Hoje é um novo dia. E nada pode dar errado.
Assim que atravesso pelos guardas da empresa e caminho até o elevador próximo e menos movimentado, olho para o relógio de pulso e agradeço por ainda ser cedo o suficiente para organizar a sala de reuniões.
Encolho-me assim que entro no elevador, dividindo o pouco espaço com alguns funcionários de andares diferentes. O sétimo andar é o primeiro que o elevador escolhe, e eu me afasto, cumprimentando funcionários familiares e os recém contratados.
— Bom dia, senhorita Kim. — O único segurança da sala de reuniões me cumprimenta, abrindo caminho para que eu entre na sala um pouco arrumada. — Sinto muito, senhora, a minha equipe esqueceu de avisar a equipe de limpeza que utilizariam a sala hoje.
— Tudo bem. — Sorrio um pouco para o homem, que surpreendentemente abaixa o rosto para o chão, tímido. — Nunca o vi por aqui. É recém contratado? — Passo as folhas da pasta e organizo em cada fileira de mesa.
— Sim, sou novo por aqui. — Ele responde, agradável, referenciando com educação. — Me chamo Jackson Wang.
— É chinês? Interessante. — Indago, um pouco surpreendida. — Venha aqui, me ajude com as cadeiras, Segurança Wang.
Ele avança em alguns passos em direção às cadeiras giratórias, arrumando e separando-as como pedi. Um tempo depois, confiro os documentos distribuídos a mesa e faço algumas anotações para que jungkook possa compreender cada empresa, junto aos trabalhos de designer de cada uma.
Desvio minha atenção para o relógio da parede e percebo algumas pessoas entrando. Jackson me lança um olhar perdido, e eu confirmo para que ele deixe que eles entrem.
— Olá. Agradeço por virem. Podem se sentar. — Ofereço, acompanhando os diretores e seus funcionários para seus lugares.
Meu corpo dói em ansiedade, e meu estômago se embrulha com o sentimento de nervosismo. Pego meu celular no bolso do terno e dígito na caixa de mensagem do Presidente, mas desisto, não enviando por ser um pouco cedo demais para Jungkook chegar assim tão de repente.
Meu corpo sobressalta com o susto do barulho de notificações do telefone, e me recomponho, mirando meus olhos na recente mensagem.
Presidente
Estou à sua frente.
Jungkook está à minha frente?...
Ouço o som das cadeiras se rangendo em movimento, então viro-me, observando Jungkook marchar vagarosamente da porta da sala até sua cadeira, diante dos diretores de designer, referenciando em educação, sendo respondido com falas ou movimentos.
— Está se iniciando a reunião para decidir que empresa ficará como o Oficial Designer Gráfico da empresa de Jeon Jungkook. — Falo com a feição séria, e todos concordam, começando a checar os documentos sobre a mesa. Aproximo-me dele, apontando as anotações.
— Espero que dê tudo certo — Ele gira em torno dos dedos a caneta prateada, lendo na mente as palavras na folha de papel impresso. — Vamos conseguir, Secretaria Kim, vamos conseguir.
Observo Jungkook, confirmando com um sorriso pequeno, feliz por sua fé momentânea. Meus olhos apreciam por mais alguns segundos seu rosto, e param em seu corpo coberto pelo terno, e percebo que Jungkook ainda não aprendeu a ajeitar a gravata, que por meu ver, está amarrotada e apertada num nó bem apertado.
— A gravata... — Ele para de ler, e me encara, erguendo um pouco o rosto para ficar na altura que estou. — Não está apertando o seu pescoço? Parece um incômodo.
— Está tudo bem — Ele desfaz as sobrancelhas levantadas. — Estou bem. Agora vou me concentrar.
Fito as reações diferentes que ele faz, e concordo com sua resposta, mudando minha postura e concentrando-me nas feições dos futuros amigos de trabalho.
***
O rosto de Jeon Jungkook se ruboriza em um vermelho acalorado, e ele caminha de um lado para o outro, irritado.
— Merda. Eles só escolhem a minha empresa por causa do dinheiro, não para fazerem um acordo de uma vez. — Seu tom de voz é grave, forte, e ele mais uma vez joga para longe alguns livros do armário.
Deixo os documentos sobre o sofá, e caminho até ele.
Agacho-me, agarrando os livros jogados ao chão, nervosa. Lá fora, a chuva não passa, continua forte, barulhenta e enfurecida, assim como o Presidente está. Seus passos voltam a fazer leves barulhos no chão da sala, e percebo que eles param em minha frente, em seguida, seu corpo fica a minha altura, e meus olhos capturam os seus.
— Não precisa... — Ele começa, suspirando alto, olhando para qualquer outro quanto da sala. — Deixe como está. — O peso dos livros sai dos meus braços, e seus olhos pousam em mim, e agora, os meus pousam na sua gravata. — A minha mãe pediu para que eu levasse você para jantar lá em casa. Venha comigo.
Compreendo sua pressa, mas antes que ele se mova para voltar a sua altura normal, meu extinto organizador de antes volta à tona, e não apenas isso, porque minhas mãos tocam ágeis no pano sedoso da gravata preta áspera, reconstruindo-a com um nó que não aperte sua garganta.
— Desculpe-me — Ergo o olhar em direção a ele. — Eu errei novamente. Prometo que não farei mais isso... Senhor Jeon. — Meus dedos percorrem a extensão da gravata arrumada, e meus dedos abandonam o pano quando deixo de tocá-la. — E... Não perca mais a paciência, pode se machucar dá próxima vez.
Meus joelhos abandonam o chão e meus pés doem por ficar um tempo na mesma posição. Recolho o restante dos livros do chão e arrumo na prateleira, em seguida, Jungkook aparece, arrumando assim como eu.
E agora, eu e Jungkook estamos deixando para trás a empresa, passando pelos funcionários que nos cumprimentam e dizem sentir muito por mais uma derrotada, atiçando o %1 que resta da paciência dele, mas ele se concentra, entrando no elevador, saindo e adentrando o carro logo depois.
— Boa noite, senhora. — A voz vindo do banco do motorista tira a minha atenção focada, antes, na paisagem ainda chuvosa da janela a fora.
— Oh. Boa noite, Jackson — Eu respondo sua fala, sorrindo com a sua presença. — Parece feliz até demais para quem apenas dirige um carro. — Murmuro em meio a um sorriso pequeno, prestando atenção em seu rosto pelo retrovisor.
— E estou! Pensei que iria dirigir para outra pessoa. Mas estou dirigindo para o Presidente e sua Secretaria — Jackson fala animado, e ele volta a ficar sério, assim que olha através do retrovisor. — O Presidente... Dormiu.
Meus olhos captam o Senhor Jeon, que dorme numa posição nada confortável, com os braços ao redor do corpo e rosto virado em minha direção, queixo caído e olhos espremidos, cansados.
Minhas mãos tocam o rosto dele, e o levanto para que amanhã ele não sinto dor de cabeça e nem dor no pescoço.
— Não tenha pressa, Jackson... Vá devagar com o carro. — Jackson concorda lá da frente, desacelerando um pouco o carro.
Engulo em seco, percebendo que uma onda de nervosismo me reprime, colocando-me contra a parede junto ao esquisito frio na barriga acompanhado também a sensação de pavor. Por que eu não posso sentir isso, não agora, e não hoje. Sua feição adormecida me cativa e me teletransporta para as nuvens, um lugar bom. Minha mão treme, e mesmo assim, ela se ergue no ar, e toca mais uma vez os fios que atrapalham a minha visão concentrada em Jungkook.
Eu quero tocá-lo. Quero mais que um contato físico profissional. Quero Jungkook em meus braços.
E expressar isso mentalmente não ajuda. Pior ainda quando um pedaço de papel é meu aliado as minhas mágoas em relação ao Jeon.
E por causa desse sentimento, hesito em olhá-lo mais um pouco, e corto o contato de minha mão com seu cabelo, por que não estou sozinha. Eu não estou. Jackson me olha lá da frente, pelo retrovisor, e recua assim que me percebe.
— A senhora quer uma carona para casa? — Jackson pergunta, assim que estaciona a frente a casa dos jeon's. — Eu espero aqui, não precisa ter pressa. — Completa, e tentando não negar, eu concordo com um aceno simples.
— Já chegamos? — Jungkook se acomoda no banco, esfregando os olhos. — É. Chegamos. — Ele murmura, em seguida me olha, e sorri de canto. — Vamos. A mamãe deve estar esperando.
Eu concordo, balançando a cabeça, descendo com certa pressa do carro, sendo amparada por Jungkook, que não demora para pôr o guarda chuva sobre nós.
— Aliás — Jungkook me olha, terminando de apertar a campainha depois de passarmos pelo jardim. — O Senhor dormiu por sono ou são os remédios fazendo efeito? Que rápido.
— Não. Foi por causa do tempo chuvoso. Durmo mais fácil quando o tempo está assim. — Ouço passos se aproximando da porta. — É mais tranquilo.
A porta se abre e Jungkook caminha para dentro, deixando o guarda chuva encostado perto dos vasos de plantas. O sigo em seguida, cumprimentando os funcionários do casarão. Meus olhos pousam na estrutura mais uma vez, e sempre fico de queixo caído por conta da decoração ou os próprios móveis em si. Mesmo trabalhando a quase seis anos como funcionária de ouro da família Jeon.
Meus passos param assim que começo a entrar na sala do casarão, parando de vez quando encontro Jungkook de costas para mim, encarando com os olhos o lado de fora da casa, no jardim, e percebo a presença de seus pais, e uma terceira pessoa.
Paro ao lado dele, e ele percebe, e movimenta os ombros tensos. Ele se torna transparente, por que a tensão e o medo são desenhadas em suas pílulas escuras, profundas. A terceira pessoa percebe, ágil, e se vira em nossa direção, e não encontra os meus olhos, e sim os de Jungkook.
Ambos se encaram, sem suavidade nenhuma em seus rostos. É quase um espanto, na verdade, é um surpresa desagradável para Jungkook, ao contrário do homem alto, que deixa o sorriso preencher o seu rosto jovial.
— O quê... — Jungkook sussurra e eu me viro em sua direção, preocupada.
— Oi, irmão. — Jungkook franze a testa. — Quanto tempo... — O homem, antes encarando Jungkook, caminha até nós, referenciando assim que me percebe. — Não vai abraçar o Hyung?
— Quando voltou... Seokjin. — Ele fala, descartando a última fala do homem. — Pensei que ficaria a sua vida toda cozinhando suas gororobas para os americanos. — Jungkook ri, indagando com seu tom sério. — Fala sério...
— Presidente... — Sussurro para ele, e seus olhos me encaram. — A sua mãe... Está observando. É melhor não continuar com isso, por favor.
O silêncio depois do meu comentário cresce na sala, agora, abafada. Jungkook persiste com o olhar embaraçoso para mim, que é quebrado quando saltos altos são ouvidos, se aproximando da sala.
— Vamos jantar... — Há pausa na voz da senhora jeon, que encara os dois filhos, com tristeza, curiosidade e raiva. — Os dois. — Ela aponta. — Se resolvam. — Ela me encara, agora, com um sorriso bonito. — Venha comigo, querida.
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— S-Senhora, e-eu... — Jackson gagueja, continuando com os olhos arregalados. Ele agarra o Diário em uma das mãos, que por um descuido meu, deixei no carro. — E-Eu não queria ter lido... E-eu...
— Vamos beber. Preciso lhe contar uma coisa.
***
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