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História O destino dos deuses - A história de Kishan - O fim da história


Escrita por: Anaruas

Capítulo 16 - O fim da história


O tempo foi passando e as crianças cresceram. Kartick era um lutador nato. Ele queria passar o tempo todo treinando e quando eu não podia acompanhá-lo, ele ia atrás de Nandi ou de Prhalada. Apenas Ganesh conseguia convencer o irmão a fazer outras coisas. 

 

Ganesh, por sua vez, foi se interessando menos pelas armas e mais pelos livros e pela ioga. Ele se tornou um rapaz muito sábio e bonito também. Aos 15 anos, Ganesh, ou Phet, que era como todos se dirigiam a ele àquela altura, já chamava a atenção das moças. Muitos pais vinham a nós, oferecer suas filhas em casamento para Ganesh, mas ele não chegou a se interessar por alguém. 

 

Apenas alguns anos depois, nós recebemos a visita de um rei amigo e suas filhas, as gêmeas Riddhi e Siddhi. Eles queriam praticar ioga conosco e se hospedaram em nossa casa por algum tempo. Ganesh se tornou próximo das moças, que eram muito cultas e espiritualizadas, além de muitíssimo bonitas. 

 

Um dia, encontrei meu filho sozinho no jardim e notei que ele estava triste. Fui até ele e lhe perguntei o que estava acontecendo.

 

— Você já amou outra mulher, além de minha mãe?

 

Lembrei-me de Anamika, que fora tão importante para mim e de Kelsey, a quem eu amei profundamente, lembrando-me que todas elas estavam ligadas à Yesubai.

 

— Sua mãe foi a primeira mulher que eu amei. Durante muito tempo eu pensei tê-la perdido e me permiti amar de novo. Mas meu verdadeiro amor sempre pertenceu à Yesubai.

 

— Mas você acha possível que seu coração pertença a duas pessoas? É possível amar verdadeiramente a duas mulheres, a ponto de não conseguir ficar longe de uma ou de outra? 

 

— Eu não acho que isto seja impossível.

 

— Mas o senhor acha justo com essas mulheres?

 

— Não sei se isso é justo Phet. Os sentimentos são complicados. Algumas vezes, é preciso sofrer para fazer escolhas corretas. Às vezes, a resposta é simples, mas a gente não sabe enxergar. Você está apaixonado meu filho?

 

— Estou. Eu amo Riddhi e Siddhi profundamente. Gosto de ficar perto delas, me sinto vivo quando elas estão comigo. Sinto vontade de largar tudo, apenas para ver os sorrisos das duas. Elas são tão bonitas!

 

Eu ri ao reconhecer o amor em meu filho. 

 

— Você deseja se casar com uma delas? Tenho certeza de que o rei ficaria feliz em conceder-lhe a mão de uma das filhas em casamento. 

 

— Eu só penso nisso meu pai. Mas eu não consigo decidir de qual delas eu gosto mais.

 

Meu filho estava angustiado e não havia nada que eu pudesse fazer para ajudá-lo. Ele tinha que escolher com qual das duas mulheres ele gostaria de se casar. Então eu o deixei meditar sozinho. 

 

Não vi Phet por vários dias. Ele não veio treinar comigo e Kartick, nem compartilhar das nossas refeições. Nem mesmo Yesubai recebeu notícias dele. Estávamos todos preocupados.

 

Estava chegando o dia em que o rei partiria com suas filhas, e todos estavam ansiosos pela decisão de Phet. Então, ele finalmente surgiu na sala. Estava mais magro, com olheiras e se vestia como um Sadhu. Ele olhou para nós e sorriu. 

 

— A minha decisão está tomada.— Ele virou-se para o rei— Eu amo as suas filhas, as duas. E este sentimento vinha me dominando e me consumindo.—Ele olhou triste para Siddhi e Ridhi— Por isso eu decidi que não vou me casar com nenhuma delas. 

 

As moças chocadas, começaram a chorar. Phet virou-se para elas.

 

— Perdoem-me, por favor, mas eu tenho uma missão. Eu nasci com um dom e tenho que abraçá-lo. Este é o sacrifício que me foi exigido para que eu cumpra meu destino. Eu sempre vou me lembrar de vocês e desejo que vocês duas sejam felizes. Mas eu vou me tornar um monge.

 

Deste dia em diante, Phet dedicou-se à ioga e à espiritualidade. Apesar do amor enorme que tinha pela mãe, Phet deixou nossa casa e foi morar na selva. Eu não queria aquilo, preferia que meu filho mais velho se casasse, tivesse filhos. Mas eu sabia qual seria o caminho de Phet. 

 

Eu o conhecera havia muito tempo, sem saber quem ele era. Foi ele quem me ajudou a tornar-me um Deus, quando me fez tomar o Soma. Ele me ajudou a cumprir minha missão, antes que eu soubesse qual era ela. Ele cuidou de Ren, de Kelsey e de Anamika, fazendo com que os destinos de todos nós se cumprissem. Meu filho era especial. Ele era um Deus também, mas se apresentaria como um simples xamã da floresta, um servo de Durga ou um professor. Eu tinha muito orgulho do que Ganesh iria se tornar. 

 

Enquanto meu primogênito, aos vinte e um anos se dedicava à espiritualidade, Kartick tornava-se um guerreiro destemido e poderoso. Nosso reino vivia em paz, mas ainda havia outros lugares onde o mal, eventualmente perturbava a paz. Nestes casos, nós intervínhamos. 

 

Kartick já nos acompanhava e lutava como um homem adulto. Seu amigo Rudra, filho de Prhalada, também lutava conosco. Yesubai não gostava, ela queria que os jovens ficassem em casa, protegidos, mas reconhecia o grande guerreiro que seu filho era.

 

— Kartick é como o pai: Lindo e poderoso! — Ela dizia.

 

Ainda jovem, Kartick começou a atrair as moças. E diferente de Phet, meu caçula gostava desta atenção. Ele se interessou por muitas garotas. Yesubai precisou chamar a atenção do filho, para que ele não tomasse decisões erradas. 

 

Aos vinte anos, Kartick casou-se e logo teve filhos, dois meninos e uma menina. Meus netos tornaram-se a luz de nossa casa. Eles viviam conosco, e também cresceram e tiveram seus filhos. 

 

Nós convivemos com os filhos e os netos de nossos netos. Muitos anos se passaram até que eu começasse a envelhecer. Eu sabia que morreria um dia, mas que eu viveria mais do que um mortal comum. Então, eu não me surpreendi quando começaram a aparecer os primeiros fios brancos em meus cabelos. Yesubai não envelheceu nem um dia, durante os vários anos em que vivemos juntos. Ela continuava linda e eu continuava amando-a e desejando-a como no primeiro dia em que a vi. 

 

Nós vimos nosso filho Kartick envelhecer e morrer, assim como seus filhos e netos. Assim, nós descobrimos a verdadeira dor. Nenhum sofrimento é maior do que o de ver um filho morrer. 

 

Phet também viveu muito, talvez por usar o amuleto do tempo e transitar entre épocas diferentes, meu filho também envelhecera lentamente. Às vezes ele assumia a forma de um monge idoso e simplório, a forma como eu o conhecera em outra época. Ele dizia que as pessoas o compreendiam melhor naquela forma.

 

Eu perdi um filho, meus netos, meus bons amigos Nandi e Prhalada, mas eu ainda tinha Phet e Yesubai.

Minha mulher era uma companheira constante, sábia e poderosa. À medida em que eu envelhecia e ia ficando mais fraco, Yesubai assumia o papel de Deusa e cuidava de seu povo. Ela era amada e reverenciada em toda a Índia. 

 

Nosso exército foi comandado pelo neto de Prhalada, depois pelo filho deste e assim por diante. Eu descobri que a família de Kadam pertencia à linhagem de Prhalada e fiquei feliz em saber que a amizade entre nossas famílias permaneceria através dos séculos.

 

Eu continuava praticando a ioga, e esta prática fortaleceu não só meu espírito, mas também o meu corpo. Yesubai praticava comigo, assim como Phet, quando vinha nos visitar. Mas suas visitas eram raras. 

 

Yesubai me dizia, que quando chegasse a minha hora, ela partiria junto comigo. Eu não sabia como aconteceria, já que ela conservava a força, a juventude e a capacidade de se curar. Eu não desejava que ela tirasse a própria vida, e ela me garantia que não seria desta forma. 

 

Uma manhã, Phet veio para a casa a pedido de sua mãe. Ele sempre a obedecia e permanecia devotado a ela. 

 

— Querido filho, está chegando a hora de seu pai e eu deixarmos este mundo. — Ela me olhou com carinho e eu sorri para ela— Deixe-me levá-los a um lugar, quero que conheçam uma pessoa. 

 

Phet sorriu para a mãe e segurou sua mão. Yesubai segurou a minha mão e nós viajamos pelo tempo. 

 

Estávamos no Óregon, nos tempos modernos. Eu nunca me esqueci daquele lugar, daquela praia. Havia um casal, sentado em um lençol, ao lado de uma fogueira. A mulher estava grávida e seu marido tocava sua barriga e falava com a voz aguda:

 

— Minha filha querida, eu te amo tanto. Você vai ser linda como sua mãe. O bebê mais especial do mundo. Minha pequena Kelsey.

 

Aqueles eram os pais de Kelsey. Yesubai virou-se para Phet e para mim, então falou:

 

— Ela é a escolhida. Vocês a conhecem não é? 

 

Phet e eu balançamos a cabeça.

 

— Eu não pude cumprir minha verdadeira missão nessa vida. Eu voltarei em Kelsey e ela vai terminar o que eu não pude. 

 

Yesubai olhou para mim e tocou meu rosto.

 

— Ela será especial, meu amado. Eu sei que você a amará. Eu sempre vou precisar do seu amor, meu querido. Foi você quem fez de mim o que eu sou. Nesta vida e naquela. Você é feliz, não é?

 

Olhei firme para os olhos de Yesubai e segurei suas mãos entre as minhas.

 

— Eu nunca imaginei que alguém pudesse ser tão feliz como eu sou, minha linda esposa — e beijei suas mãos.

 

Yesubai sorriu e olhou para nosso filho.

 

— Phet, é sua missão garantir que eu cumpra meu destino. Você guiará Kadam, cuidará de Kishan, Dirhen e Kelsey, garantindo que ela se torne a Deusa que ela precisa ser. Você também deverá preparar Anamika para assumir o papel de Durga e a ajudará a evoluir. — Ela tocou o rosto de Phet e o olhou com ternura — Você acha que será capaz de fazer tanto, meu filho?

 

— Sim mãe. Foi para isto que eu me preparei. Eu vou servi-la para sempre mamãe.

 

— Que bom meu filho. Sei que você vai cuidar da deusa através do tempo, mas espero que você escolha um caminho menos duro na sua próxima vida.

 

— Eu escolherei mamãe.

 

— Então vamos voltar. Está na hora.

 

Voltamos para a nossa casa, no Monte Kailash. Naquele lugar onde vivemos por tantos anos, assim como nossos filhos, nossos netos, nossos amigos. Agora éramos só nós dois, e eu sentia que era hora de deixar aquele lugar. 

 

Phet nos acompanhou. Ele nos olhava com ternura e emoção. Yesubai falou com ele.

 

— Filho, chegou a hora. Por favor, ajude-me. 

 

— Sim mãe, já está tudo pronto. Vamos.

 

Eu os acompanhei até o quintal, no lugar onde costumávamos meditar juntos. Yesubai se sentou na posição de lótus. Phet pegou alguns objetos e os depositou aos pés de sua mãe. Aproximei-me para ver o que eram e me surpreendi ao reconhecer aqueles objetos. Aos pés de Yesubai estavam Fanindra, a cobra dourada de Durga, que se tornara um bracelete e que nunca mais tinha se tornado um animal vivo, desde que eu lutara contra o demônio Muyalakan; o lenço branco, tecido por Isha e que um dia tinha sido capaz de se tornar qualquer objeto feito de tecido ou criar qualquer disfarce; o colar de pérolas negras, que costumava produzir água. Também havia uma corda comum, uma manga grande e madura e um pote com água limpa e cristalina. 

 

Enquanto eu pensava no significado daquilo, Yesubai fechou os olhos e começou a meditar, enquanto Phet entoava um mantra baixinho. Uma luz começou a brilhar, saindo do corpo de Yesubai em direção a cada um dos objetos a seus pés. A luz foi ficando mais forte, depois diminuiu até se extinguir. Então, Phet parou de cantar e Yesubai abriu os olhos. 

 

Meu filho correu até sua mãe e a segurou pelo braço, ajudando-a a ficar de pé. Yesubai parecia fraca, cansada e seus cabelos, antes completamente negros, tornaram-se brancos. Eu a segurei do outro lado para ajudá-la a chegar ao nosso quarto. Antes de ir, ela falou com Phet.

 

— Meu filho, leve os objetos, cuide deles. Guarde-os com cuidado e cuide para que Kelsey os encontre quando for o momento. 

 

— Claro mãe, tudo será como deve ser. 

 

Phet soltou o braços de Yesubai e recolheu os objetos. Reparei que a manga agora era um fruto dourado. O lenço, antes completamente branco, era diáfano e mudava de cor. A água no pote, antes translúcida, tornara-se branca como leite. Eu soube que os poderes de Yesubai tinham passado para aqueles objetos, que tornaram-se mágicos novamente. Phet tampou o pote de água e pediu ao lenço uma sacola grande, depois guardou os objetos dentro da sacola. Então, ajudou a mim e a Yesubai a chegarmos ao nosso quarto. 

 

— Chegou a hora meu querido Kishan. Nossas almas descansarão até chegar o momento de renascermos. Nós continuaremos juntos até lá, e sempre nos reencontraremos.

 

— Sim meu amor. Antes de irmos, eu gostaria de fazer uma coisa — Virei-me para Phet— Meu filho, eu gostaria de mandar uma mensagem para Ren e Kelsey. Vou escrever-lhes uma carta, para que eles saibam o quanto eu fui feliz. Você poderia garantir que, quando a missão deles estiver terminada, eles recebam esta carta?

 

Phet sorriu.

 

— Claro pai. Eles vão recebê-la.

 

Ele me trouxe papel e tinta. Eu escrevi a carta e lhe entreguei. Então deitei ao lado de minha amada. Ela virou a cabeça para mim e nossos olhos se encontraram pela última vez, antes de se fecharem definitivamente.

 



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