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História O Deserto sem fim - Sob as areias das memórias


Escrita por: Jyuuken

Notas do Autor


Bom, o que posso dizer desse texto? Acho que seria de bom tom avisar que é meio viajante... Quem quiser uma música pra entrar no clima, eu escutei Jonn Serrie - Starmoods enquanto escrevia. É isso, espero que gostem tanto quanto gostei de escrever...

Capítulo 1 - Sob as areias das memórias


Fanfic / Fanfiction O Deserto sem fim - Sob as areias das memórias

Já faz um bom tempo desde que o mundo se tornou um deserto. Não saberia dizer quantos anos precisamente se passaram, mas a impressão que tenho é de que uma eternidade já se passou. Vago pelas areias desse deserto sem fim, sempre olhando pro horizonte que raramente traz alguma novidade.

O deserto de chão duro e poeirento se estende por todas as direções, e quase não existe vegetação alguma, nem mesmo plantas rasteiras. Elevações rochosas se erguem de forma aleatória, oferecendo alguma sombra para partes de caminhos que não conduzem a lugar nenhum.

O sol castiga tudo que ouse se mover pela quietude do mundo. Sempre alto, sempre quente, o sol tem a força para derrubar até mesmo o mais forte dos homens, com seu calor que nunca cessa, e sua força que nunca diminui.  Tento me proteger do sol usando uma grande manta esfarrapada e cinzenta junto com um capuz que oculta meu rosto, e me dá a aparência de um maltrapilho mendigo. Quase sem rumo, eu sigo caminhando pelo deserto sem fim.

Naquele dia, à tarde já ia avançando, e o sol já tomava seu caminho para se esconder da noite. Cada passo impactava em meu corpo como se fosse uma bomba destrutiva, e o cansaço me dominava de forma definitiva. Na ausência da água, recorro ao pequeno e velho cantil prateado, em busca de alguma bebida forte que infelizmente, também já secou.

A cabeça girava, a consciência alta devido ao calor e a fome. Já não saberia dizer se estava indo ou voltando. Teria eu desistido de minha jornada, e agora retornava pelo caminho por onde viera? Ou estava simplesmente andando em círculos?

O mundo começou a girar, e já não tinha a certeza de onde ficava o céu, ou onde ficava o chão. Quando me dei conta, estava caído, de costas. Ou será que nunca estivera em pé? Já havia entregado os pontos a algum tempo, e deitado sob o chão seco, aguardava a misericórdia de nosso esquecido Deus, para que me levasse daquele tormento?

O deserto nunca terminava. Estava andando, um passo de cada vez, olhando para o horizonte. Não havia mais água, não havia mais comida. Nem sequer meu velho cantil restara. Talvez em um acesso de fúria eu o jogara fora. Ou quando havia caído, deixei-o no chão e nem o percebi. Senti uma pontada de tristeza, aquele cantil era do meu velho pai, que antes de tudo dar errado, gostava de enchê-lo com conhaque e gim, e sempre bebericava antes das refeições.

Novamente, tudo que via era o céu. Havia caído mais uma vez? Ou nunca me levantara? O deserto era tudo que minha mente conhecia naquele momento, e o sol aos poucos ia se pondo, a escuridão aos poucos ia ganhando o firmamento. A noite era mais fresca. Talvez ficasse deitado ali, até anoitecer de vez. Seria uma hora melhor para caminhar.

Mas para onde meus pés me levavam? Naquele momento não conseguiria lembrar nem mesmo meu nome, quanto mais meu objetivo. Estava mais uma vez caminhando, passo após passo, rumo a um horizonte vazio e silencioso.

Puxei o colar que trazia preso ao pescoço. Nele, além das inscrições de meu nome, uma foto de minhas duas irmãs a quem mais amei em minha antiga vida. As fotos, desgastadas e desbotadas, mas ainda era possível ver o sorriso alegre de Mirian, e o olhos profundos de Anne. Me lembrava de como elas corriam, alegres, nos jardins de nossa casa, quando chovia.

Chuva. Olhei para os céus, e desejei que aquele raro fenômeno acontecesse naquele momento. Mas tudo que vi no céu alaranjado do crepúsculo, foi a nuvem escura de borboletas de asas negras, que voavam lentamente pelo céu, trazendo em suas asas à noite.

As pernas cansadas se dobraram, e mais uma vez caí. Gritei, ou ao menos pensei ter gritado, já que nem mesmo o som saindo de minha boca era uma recordação. Assistindo ao céu escurecer, entrei em um devaneio febril, sentindo o frescor de uma tarde de primavera, quando minha mãe, sentada na varanda, costumava cantar.

“Então... na primeira noite

Uma pedrinha de algum lugar cai sobre o mundo.

Então... na segunda noite

Os filhos da pedrinha dão as mãos e ensaiam uma valsa.

Som da vida...”

 

 Era como se ela estivesse sentada ao meu lado, ali no deserto, cantando a canção. Ou talvez eu estivesse ao seu lado, na varanda de nossa casa, e o mundo nunca tivesse mudado. Tudo aquilo não passara de um pesadelo. Um pesadelo de morte.

 

Quando recobrei meus sentidos, tudo estava escuro, com a exceção de uma fogueira que queimava alegremente bem perto de onde estava deitado. A noite parecia estar um tanto fria, e naquele momento, o calor parecia aconchegante e bem-vindo. Me sentei, ainda sem entender o que estava acontecendo.

– Finalmente acordou? – Uma voz melodiosa e feminina ressoou – Está com fome?

Uma Ninfa. Já faziam boas semanas que não encontrava ninguém naquele deserto sem fim, e devo ter ficado um tanto espantado, visto que a ninfa começou a rir ao ver minha expressão.

– Vamos, não seja tímido, coma! – Ela disse, me estendendo uma tigela pequena com ensopado.

Não pude recusar, com a fome que estava. Enquanto comia, ela ficou me observando. Ninfas tem o poder de sentir as intenções das pessoas, então ela provavelmente estava sondando minha mente. Ela era uma figura esguia, tinha o cabelo comprido e branco. Sua pele parecia vidro escuro, e por baixo dela, era como se constelações flutuassem sob a água. Seus olhos eram azuis, e pareciam tristes mas sinceros, capazes de sondar os cantos mais escondidos de nossas mentes.

Ela usava trajes humanos, roupas de um caçador qualquer, cor de areia. Em suas costas, um rifle de alta precisão. Pouco atrás de onde estávamos, sua montaria descansava. Um cavalo de gelo, como eram conhecidos. O animal era grande e forte, e sua crina e seus pelos eram brancos, e todo o seu corpo parecia ser feito de uma gelada fumaça, que ficava se agitando constantemente. Aquele era o único animal que suportaria o calor do deserto.

– Está procurando o vilarejo de Harbra? – Ela perguntou, me encarando

–  Sim. Sabe onde fica?

– Fica ao leste, dois, talvez três dias de viagem. Está bem perto. Veio de longe? Calculou mal a duração da viagem?

– Talvez – respondi enquanto apanhava uma garrafa cheia de água que estava ao meu lado – Por que anda por ai com comida humana? Ninfas não precisam disso.

– Eu ajudo aqueles que se perdem. Em troca, espero que me ajudem também.

– Ah, claro. O que você quer?

– Uma lembrança triste, e uma alegre.

Ninfas se alimentam de emoções. São capazes de sobreviverem longos períodos sem se alimentarem ,e precisam encontrar um equilíbrio nas emoções que consomem, um equilíbrio entre felicidade e tristeza, para que não acabem por se corromperem.

Pensei nas minhas irmãs correndo pelo jardim, com meu velho pai sentado em sua cadeira favorita, bebericando de seu cantil e contando como foram gloriosos os dias de sua juventude. A felicidade absorvida por ela fez com que as estrela embaixo de sua pele brilhassem ainda mais, enquanto ela, de olhos fechados, parecia estremecer com a sensação.

– Não exagere na tristeza – ela pediu

 Pensei mais uma vez na música que minha mãe cantava. E senti-me triste de verdade. A ninfa se encolheu, como se seu peito doesse. Sua pele ficou escura, e por um momento, pensei que ela iria desaparecer. Abrindo os olhos, ela agradeceu, e me ofereceu mais comida, que não tive escolha a não ser aceitar.

– Pode dormir, eu fico de vigia – ela disse, pouco depois que terminei a refeição – posso sentir o quanto você tá cansado.

– Por que toda essa preocupação em me ajudar? – Perguntei, desconfiado

– Porque é assim que eu sou. Diferente de vocês humanos, não tenho segundas intenções, e pode parecer estranho, mas minha bondade é verdadeira.

Era realmente tolice querer desconfiar de uma ninfa. Sendo assim, deitei e acabei por mergulhar em sonhos profundos. Sonhei com um campo verdejante, onde uma fina e refrescante chuva caía sem parar. Crianças corriam descalças sob a relva, cantando e pulando nas poças de água que se acumulavam aqui e ali.

O olho vermelho se abriu nos céus, e toda alegria se converteu em medo. A chuva se tornou fogo, e os campos se tornaram secos e desertos. O olho agourento esquadrinhava a terra, em busca de mais vítimas. Quando caiu sobre mim, senti o medo me paralisar, enquanto minha pele ardia e se convertia em cinzas.

Acordei assustado, quando a manhã já estava próxima de chegar. A ninfa arrumava suas coisas, se preparando para partir em seu animal místico. Levantei-me, e notei que provisões haviam sido separadas para mim.

– Siga sempre para o leste – ela disse, quando estava para partir –  não deve demorar para encontrar a aldeia. Mas tome cuidado, no caminho existe um titã esquecido, e um bando violento de humanos vive sob suas sombras. Deve evita-los, ou te farão mal.

– Obrigado, ninfa. Salvou minha vida. Espero que um dia possa recompensá-la.

– Já me recompensou, Andrew! Boa sorte, e adeus!

Observei o gracioso animal irromper em galope, indo em direção ao norte. Já fazia tanto tempo que não escutava o som de meu próprio nome, que me senti um tanto abalado. Apanhei o colar, observando as inscrições no metal, letras finas feitas por um habilidoso artesão: J.L. Andrew.

O sol já se levantava, era hora de voltar a caminhar. Minha busca só começava, e meu destino, mesmo que parecesse perto, ainda jazia longe, no distante horizonte onde as areias se encontravam com o céu.


Notas Finais


Essa história tem muita, mas muita influência de O pistoleiro, o primeiro livro da saga Torre Negra, do Stephen King. Também tirei inspirações do anime Trigun, o trecho da música inclusive é uma tradução de A song of life, que toca no anime, e sim, lá ela também não parece fazer muito sentido...
Espero que em breve consiga inspiração para continuar, e escrever o Titã esquecido, que será o próximo capítulo... enfim, já me alongeui demais aqui, obrigado por ler, e até a próxima!


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