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História O Herdeiro de Eileen - 15.02.1105 - 20:50h


Escrita por: Melloishy

Capítulo 9 - 15.02.1105 - 20:50h


Quando acordei pela manhã, me peguei em dúvidas se os acontecimentos da noite passada foram apenas um sonho, mas, ao me virar na cama e ver o colchão ao lado, vi que tudo havia sido real.

Eu suspirei e sorri como bobo ao me lembrar das carícias de Damai e do jeito que ele se agarrou a mim até cair no sono, mas logo juntei as sobrancelhas quando finalmente saí do estado de sonolência e me dei conta de que o colchão estava vazio.

Me levantei em um pulo e saí do quarto ainda vestido com o meu pijama. Estava aflito com o pensamento de que havia dormido demais e Damai teve que ir logo cedo sem se despedir.

Agora penso que teria sido melhor se tal coisa tivesse acontecido.

Passei pela sala vazia e fui diretamente à cozinha, de onde ouvi a voz da minha mãe, e entrei no cômodo um pouco mais agitado do que estaria em uma hora como aquela. Sorri aliviado ao ver Damai ali e o observei terminar de tomar algo em uma xícara enquanto conversava com a minha mãe. Ele estava sério como sempre ficava quando não estávamos sozinhos. Eu me aproximei e finalmente fui notado. Esperei por um sorriso ou gracejo, mas Damai não mudou a expressão e, ficando ainda mais estranho, ele desviou o olhar e se levantou, anunciando que estava na hora de ir.

Eu o acompanhei até a saída da cozinha — um pouco desconfiado — e quando ficamos sozinhos, ele logo me parou e se virou para mim.

— Não precisa me acompanhar — avisou ele de uma maneira polida e distante, o que me fez desconfiar ainda mais de seu jeito de agir.

Ele alcançou a porta e a abriu, saindo por ela rapidamente. Fiquei confuso com aquela atitude, mas agi rápido e o segui até o lado de fora.

— Damai, espere — o chamei preocupado e ele se virou para mim. — O que houve?

Damai suspirou fundo e voltou alguns passos. Ele parecia um pouco alterado, mas era claro que se esforçava para esconder o que sentia.

— Só estou com pressa — respondeu sem me olhar. — Meus pais devem estar muito preocupados.

— Mentira — eu disse com confiança e ele levantou o olhar surpreso. — Tem algo mais e que não quer me contar.

Ele suspirou mais uma vez, e vi seu olhar brilhar ao se encontrar com o meu.

— Não posso continuar com isso — Damai disse seriamente. — Não consigo — a confissão saiu com um sussurro, que me confundiu ainda mais. — Eu não voltarei aqui ou a Rajul Hurr — ele declarou, desviando o olhar em seguida. — Me desculpe, mas, esta é a última vez vamos nos ver.

Meu corpo tremeu ao ouvi-lo e imediatamente senti algo em meu peito se esfriar. Levou algum tempo até que eu pudesse reagir àquilo, e quando o vi dar um passo para trás, foi como se a realidade tivesse me dado um tapa na face.

— Por quê? — Eu finalmente perguntei e em tom baixo, enquanto tentava segurar as lágrimas que se acumulavam em meus olhos. — É por causa do seu irmão? — Perguntei a primeira coisa que me veio à mente e virei o rosto para limpar uma lágrima que escorreu por ele. — Ontem, você não parecia pensar nessas coisas.

Ele balançou a cabeça em resposta, e simplesmente deu as costas. Estava pronto para ir embora, mas não permiti. Sem me importar por ainda estar vestido com o pijama, fui até ele e o segurei pelo braço. Damai se virou para mim novamente, e me olhou de uma maneira que não pude identificar.

— Não me toque, por favor — ele sussurrou o pedido.

Damai tentou se afastar novamente, mas eu o segurei com mais força.

— Você não pode entrar na minha vida desse jeito — eu dizia sem esconder a minha mágoa e confusão — e depois tentar ir embora sem me dar pelo menos um motivo.

Damai abaixou o olhar para a minha mão e ficou em silêncio. Ele realmente pretendia não se explicar e simplesmente ir embora, o que me deixou furioso. Apertei um pouco mais seu braço e ele voltou a me olhar, dessa vez com as sobrancelhas juntas e os lábios crispados.

— Eu deveria ter perguntado ontem, mas aconteceram tantas coisas ao mesmo tempo, e acabei deixando isso passar — o olhei nos olhos enquanto falava, ansioso para que a resposta da pergunta que eu faria, não fosse respondida positivamente. — Você sabia que o homem que estava procurando era o pai de Yaromir?

Ele segurou a minha mão, me obrigou a soltá-lo e nada disse; apenas continuou a me olhar de um jeito indecifrável, e quando desviou o olhar foi que enfim recebi a confirmação para a minha pergunta.

— É por isso que se aproximou de nós na taverna — afirmei com rancor. Ele tentou falar algo, mas não permiti. — É por isso que se aproximou de mim. E agora que não tenho mais serventia, está me dando as costas.

— Izuna — ele tentou se aproximar, mas dei um passo para trás e balancei a cabeça de um lado para o outro.

— Não — me afastei novamente, enquanto limpava mais lágrimas, que dessa vez caíam descontroladamente e por sentimentos além da mágoa. — Você queria ir embora sem dizer nada, então vá! Encontre o pai de Yaromir, descubra o que tem que descobrir ou continue assim. Eu não me importo mais — menti em meio aos soluços.

Damai tentou tocar o meu rosto, mas o impedi com um tapa em sua mão. Ele pareceu surpreso e ao mesmo tempo magoado, mas não me importei. Ele também havia me magoado. Me usou e contou mentiras, enquanto eu achava que se importava comigo.

— Eu consigo imaginar a necessidade que você tem de fazer isso — disse quando minha voz já estava se recuperando. — Ele era o seu irmão, e deve doer muito não o ter mais ao seu lado, mas posso te afirmar que isso está fazendo com que perca mais do que ganha.

— Izuna, por favor.

Mais uma vez ele tentou se aproximar e eu me afastei. Já estava próximo da porta da minha casa e pousei a mão sobre a maçaneta. Eu o olhei nos olhos e vi desespero. Não sei como fui forte naquele momento, mas nada fiz para tentar acalmá-lo.

— Vá de uma vez, Damai — dei as costas e girei a maçaneta, mas antes de abrir a porta, virei o rosto para trás, para olhá-lo pela última vez. — Eu só espero que você saiba que, não importa o que faça, o seu irmão não irá retornar.

Fechei a porta atrás de mim sem olhar para trás novamente. Quando me vi sozinho, deixei que mais lágrimas se libertassem e corri para meu quarto, pois o que eu menos precisava era da minha mãe me interrogando naquele momento.

Tranquei a porta do quarto com as mãos trêmulas e me joguei no colchão sobre o chão. O cheiro de Damai ainda estava no travesseiro e lençóis, o que me fez chorar ainda mais, sabendo que hoje foi a última vez que o vi, e aquele cheiro sobre o tecido logo iria embora juntamente com ele.

Ele mentiu para mim, fingiu interesse qua

ndo o que queria era uma coisa completamente diferente, mas, ainda assim, sofro ao pensar que não o terei mais ao meu lado, que Damai se foi e a última coisa que ouviu de mim foram palavras duras e que sei que o magoaram. Não sei porque ainda me importo com essas coisas, mas a verdade é que me lembrar de sua expressão de dor ao me ouvir faz meu coração se apertar em meu peito e me deixa sem forças para fazer qualquer coisa.

 

17/02/1105 - 21:50h

Hoje, quando cheguei no campo, fui recebido por Mira e suas incontáveis perguntas. Eram tantas que acabei me perdendo no meio delas. Minha mente ainda não estava funcionando tão bem. Ainda me custava a acreditar que Damai se aproximou de nós apenas para investigar o pai de Yaromir. Isso me fez perder o sono por essas duas noites que passaram.

Não consegui e ainda não consigo parar de me perguntar se há mais alguma coisa que ele já me contou que seja mentira. As histórias sobre o seu irmão eu duvido que sejam, já que tudo o que ele fez ou faz, gira em torno dele. Mas, e o que dizia sentir por mim? Se ele quis se afastar tão facilmente assim, acredito que não deve ter sido tão sincero, e é o que mais me machuca. Eu o conheço por tão pouco tempo, mas me apeguei de uma maneira da qual não consigo explicar, é como se o conhecesse por anos. Sinto que ele sempre esteve aqui ao meu lado. Mas agora Damai se foi repentinamente, me deixando aflito com o que ele pode estar fazendo estando sozinho e atrás de alguém como o pai de Yaromir.

Por mais que a minha mágoa sobre Damai seja grande, eu ainda não consigo falar dele com rancor como deveria, então, decidi não contar aos outros o que descobri. Mas, eu não sabia se o pai de Yaromir diria algo para ele, e isso era uma coisa da qual eu não podia controlar. Por alguns minutos fiquei ansioso para descobrir o que ele sabia, mas, infelizmente, hoje não pude tirar a minha dúvida. Yaromir não apareceu no campo, e Jan chegou extremamente atrasado. Ele estava um pouco distante, todos estavam, principalmente Piers. Ele não falou muita coisa durante o começo da manhã, e mesmo tão desanimado, me vi na obrigação de conversar. Quando estávamos praticando com o arco e flechas, me posicionei ao lado dele e o olhei de canto enquanto atirava nos alvos à frente.

— Eu sinto muito pelo jeito que agi na sexta — disse com sinceridade. Eu realmente sentia muito. Ele foi quem se aproximou de mim no campo, a me incentivar a entrar na Guarda Real, o meu primeiro amigo fora Saru, e o tratei de modo rude por causa de Damai.

— Não se preocupe — disse ele, finalmente sorrindo como sempre, o que me deixou aliviado. — Só sinto muito pelo bolo.

— Bolo? — Perguntei surpreso enquanto abaixava o meu arco.

— Nós compramos um, mas não tivemos a chance nem de mostrá-lo — ele também abaixou o arco e sorriu sem jeito. — Desculpe.

Eu ri em tom baixo e balancei a cabeça.

— Obrigado. De verdade. Tudo o que fizeram por mim, foi mais do que o suficiente. Fiquei muito feliz.

Piers sorriu largamente e assentiu. Aquele sorriso me fez relaxar por um momento, mas logo o sentimento brando passou, quando pudemos nos reunir ao final do treino, e Jan revelou que Yaromir havia se mudado, e não iria mais ao campo ou para as aulas na taverna. Eu perguntei se ele sabia aonde haviam ido, mas Jan negou saber.

— O pai dele parecia apavorado — contou ele, estava pensativo e mesmo tentando disfarçar, dava para ver que estava triste. — Eu não sei o que Damai fez, mas ele o fez correr e não olhar para trás.

— Damai não fez nada — disse seriamente e decidido, mas logo me repreendi internamente, por ainda tentar defendê-lo. — Mas, isso não é da nossa conta. Só precisamos saber aonde Yaromir foi e se está bem.

— Para você poder contar para Damai? — Jan disse um pouco alterado, e eu entendi completamente o motivo, o que me obrigou a falar sobre o que eu evitei a manhã toda.

— É claro que não — disse com irritação. — Damai não vai mais falar conosco ou nos ver. Somos apenas os quatro agora. E espero podermos voltar a ser cinco em breve.

Jan e Mira me olharam com surpresa e Piers com preocupação, mas o senti levemente animado quando perguntou se havíamos brigado. Eu assenti enquanto me distraía em guardar as minhas coisas e ouvi Mira suspirar atrás de mim.

— Mas, vocês são tão próximos — ela parecia decepcionada. — Foi por causa de Yaromir?

— Sim — disse simplesmente, e Jan fez sinal positivo com a cabeça. Ele pareceu satisfeito com a minha resposta.

Decidimos continuar as atividades após o campo mesmo sem Yaromir. Acreditamos que um dia ele voltará e poderemos ajudá-lo juntos.

Eu poderia dizer que a tarde passou como qualquer outra, mas estaria mentindo. Sem Yaromir, vez ou outra, ficava um estranho silêncio na mesa. E ficou pior ainda quando terminamos e Damai não surgiu para nos acompanhar. Foi como se uma parte importante de todos tivesse sido tirada a força e não conseguíamos substituí-la por mais nada.

 

18/02/1105 - 22:20h

Luca me chamou para conversar no final do treino. Ele esperou que todos se retirassem e me assustou quando me olhou mais sério do que já era.

— Alguns dias atrás, o príncipe Tobirama sumiu por uma noite inteira — ele começou a contar de repente. Eu o olhei confuso, mas ao mesmo tempo temeroso. — O rei ficou furioso, quando descobriu que ele apenas tinha fugido do castelo e voltou na manhã seguinte — Luca coçou o bigode quando fez uma pausa e eu suspirei aliviado.

Por um momento, passou por minha mente que o outro príncipe também havia morrido. Felizmente eu estava errado, mas ainda não entendia o motivo daquilo ser contado para mim.

— Isso é confidencial, é claro, e conto com a sua discrição — eu assenti e ele pareceu satisfeito. — Bom, o motivo de eu querer conversar é que, depois disso, o rei está precisando mais do que nunca de novos guardas. Eu sei que é competente, garoto, e pensei em recomendá-lo, mas — ele sorriu derrotado e deu de ombros — seu irmão fez isso antes de mim.

Eu arregalei os olhos pela surpresa e senti o meu coração bater mais rápido. Madara havia recomendado os meus serviços para o rei, mesmo sem me conhecer direito. Eu fiquei extremamente feliz com isso e não consegui evitar em sorrir discretamente.

— Mas não pense que isso é alguma regalia — Luca ficou sério novamente e me olhou com dureza. — A recomendação é apenas para fazer o exame. Se você não passar, a palavra de seu irmão não valerá de nada.

— Eu prometo não o desapontar, senhor — disse com firmeza e Luca assentiu com ainda mais seriedade.

— Bem, acho que não preciso perguntar se aceita fazer o exame alguns meses antes do esperado, não é?

— De maneira alguma, senhor — respondi animado.

Sei que sou capaz, e preencher a minha mente com outras coisas e me afastar de tudo é o que mais preciso agora. A recomendação de Madara veio em um momento perfeito.

— Certo — Luca colocou os braços para trás e se pôs à minha frente. — O exame é daqui a quatro meses, e você não conseguiria passar em todos os campos em tão pouco tempo com os horários comuns. Alguns outros deste campo também foram recomendados, então, vocês receberão um treino especial não só pela manhã, mas também irá tomar a sua tarde. Isso vai deixá-lo exausto — ele anunciou com um sorriso animado demais para quem falava em exaustão, o que me fez tremer levemente. — Não quero saber de desculpas, e o quero disponível o dia todo ou não fará o exame, entendido?

— Sim, senhor! — Eu exclamei com certeza naquele momento, mas logo me lembrei das aulas de meus amigos durante a tarde.

Luca me deixou sozinho e imediatamente corri ao encontro de Jan, Mira e Piers, que me esperavam na saída do campo. Contei a notícia de modo animado e recebi a mesma reação de volta, mas logo tive que contar que as nossas aulas durante a semana teriam que ser canceladas. Eles ficaram tristes, eu pude ver, mas fizeram o possível para me animar e esconder como se sentiam de verdade.

Um pouco antes de nos despedirmos, eu sugeri que continuássemos a estudar, mas aos finais de semana. Eles hesitaram por um momento, com medo de atrapalhar o meu descanso, mas insisti tanto que acabaram aceitando. Tentaram esconder um pouco a animação também, mas eu conseguia ver o brilho nos olhares de todos, o que me deixou aliviado. Eu preciso de um tempo para esquecer de tudo, mas não quero abandoná-los.

Quando dei a notícia aos meus pais, eles ficaram felizes, mas a minha mãe me abraçou forte e pude ver uma lágrima escorrer antes dela dar as costas por um breve momento.

— É só daqui algum tempo — expliquei com calma — e quando eu entrar, vou visitá-los todos os meses.

— Você tem que me prometer que vai — minha mãe disse aflita, e eu suspirei antes de abraçá-la.

— É claro que prometo. Eu virei — afirmei novamente, e ela sorriu quando a soltei. — E quem sabe eu não consigo trazer Madara junto?

Meus pais riram alegres e assentiram.

— Isso seria incrível, filho — meu pai bagunçou os meus cabelos. — Ter a família reunida novamente é um de nossos maiores sonhos.

Eu assenti para ele, e em seguida, conversamos sobre o campo por mais algum tempo. Enquanto os olhava à minha frente, fiquei a imaginar o quanto sentiria a falta de vê-los todos os dias, e se Madara sente algo parecido quando se lembra de nossos pais ou os amigos que ele teve que deixar para trás. Eu sei que sentirei falta de todos, e farei o possível para vê-los quando puder. Saru provavelmente vai chorar quando eu for. Espero que ele possa continuar a ver os meus amigos do campo ou, quando o visitar um dia, finalmente ele nos apresente Lina, a garota de quem ele tanto fala.

No fim, não consigo evitar em pensar também em Damai. Ele sentirá a minha falta? Algum dia ele me procurará e quando souber que não estou mais aqui, se arrependerá? Sinceramente, eu gostaria que sim. Pois, sei que sentirei a falta dele mesmo antes de partir para o castelo. Na verdade, já sinto.


Notas Finais


Será que o Damai volta?


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