sei... Pode ser a falta de um homem para governar contigo.

A rainha estava grata por não ver mais o shaolin que mexera com o seu coração, mas com aquela fala posta por Sheeva sentiu seu coração tremer por medo de ter expressado alguma reação sobre seus sentimentos. Para ter certeza perguntou:

- O que está querendo dizer?

Sheeva se assustou com o tom da pergunta da rainha, respondeu:

- Não me leve a mal, majestade. Falo isso por supor que esteja sentindo falta de Jerrod, sei que sua majestade o amava muito, não é?

Sindel respirou fundo aliviada e respondeu com um sorriso amarelo

- Ah sim, como posso esquecê-lo...

- Me perdoe, majestade, pela má colocação. Já que estamos falando sobre isso, se me permite, achei bonito no dia da festa você dançando com o protetor do Plano Terreno.

- Raiden?

Sheeva fez um sinal afirmativo com a cabeça. Sindel continuou:

- Ele é um grande amigo... Ajudou-me como podia quando Shao Khan invadiu Edenia... Nunca esquecerei o que ele fez por mim.

A shokan deu um sorriso para a rainha. As duas foram interrompidas por um dos servos que abriu a porta e disse:

- Raiden veio visitar Nova Edenia junto com dois integrantes do Plano Terreno.

- Deixe que eu vá recebe-los – disse Sindel levantando-se e caminhando para ir até o hall de entrada do palácio.

- Mal falávamos dele e vem visitar-nos - Sheeva disse deixando escapar um sorriso.

As duas caminharam até o hall de entrada, quando chegaram Sindel chamou a atenção dos visitantes com sua beleza incomparável, os três fizeram reverência para ela, que também retribuiu segurando os longos cabelos para que não parassem frente ao rosto. Liu Kang não parava de olhar a rainha, que evitava voltar seus olhos para ele. Seus sentimentos voltaram com ímpeto fazendo com que ela voltasse o olhar para o chão, Raiden ao ver os olhos da rainha voltados para baixo ficou preocupado e perguntou:

- Está tudo bem, majestade?

Sheeva apoiou uma de suas mãos no ombro da rainha e apenas a olhou, Sindel sacudiu a cabeça colocando as mãos em suas têmporas e respondeu:

- Sim está. - ela voltou o olhar para Sheeva e ordenou - Leve Liu Kang para ver Kitana.

Liu Kang ficou sem entender o motivo de a rainha lhe evitar e acompanhou a shokan para o lado Leste do palácio, levando-o até onde a princesa estava.  Sindel respirou fundo e perguntou aos demais visitantes, Raiden e Kung Lao:

- A que devo a honra dessa visita.

Raiden respondeu sem pestanejar:

- Viemos saber se está tudo bem com Nova Edenia. Soubemos que está surgindo grupos insurgentes contra seu governo e queríamos saber se precisa de algum auxílio, ou até mesmo pra saber como está a situação mesmo.

- Podem me acompanhar - replicou Sindel fazendo com que eles a acompanhasse.

Enquanto caminhavam para o escritório, Lao começou a pensar no que acontecera a poucos minutos atrás entre Liu Kang e Sindel. Apesar de muito jovem Kung Lao pegava as coisas no ar, estava sempre analisando tudo o que acontecia ao seu redor, mas evitava conversar sobre suas  "teorias" que criava em sua cabeça por saber que seria repreendido por alguém mais velho com a típica frase: Você viaja demais nas suas ideias. Mas aquele fato deixou o shaolin inquieto e começou a ficar atento a tudo relacionado a esse assunto.

(... )

Kitana e Liu Kang andavam de mãos dadas pelo jardim do palácio no lado Leste, onde se podia ver uma parte das montanhas esverdeadas da região. Liu Kang estava calado, pensando no último episódio que viverá com a rainha, prometeu a si mesmo que não ia comentar isso a Kitana. Ela começou a se inquietar pelo silêncio do shaolin e então resolveu quebra-lo:

- Há duas semanas que não me vês e agora quando estamos juntos e sozinhos você não fala nada.

- Me perdoe, princesa - disse ele virando para ela - Tive alguns problemas na academia Wu Shi para resolver e ainda estou pensando neles. Essas duas semanas não pude vir por causa disso.

Liu continuava contando as coisas que fizera nesse tempo de ausência, mas a verdade é que o shaolin mentia. Assim que todos voltaram para o Plano Terreno, ele procurou um monge shaolin mais velho para falar da paixão avassaladora que acabara de sentir pela rainha de Nova Edenia. O monge o orientou para que ficasse longe daquele ambiente por algum tempo, sem contato algum, isso ajudaria esquecer o amor proibido. Mas aquele retorno havia mexido com ele, pois toda paixão havia voltado. Se ele pudesse ficar preso com Kitana naquele jardim para deixar morrer aquele sentimento ele assim faria.

Enquanto isso Jade passava próximo do jardim com Li Mei, as duas traziam algumas frutas e verduras para a cozinha do palácio. Elas não se importavam em fazer tal serviço, para elas era como um momento para colocar as conversas em dia. Naquela tarde, elas podiam ver a princesa e o shaolin conversando próximo a uma aroeira, Jade fitava-os, mas não com um ar de alegria pela amiga, mas de receio. Li Mei percebendo perguntou:

- Jade, que cara é essa? Pensei que estava feliz por Kitana ter encontrado sua alma gêmea.

Jade deixou o ar escapar de seus pulmões, largou a sacola que segurava no chão, passou a mão em sua fronte e respondeu:

- Sinceramente, eu nunca fui com a cara do Liu Kang.

- Sério? – disse Li Mei surpresa – Você já disse isso pra Kitana?

- Não tenho coragem – respondeu Jade mordendo os lábios  - Ela o ama tanto, não quero estragar a nossa amizade por causa dele, você me entende?

- Claro – disse Li Mei  erguendo as sacolas – Vamos logo antes que nos xinguem.

As duas edenianas prosseguiram o caminho indo em direção à cozinha.

(...)

Era noite em Nova Edenia, os visitantes já haviam ido embora. Jade estava no seu quarto organizando suas roupas quando ouve uma delicada batida na porta, ela sabia que era Kitana e gritou:

- Entre, princesa!

Kitana entrou fechando a porta atrás de si. Jade voltou o olhar para a amiga e sorriu, depois voltou o seu olhar para seus vestidos e perguntou:

- E então? Como foi o encontro com seu amado?

A princesa sentou-se na cama e respondeu:

- Foi bom, mas podia ser melhor...

Jade não ficou tão surpresa, mas parou o que estava fazendo, sentou-se ao lado de Kitana e perguntou atônita:

- Por quê?

- Liu Kang estava meio disperso, não conseguia olhar direto em meus olhos. Ele estava meio estranho... Mas pode ser uma fase que ele está passando.

- Você acha? – perguntou Jade pegando algumas roupas do chão e dobrando-as.

- Eu acho. Sei que ele sentiu minha falta, ficamos um tempinho sem nos ver...

- Mas você concorda que se ele estivesse com saudades de você, não ia te tratar com frieza.

- Liu Kang não foi frio comigo, ele só estava... disperso.

- Esse já é o primeiro passo – disse Jade se levantando e pegando algumas roupas que estavam jogadas no chão.

- Primeiro passo para que?

Jade respirou fundo, voltou o olhar para a amiga que continuava sentada em sua cama.

- Você pode ficar chateada com o que vou dizer, mas eu não vou com a cara do Liu Kang. Meus comentários podem não estar ajudando por causa disso.

- Ainda bem que você sabe que não estão ajudando. Aliás nem sei o motivo de eu continuar aqui falando com você sobre isso.

Ao terminar de dizer isso, Kitana saiu do quarto da amiga sem mais nenhuma palavra. Jade respirou fundo e percebeu que aquele noivado traria problemas para a amizade entre elas.

Continua...