História O Guardião da Floresta - Atlas

Kyrian

- Sei que o momento entre a gente está bom, porém temos que esclarecer algumas coisas, Kith.- Todo mundo já tinha se desvencilhado do abraço e voltaram pra suas posições.

- Tipo o que?- Ele arqueou uma sobrancelha.

- Sabe que a gente não te procurou porque você é o meu irmão e tudo mais.

- Imaginei.

- Pois então, nosso dever era te levar para rainha, por isso fomos atrás de você.- Falei.

- A rainha?- Ele se levantou parecendo aflito.

- É, ruivinho. Por que o espanto?- Lin perguntou.

- Vocês não sabem do que ela é capaz. Aquela criatura me enganou de todas as formas possíveis, por causa dela, eu sou procurado e querem minha cabeça o tempo todo.- Ele começou a andar de um lado para o outro.

- Por que ela faria isso?- Tyler indagou.

- Vocês não a conhecem o suficiente.- Ele continuava aflito.

Eu levantei, chamando a atenção de todos e fui em sua direção, segurando seus ombros.

- Então trate de nos contar, agora.- O ordenei, porque minha paciência aos poucos ia embora.

- Certo.- Ele sentou depois de um tempo.- Quando eu cheguei aqui no reino de Valquíria, tudo era lindo e maravilhoso. Ninguém me conhecia e eu também não conhecia ninguém. Até que um dia, meus olhos encontraram com Alexandrita, e mal sabia eu, que minha vida ficaria ferrada por causa dela.

- Ela chegou a nos contar que você roubou a família dela, por isso ela quer sua cabeça.- Falei.

- Claro que ela falaria isso.- Kith ironizou.- Ela chegou em minha direção toda simpática, começou a conversar comigo e a me mostrar a cidade. Depois disso, ela me levou para o Palácio, onde os pais dela estavam, para me apresentar e tudo mais. Não sei pra que isso, se não éramos nada.- Ele suspirou.

- Ela disse que foi amor a primeira vista.- Tyler fez uma careta por lembrar da rainha contando, e agora ouvir a verdadeira história.

- Ela é maluca.- Ele riu de deboche.- Nenhum momento eu me apaixonei por ela ou quis algo com ela. Sei que, quando ela me levou ao Palácio, não sei como ela fez, mas Alexandrita conseguiu colocar as jóias da família na minha bolsa. E ela tinha dito que estavam escondidas, então como eu poderia saber se ela nem havia me contado a localização?- Kith começou a ficar nervoso.

- Então ela te incriminou...- Falei pensativa.

- Sim, e desde então, sou perseguido pelos lacaios de sua rainha.

- O que não fez sentido foi essa incriminação sem necessidade.- Levantei indo para a janela.

- O que você acha?- Tyler perguntou e cruzou os braços.

- Ela está escondendo algo.- Falei.- E não só isso, a rainha com certeza sabe quem o Kith é, então ela fez de propósito para ele sair da cidade.

- Ou seja...- Lin começou.

- Alguma coisa que está aqui nessa cidade, pertence ao Kith, então ela tentou o afastar daqui.- Complementei.

- Pensando bem, isso faz sentido.- Kith disse.- Mas eu não tenho nada aqui.

- Você pode achar que não.- Syrius disse dessa vez.

- Como assim, Syrius?- Perguntei.

- Bom.- Ele deu um pigarro.- Vocês sabem que eu perdi a memória desde que eu encontrei a rainha. Só que ela nunca percebeu que eu fui um ótimo observador, ainda mais com a minha visão aguçada.

- Certo.- Assenti.

- Pois bem.- Ele continuou.- Eu lembro muito bem agora, que na época em que o Kith foi embora, havia alguém no porão preso, porque eu também ouvi vozes.

- Tudo bem, mas onde você quer chegar?- Lin quem perguntou.

- E se o pai do Kith esteve lá esse tempo todo?

Todos ficaram em silêncio, pensando nessa possibilidade.

- Espera, porque vocês foram atrás de mim?- Kith perguntou após um tempo.

- Porque a rainha disse que tinha informações sobre o paradeiro do meu tio.- Ele ainda não estava entendendo.- Quando voltei para a casa, em Hildstone, meu tio desapareceu e deixou uma carta dizendo que ia me procurar.

- E desde então ela acabou parando em Valquíria.- Lin disse.

- Por ai.- Comentei.

- Então quer dizer que o meu pai está preso? Não pode ser. Ele tinha que ter ficado em segurança.- Kith parecia perdido.

- Olha, eu não ia imaginar que ele me procuraria, mesmo que eu tenha dito que eu voltaria em alguns dias...- Não terminei minha fala por que comecei a me sentir culpada.

- E você nunca mais voltou.- Kith completou.

- Eu voltei, assim que tudo tinha acontecido comigo, só que ela não estava lá, meu tio já tinha partido em minha busca. Sei que eu devia ter voltado antes, mas não dava..- Eu sentei e encarei o chão.

- Por que não dava?- Kith se ajoelhou na minha frente, fazendo com que eu o encarasse.

- Porque eu estava perdida. Meus poderes estavam fora de controle, eu tinha machucado meus amigos, vi o meu pai morrer por ter me traído, somente para ressuscitar minha mãe.- Eu comecei a chorar com as lembranças vindo todas de uma vez.- Você tem noção do que é morrer e ser ressuscitada? Só para usarem seu poder, te usarem como um mero objeto?- Ele negou com a cabeça.- Então, eu passei por isso tudo. Eu queria muito voltar e ver meu tio, mas eu tive que aprender a ter autocontrole, saber que não vou machucar mais ninguém.

- Então por isso você sumiu por anos?- Tyler se aproximou de mim e se agachou também.

- Sim, me desculpe.- Falei cabisbaixa.

- Você não tem que se desculpar. E eu também tenho que te falar tudo que aconteceu sem você estando por lá. Na verdade, desde que eu cheguei aqui, que eu te encontrei, eu quero conversar com você, mas parece que sempre temos aventuras, não acha?- Tyler brincou.

- Você tem razão.- Não pude evitar de rir.

- Bom, já que ainda estamos reunidos, vocês podem nos contar a versão de cada um sobre 7 anos atrás.- Syrius disse.

- Certo.- Quem começa?- Tyler perguntou.

- Você.- Falei.

- Okay.- Ele deu um riso nasalado.

7 anos atrás 

Antes do desaparecimento de Kyrian

Tyler

Eu sentia meu corpo dormente, como se eu não fosse mais dono dele. Kyrian me segurava e chorava desesperadamente, pedindo desculpas, dizendo que eu melhoraria. 

Eu consegui dizer que sim, mas depois, foi como se minhas energias tivessem acabado e meu corpo esgotado. Minha respiração ficava cada vez mais lenta, no entanto, não era como se eu fosse morrer naquele instante, apenas me sentia cansado e pesado.

E por causa disso, minha respiração foi ficando bem lenta, como se já estivesse parado, graças a isso, Kyrian achou que eu estivesse morto. 

Eu queria gritar, espernear dizendo que eu estava bem, vivo, mas nada saía.

A pior cena foi ver Kyrian confusa, sem saber o que fazer, sofrendo e triste pelo que aconteceu, mesmo não sendo culpa dela. E então, ela foi embora, só que eu nunca imaginaria que a veria anos depois.

Mithra e Edhros foram em minha direção rapidamente, para tentar me socorrer.

- Kyrian...- Só consegui sussurrar antes de desmaiar completamente.

No dia seguinte, eu acordei em uma cama, olhei em volta e notei que era o quarto do Edhros. Eu percebi que eu estava sem blusa, porque meus ferimentos foram na barriga. Quando eu comecei a sentar, senti dor, mas não tão intensa assim.

Eu fui levantando aos poucos e fui em direção a sala, para ver se eu os encontrava. Mithra e Edhros estavam conversando e pareciam sérios.

- Oi, gente. Tudo bem?- Sorri fraco.

- Tyler, você devia está em repouso.- Mithra se aproximou de mim.

- Eu estou bem, sério.- Falei.

- Ao menos senta no sofá, para não fazer muito esforço.- Ela me guiou e eu sentei, me sentindo bem melhor.

- Obrigado. E então, sobre o que estão conversando?

Edhros me encarou como se não quisesse falar, mas Mithra já foi logo se adiantando.

- Queremos procurar a Kyrian, ela deve está péssima e agora que está sozinha, seus sentimentos e sua mente devem deixa-la paranoica.

- Entendo.- Murmurei.

- Você não está com raiva dela, certo?- Ela ponderou em me perguntar.

- Lógico que não, por que eu estaria?- A encarei sem entender.

- Porque desde que aconteceu isso, seu semblante está totalmente sério. Como se você quisesse agir de alguma maneira.

- Eu quero agir sim.- Me levantei, mesmo com as dores protestando para eu ficar quieto.- Mas é para busca-la, ainda mais em momentos assim, ela não pode ficar sozinha, ela precisa de nós, precisa de mim.

- E o que você vai fazer, tigrinho?- Fiquei aliviado por ela continuar com esse apelido, porque vê-la séria é muito estranho, sinceramente.- Sabe onde encontra-la?

- Não.- Suspirei.- Mas vou ir para casa do Tio dela primeiro, pode ser que ela tenha ido pra antes de tudo.

- Tudo bem. Vai amanhã, pra você descansar mais um pouco.- Ela aconselhou.

- Eu tenho que ir, Mithra, se não, ela pode já ter ido embora de lá.

- Mas...- Mithra tentou argumentar.

- Irmã, ele sabe o que está fazendo, nós só podemos aguardar e esperar por respostas.- Edhros pôs a mão em seu ombro.

- É, verdade. Então vai, tigrinho, mesmo que demore anos para nos vermos, por favor, venha nos visitar e não se esqueça da gente.- Ela choramingou.

- Claro, sua bobinha.- Eu a abracei.- Jamais te deixaria ou esqueceria. Voltarei assim que puder.- Sorri de canto.

- Ai, tigrinho.- Ela retribuiu o abraço com cuidado por causa das feridas.

- Fica tranquila, está bem? Tentarei de alguma forma manter notícias, mesmo que seja difícil.- Eu falei.

- Tudo bem. Vá antes que eu não deixe você ir.- Ela limpou os olhos que já estavam cheio de lágrimas.

- Está bem.- Eu ri.- Edhros, pode me dar alguma roupa? As minha ficaram rasgadas.- Disse coçando a nuca constrangido.

- Sem problema. Venha comigo.- Eu o segui até seu quarto. Ele abriu o armário, pegou roupas que pareciam meio estranhas vistas de longe, mas quando eu as vesti, ficaram perfeitas. 

- Bom, espero que tenha gostado, pois eu nunca usei essa roupa.- Ele riu.

- Está ótimo.- Me olhei no espelho que havia ali e fiquei impressionado. Minha roupa tinha tons de bege escuro e marrom, eu tinha um cachecol um pouco grande, mas que não ficava ruim, também havia um acessório em volta da minha cintura, como um cinto grande. Minhas calças eram bem escuras, e eram largas até o joelho, depois eram justas.- Ao menos em épocas de frio consigo me adaptar tranquilamente.

- Tem razão.- Edhros fechou o armário.- Você está ótimo, seus cabelos destacam mais que a roupa mesmo.

- É por isso que sou belo.- Mexi nos meus cabelos e fiz pose, fazendo nós dois rirmos.- Sentirei sua falta, o mais sensato entre nós, que quando menos percebemos, já dá seu grito de guerra pra ir à luta.

- Se não for pra ser assim, qual graça teria, não é?- Acenei concordando.- Agora vamos, se não eu que farei de tudo pra ficar aqui conosco.

Seguimos para a sala novamente e eu fui me despedir do dois, que me abraçaram, ainda com cuidado e por bastante tempo.

- Vá com cuidado, espero que consiga encontra-la.- Mithra se desvencilhou do abraço.

- Eu vou encontra-la.- Sorri a confortando.- Até pessoal, em breve nos encontraremos.- Acenei e me virei para seguir em frente.

Mal sabia eu, que demoraria anos para enfim voltar, e também acha-la.

Eu fui em direção a Hildstone. Em alguns dias, eu finalmente acabei chegando lá e escutava sussurros das pessoas dizendo sobre um tigre que veio para cá e ele parecia desesperado.

Não pode ser. A Kyrian passou mesmo por aqui como eu imaginei. Espero que ela ainda esteja aqui.

Eu saí correndo para a casa dela e quando cheguei, bati na porta umas três vezes, porém sem sinal. Quando tentei abrir a porta, notei que a mesma estava destrancada e a abri, entrando logo em seguida.

- Olá? Alguém por aqui?- Olhei em volta e sem sinal da Kyrian ou do tio dela.- Ela deve ter ido embora.- Falei sozinho. Eu continuei andando pela casa para ver se encontrava algo, porém não tinha nada, apenas uma sensação de que essa casa tinha que está cheia, com alegria e felicidade. Suspirei e quando olhei pra mesa, vi uma carta. Pensei em ler, mas resolvi deixar pra lá. Era uma carta do tio dela, então era algo pessoal.

Após olhar tudo, eu saí da casa e pensei para onde ela poderia ter ido. Só que nada surgia na minha mente, apenas um branco. Minha cabeça aos poucos começava a doer, mas eu não vou desistir.

Segui adiante em direção à floresta novamente e pensei em milhares de possibilidades onde ela poderia está. Vaguei por anos, conheci várias outras raças. Foi como se esse tempo fosse só meu, quando na verdade eu apenas queria encontra-la. 

E após 7 anos, finalmente a encontrei, em um lugar que menos esperava. Eu passei por tanta coisa, minha mente amadureceu, meu corpo se tornou mais resistente devido aos treinos que eu fazia. E ver a Kyrian na minha frente, sorrindo, fez o meu mundo ter sentido novamente.

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Kyrian

- E foi isso.- Ele coçou a nuca envergonhado, porém me encarava intensamente.

- Então eles estão bem? E eu não posso acreditar que você me procurou por todos esses anos.- Eu fui em sua direção e o abracei fortemente.

- Sim, Kyrian. Eu te amo.- Ele se afastou para me encarar e antes que eu pudesse dizer algo, ele me beijou.

- Viva ao casal.- Lin gritou e pulou.

- Viva!- Kith pulou também.

- Isso ai.- Syrius levantou o braço e riu.

Após o beijo eu acariciei seus cabelos encostamos nossas testas, sorrindo de orelha a orelha.

- Eu também te amo.- E agora tudo começou a fazer sentido na minha vida.

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No Reino

- Então eles já o pegaram.- Alexandrita murmurava enquanto acariciava o corvo.

- Sim, mestre.- O corvo falou.

- Pelo visto vamos ter que tomar medidas drásticas, se eles não trouxerem o querido Kith.- Ela se levantou e pôs o corvo em seu ombro.

Ela começou a andar pelos corredores gigantescos e entrou em uma porta, que ia para o porão. A rainha pegou uma tocha que estava na parede e continuou sua caminha pela luz fraca.

Até que ela chegou em uma das celas que haviam ali e deu dois toques na grade, fazendo um barulho alto e chamando a atenção de quem estava dentro.

- Como você está?- Ela sorria.

- Como você acha que eu estou?- Disse a pessoa desconhecia.

- Não se preocupe, em breve devem saber que está aqui.- Ela riu.

- Como assim?- A pessoa se levantou e foi em sua direção.

- Sua querida sobrinha e seu filho estão aqui no reino de Valquíria, como eles são espertos, devem saber que você está aqui.- Ela encarou as mãos, achando-as fascinantes.

- Não pode ser. Não tem como eles saberem disso.- Atlas parecia desesperado.

- É o que veremos querido. Tomara que sua querida sobrinha entregue seu filho, pois se não...- Ela deixou no ar.

- Eu já sei, você me matará e conseguirá matá-lo de alguma forma.- Ele suspirou.

- Que bom que está ciente.- Ela acenou parecendo satisfeita.- Até amanhã baby.- E se retirou do local.

- Meus queridos, espero que não a enfrentem, não quero que sofram.- Atlas falava sozinho, parecendo saber de muitas coisas.

- Vamos ver o que acontecerá daqui em diante, não é?- Ela segurou o corvo e o soltou, fazendo com que voasse pelo Palácio ficasse em um canto, esperando por ordens.

A rainha voltou para sua sala do trono e sentou, apenas apreciando o vazio do local.

- Estou muito animada para amanhã.- Ela sorriu e cruzou as pernas, mostrando em expectativas.

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