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História O Fio da Vida - Capítulo I


Escrita por: Uzumaki_Jiraya

Notas do Autor


Uma original ^^

Capítulo 1 - Capítulo I


-Não vai fazer isso, vai? - ela parecia me conhecer, mas como? Não tinham sido nem trinta minutos de conversa. Como ela poderia?

-Não tenho escolha… - sussurrei mais pra mim do que pra ela. Não sei se deixei claro pra ela, mas estava bem nítido que eu fiquei balançado por tudo que ela falou.

-Está falando isso mais pra você do que pra mim. Está tentando afirmar pra você mesmo que sua escolha foi certa, e que não ficou abalado por tudo o que eu te disse.

Por um momento eu titubeei. Quase salto, sem querer. Era algo impossível de se acreditar.

-V-Você… - o que podia falar agora? Ela me deixou sem palavras.

-Cesar, desce dai. Vem comigo que te pago uma cerveja.

-Odeio cerveja. - disse com um sorrisinho de lado.

-Eu também. - ela afirmou copiando meu gesto facial.

Ficamos em silencio por uns segundos, até o vento forte que soprava naquela ponte retornar. Era alta, afinal. Ventos fortes o suficiente para balançar aquela majestosa construção.

-Vem. Posso apostar com você que pra onde vou te levar é melhor do que o alto dessa ponte.

-Tudo bem. - me dei por vencido, pelo menos enquanto ela estivesse ali pra me fazer manter meu atual pensamento. - mas antes pode me responder uma pergunta? - ela me olhou como se eu fosse um ser sobrenatural. Estranho, porque durante todo o nosso diálogo ela manteve uma postura altiva, me olhando com uma certa superioridade de ser.

-Claro… - oscilou, e eu percebi.

-Por quê? - acho que ela já esperava essa pergunta, e estava procurando uma resposta há tempos.

-Não sei… - percebi a incerteza em sua voz. Me perguntei se não seria um truque pra me fazer manter o foco nela, a atenção. E mesmo que fosse, e ainda mais, mesmo que eu soubesse que fosse, estava funcionando.

-Entendo. - disse firme, saindo da beirada da ponte.

Cheguei perto dela e a abracei, ela não esboçou nenhuma reação hostil. Acho que sabia que eu precisava daquilo.  

-Tá tudo bem agora. - o sussurro dela me confortou, mesmo sabendo que esse “agora” era mais do que ela estava usando na frase. Sabia que tinha mais um significado por trás daquilo, e esse pensamento me perturbou.

A soltei devagar, ela me olhou e sorriu.

-Vamos, é um caminho até longo, eu acho. - disse caminhando em direção ao carro dela, com a voz mais calma que ouvi naquela noite. Apesar de que já eram 3 da manha…

-Onde vai me levar? - não fazia muita diferença, inclusive não fazia diferença se eu tivesse pulado ou não.

-Isso é segredo, moço. Agora entra. - ela sempre mostrou aquela atitude autoritária, querendo se impor. E por algum motivo eu gostava disso.

Sentei no banco do carona daquela máquina e ela saiu. Era madrugada, o fluxo de carros estava menos agitado do que o normal para àquela hora.

-Vai me dizer por quê? - desta vez foi ela quem perguntou. Eu estranhei, já tinha contando uma parte da história pra ela. Já tinha contado porque iria fazer aquilo.

-C-Como assim?

-Porque ia pular da ponte. - firme, como sempre. Os olhos dela mostravam um brilho único. Parecia capaz de analisar até mesmo a trajetória de um elétron. Isso me assustou um pouco. Ela me lia sem problemas, e eu sabia bem pouco dela.

-Você já sabe… - sussurrei tentando desviar o olhar, o que não acontecia com frequência.

-Aquele motivo que você me contou, não posso acreditar que foi só por isso.

-Como só por isso? - perguntei um pouco alterado.

-Sim, Cesar. Só por isso. - ela repetiu, mais firme do que nunca.

-Você não sabe o que eu to sentindo…

-É um erro achar que sua dor é maior do que a dor do outros, Cesar.

Analisei as palavras dela por um instante. Ela parecia ter passado por algo ruim também.

-Você… também passou por algo assim?

-Quem não passou?

-Quer me contar? - por um momento achei que poderia ajudar ela tanto quanto ela me ajudou.

-Isso é passado.

-Se não me engano, o passado deve ser lembrado pra aprendermos com ele, não? - repeti o que ela me falou antes, na ponte.

-Isso é pra você, não pra mim. Tem passados que devem ser esquecido. Que só acrescentam dor, e não sabedoria.

-Você está fazendo o que me disse pra não fazer. Achar que sua dor é maior que a dor dos outros. - ela calou. Sorri ao vê-la sem palavras.

-Cesar…

-Oi. - respondi de imediato.

-Vai se ferrar. - ela sorriu, e me induziu a sorrir também.

-Te peguei. - aumentei meu sorriso.

-Quer saber por que te ajudei? - ela perguntou. Eu sabia o que viria agora, já a conhecia o suficiente pra isso. Ela iria mostrar porque eu estava errado, porque ela não estava cometendo o erro que me disse pra não cometer, mas não tinha escolha. Eu queria saber por qual motivo ela parou o carro naquela ponte quase deserta bem na hora em que eu ia pular. Qual o motivo além da humanidade.

-Sim, eu quero. - ela apertou as mãos no volante. Estava bem mais devagar do que o limite permitido. Parecia que queria prolongar aquela viagem.

-É que… eu senti a sua dor. Eu senti o que você sentia, não menosprezei sua dor achando que a minha era maior. Então, Cesar, se não quiser que eu te jogue desse carro em movimento, não diga mais que eu cometi novamente o erro que cometi no passado!

-Elizabete… - suspirei. Ela tinha se exaltado de novo.

-Cesar, tudo bem. Nós sofremos, e não podemos apagar isso. Por isso te ajudei, sei o que passou. E porque eu parei o carro? Porque você ia pular da ponte, seu idiota! Se fosse um mendigo eu faria o mesmo! Como você pode pensar em tirar a própria vida??

-Como… você disse que me entende. Deveria entender porque eu ia fazer isso.

-Você é cego, Cesar? Não vê que existem saídas melhores?

Então eu a olhei. Ela estava iluminada. Talvez a escuridão da noite fizesse aquilo, mas ela estava certa. Existem saídas melhores, e ela era a prova disso.

-Você já tentou? - perguntei sem a esperança de uma resposta.

-Não.

E mais uma vez o silencio. Acelerou o carro. Eu estava começando a encher o saco dela, eu acho.

-Ela havia me salvado sabe… - falei depois do silencio.

-Como assim? - ela parecia confusa.

-Antes, eu era um cara sem motivos pra viver, mas ela me animou novamente.

-E então, tirou isso de você... – o sussurro dela era algo que não se podia evitar. Ela falou com um nervosismo enorme, até me deu medo.

-S-Sim...

-Você é mesmo um idiota. – eu até que gostava do jeito dela. O arranco que ela deu no carro ao falar aquilo me fez sentir que eu estava vivo, que realmente não tinha pulado daquela ponte ou que tudo aquilo era um sonho. – um sem noção, sem amor, um verdadeiro imbecil!

-Onde está aquele carinho que me salvou de pular da ponte? – perguntei olhando-a de soslaio, e rindo um pouco. Ela era tão esquentada, do nada começava a soltar palavrões.

-Está onde merece! E nesse momento, você não tá merecendo, Cesar. – ela diminuiu a velocidade, parecia ter se acalmado. – ela não lhe tirou nada, porque ela não lhe deu nada. Você estava do mesmo jeito que está agora antes de conhecer ela.

-Eu sei, eu sei... – suspirei. – só que, ela havia me dado um motivo pra viver, e depois de tudo arrancou esse motivo sem qualquer piedade! – lembrar dela me doía, ainda.

-Eu não quero mais te chamar de idiota, mas parece inevitável.

-Tudo bem, deixa isso pra lá. Eu já desisti daquela ideia de pular da ponte.

-Ótimo. – gostava de conversar com ela, apesar das mudanças estranhas de humor. Não sei se era apenas comigo, mas sei que gostava disso nela. Imprevisível.

Rodamos por mais uns 40 minuto, até ela encostar em um barzinho aparentemente pequeno e chechelento.

-Vamos, hora daquela cerveja.

-M-Mas eu tinha dito que odeio cerveja. – ela já havia decido do carro, e eu acompanhado seu ato.

-Eu disse que também odeio, mas nem por isso deixo de beber. Eu prometi, preciso cumprir. Se você beber, eu bebo com você.

Ela me intrigava cada vez mais. E em contrapartida, ela me decifrava a cada segundo.

-Isso não tem muita lógica. – comentei só por comentar, afinal já estávamos quase dentro do bar. – nós dois odiamos cerveja, mas vamos beber mesmo assim.

-É questão de honra.

-Entendo...

O lugar realmente não era dos mais chamativos. Estava relativamente sujo, para todo canto que olhasse. Era pequeno, e ao invés de passar uma imagem de aconchego, transmitia uma sensação ruim.

-Calisto, há quanto tempo. – o homem que tomava conta daquele lugar (meio deserto, final eram quatro da manha) a fitou, e eu estranhei o tratamento.

-É o trabalho, você deve saber. – ela parecia ter certa intimidade com ele. Não aquele tipo de intimidade, só que parecia que eles se conheciam há tempos, e talvez até fossem amigo.

-Se sei. Você não vem aqui há mais de 2 meses, e antes vinha toda semana, apesar de quase nunca beber.

-Sua cerveja é a melhor que eu conheço, Golias.

-Então porque quase nunca bebe? – o homem era bem grande, acho que por isso o apelido de Golias (ou era o nome dele, não me interessava muito), mas tinha uma personalidade dócil.

-Bom, hoje vamos beber. – ela comentou sentando em uma das mesas.

-Vamos? – ele olhou pra mim, me analisando completamente. Parecia que tinha visão de raio x.

-O-Olá, me chamo Cesar. – estendi minha mão, e ele a apertou bem forte.

-Prazer, pode me chamar de Golias. – ele soltou minha mão, e eu sentei do outro lado da mesa em que Elizabete tinha sentado.

-Cervejas?

-Sim. Duas.

Golias saiu, foi buscar as cervejas.

-Você vem sempre aqui? – eu na verdade não tinha a intenção de fazer minhas palavras soarem como a velha cantada, mas não teve jeito. Falei como se a estivesse cantando.

-Sim. – ela respondeu com um sorrisinho, apesar de estar meio séria.

-Uhn...

Novamente o silencio. Eu era alguém bem sociável, não era comum faltar assunto, mas eu estava meio transtornado com tudo.

Ia me suicidar, e do nada aparece uma garota em um carro que mais parecia ter saído de um filme de ação, pra me salvar.

-Espero que não me faça prometer tomar mais cervejas. – ela quebrou o gelo. Tinha voltado a ser aquele doce de garota que me salvou.

-Prometo. – sorri para ela. Nem percebi o que tinha acabado de dizer. Tinha prometido que não tentaria mais me matar, e pra falar a verdade, aquela promessa parecia bem fácil de ser cumprida, depois de tudo.

-Aqui está.

Golias serviu nossas bebidas. Eu realmente odiava cerveja. Não era muito fã de álcool. Bebia vez ou outra, mas cerveja? Eu simplesmente detestava. Tem um gosto horrível!

-À honra. – ela encheu uma das canecas, e a ergueu. Fiz o mesmo.

-À honra.

O primeiro gole foi quase como uma tortura. O segundo, como um desafio. E o terceiro, muita risada.

Não fazia ideia de que ela odiava cerveja mais do que eu!

-Porque beber, sua maluca?? – perguntei já exaltado de tanto rir. As caretas que ela fazia eram impagáveis! Quase cuspi a cerveja de tanto rir.

-Para de rir! – mais uma careta, logo depois de mais um gole. Era impossível não rir.

Eu não estava muito feliz com aquele gosto, mas ver ela protagonizando aquelas cenas fez valer os goles de cerveja.

-O-okay, okay... – me acalmei, parei de rir e ela de beber. – só falta mais um gole pra cada e depois a gente sai com a honra lavada.

-Idiota... – ela sorriu, pegou a caneca e entornou. Toda de uma vez. Parecia que ela estava comendo limão.

-Eu não te entendo, Calisto. Porque bebe? – ele estava no balcão, servindo o único cliente alem de nós. – essa vez eu sei que é porque prometeu, mas e as anteriores?

-Tenho meus motivos... – ela baixou o olhar. E eu conhecia aquele semblante. Ela estava triste, ou melhor, o motivo que a fez beber cerveja a deixava triste.

-Tudo bem! – disse tentando animá-la. – acabou! Promessa cumprida, moça. Não faça essa cara!

-Até que enfim. – ela levantou também. – muito obrigado, Golias. Quando der eu volto aqui.

Bebemos um pouco, não estávamos bêbados, mas sim um pouco alterados.

Saímos do bar, e ela foi ao volante. Pouca coisa importava a esta altura, e ela dirigir após beber não era uma delas.

Ligou o carro e partimos.

-Realmente, esse lugar é bem melhor do que aquela ponte. – comentei começando a conversa.

-Eu sei. Mas esse não é o lugar que disse que te levaria. – a seriedade dela dava mais medo ainda depois de uns miligramas de álcool.

-Então, pra onde vai me levar?

-Daqui a pouco você vai ficar sabendo...

Um ar misterioso se instalou, e ela seguiu guiando aquele carrão, sabe-se lá pra onde.

-Posso te perguntar uma coisa? – a voz dela me acalmava, e me deixava nervoso. Nossa relação era estruturada em perguntas, gostávamos disso. Era estranho conversar com ela, e não necessariamente ruim. Na verdade era bem o contrario...

-Claro. – disse simples.

-O que você faria se eu quisesse te matar agora?

Estranhei a pergunta, mas já tinha uma resposta.

-Sei lá, acho que abriria a porta do carro e tentaria fugir.

-Fugir de mim? – ela parecia me levar pra armadilhas. Cada palavra dela era categoricamente posta na frase, com o objetivo de me induzir a dizer algo que ela queria, mas não faria isso.

-Não exatamente. Iria fugir da morte.

-Entendo.

-Porque essa pergunta?

-Por que... – eu gelei. Ela abriu o porta-luvas e puxou uma pistola. – eu vou te matar. Tenta fugir de mim, Cesar.

O sorriso dela me assustava, e eu tentava me situar em tudo aquilo. Tentava descobrir o que estava acontecendo.

Rodamos mais umas centenas de metros, e chegamos a um penhasco. Ela me forçou a descer do carro.

-Isso é algum tipo de pegadinha? – disse ainda sem acreditar no que estava acontecendo. De repente tudo parecia sem sentido! Meu anjo da guarda estava apontando uma arma pra mim!

Ela simplesmente disparou próximo ao meu pé. Obviamente a arma não poderia ser de brinquedo.

-Me responda uma pergunta, a última. E dependendo da sua resposta, não vou te matar.

-Elizabete, o que aconteceu?? – eu estava completamente perdido. – você é bipolar?? Sofre de algum distúrbio neurológico?? –a esta altura era a explicação mais plausível.

-Vou deixar uma coisa bem clara. – ela estava bem séria e focada. Podia não ser um especialista, mas estava claro de que ela estava completamente consciente do que fazia. – você não será a primeira, nem a segunda, nem a terceira, nem a décima pessoa que eu mato.

-O-O... que... – ela era um serial killer. Minha vida é mesmo maluca! Salvo por um seria killer, que só me salvou pra me matar!!

-E também não diria que sou um serial killer, porque não mato por prazer. – eu estava aterrorizado, estava difícil raciocinar. Lutava pra entender como tudo havia chegado naquele ponto, mas só ela tinha essa resposta.

-Me deixa ir.

-Dependendo da sua resposta. – me acalmei um pouco mais, apesar de estar tremendo como madeira verde. As palavras dela tinham uma segurança mítica.

-Elizabete...

-Cesar, porque devo te deixar ir?

 

Continua...



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