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História O Filho de Hades - Ennéa


Escrita por: taesahk

Capítulo 9 - Ennéa


Fanfic / Fanfiction O Filho de Hades - Ennéa

"Sou como um barco na água

Você é todos os raios e ondas

que acalmam a minha mente"

 

Alguns meses antes

Taehyung desenhava as estruturas do museu do Louvre de longe, enquanto tomava um café horrível de uma lanchonete qualquer, havia se acostumado com aquele líquido escuro e amargo. Suas calças de couro apenas o faziam sofrer sob o sol da França, mas ele não se importava, apenas gostaria de distrair sua mente com o lápis que segurava sobre o papel. E todas as vezes que traçava linhas finas ou grossas com o grafite, sentia tristeza por ter largado a Universidade de Artes de Paris. Pensando sobre a Europa, sentia falta de casa, de Daegu e de sua mãe. 

Sentia falta de sua mãe mais do que qualquer outra coisa. 

A ponta do lápis quebrou devido à força que o tatuado aplicava. Estava com raiva. Droga, ele havia acordado cedo naquela manhã para tomar um sol, um café, desenhar qualquer coisa a fim de não sentir exatamente essa raiva e frustração. Cansado, deixou um trocado sobre mesa para o garçom, juntou seu caderno e foi fazer o que mais amava: uma tatuagem. 

Ele se lembrava da primeira tatuagem que havia feito, ela tinha um grande significado e era de uma memória que ele não queria esquecer. No entanto, depois de sentir prazer na dor que a agulha lhe causava na pele, como se o castigasse de todos os pecados, pegou o gosto por escolher desenhos que apenas gostava. O sangue não o incomodava mais do que todas as coisas que fizera sob as ordens seu pai. 

- Senhor Kim, achei que não viria mais. - Disse um homem branco e barbudo. Ele tinha tatuagens até o seu rosto, o que era bem autêntico.

- Eu sempre venho, Edgar. - Taehyung cumprimenta o tatuador e sorri minimamente. Não queria denunciar seu mal humorista pessoas aleatórias.

- E o que vai ser dessa vez? Um dragão? 

- Não, um dragão não. - Disse enquanto pesquisava algumas fotos em seu celular. - Eu estava pensando aqui e gostaria de flores no meu pescoço. Rosas, para ser exato. 

- Parece excêntrico. Vamos começar? Não tenho horário marcado agora. 

Taehyung estava feliz com sua decisão, simpatizava com a ideia de ter flores em seu pescoço. Era uma parte de seu corpo que ele se sentia confiante, apesar de ter conhecimento sobre sua beleza física. Mas o pescoço... Era grande, forte e moreno. Ele apenas gostava de imaginar alguém lhe mordendo e lhe beijando no local depois que estivesse com a tatuagem cicatrizada.

- Vamos. 

Enquanto Kim se acomodava na cadeira em uma posição extremamente desconfortável e a agulha penetrava sua derme, ele pensava se tudo aquilo que estava fazendo para seu pai iria acabar. Se a sua mãe ficaria bem e se o plano de Hades sucederia. Ele torcia para que nada daquela merda desse certo, mesmo que todos os seus crimes tenham sido em vão. 

Foram duas horas com o pescoço virado e perdendo sangue até que o desenho terminasse. Estralou seus ossos depois que foi aplicado plástico na região, para enfim pagar a arte que agora estava cravada em seu corpo, para sempre. 

O loiro caminhou com preguiça de volta para o museu do Louvre, onde encontraria seu odiado pai e quando pegou os ingresso da entrada, seguiu o caminho que tanto conhecia para o quadro 'A Barca de Dante'*, por Eugène Delacroix. Era uma arte linda - mesmo que mórbida - e rica em detalhes, pena que era uma porta de passagem adimensional para o submundo. 

Taehyung, então, tira de seu bolso um frasco de névoa* e solta-a no ar, para que enganasse olhos humanos do que ele estava prestes a fazer. Depois de ficar espessa o suficiente, Kim, estica sua mão áurea para a tela pintada e sente quando o quadro começa a engolir seu corpo aos poucos, fazendo-o fechar os olhos e impulsionar seu corpo para dentro daquele portal maldito. Quando volta a usar sua visão, já está no cais de Caronte, o barqueiro do submundo.

- Pague... - Caronte se aproxima, com sua figura sinistra e melancólica. Sua feição como a de uma caveira e olhos grandes além do normal, em conjunto com o manto velho e mãos ossudas, faziam-no assustador. 

O filho de Hades joga cinco moedas de dracma no rio lodoso em que estavam, para então o barqueiro tomar rumo naquele mundo sombrio. Taehyung senta-se sobre a proa e chega à conclusão que odeia aquele lugar, mesmo sendo uma prole do deus da morte. Um nevoeiro grosso bloqueava a visão de Taehyung ao redor, o frio cadavérico atingia-lhe a pele e sussurros sofridos podiam ser ouvidos de todas as partes, como se pessoas implorassem uma passagem a Caronte. O único problema é que o tatuado não via ninguém ali, além dele. 

Quando começa a sentir a temperatura se normalizando, soube que estavam começando a navegar sobre o Rio Estige, um dos rios que poderia tanto levar ao Tártaro quando para a casa de Hades. Por enquanto, ele iria para a casa do deus dos mortos, infelizmente ou felizmente. 

Quando chega, desembarca em uma longa ponte que levaria até a porta principal. Do seu lado havia Cérbero, um cão de três cabeças e filhote de seu pai. Era uma besta linda, pelo menos pra Taehyung, no entanto, terrível e má. E se aquele monstro não conhecesse Kim, ele já teria virado um pedaço de carne fresca. 

- Vejo que cresceu. - Taehyung murmura para a besta ao abrir a porta da mansão, que rosna como resposta. O animal tinha em torno de 3 metros de altura, sentado. - Bom menino.

Taehyung procurava por seu pai naquela mansão escura e com cheiro de enxofre. Ele só não espera encontrar Hades conversando com Ares no salão principal, provavelmente compilando contra todo o Olimpo.

- A Espada de Atena está comigo. A profecia está a salva. - Ares diz, entusiasmado. 

Taehyung observava de fora, escondido atrás da parede. Ele não queria que os deuses parassem de conversar. Precisava de mais informações sobre os planos que o deus da morte tinha, pois apesar de saber o básico, haviam muitos buracos vazios para completar. E a espada de Atena era um deles. 

- Como conseguiu? - a voz grave e alta de Hades soava maligna na sala cheia de ecos.

- Hermes a roubou. Ele entende nossos planos, eu soube que ele entenderia. 

- Então ele sabe da profecia? - Hades parecia tenso em ter outro deus envolvido nos seus negócios.

- Ele descobriu sobre a profecia quando estava no Egito preparando seu ritual do sol, no Nilo. - Ares deu uma pausa - Não se preocupe, ele destruiu. Foi o último oráculo. 

- Taehyung não anda fazendo um bom trabalho. Não mesmo... Como um insolente que é. - Hades proferiu. - Saia das sombras, meu unigênito. 

Estava bom demais para Taehyung conseguir espionar sem ser pego por um deus, mas pelo menos havia tentado. Como sempre fizera, inutilmente. Deu alguns passos em direção as duas divindades, com um sorriso nada respeitoso, afinal, os odiava. 

Ares se encontrava na forma de seu receptáculo humano, provavelmente porque andava a vagar sobre a terra. Já Hades, estava com seu manto divino e sua máscara grega de cerâmica e por trás dela havia uma grande quantidade de fumaça negra saindo, como se seu rosto queimasse. Kim sabia que se Hades revelasse sua verdadeira face para um humano ou semideus, a vítima viraria pó instantâneo. Sempre fora assim, o homem nunca poderia ver o verdadeiro rosto de um deus, porque além de mortal, era pecado.

- Porque possui a Espada de Atena? - O tatuado cruza os braços. 

- Você não pode saber disso. Apenas siga suas ordens. - Ares interrompe a conversa de pai para filho. 

- Eu já fiz tudo que me mandou fazer, pai. Deixe-me ver a minha mãe! - Diz mais alto, apontando para o suposto rosto atrás da máscara. 

- O seu trabalho ainda não acabou. - Hades ri, enquanto caminha para seu trono. - Até a profecia não desaparecer como pó, eu não darei permissão para você ir embora, meu querido filho. 

- QUE DROGA DE PROFECIA É ESSA? - Taehyung grita. O garoto correria até o deus da morte, se não tivesse sido impedido pelos braços fortes e humanos de Ares.

- Não é da sua conta. Apenas me obedeça, como Ares disse. Caso contrário, sua mãe vai para o limbo.

- Se a odeia tanto assim, porque se aventurou com ela e me teve? Isso não faz sentido, seu velho imundo. - Solta-se agressivamente das mãos de Ares, mas permanece no mesmo lugar. 

- Um dia, rapaz, quando tudo isso acabar e eu ter o meu mundo de novo, fará todo o sentido. - Hades diz, como se citasse um poema sem graça e sem nexo. - PERSÉFONE!

Sua esposa aparece no grande salão, vestindo apenas um roupão de ceda, que caia por seus ombros, deixando a mostra seus seios fartos e seus colares de ouro. Ela era realmente bonita, não só pelo seu corpo, mas pelo seu rosto, uma vez que não precisava usar máscara por não ser uma dos Doze Deuses. Dessa forma, todos as divindades de patente menores podiam adotar feições que lhes agradassem mais, no caso, Hades que escolhera todas as atribuições físicas da deusa. Ele mandava nela e ela era dele, como uma escrava. 

Por um momento o loiro sentia muito por Hades tê-la sequestrado como sua esposa, milênios atrás. 

- Guarde a Espada de Atena com Cérbero, ele irá protegê-la. - Ares entrega a espada para a pobre divindade e ela caminha para longe, com os ombros caídos, como se sempre estivesse cansada. 

A espada era bela, grande e reluzente. Taehyung pode observar que sobre seu metal haviam escrituras gregas, mas não pode lê-las, porém não lhe passou despercebido os detalhes do punho. O cabo era coberto de diamantes, complementando o pomo, este com o formato de uma coruja, que reluzia em uma escultura de ouro. Era perfeita, supostamente como a deusa que havia a criado. 

- Taehyung eu tenho pena de você, sempre vivendo à margem, mesmo sendo meu filho. Sempre tentando conseguir informações como um rato. Não há necessidade para tanto... - Hades gargalha sobre seu próprio trono - Porém, já que mostra um grande interesse, vou-lhe dizer uma coisa sobre a espada. 

Taehyung queria xingá-lo por ser comparado a um rato, mas se parasse para pensar, se relacionaria. Vivia, de fato, escondido pela casa de Hades, tentando achar migalhas de informações que fizessem sentido para ele. Como Kim não respondeu absolutamente nada, Hades continuou sua história de mal gosto. 

- Você sabe as razões que me fizeram rebelar secretamente contra o Olimpo, mas a grande causa disso é justamente Atena e sua bela espada. No outono de 1997, ela sacrificou um grande amor humano pela a paz, enfiando sua espada no coração de um pobre homem. Com isso, os homens desistiram da guerra do século, como se a ideia nunca tivesse existido. Assim, do sangue derramado e do corpo morto, nasceu a Universidade de Triskle, construída por Atena, deusa da arquitetura e sabedoria, para que semideuses e humanos convivessem juntos, além de oferecer proteção para os malditos meio-sangues. Foi a ideia perfeita, mesmo que triste. 

- Atena trouxe paz com um sacrificio que ela fez, é isto que diz? - Taehyung perguntou. - Ela impediu a guerra?

- Não exatamente a paz. A deusa apenas estabeleceu um armistício entre os homens, fazendo-os esquecer o motivo de começarem a Terceira Grande Guerra. Você já sabe dessa história. - Hades termina o que dizia e Taehyung apenas concorda com suas palavras. 

Ele se lembrava aos poucos da história sobre a suposta guerra dos Tigres Asiáticos, a qual Ares havia lhe informado anos atrás. E saber que o motivo do motim do deus do submundo e do deus da guerra fora causada devido às consequências de um sacrifício de Atena, era surpreendente. Quanto mais Kim parecia saber sobre a mitologia da qual fazia parte, mais parecia não saber de absolutamente nada. 

Taehyung estava prestes a perguntar o nome do homem que havia morrido pelas mãos de Atena, o qual ela era apaixonada, mas foi interrompido por um Espectro de Hades* gritando palavras em grego pelo local. 

- O QUE? - Hades levantou-se - Vocês são inúteis, saia da minha frente agora!

- O que houve? - Ares pergunta, se manifestando depois de um longo tempo.

- Minha querida esposa, roubou a Espada de Atena. Ela é uma vagabunda traidora.

Perséfone havia roubando a espada e o desespero dos deuses naquele momento, só fazia Taehyung questionar do porquê eles precisavam dela, seria a espada parte da profecia que tanto escondiam de Kim? Na verdade, esconder a profecia dele já era demasiado estranho. Afinal, o que ele faria com uma profecia se nem ao menos saberia interpreta-lá? 

- Taehyung, você deve buscar a espada e Perséfone. Traga-a viva. - Hades disse. 

- Como se eu fosse capaz de matá-la... - Taehyung zomba. Hades quis queima-lo por isso. 

- Você será capaz de render e mata- la, se estiver com a minha lança. Ela te dará força, mas só quando a segurar. No entanto, traga a espada intacta e Perséfone viva, como seu pai pediu. - Ares entrega um objeto retangular com desenhos de cães esculpidos sobre ele. 

Quando Taehyung segura a peça, sente seu grande peso, ao mesmo tempo que presencia uma grande energia subindo por suas veias até se concentrar em seu peito. Era verdade o que Ares dizia, ele se sentia muito forte, quase imortal. Perguntava-se se poderia desafiar algum dos deuses ali presentes, seria bom demais. 

- Com todas essas sensações que estou sentindo agora... - Faz um movimento com a arma, que se expande como uma máquina, transformando-se em uma grande e longa lança. Era brilhante e perigosa. - Faz eu me questionar se não posso matar um de vocês agora mesmo. - sorri ladino.

- Não seja burro. Seu pai é um dos Três Grandes e se eu abandonasse meu receptáculo e adquirisse minha verdadeira forma, você não teria a mínima chance. - Ares escora-se na parede, cruzando os braços como se falasse com uma criança. 

- Não esqueça que tenho sua mãe Taehyung, não queira se voltar contra mim... - Hades diz maléfico, brincando com seus anéis da mão. Mesmo Taehyung não podendo observar o rosto daquele demônio, sabia que ele estava sorrindo. 

O filho de Hades resmungou e fez um movimento para traz com a lança, fazendo-a voltar no simples objeto que era antes. Ele caminhou para fora daquela casa com o verdadeiro objetivo de trazer Perséfone a seu pai, apenas não sabia que no final, a mataria e sua mãe seria mandada para Campos Asfódelos*.

 

Dias atuais, Busan

Algumas pessoas nascem predestinadas à riqueza, outras à grandeza, outras apenas vivem ordinariamente. Jeon Jungkook realmente não acreditava em destino, mas se alguém lhe perguntasse, ele responderia que nasceu para ser esquecido. Afinal, ser filho de Atena não era um presente que ele escolhera, muito menos gostava. Não tinha uma casa, não tinha uma família, não tinha dinheiro. Ele tinha apenas amigos que o amavam, no entanto, seu amor próprio já estava condenado desde que começou a tem consciência de sua mínima existência. 

Como ele poderia ter se tornado uma pessoa tão especial a ponto de roubar o mundo de um deus? Não, de um deus não. De Hades, um dos Três Grandes. Era verdade que sempre sentira uma dor imaginária em seus ombros, como se carregasse um grande fardo. Só não sabia qual, nem se importava. Talvez era só pelo fato de ser um semideus com alta qualidade acadêmica, ou só o peso do fracasso emocional que constantemente sentia.

"Devolva o meu mundo", eram palavras que martelavam em sua cabeça e elas não faziam nenhum sentido. Nem para Jungkook, nem para Taehyung. Ele se perguntava como se envolverá naquela confusão do filho de Hades. Desesperadamente, ele gostaria de ter seu caderno de anotações para escrever tópicos, uma vez que se sentia cada vez mais perdido em sua própria história. Jeon precisava pensar. 

- O que foi isso? - Hoseok pergunta, quebrando o silêncio após Hades desaparecer no ar. 

- TAEHYUNG QUE MERDA FOI ESSA? - Jimin vai até o tatuado, empurrando-o no peito e gritando de raiva. Queria explicações, como todos.

- Eu não posso falar, imbecil. - Taehyung range os dentes, empurrando as mãos de Jimin para longe de seu corpo. - Mas se querem saber, não sei porque Hades disse aquilo. 

- O que faremos agora? - Jungkook se limita a perguntar, estava confuso demais para engajar em uma conversa que só lhe traria mais dúvidas. 

- A gente tem que sair daqui. - Taehyung diz - Não estamos seguro e eu perdi a única coisa que estava me impedindo de ser achado por Hades. Ele mandará alguma coisa atrás de nós. Precisamos voltar para Triskle agora, Taemin saberá o que fazer. 

Jungkook sabia, o Segundo Diretor estava envolvido no que quer que aquela bagunça era. Ele queria socar Taehyung e o filho de Hera, com todas as suas forças. Relembrava-se aos poucos da razão por nunca haver confiado no dono daquelas tatuagens lindas, pois desde o dia que chegará em sua vida, não havia tido nenhum sossego. Sim, ele sabia que Kim havia o resgatado de situações horríveis e salvado seu amigo de um mar demoníaco, mas frustrava-se porque sentia que parte dos desastres que surgiam aos poucos era pro causa do loiro, que agora lhe olhava preocupado. 

- Você sabe que não da tempo de ir até a Universidade sem alguma criatura de Hades aparecer no meio do caminho. - Jimim diz, ainda exaltado. -  E se não sabe, filho de morte, estamos malditamente desarmados.

- Calma, Jimin. Eu conheço um lugar, é o antigo orfanato de Jungkook. - Jin se pronúncia - E eu tenho uma foice comigo, apesar de não gostar de violência, é a minha arma e símbolo de minha mãe. 

- Por que vamos para o orfanato? Você sabe que odeio aquele lugar... - Jungkook diz. Era o lugar que ele menos gostaria de por os pés, em Busan. Mas lá estava seu amigo, sugerindo para que caminhassem em direção às suas grandes feridas.

- Apenas confie em mim, agora não é hora para isso. Precisamos nos manter a salvos, como Taehyung disse. - Jin caminha até Jungkook, que tinha seus olhos pregados no chão.

- Tudo bem... 

- Eu sei que não está tudo bem, mas confie em mim. Não quero que mais nenhum amigo meu se machuque. - Jin levanta o rosto de Jungkook com uma mão, lhe dando um sorriso amigável. 

Taehyung teria sentido ciúmes, como um bom possessivo que era, mas sabia que Jungkook tinha machucados e que Jin o tinha ajudado com a maioria deles. Eram bons amigos. Aliás, estava preocupado demais com a vida do filho de Atena, pois não apenas Namjoon havia o alertado sobre protegê-lo, agora Hades sabia seu nome. Era estranho, perigoso e em partes, Kim achava que era o culpado por tudo aquilo. Francamente, ele não era nem um pouco culpado, os dois só faziam parte de uma história que de qualquer forma se encontraria logo mais.

- Vem, vamos arrumar nossas coisas, temos que sair daqui agora! - Taehyung ignora seus devaneios para puxar a mão de Jeon escada acima. 

O mais velho faz a mala dos dois, enquanto Jeon joga uma água no corpo rapidamente, se livrando do sal do mar, pois não podiam perder tempo. Sabiam muito bem que Hades estava a planejar algo e que era necessário se esconder. Talvez até lutar. E eles teriam descido a escada no minuto em que Kim botou um agasalho, se não fosse pelo filho de Atena paralisado na frente da porta, atônito. 

- Vamos, Jeon! Não temos tempo. - silêncio - VAMOS! 

- Não grite comigo... - sussurrou muito inaudível para o filho de Hades ouvir. 

- O que? - Kim pergunta ao mesmo tempo em que tenta empurrar Jeon para fora da porta.

- NÃO GRITE COMIGO! - Jeon vira-se, encarando o tatuado com olhos perdidos e demasiada raiva. Ele estava confuso demais. - Que merda está acontecendo? Desde que você chegou... minha vida tem virado um caos, como se meus demônios voltassem a me atormentar. 

- Eu... - é interrompido antes de se desculpar, afinal, era tudo que podia fazer no momento. 

- Todos os dias sinto bem no fundo que alguma coisa grande e ruim vai acontecer. É estranho, mas sinto que tenho que fazer algo importante... com você. - Jeon puxa seus próprios cabelos - Eu devia ter te ignorado desde o primeiro dia que te vi, mas como um imã eu tive que me envolver nas suas merdas. Eu não... eu não entendo. 

Jeon se abaixa no chão, enfiando sua cabeça entre os joelhos e abraçando a si mesmo, como se quisesse se proteger do próprio Taehyung. Por partes, o tatuado entendia Jeon, pois também se sentia atraído pelo mais novo como um imã e, toda vez que se tocavam, a sensação de algo aconteceria lhe atingia em cheio. Hades, Namjoon e Atena eram a prova disso. O que eles deveriam fazer juntos? Por que tinham se aproximado tão rápido? Por que tantas coisas aconteciam quando estavam na presença um do outro? Eram perguntas sem respostas.

Por isso, movido pela empatia ainda restante em seu coração, Taehyung agaicha-se na altura do outro garoto e deposita carinhos simples sobre seus cabelos. Ele não sabia o que responder pra o filho da deusa da sabedoria, porque ele mesmo tinha as mesmas dúvidas. Porém, sabia que nunca devia tê-lo envolvido, estava causando muita dor para em Jungkook.

- Me desculpa Jeon... Eu não tenho respostas para suas perguntas. Mas, tenha certeza que irei me afastar de você depois que tudo isso passar, eu prometo. - Diz, ainda lhe fazendo um leve cafuné.

- O que? - Jungkook tira o rosto de seus joelhos para encarar Kim. - Eu... Eu não quero que você se afaste. Você é como um imã pra mim, Taehyung!

Jeon parecia raivoso com aquilo, o que era confuso para o tatuado, pois ao mesmo tempo que praticamente cuspia na sua cara, dizia para ele não ir embora. Era apenas que Jeon, ao mesmo tempo que odiava a situação em que estava envolvido, não conseguia se imaginar mais sem os toques de Kim e sem sua voz por perto. Havia malditamente se acostumado com a presença do filho de Hades. Havia se apegado. 

- Você não ficará mais triste quando eu for embora. - Taehyung diz enquanto ajuda Jeon a se levantar, até os dois ficarem de pé. 

- Você é burro, Taehyung? - Jeon praticamente gritava - Eu sempre fui triste, sempre! E apesar de você me meter nas suas merdas e confundir a porra da minha cabeça, você tem me curado aos poucos. Não entende?

Taehyung quis sorrir, mesmo perdido com o que o filho de Atena dizia, mesmo com medo do que aconteceria com ele e os outros meninos naquela tarde. 

- Eu não te entendo mesmo, mas acho que me sinto do mesmo jeito... - Taehyung abraça o corpo inquieto de Jeon, prendendo os braços do mesmo e encostando ambas as testas. - Eu só não quero que nada aconteça com você. Vamos apenas embora daqui, gaguinho.

Taehyung rouba um beijo rápido de Jeon, chupando seu lábio inferior com delicadeza e acelerando seu coração. Ele não queria, mas se acalmou com suas palavras e suas ações, segurando em suas mãos e descendo a escada com ambos pertences guardados. Eles tinham que sair daquela casa. 

Pegaram a estrada depois de fecharem a casa. O mar se encontrava mais calmo, porém o céu ainda estava escuro e com a ventania forte. Eles não haviam sequer comido, mas a fome não era uma prioridade para os cinco semideuses naquele carro. 

- Jin, por que vamos para o orfanato? Ainda não entendi. - Jimin pergunta no banco de trás. 

- Quando encontrei Jeongguk lá, um ciclope que vinha do mar tentou invadir para comer ele e os outros dois meio-sangues da instituição. Então Taemin mandou que eu selasse o lugar com a proteção de Métis.

- E como fez isso? - Foi a vez de Hoseok perguntar. 

- Taemin mandou um filho de Atena qualquer  enviar uma coruja para mim, aqui em Busan. Em seu bico, ela trouxe um único fio do cabelo da deusa Métis. Então, eu enterrei o fio sobre a terra e fiz crescer sobre ele uma linda cerejeira. - Jin diz, ainda concentrado na direção do volante. - Assim, nenhum monstro perigoso pode cruzar a barreira. 

Permaneceram em silêncio no carro depois da breve explicação de Seokjin. Todos estavam muito tensos e atentos para manterem algum tipo de conversação banal. Hoseok tentava não lembrar muito sobre a sua quase morte, Jimin tentava não bater em Taehyung e este, bom, pôde-se dizer que ele estava ansioso para ver onde Jungkook morava por todos os anos de sua infância e adolescência. Queria conhecê-lo melhor, pois logo sumiria de sua vida, para o bem de todos.

Faltavam apenas alguns quilômetros para chegarem no orfanato de Jeon, que ainda que ficasse na orla, estava localizado em um dos bairros mais pobres e vazios daquela grande cidade de Busan, sendo necessário pegar uma estrada mais larga e apedrejada que o normal. O céu já escurecia e as árvores do caminho deixavam de fazer sombras sobre o carro do filho de Deméter. 

- CUIDADO! - Jungkook grita. 

Uma árvore é arremessada alguns metros na frente do carro de Seokjin, fazendo-o freiar bruscamente e o veículo parar de lado naquela estrada horrenda. Todos estavam confusos sobre como aquilo havia ido parar ali e se não fossem por alguns segundos, todos teriam sofrido um grande acidente. 

Jungkook olha para fora de sua janela, tentando observar algo fora do normal do lado de fora. Quando força a vista pode ver perfeitamente, assustadoramente, um enorme Minotauro correndo em sua direção. Ele era grande, peludo, sua cabeça de touro parecia pesar toneladas e seus músculos enormes poderiam ter facilmente arrancado aquela árvore do solo. Eles estavam fodidos. 

- O MINOTAURO, JIN ME PASSA O VOLANTE AGORA, SAI DAÍ. - Jin corre para o branco de traz, deixando Jungkook pegar o volante. Era verdade que eles se conheciam bem demais, o filho de Deméter sabia que Jeon provavelmente tinha um plano. 

- O que? O que estão fazendo? - Hoseok se desesperava no banco de trás, afinal um Minotauro, com seus longos passos, não parecia tão mais longe assim, já que seus berros já podiam ser ouvidos pelos semideuses. Era demoníaco. 

- Eu tenho um plano. 

- ACELERA LOGO, CARALHO! - Taehyung grita, espalmando forte o encosto do motorista. 

O filho de Atena arranca com o motor, provavelmente marcando o asfalto velho da avenida. Ele só precisava manter a maior distância possível daquela coisa, até chegarem na barreira de proteção do orfanato. Dessa vez, ele não via a hora de pisar naquele lugar cheio de lembranças ruins. 

- Seokjin, você tem que fazer as raizes das árvores agarrarem aquela coisa! - Jungkook pede. - Taehyung, você consegue atear fogo ou abrir o chão? Qualquer merda! 

- Certo. - Taehyung assente. 

O filho da deusa das plantas coloca, desajeitadamente parte de seu braço para fora da janela traseira. Com alguns simples movimentos das mãos, raizes de muitas árvores começam a sai da terra, por vezes quebrando o asfalto já frágil. Como cobras, elas serpenteavam no ar, tentando agarrar o Minotauro enfurecido, irritando-o. 

Quando as raizes grossas e sujas agarraram em sua cintura animalesca, segurando-o, Taehyung foca na sua parte do plano, mesmo com o carro em movimento a uns setenta metros longe da criatura. Os olhos do filho de Hades de tornam vermelhos e brilhantes - fazendo Jin e Jimin se surpreenderem - e depois de sussurrar "fotiá"*, as raizes pegam fogo, subitamente. O Minotauro grita de dor, meio humano, meio animal. No entanto, mais irritado, corre rápido, estourando a flora que o prende longe. Era um desastre.

O monstro, parando sua corrida depois de se livrar, usa suas mãos peludas para arrancar outra árvore do barranco lateral da estrada. sem dificuldade alguma e em um movimento rápido, arremessa o grande tronco, fazendo a copa acertar a parte de lateral do carro e Jungkook perder o controle.

Jeon piscou algumas vezes, sua cabeça doía e estava atordoado demais. Olhou ao redor para saber o que havia acontecido, mas tudo estava de cabeça para baixo. Alguém gritava, fazendo sua orelha zumbir. "Sai do carro agora", pode entender. Então, depois de recuperar do susto pode perceber que havia capotado o maldito carro. Seokjin estava do lado de fora com Hoseok, o olhando preocupado. Pelo retrovisor lateral, Jungkook pode ver a besta se aproximando, só que dessa vez ela caminhava lentamente, como se soubesse que havia ganhado aquela batalha. 

- MINHA PERNA! - Taehyung gritava de dor. - VÃO SEM MIM!

- O que houve? - Jungkook pergunta preocupado, enquanto Jin o puxa para fora do veículo pela janela quebrada. 

- Um pedaço de tronco... entrou na perna dele. Tá bem feio. - Jimin diz, respirando pesado por tentar puxar Taehyung do banco. 

- SAIAM DAQUI! - Taehyung é puxado finalmente. Ele agonizava no chão da estrada, suando pela dor que sentia. Um grande pedaço de madeira estava enfiado em seu quadríceps. O tatuado leva sua mão ao redor, mas apenas sente o sangue quente em sua palma. - Eu vou atrasar vocês.  

Jungkook não iria deixá-lo. Não podia. Olhava para aquele Minotauro, sabendo que o monstro  o levaria para Hades. "Você deve queimar nas minhas próprias mãos", era o que o deus do submundo havia dito para o Taehyung. E só de imaginar as atrocidades que Kim poderia sofrer, Jungkook já sentia vontade de chorar. Era óbvio, não iria deixá-lo para traz, nem agora, nem nunca. 

Com dificuldade, mas sem dizer nenhuma palavra, Jeon abaixa na altura do loiro e pega-o em seu colo. Ambos soltam som doloridos ao se levantarem. 

- Está louco? - Taehyung preocupa-se - Está sangrando na cabeça e não vai me aguentar. Ponha-me no chão filho de Atena!

- NÃO! - grita - Eu não vou te deixar aqui para morrer e mesmo que eu não te aguente, eu vou aguentar. 

Poderia não fazer sentido suas palavras, mas Jeon sabia o significado delas: ele aguentaria Taehyung, de qualquer forma, de todos os modos, em todos os dias. Ele teria e iria. Sabia, também, que devia salvá-lo como uma forma de pagamento por tudo que o tatuado havia feito por ele. Talvez Kim não entendesse não hora, no entanto se sentia novamente como Sírios sob as mãos de Jeon: alguém que importava. 

- Vamos meninos! O orfanato fica só a alguns metros daqui. Rápido! - Jin chama e todos começam a correr, cortando caminho por uma pequena bifurcação de terra.

A cada passo que Jungkook dava, sentia suas costas doerem com peso de Taehyung, mas não podia se dar ao luxo de descansar com um Minotauro de dois metros e meio caminhando a passos largos para cada vez mais perto. O tatuado sofria por ver as expressões cansadas do filho de Atena e por sua própria perna machucada, que causava-lhe espasmos de dor a cada movimento do mais novo. A resistência castigava ambos os rapazes.

- Estamos quase lá... - Jeon sussurrava ofegante. 

Faltava apenas alguns metros para pisarem no gramado do orfanato, e estariam salvos. No entanto, como se o Minotauro percebesse a barreira, volta a correr, ficando cada vez mais perto e com os urros mais altos. Seokjin, Jimin e Hoseok atravessam a barreira, porém Jungkook sofria para forçar suas pernas a correrem mais rápido, mesmo sendo um semideus muito veloz.

O filho de Atenas sente o chão tremer com a aproximação do monstro e temendo não conseguir salvar Taehyung, com um último ato desesperado, lança o filho de Hades de seus braços para o terreno do orfanato, fazendo ambos caírem ao chão. Mas, infelizmente, Jungkook não alcança a barreira. Taehyung esquece sua dor latejante por um momento e preocupado em salvá-lo da criatura, estende sua mão a fim de puxar o mais novo para dentro. Eles chegam a se tocar, mas era tarde demais, o minotauro chega primeiro, arrastando o filho de Atena para longe. 

- NÃO! - Taehyung grita, com olhos esbugalhados e as mãos estendidas em vão. 

Jungkook sente o chão arranhando suas costas conforme o animal puxa seus pés. Ele teria que fazer alguma coisa, então olha para os lados, procurando algo para se defender, com sorte, agarrar-se a uma pedra. O ato o segura por alguns segundos até os dedos de Jeon doerem, mas a pedra é arrancada do chão pela força do Minotauro, dando a chance perfeita para o garoto. Com a força restante que tinha, ele arremessa a grande pedra direto nas costas peludas e musculosas da criatura, conseguindo se soltar enquanto ela urra de dor. 

O Minotauro, veloz e raivoso, tenta socar Jungkook, que rola para o lado, se esquivando do golpe. O filho de Atena levanta e corre em direção à construção velha que tanto conhecia, sendo incentivado pelos gritos dos seus amigos. Taehyung gostaria de ser útil, gostaria de levantar e ajudar Jeon, mas nem ao menos conseguia ficar de pé sozinho. Droga, aquilo tudo era culpa dele, o garoto que tanto se importava estava em perigo de novo. E mais uma vez o Minotauro estava perto demais de Jungkook.

- Faça algo filho de Deméter! - Taehyung grita, enfurecido e frustrado. 

Seokjin assente, tirando de seu bolso pequenas formas reluzente, que pareciam folhas banhadas de puro prata. Ele as joga pra cima e elas tomam a forma de um grande foice. Era a arma favorita do semideus de Deméter, que posiciona-se flexionando os joelhos e segurando o foice para trás, até tomar impulso e arremessa-lo. A arma voa lindamente, mas é desviada pelo Minotauro, que irado, da um grito para cima, contraindo seus músculos do peito. 

Era Um monstro horrível e feio, este que alcança Jungkook, dessa vez jogando-o para longe com um simples tapa. O meio-sangue se choca contra um tronco e contorce pela dor, seria apenas um boneco nas mãos da criatura horrenda mandada por Hades. Taehyung grita, irritado com e situação e pelos amigos de Jeon estarem sendo inúteis demais. Na realidade, eles apenas não eram tão fortes como o filho de Hades. 

Porém, também frustrado, Seokjin sai da barreira, alcançando sua foice para tentar manusea-la mais uma vez. Ele arremessa a arma, que rodopia no ar, impedindo a criatura de esmagar o filho de Atena com as mãos e arranca-lhe um de seus chifres. O monstro de Hades expressa dor, cambaleando para os lados. Assim, Jung Hoseok, percebe a oportunidade e põe em prova seus anos de treinamento ao alcançar o cifre e jogá-lo para seu amigo, tentando se desviar de um soco do monstro. 

- Jeon Jungkook! - Grita, lançando o cifre grande e pesado para o mais novo.

O filho de Atena sabia o que fazer. Aproveitando da distração do monstro, que tentava apunhalar o filho de Dionísio, o rapaz pega impulso no chão, correndo e pulando sobre as costas da criatura. Com um último golpe, finca o grande chifre entre os olhos do Minotauro. Jeon, vitorioso, vai no chão chão no momento de agonia do mostro, o qual com o último grito se transforma em um poeira negra. 

Eles haviam matado o Minotauro, a grande criatura mitológica. 

Jungkook respira forte e geme pelas suas dores musculares depois que alcançar a barreira, finalmente. No entanto, não se importava, eles precisa cuidar do filho de Hades, este que já estava pálido por perder tanto sangue. Os meninos seguram Taehyung em pé, dando-lhe apoio enquanto seguem para dentro do orfanato. O filho de Hades, ainda que em agonia, pôde observar o prédio, ele era simples, e tinha algumas rachaduras na parede, chegou a conclusão que aquilo não era um orfanato fazia muito tempo. Estava completamente abandonado. 

- Senta aqui. Você sabe que a gente vai ter que remover isso, não sabe? - Jimin pergunta, colocando o tatuado sentado no chão sujo do lugar - Hoseok, seu pai também domina a medicina, você consegue ver se acertou alguma artéria? 

- Eu vou tentar... - Jung se aproxima, levando sua mão perto da área afetada. Taehyung sente quando a palma do semideus esquenta-se sobre sua pele, era uma sensação boa e quente, quase fazendo a dor desaparecer. - Tá tudo bem, não foi tão profundo assim. 

- Arranca logo, porra! - Taehyung soa rude, ele apenas tentava não pensar muito na dor que sentiria. Jungkook, percebendo o olhar preocupado do loiro, não demora para segurar sua mão. 

- Isso vai doer... Só, segura minha mão. Eu não ligo se você apertar ela. Apenas faça. - Jungkook diz, depositando um selinho na boca de Taehyung, surpreendendo o mais velho. Aquilo de alguma forma fazia-o sentir mais aliviado, mesmo que paressem uma das coisas que ele mais odiava: um casal. 

Hoseok contou até três antes de arrancar a Madeira fincada na perna do filho de Hades. O local ecoava com seus gritos ao mesmo tempo que Jeon não se importava em ter seus dedos quase quebrados pela força que Taehyung fazia em sua mão. Ele daria algum alívio para Kim, mesmo que por alguns segundos, mesmo que se machucasse também. 

Quando o loiro aliviou o aperto das mãos de Jeon, o filho de Atena soube que tudo ficaria bem, permitindo deixar Hoseok cuidar de seu talvez mais novo amigo, ou o que quer que sejam. O moreno, tomado pela curiosidade, se põe a caminhar pelo local que tanto odiava, parando de frente a janela que lhe proporcionara no passado a observar lindas paisagens de inverno e conhecer um grande ex-amigo, Park Bogum. Solta um riso triste, lembrando-se de Chaeyoung, dos dias que esteve só, das tantas vezes foi rejeitado por visitantes e dos dias começara a ter o mesmo pesadelo, repetidas e repetidas vezes. Fora uma época cansativa, sem infância alguma. 

Jungkook ruma até o lugar onde costumava dormir, surpreendendo-se ao deparar com as camas velhas que ainda decoravam os quartos. "Esta muito velha, muito feio", pensou. E estava mesmo: paredes mofadas, madeiras quebradas, falta de iluminação, tudo extremamente fúnebre. Na verdade, sempre fora fúnebre. Senta-se no chão, ao lado de sua antiga cama e se permite observar tudo por uma última vez, como se dissesse adeus a suas memórias, ou as raizes delas. No entanto, seus olhos repousaram sobre uma caixa, muito conhecia aliás. 

- Eu esqueci ela aqui... - Sussurra para si mesmo. Era uma caixa que Jeon tinha feito antes de se mudar pra Seul. "Memórias", era o que a caneta marcava sobre o papelão.

Com ligeiras mãos, alcançou o objeto e tratou de abrir. Sorriu. Estava la, uma bela foto de Dean Woods, seu soldado favorito e o motivo de alguns dias felizes. Sentia falta de suas piadas, de seu sorriso e de seu sotaque coreano, uma vez que era norte americano. Jungkook nunca simpatizou com os Estados Unidos, afinal eles só sabiam se meter onde não eram chamados, então nunca pesou que consideraria aquele soldado como um pai ou irmão mais velho. Deixou, assim, algumas lágrimas escorrerem de seus olhos, lembrando-se de seu luto quando recebera a carta dizendo de seu falecimento. 

- Jungkook, cadê você? - Jimin chama pelo filho de Atena.

O mais novo respira fundo para recompor suas emoções antes de encontrar seus amigos novamente. Taehyung parecia mais calmo agora que tinha uma atadura em sua perna, junto com algumas plantas medicinais sobre a calça rasgada, supôs que aquilo era obra de Seokjin. Agradeceu mentalmente, por um momento, a maldita dádiva de terem sangue divino, pois Taehyung logo estaria recuperado. 

- Onde estava? - Taehyung perguntou, rouco até demais. 

- Eu só fui dar uma volta... - Jeon senta-se ao lado do tatuado, dando um leve sorriso. 

- Eu sei que chorou. 

- Como sabe disso, hyung? - Pergunta, apertando com uma de suas mãos a foto de Dean Woods, que guardara no bolso do moletom. 

- Você está com o nariz levante vermelho, seus dedos estão inquietos - repousou sua mão cheia de sangue seco sobre a livre de Jeon. - e a sua voz está estranha, do jeito que fica quando você chora ou está triste. 

- Anda me estudando, filho de Hades? - Ri simples, sem animo. 

- Nem um pouco, não se iluda filho de Atenas. Só seja menos óbvio, ou começará a me irritar... - solta a mão do mais novo, voltando com sua carranca diária. 

Aliás, que merda estava fazendo observando tanto Jungkook? Como percebia tantas coisas no menino? Ele precisava superar ou logo o mais novo confundiria as coisas, mesmo depois de tantos momentos estranhos e profundos que tiveram em tão pouco tempo. Porque, no fim das contas, ele realmente estava planejando se afastar de Jungkook depois que toda essa confusão passasse, não se importava se o moreno havia lhe dito que não queria isso ou aquilo, ele iria embora. Mesmo que de coração pesado. 

- Temos que sair daqui. Eu duvido que Hades se canse... - Jin olhava pelas janelas, procurando algo anormal do lado de fora. Todavia, tudo parecia calmo demais. 

- Calma Jin, espere suas planta fazerem algum efeito sobre o Taehyung e iremos embora. Eu vou mandar mensagem para Taemin ou Yoongi, quando conseguir sinal. Talvez ele tenha voltado da Grécia. - Jimin diz, checando seu celular em todos lugares da sala que estavam. 

O silêncio reina novamente, até Jungkook responder Taehyung com a pergunta que o mesmo havia feito.

- É verdade. Eu estava chorando, mas é porque estava olhando umas coisas que esqueci aqui antes de me mudar para Seul... - Jungkook diz, ignorando aquela conversa preocupada e fazendo todos da sala o olharem. - Achei uma foto de Dean Woods, se lembra dele? 

Taehyung acena, lembrando-se da história que Jungkook o contou sobre um homem que sempre o visitava no orfanato, até ir para a guerra e morrer em batalha nas areias do Iraque. Era triste demais. 

- Jimin, você sabe do porquê sempre odiei Ares... - o filho de Atenas continuou, olhando de relance para seu amigo - O principal motivo é por causa de Dean. Guerras só existem porque Ares existe, ele se alimenta de homens raivosos e do caos. Dean morreu por causa dele. Por isso eu odeio Ares. - dizia tais palavras apertando a foto escondida dentro de suas roupas. 

- Eu sinto muito... - Taehyung abaixa os olhos, não gostava de olhar para um Jeon triste. Odiava o sentimento que sempre invadia-lhe. Pelos deuses, como gostaria de fumar agora.

- Essa é a foto dele, você quer ver? 

Taehyung desamassa a foto que lhe é entregada, enquanto os outros semideuses assistiam aquela cena comovente, eles sabiam o quanto era dolorido para Jungkook falar sobre tudo aquilo. No entanto, no momento que o filho de Hades observou a fisionomia do homem no papel, ele soube que muitos fios soltos estavam prestes a se atearem novamente. Sentiu ódio, sentiu dor, sentiu pena de Jungkook, porque o mais novo experimentaria a dor da mentira - uma das piores dores - nos próximos segundos que Taehyung lhe revelasse a grande verdade sobre aquele soldado americano. 

- O que foi, Taehyung? - Jungkook pergunta, preocupado com a expressão do mais velho, que tremia ao segurar a foto. Os outros homens estavam atentos para a tudo aquilo, pois pressentiam que algo estava errado. 

Taehyung engole em seco. Ele contaria a verdade, era necessário. Então finalmente, pesadamente, disse palavras que quebrariam o coração do filho de Atena: 

- Jungkook, este não é Dean Woods. Este é Ares.

 

_______________

LEIAM AS TERMINOLOGIAS •

* A Barca de Dante: é o quadro da capa, muito importante, aliás. Ele foi pintado pelo famoso escritor Delacroix e retrata Virgílio e Dante em uma viagem ao inferno. Faz sentido ser um buraco de minhoca para o submundo, não? O quadro fica realmente no museu do Louvre. 

* Névoa: a névoa que o Taehyung fala que solta é a mesma névoa de Percy Jackson, ela serve pra disfarçar os olhos humanos de acontecimentos sobrenaturais. 

* Espectro de Hades: guerreiros mortos que servem Hades.

* Campos Asfódelos: local do submundo conhecido como "lugar nenhum", onde almas apenas vagam fadadas à tristeza eterna. (No submundo os mortos podem ser destinados a três lugares: campos Elísios (paraíso), Asfódelos e Tártaro(inferno)).

* Fótia: fogo, em grego.

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


GENTE VOLTEI 🖤 eu sei, é muita terminologia, mas vocês vão gostar, eu acho... E demorei? Demorei né, mas tá aí pra vocês. Só não desisto dessa fic por causa de vocês, sério!

E espero MUITO MUITO que não tenham ficado confusos com os acontecimentos e se ficarem, me chamem pq posso mudar algumas coisas na história pra facilitar a leitura, às vezes eu posso não saber passar o enredo. OUTRA COISA: não teve hot, mas não deixem de ler minha fanfic ela não é só baseada em NSFW 🌝 logo logo tem uns hots bem legais pra vocês! Hehe.

Quem diria que Dean Woods seria Ares, não? Surpresos? Tadinho do Jungkook ): foi enganado por anos e sofreu por nada. Eu ia me sentir um lixo. No próximo cap vcs vão descobrir os planos de Hades.

Obrigada a todo mundo que tá me ajudando nessa fanfic e quem sempre surta cmg. 🖤 OBRIGADA DEMAIS DEMAIS!


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