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História O Farfalhar dos Anjos - O cacto e o balão inflado


Escrita por: Sixxwins

Capítulo 15 - O cacto e o balão inflado


Fanfic / Fanfiction O Farfalhar dos Anjos - O cacto e o balão inflado

 

Após passar uma mensagem para Juvia informando do acontecido, Levy passou a andar de um lado a outro como um leão enjaulado, suas unhas estavam praticamente ruídas, não havia mais nada ali para roer e ela queria que houvesse. Estava tão perturbada e apavorada que esqueceu que não estava sozinha. A sala de espera contava com a presença de Sting e Lucy que se recusaram a abandoná-la naquele momento, além deles, mais duas pessoas estavam presentes e pelo que Sting foi capaz de ouvir, aquelas pessoas aguardavam ansiosamente pelo resultado de uma cirurgia de última hora de um parente extremamente doente.

— Acho que vou pegar um café. – murmurou Sting, piscando os olhos com força na tentativa de afastar o sono. – Você também quer, meu amor?

Lucy estava encolhida ao lado dele, mas não era de frio, ela também estava apavorada, sua cabeça tombou no ombro de Sting e ela pegou nas mãos dele para ter um pouco de conforto.

— Não quero. Mas é melhor você trazer para Levy. Ela precisa mais do que eu. – o olhar de Lucy correu na direção de Levy, que ainda andava para lá e para cá, parecia perdida. – Olhe só para ela. Seu estado. Parece que um trator desgovernado passou por cima dela ontem à noite. Estou assustada.

— Bem, ela está tentando manter a calma. Isso é bom. Ela anda suportando tanta coisa ultimamente, não está sendo fácil lidar com o desaparecimento de Rogue, mas o encontro com a detetive nos encheu de esperanças, e desde o encontro eu fui capaz de notar um brilho a mais no olhar dela. Levy está confiante. Essa cena que estamos presenciando aqui é apenas preocupação demasiada. Você sabe, o cara rabugento que está sendo atendido lá dentro salvou a vida dela. Odeio admitir, mas Levy deve muito a ele.

Lucy ficou quieta absorvendo as palavras de Sting como se estivesse sendo envenenada por um veneno invisível. Ele estava certo, mas mesmo assim havia algo de errado ali. Talvez Lucy fosse a única a perceber. E isso fez com que ela se lembrasse da pequena conversa que tivera com Sting em sua casa, onde ela afirmava que estava preocupada em relação à Gajeel. Ela confessou que não estava gostando da aproximação dos dois, mesmo que Sting tenha assegurado que nada poderia acontecer, Lucy teimava em se preocupar.

Lucy não poderia conversar com Levy agora para tentar entender seus sentimentos, e Levy simplesmente não falaria até que não tivesse certeza. Talvez fosse apenas alucinação da cabeça de Lucy, entretanto, sua única esperança era de Rogue aparecer imediatamente.

— Sei o que está pensando. – murmurou Sting, dando um beijo quente e acolhedor na testa dela. – E evite pensar nisso.

— Virou telepata agora? – ela abriu um sorriso fraco para ele.

— Bem, não exatamente. Mas eu te conheço, meu amor, ás vezes eu sou capaz de captar o que está pensando. – ele olhou para Levy, ela havia parado de andar de um lado a outro e agora encarava a janela com os braços cruzados. Estava amanhecendo. – Ah, estamos tendo um final de semana muito romântico. Eu sempre quis mofar numa cadeira na sala de espera de um hospital ao seu lado.

Lucy riu.

— Está incomodada, não está?

— Não estou incomodada por estar sentada aqui a mais de três horas, estou incomodada com outras coisas. Quero ser cega nesse ponto e evitar de enxergar o que eu acho que estou enxergando.

Sting compreendeu com um aceno de cabeça, em seguida encarou a porta por onde haviam levado Gajeel.

— Quer que eu o mate? – Sting propôs, rindo para Lucy. A proposta dele era tão ridícula de absurda que Lucy não conseguiu deixar de rir dele.

— Sting – ela disse baixo, enquanto sorria. –, é mais fácil você se matar na tentativa de matar ele do que matá-lo de fato.

— Foi uma piada para descontrair. Sei que foi de mau gosto. – ele se levantou. – Vou buscar um café. Quer alguma coisa? Talvez uns biscoitos. – ele estreitou os olhos. – Dizem que pelo menos os biscoitos de hospitais são bons. Mas evite pedir pão.

Ela se levantou, comprimindo os lábios.

— Eu não quero nada, obrigada.

— Estou a sua disposição. – ele saiu logo depois, mas se perdeu no caminho e teve que perguntar a uma enfermeira onde ficava a cantina.

Lucy se aproximou de Levy cautelosamente, os olhos dela estavam arregalados e a boca seca. Ela limpou a garganta para chamar sua atenção. Levy se virou para ela e abriu um sorriso fraco.

— Sting foi buscar um pouco de café. Não quer se sentar? – Levy negou, incapaz de abrir a boca para responder. – Você está em pé desde que chegamos, não acha melhor tentar descansar um pouco?

Levy respirou fundo antes de abrir a boca.

— Desculpe. Eu estraguei o seu final de semana. Sting deve estar bravo. Se vocês quiserem ir embora, podem ir. Eu fico aqui.

— Não. De maneira alguma. Você não estragou nada. Sting não está bravo, ao contrário, ele ficou feliz por ter ajudado. E não vamos deixar você aqui nesse estado. Minha consciência não iria me deixar tranquila se eu fizesse isso. – Lucy fez um carinho na bochecha da amiga, temendo pelas lágrimas. Os olhos dela estavam começando a lacrimejar. – Sei o que deve está sentindo, Levy.

E então ela desmoronou. Levy começou a chorar freneticamente nos braços da amiga. Lucy engoliu a bile, enquanto aninhava Levy nos seus braços.

— Sei que parece idiotice, mas ele é legal comigo quando quer. E eu sou totalmente grata a ele por tudo. Ele me salvou. Me salvou de ter cometido a maior burrice da minha vida. E não me importa se o Gajeel é um metido a besta. Não me importa se ele anda por aí desejando ter uma foice para arrancar a cabeça de todas as pessoas que o encaram. Eu sei por que ele é assim, e até entendo. – Levy fungou. – Ele é uma pessoa boa, eu sei que é, ele já praticou seu ato de bondade comigo. Não quero perder isso.

— Ele vai ficar bem. Foi só um tiro no ombro. – Lucy tentou inutilmente acalmá-la.

Sting voltou minutos depois carregando dois copos descartáveis, ele ofereceu um para Levy e ficou com o outro. Levy aceitou em silêncio e começou a beber como se o mundo dependesse daquilo. Lucy enxugou as lágrimas dela com um sorriso amigável e ela agradeceu com o olhar.

— E então? – perguntou Sting, tentando soar despreocupado diante da situação. – Como está o café?

Levy olhou para ele por cima do copo e mordeu o lábio.

— Ficaria melhor se estivesse amargo.

— Você não é muito fã de café amargo. – recordou Sting, sacudindo o dedo enquanto falava.

Levy apenas sorriu, mas seu sorriso cessou quando ela avistou Juvia ultrapassar as portas de vaivém. Ela estava sozinha, agarrada a bolsa, os olhos cheios d’água. Ela estava usando a mesma roupa de ontem, a maquiagem estava um pouco borrada. Toda a alegria que ela emanava conversando com Lyon horas atrás pareceu se esvair num piscar de olhos. Levy empurrou o copo de café inacabado para Lucy e correu ao encontro de Juvia. As duas se esmagaram num abraço apertado e começaram a conversar em murmúrios.

— Quem é aquela lá? – murmurou Sting ao lado de Lucy enquanto ambos assistiam a cena.

— Não faço à menor ideia. – ela respondeu.

Levy se aproximou com Juvia em seu encalço e tratou de apresentá-la.

— Essa aqui é Juvia, a dona do bar onde eu trabalho e também a melhor amiga de Gajeel. – ela apontou para ela, depois para Lucy e Sting. – Esse é Sting, o melhor amigo do meu noivo, e meu grande amigo também, e essa é Lucy, minha melhor amiga desde sempre.

— Olá. – acenou Sting, apertando o copo. – É um prazer te conhecer.

— Sei que o momento é meio inadequado para nos conhecermos, mas estou feliz que tenham ficado aqui com a minha garota. – Juvia deu tapinhas fracos no ombro de Levy.

— Oi. – Lucy estendeu a mão para ela. – Eu sou muito agradecida por você ter dado o emprego para Levy.

— Ah. – Juvia pegou na mão dela e fez um aperto rápido. – Não precisa agradecer. – em seguida ela se virou para Levy. – E... ele?

— Não sei. Ninguém deu notícias desde que ele começou a ser atendido. O médico ainda está lá dentro. – Juvia fechou os olhos por um momento, e quando os abriu, as lágrimas começaram a rolar. Levy deu um passo para trás, um pouco atônita. – Eu devia ter lhe contado o que estava acontecendo assim que ele me ligou, mas eu não quis te atrapalhar. Você estava tão feliz conversando com o Lyon, achei inconveniente interferir. – ela abaixou as vistas. – Agora eu vejo que agi mal por pensar assim. Você é a melhor amiga dele, tinha o direito de saber o mais rápido possível. Me desculpe.

Juvia a abraçou.

— Está tudo bem, Smurfette.

Sting e Lucy trocaram um olhar, como se estivessem se perguntando o que diabos é Smurfette, até finalmente o médico aparecer passando as mãos pelo cabelo ralo, ele tirou os óculos do rosto e coçou os olhos por um tempo, parecia exausto. Juvia e Levy correram ao encontro dele e começaram a disparar perguntas aleatórias. Lucy bebeu o resto do café que restava no copo que segurava e tentou esconder a tensão, enquanto Sting apurava os ouvidos para tentar entender o que o médico dizia.

Em seguida, as duas voaram para dentro do quarto onde Gajeel estava, o médico abriu um sorriso e olhou na direção de Sting e Lucy.

— Perdão – começou ele. –, mas o paciente precisa descansar, ele está bem acima de tudo e é um alívio em todas as hipóteses. Eu só autorizei a entrada daquelas duas porque parecia que o mundo iria acabar se elas não entrassem.

— Podemos acreditar – disse Sting. – que ele acabaria sim.

Juvia abriu a porta e colocou apenas a cabeça para dentro, Gajeel estava na cama de olhos fechados, o lado direito de seu ombro estava forrado com gazes. Os braços dele estavam visíveis agora, com isso, deu para ter a nítida visão dos diversos de curativos se espalhando por eles. Indo desde os pulsos até os ombros.

— Se a situação estiver muito feia, não quero ver. – murmurou Levy atrás de Juvia.

— Bom, o pior já está coberto. Vamos entrar.

Levy assentiu e seguiu Juvia, passou pela porta e a fechou lentamente para não acordar Gajeel, seus olhos vagaram na direção dele e seu coração se acalmou ao vê-lo vivo. Mesmo que o médico tenha lhe dito que ele estava bem, ela só iria acreditar se o visse.

— Você só me dá problemas. – sussurrou Juvia olhando para Gajeel, na esperança de que ele ouvisse. Ela contornou a cama. – E eu só lhe dou problemas. Nós dois somos uma dupla imbatível de problemáticos. Podemos colecionar nossos problemas e adicioná-los em um mural da vergonha. – ela sorriu timidamente para ele. – Olha só Smurfette, contemple a visão desse idiota, poderíamos tê-lo perdido para uma maldita bala.

Levy se aproximou cautelosamente, temendo que Gajeel abrisse os olhos e as repreendesse ali mesmo.

— Ele já passou por coisas piores, certo? – ela perguntou sem tirar os olhos dele.

— Mas nunca levou um tiro. – Juvia encarou o ombro enfaixado de Gajeel. – Deve doer muito.

— Mas já passou.

— Ele devia ter me ligado.

— Ele não queria te incomodar com problemas, você já tinha os seus.

Juvia bufou e sorriu ao mesmo tempo.

— Problemas? Que tipo de problemas? Os que eu estava tendo sofrendo feito uma condenada apenas porque um cara metido não me deu a atenção que eu tanto almejava? Bobagem! Eu largaria qualquer coisa, em qualquer situação, apenas para estender um braço para o Gaj. Ele é como se fosse o irmão mais velho que eu nunca tive. Eu jamais viraria as costas para ele.

— Eu sei disso, e admiro muito esse seu lado. De verdade. – Levy se inclinou sobre Gajeel para encará-lo de olhos fechados. – Sabe, parece ridículo o que eu vou dizer, mas olhando para ele assim de olhos fechados, ele parece até um anjo.

Juvia ergueu uma sobrancelha e se inclinou sobre ele também.

— Não sei como você consegue enxergar um anjo nessa criatura demoníaca, mas fico feliz que pense assim.

As duas se olharam e sorriram até uma voz ressoar fraca e rouca pelo quarto:

— O que é que, em nome de tudo, vocês estão fazendo em cima de mim?

Juvia e Levy viraram a cabeça automaticamente no rumo de Gajeel e tiveram que conter a vontade de se jogarem em cima dele, Juvia foi a primeira a ter uma iniciativa, ela começou a comemorar e beijou as bochechas dele e depois sua testa, ele reclamou, mas acabou sorrindo com o gesto, em seguida olhou para Levy.

— Não vai me beijar também? – ele perguntou, soando malicioso.

— Não me faça querer dar um tiro no seu outro ombro. – ela respondeu.

...

— E aí? – perguntou Lucy, assim que viu Levy se aproximar. – Como ele está?

— Ele está bem. Ou pelo menos quer demonstrar que está.

— Viu? Você se preocupou por nada. Não precisava ter chorado tanto daquele jeito como se uma parte de você tivesse se dilacerando. – ela analisou o olhar de Levy. – Vai ficar?

— Juvia está lá dentro com ele, não sabemos quando receberá alta. Eu pensei em ficar mais um pouco para dar apoio. Eles precisam de mim.

Sting concordou a contra gosto.

— Tudo bem Levynha, se você acha que é melhor assim. Eu estava pensando em levar a Lucy em casa para ela descansar. – Levy sorriu, sabia que era Sting quem queria sair dali a qualquer custo. – E já que a amiga dele está aqui, talvez você fique mais segura.

— Eu posso ficar se você quiser. – ofereceu Lucy. – Não seria problema nenhum.

— Ah, não, não... você já fez muito e eu estou grata por isso. Obrigada. Mas Sting tem razão, é melhor você ir para casa descansar. Aliás, vocês dois devem descansar. Fizeram muito por mim.

— Mas...

— Vem Lucy. – Sting começou a puxá-la. – Cada um de nós merece um pouco de descanso de vez em quando.

— Me dê notícias. – pediu Lucy, enquanto deixava Sting puxá-la.

— Pode deixar! – Levy bateu continência e sorriu.

— Você pode me dizer uma coisa? – perguntou Lucy minutos depois, assim que Sting abriu a porta para ela.

— Depois que você comer alguma coisa, eu posso pensar no assunto.

Lucy revirou os olhos e passou pela porta, era reconfortante está em casa novamente depois do que acontecera, ela não sabia se seria capaz de esquecer a cena de Gajeel todo ensanguentado deitado no banco de trás do carro do seu namorado.

— Eu preciso mesmo saber. – ela insistiu enquanto se sentava no sofá.

— Claro. Tudo bem, você venceu. O que é? – ele se sentou ao lado dela, soando curioso.

— De 0 a 10, quais as chances da detetive encontrar o Rogue no período curto de uma semana?

— Uma semana? – ele se espantou. – Uma semana, você disse?

— Sim. Quais são as probabilidades?

— Por que está me perguntando isso agora?

— Porque você esteve com a detetive e conversou com ela. Você deve ter uma noção do tamanho da capacidade dela, e mesmo que não tenha, especule as chances para mim, por favor? – ela parecia suplicar com os olhos.

Sting se rendeu, pensou por um tempo e ergueu para Lucy os dez dedos. Isso foi o suficiente para deixá-la mais relaxada. Os dois ficaram em silêncio, aquele silêncio inconstante estava deixando ele entediado, então ele se ergueu para frente e olhou para ela.

— O que aconteceu essa madrugada me fez pensar que se algo extremamente grave lhe acontecesse, eu iria ficar aos cacos. Por isso eu quero te proteger dos maus desse mundo, e você sabe Lucy, eu amo você. Amo você mais do que qualquer coisa. – Lucy engoliu em seco e desviou o olhar. – E sabe o que me fez pensar também? Que de todos esses meses que estamos juntos, você nunca me disse a frase.

Ela mordeu o canto interior do lábio, querendo que ele desse a conversar por encerrada, mas ele se inclinou mais sobre ela e prosseguiu:

— Você sabe do que eu estou falando, não é Lucy? Eu não quero te forçar a nada, mas também não quero ficar numa expectativa inválida. Você sabe dos meus sentimentos e talvez deva ser por isso que estamos juntos. Porém, eu não sei dos seus porque você nunca diz.

— Sting, eu passei a noite em claro, então não venha tentar me cansar ainda mais dizendo coisas sem nexo.

— Sem nexo. Certo. Tudo bem. – ele se levantou e correu as mãos pelo cabelo. O cabelo dele, quase impecável, agora estava eriçado e bagunçado. – Você não acha que eu deveria saber se você quer continuar com isso?

— Com isso? – ela repetiu num fio de voz.

— Há muito tempo eu venho pensando sobre isso, mas evito tocar no assunto porque não quero ficar te perturbando em relação a mim, mas é inevitável. Eu estou feliz com você, muito mesmo, mas das muitas vezes em que nós saíamos com Rogue e Levy eu percebia coisas. Ela o tratava de uma forma que você nunca me tratou. Talvez fosse o seu jeito, mas com o decorrer dos tempos me convenci de que talvez não.

— O que você quer dizer com isso? – Lucy se levantou, ficando frente a frente com Sting, alguns centímetros mais baixa que ele.

— Quando estamos em um relacionamento, não quer dizer que o outro seja propriedade sua. Nós somos livres e ficamos presos a alguém pelo sentimento de bem estar que o outro provoca, que se tornam motivos pra ficar. Viver a dois não quer dizer que você vai ter que comandar os passos do outro. Não pertencemos a ninguém e não podemos querer ser dono dos desejos, da vontade ou dos sonhos de quem quer que seja. O amor num relacionamento a dois é troca, uma constante troca de afeto, diálogo, respeito e carinho. Quando não há diálogo e companheirismo, não há troca. Prevalece o egoísmo. Onde existe egoísmo, não existe dois: somente um.

Lucy abriu a boca, mas Sting fez um gesto com a mão para ela não dizer nada.

— Desculpe, eu não devia falar essas coisas agora com o Rogue desaparecido e Levy num hospital preocupada com outro cara. Mas eu preciso. – ele ergueu o olhar para ela, parecia triste, cansado e, sobretudo derrotado.

— Você fala coisas estranhas quando perde muitas horas de sono. – Lucy lembrou com a voz baixa. – E você está estranho agora, talvez depois que você dormir, nós podemos retomar esse assunto e eu...

— Você me ama?

— O quê? – Lucy foi pega de surpresa.

— Eu perguntei se você me ama. Você me ama ou pelo menos me amou algum dia? – ela não respondeu, seus olhos estavam arregalados o suficiente para assustá-lo diante de uma pergunta tão simples. – Você não precisa ficar presa a mim só porque eu te faço bem e lhe dou conforto o suficiente, eu não quero desperdiçar o meu tempo ao lado de uma pessoa infame. Eu só acho que você devia ter me dito antes. Porque a essa altura, dói depositar todas as minhas esperanças e sonhos em alguém que nunca se importou.

Cada palavra que saía da boca de Sting parecia um soco direcionado em diferentes partes do corpo dela.

— Eu me importo com você, sempre me importei. Você é essencial em minha vida, a deixou mais colorida com as suas brincadeiras idiotas e piadas ruins. Até quando estou no pior dos dias, você chega e tenta me animar das diferentes formas possíveis, sou muito grata a você.

— Já que é, poderia ser honesta e me responder o que realmente sente em relação a mim? Porque às vezes penso que você só está comigo porque a Levy escolheu o Rogue e você não quis ficar sozinha na arquibancada.

Lucy deixou o corpo cair, sentou no sofá como se estivesse se sentando numa cama de pregos. Sting realmente chegou à parte da conversa que Lucy tanto temia. Ela sabia que mais cedo ou mais tarde ele iria pressioná-la para saber o rumo do relacionamento dos dois, e não queria que fosse agora, não com ela cansada, com os olhos ardendo de sono, o pescoço doendo e sua mente coberta de preocupações direcionadas a Levy.

— Eu usei meu ombro de travesseiro para você naquele hospital, e não me importei com a dor. Não me importo. Eu fico satisfeito quando você me machuca, pelo menos eu sirvo para alguma coisa.

— Sting!

— Não quero te prender, Lucy. Então não me prenda. Vou perguntar apenas uma vez. – ele se agachou diante dela e se segurou em seus joelhos para se equilibrar, o toque dele a enrijeceu. – Você me ama?

Ela piscou, trêmula.

— Você pode ir, se quiser. – foi à resposta dela. – Eu não sou uma gaiola, e você muito menos um pássaro. – Lucy tocou nas mãos dele, ambas tremendo. – Desculpe. Eu juro que tentei durante esses meses, queria acreditar que conseguiria. Mas... não.

— Não? – ele parecia decepcionado e arrasado.

— Eu não te amo. Dói mais em mim admitir que, provavelmente nunca amei.

Ele se encolheu como se tivesse acabado de ser atingido com algo bem duro na boca do estômago, ele se levantou enxugando as mãos suadas na própria calça. Um sorriso derrotado veio a seguir.

— Obrigado pela sua honestidade.

— Mas em alguns momentos eu senti amor por você. – ela tentou alcançar o braço de Sting, mas ele recuou, chegando cada vez mais perto da porta.

— Você poderia chamar o que sentia por mim de qualquer coisa, menos de amor, Lucy. – ele caminhou até a porta, se esforçando para manter sua postura firme. – Não banalize o amor. – e saiu batendo a porta com força atrás de si.

...

Juvia tentava empurrar uma sopa horrível na goela de Gajeel, mas ele virava a cara com uma careta, bancando a criança mimada que provavelmente ele fora quando mais novo. Juvia desistiu largando o prato de sopa na mesa e se levantando, amaldiçoando o seu melhor amigo dos piores nomes. Levy estava rindo, se lembrando que Gajeel teve vontade de espancar uma enfermeira para lhe trazer algo decente para comer ao invés de sopa de frango com legumes.

— Isso tem gosto de bunda. – ele reclamou encarando o prato como se quisesse explodi-lo, e de fato explodiria se pudesse.

— Você vai ter que se alimentar com isso se quiser ficar bom o suficiente para ter alta. – provocou Juvia de braços cruzados. – A menos, é claro, que queira transformar o hospital de hotel e ficar aqui por muito tempo. – Gajeel ficou calado e Juvia prosseguiu. – Bem feito pra você. – Juvia apontou para Levy. – Ela me contou que você levou um tiro por culpa daquele projeto de vagabunda que estava com você. – Juvia mostrou língua pra ele. – Isso é o que dá quando você se envolve com qualquer uma. E ainda por cima trata a Smurfette mal na frente dela só pra fazer pose! Que ação feia! Eu estava planejando em decapitar a sua cabeça, mas o tiro foi melhor.

— Escuta aqui, você chorou por minha causa que eu sei, e ainda estaria chorando se eu não estivesse bem. Não venha dizer que foi um bem feito, eu já aprendi com esse errinho bobo, então se acalma aí e some daqui com essa gororoba.  – ele se remexeu e fez uma cara de desconforto resmungando um xingamento em voz baixa. Levy correu até ele para prestar assistência.

— Machucou? – ela perguntou, arrumando os travesseiros atrás dele. – Não se esforce, quer estourar os seus pontos?

O olhar de Gajeel passou de Levy para Juvia. Juvia olhava para ele alarmada, prestes a fazer qualquer coisa que tivesse ao seu alcance se acaso ele pedisse.

— Eu estou bem. – seu olhar voltou para Levy. – E você devia ir descansar. Não precisa ficar aqui o tempo todo.

— Estou feliz por você estar vivo.

— Ei, não vai me matando. – eles sorriram, Juvia ficou um pouco afastada, assistindo a cena com um sorriso malicioso. – Pode ir descansar, eu tô bem. E você está com a cara péssima, cheia de olheiras, o sono vai te derrubar a qualquer momento. Seus olhos estão assustadoramente inchados.

Ela olhou para os próprios pés, envergonhada.

— Meus olhos estão inchados porque eu chorei.

— Chorou?

— Pensei que você iria morrer. Nessa circunstância eu chorei.

— Você chorou por minha causa? – ele abriu a boca, surpreso.

— Olha – Juvia se intrometeu, aproximando-se da cama e pegando o prato de sopa da mesa ao lado. –, eu vou dar uma volta na cantina, e se eu encontrar uma enfermeira, eu vou tentar convencê-la em trazer outra coisa para você comer, e se acaso você recusar, vamos te fazer comer a força. – ela piscou e saiu cantarolando.

— Ela tenta me botar medo, sinto uma pontada de pena quando vejo que ela falha miseravelmente. – Gajeel olhou para a porta, em seguida subiu o olhar para Levy parada ao lado dele. – O que eu faço agora? Agradeço por você ter chorado, te xingo, enxoto daqui, fico em silêncio, peço desculpas por ter te tratado mal na frente daquela garota, ou... sei lá?

— Sei lá. – ela respondeu, suas bochechas ainda rubras. – E não precisa se desculpar. Você não acha que anda se desculpando muito ultimamente? – ele apenas sorriu com os lábios unidos. – Eu que devo te pedir desculpa por ter imaginado aquela besteira em relação com a loja. Juro que não vai se repetir.

— Bem, já que tem tanta consideração assim por mim a ponto até de derramar lágrimas temendo pela minha morte incalculável, deveria me ajudar a fugir daqui.

— Não. – ela respondeu imediatamente. – Não vou colaborar com isso.

— Eu sabia. – ele fechou os olhos, rindo pelo nariz. – De qualquer forma você fez muito por mim. Estamos quites agora. Eu salvei sua vida e você salvou a minha. Não devemos nada um para o outro.

— Não fiz isso só porque você me salvou, fiz porque deveria fazer.

  Ele balançou a cabeça, os olhos ainda fechados.

— Está confortável? Quer que eu ajeite os travesseiros?

— Estou bem, baixinha. Não se preocupe. – ele abriu os olhos e piscou. – Pode se sentar aqui, se quiser. – ele indicou um canto vago da cama.

Levy se aproximou e se sentou ao lado de Gajeel, ela se sentiu incomodada por olhá-lo de cima e então deitou ao seu lado, se ajeitando com cuidado para não tirar nada do lugar nem machucá-lo. Ela apoiou a cabeça no ombro bom dele. Ficaram deitados ali em silêncio por algum tempo, escutando o vaivém dos passos suaves das enfermeiras lá fora, conversando ao longe. Levy fechou os olhos, sentindo o calor da pele dele em seu rosto, o cheiro desagradável de desinfetante químico emanando de seu corpo. Ela tentou não pensar em nada naquele momento, apenas nele. Sentindo sua presença, o espaço que ele ocupava ali.

— Você me assustou, Gajeel.

Houve um longo silêncio, ela quase conseguia ouvi-lo pensando nos milhões de coisas que ele decidiu não dizer.

— Que bom que você está aqui. – falou ele, no fim das contas.

Juvia voltou para o quarto trazendo um pouco de café, ela ergueu uma sobrancelha ao ver Levy tão perto de Gajeel, deitada ao lado dele. Levy saiu da cama com relutância e afagou o cabelo longo dele esparramado naquela cama, ele ergueu os olhos e Levy percebeu um pouco do que significava para ele.

Gajeel sorriu e pegou no sono olhando para elas.

— Obrigada. – Juvia esticou o braço, Levy sorriu e esticou o dela, elas ficaram de mãos dadas por um bom tempo. – Não sei se seria forte o bastante para aguentar tudo isso sozinha. Você está me dando uma força e tanto, Smurfette.

Levy apenas sorriu, agradecida.

— Me sinto feliz por saber que eu não sou a única a me importar tanto com o Gajeel.

As duas olharam para ele, a boca dele estava curvada para um sorriso.

— Eu me importo. – disse Levy, baixinho.

— Vocês estão se aproximando mais, e eu estou contente com isso. – Juvia acariciou a mão de Levy, sorrindo. – Você era cacto e ele era um balão inflado cheio de um ar arrogante e superior, que se achava inflado demais para se aproximar de outras pessoas, ele tinha medo do simples. Acho que você rompeu uma barreira, querido cacto.

 



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