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História O Herdeiro do Fogo - Sessenta e nove


Escrita por: bleedingrainbow e grouwundzero

Notas do Autor


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Sem mais delongas, boa leitura!

Capítulo 69 - Sessenta e nove


[Katsuki Bakugo]

Deixei Eijiro na parte de trás da carruagem, cenho franzido, confuso na própria fumaça depois do incêndio dentro de mim. Tudo ainda emanava um prazer delicioso, mas eu tinha que correr.

Logo o fiz. Claro que o faria, sempre o faço. Agitaria os cavalos pra fora da cidade e escaparíamos incólumes, depois de ter marcado aquela cidade para sempre, e ela nos ter marcado. Dei uma gargalhada quando saímos dos arredores e entramos na trilha entre o matagal escuro, pontilhado pela luz da lua entre as árvores. 

Aquela minha gargalhada estava solitária demais. 

Virei-me para trás, para o que via dele ali na sombra da parte coberta da carroça.

— Você viu, Ei? Viu tudo que somos capazes? E nossa viagem está só começando! O que achou, dragãozinho?

[Eijiro Kirishima]

Mais uma vez em seu colo, lugar onde passei grande parte do dia, Katsuki correu até o nosso destino. Eu me segurava em seu pescoço e não poderia estar mais confortável… sonolento, tentava a todo custo ignorar uma pulguinha que surgiu atrás da minha orelha e aos poucos começava a se tornar bem inconveniente. Minha cabeça estava apoiada em seu ombro, mas ainda pude ver Riot e Lorde, acho que estava tudo bem já que eles não estavam agitados e Katsuki também não mostrou qualquer sinal de alarme ou estresse, que alívio… o garoto tinha palavra, afinal. 

Fui deixado na parte de trás, e Katsuki assumiu a frente. Agitou os cavalos e, sem perder tempo, disparou em direção à saída da cidade e à trilha na mata fechada. O galope ritmado, era exatamente o tipo de coisa que eu precisava ouvir e me concentrar para finalmente me trazer de volta. 

Plenamente consciente, já não conseguia ignorar a voz inconveniente do meu lado racional… O QUE NÓS FIZEMOS!? Tudo bem, calma, respira fundo… vamos analisar as coisas com CALMA. Sentado e encostado na estrutura de madeira, eu abraçava minhas pernas e apoiava meu queixo no joelho, o olhar distante preso em alguma coisa que não estava no tecido da cobertura. 

Por onde começo? Pela parte que nós causamos uma briga generalizada, machucamos pessoas, expusemos não só nossa identidade como nossa intimidade também, e fizemos coisas indevidas em uma via pública; ou pela parte que eu gostei de tudo isso?! O que deu em mim? Por Nana, no que estava pensando? Como pude me deixar levar dessa forma? FIQUEI FORA DE MIM, FOI ISSO? A vergonha começava a cobrar seu preço, memórias vividas de como gemi sem qualquer pudor em um beco, aberto, ONDE PESSOAS PODERIAM PASSAR! Tive o melhor orgasmo depois de levar um tapa, eu gostei de levar um tapa, eu ainda quero que ele me dê outro… EIJIRO, SE CONTROLE! Ainda o sinto em minhas coxas, e quero tanto olhar, mas não consigo reunir coragem para tal, pois esse é outro assunto pelo qual preciso ter meus cinco minutos de pânico. Por muito pouco não o tive lá dentro, e o que mais me choca é que considerei essa ideia… eu não teria reclamado, eu deixaria! Permitiria! No que me tornei? Não acredito que estou arrastando Katsuki para o caminho da depravação, fui eu quem começou isso ao levantar a saia… POR QUE LEVANTEI A SAIA?

Minha cabeça estava um caos sem tamanho, mas fisicamente eu mal me movia ou expressava qualquer coisa. Distante, o mundo todo parecia silencioso com exceção de uma voz muito familiar que se fez presente… só me virei para olhá-lo pois não sabia o que responder, não ouvi muito bem a pergunta, a única coisa clara foi o apelido carinhoso… dragãozinho…

[Katsuki Bakugo]

Por que não estava me respondendo direito? O que aconteceu com aquele mesmo Eijiro eufórico depois da luta? Olhei para trás de novo e não conseguia vê-lo, todo agachadinho no canto da carroça atrás de mim, encolhido entre nossos pertences, e aquela impressão começou a enregelar em mim, congelando em algo bem perto de uma certeza. Ele... ele não estava se sentindo bem? Foi alguma coisa que eu...?

Devagar, meu sorriso começou a desvanecer e, com isso, senti meu peito afundar também aos poucos, mas sem parar. 

Caralho, Katsuki. É óbvio que foi alguma coisa que você fez. 

Foi tudo o que você fez.

Toda a percepção sobre a insanidade do que fizemos naquele beco se perfez em um instante; não, do que eu fiz naquele beco. Eu não deixei que ele fizesse nada, que sequer se tocasse. Não olhei em seus olhos, não o beijei, não lhe falei nenhuma palavra bonita ou vagamente gentil, pelo contrário. Eu o usei. Em público, exclusivamente para satisfazer meu próprio tesão, da forma mais grosseira e violenta. 

Não, não, não, inferno, eu não acredito nisso. A realização de tudo caía em mim de uma vez, apagava os resquícios da névoa como um banho de água fria. Eu nos expus completamente quando nós estamos em fuga. Quando prometi por sua segurança, mais de uma vez precisei dele para satisfazer minha lascívia sem nenhuma súcubo para eu poder culpar. Não era nada como aquilo, não fui entorpecido de súbito por aquela suposta bruxa lá do comércio. Não, era eu. Eu estava assim sozinho, porque eu estava me sentindo no comando talvez pela primeira vez de verdade em muito tempo ou em minha vida toda. 

E descontei em Eijiro. Logo nele.

Céus. Olhei para trás de novo, ele abraçado às pernas, quietinho, e minha garganta apertou. Caralho. Minhas mãos se agarraram às rédeas e minhas costas curvaram, minha mente uma vez vazia agora repleta de coisas demais. Não me chegava a espantar que eu me deixasse deturpar fácil pela violência, que era a nuance da fúria que sempre me contaminava, nunca foi honroso. O fato de que eu deixei que essa violência expusesse Eijiro, arriscasse sua vida em uma briga imbecil e ainda se mostrasse com luxúria para justamente usá-lo desse jeito era provavelmente imperdoável. Quando foi que eu me distanciei tanto dele? Juraria a qualquer um que estávamos exatamente na mesma sintonia. E talvez ele até estivesse, mas o que eu fiz uma vez que percebi isso foi hediondo. Só me deixei levar, aproveitei-me do seu ânimo e de seu desejo para submetê-lo a tudo isso. 

Enfiei-me em uma espiral onde cada vez mais precisava falar alguma coisa e quebrar esse silêncio horrendo, e era cada vez mais difícil abrir a boca, como se eu tentasse respirar debaixo d’água. Como sequer posso começar a falar sobre isso? Onde sequer consigo a primeira palavra agora que sei que devo tê-lo traumatizado na porra do segundo dia de viagem? Deve ter até demorado, se for falar a verdade. Demorou pra Katsuki Bakugo dar as caras de verdade. Inferno, e agora?

[Eijiro Kirishima] 

Não sinto dor, não estou machucado, está tudo bem, então por que não sinto mais a paz que sentia minutos atrás? Vamos, Eijiro, não estrague o dia com toda essa culpa… pense direito, pense com calma, passo a passo. Nós fizemos compras e foi ótimo, encontramos Lorde, conhecemos um lugar novo e visitamos uma taverna, parte da graça de fugir é se aventurar e nem todas as aventuras são contemplativas só para admirar a vista, se aventurar também é se envolver e se permitir fazer coisas que não faria normalmente… 

A briga é o que menos me incomoda. Foi divertido, finalmente lutamos juntos, lado a lado em sintonia, e não ferimos ninguém inocente. Me lembro vagamente de Katsuki jogar um anel para o taverneiro e aquilo deve cobrir tudo o que compramos, consumimos e quebramos. Me senti vivo, foi excitante participar da ação e não ser o príncipe indefeso que precisa de proteção a todo minuto, me senti forte… não tenho porque me sentir culpado por isso. Katsuki me reconheceu como um guerreiro, confiou a mim a proteção das suas costas e foi um momento mágico, um momento de conexão… mas não é com essa parte da viagem e do passeio que preciso me resolver. 

Talvez eu tenha um problema. É difícil me controlar quando Katsuki está por perto, não sou muito bom em conter meus desejos, sempre acabo cedendo rápido demais, caindo intensamente nas garras da luxúria. Fico cego, desnorteado, um animal selvagem no pior dos sentidos. Não sei dizer “não”, aceito e quero tudo o que ele me oferece, sou irresponsável. A questão é que, quando Katsuki me toca, manipula meu corpo, e me domina como fez em ambas as vezes que nos encontramos a sós num beco, me sinto vivo … quando ele exerce força sobre mim, me vejo em uma posição que nunca estive antes, a de não ter poder. Cresci e passei minha vida toda em um ambiente onde tudo o que eu falava se concretizava, e os últimos dias da minha vida nobre, foram extremamente difíceis, com um peso imenso em meus ombros para que tomasse a decisão certa… quando abro mão de decidir até mesmo se posso ou não tocar meu próprio corpo, é como se fosse meu ato máximo de rebeldia. Não sei se isso faz qualquer sentido, ou se soa como uma emaranhado de palavras e sentenças, mas é como me sinto… e é muito bom.

Katsuki é seguro. Mesmo ensandecido, ele nunca me machucaria, e perceberia o menor dos sinais caso eu demonstrasse qualquer desconforto, me ouviria se pedisse para parar… e por conta dessa segurança, acabo extrapolando os limites e me jogando de cabeça em situações nas quais deveria ter o mínimo de autocontrole.

Quanto à parte de estarmos em público, é um pouco diferente. Durante anos tudo o que importava era a minha imagem. Escondido dos olhos comuns, mas exposto para a corte, nenhuma falha era admitida. Minha etiqueta precisava ser perfeita, fui letrado em muitas áreas para que pudesse conversar com qualquer um sobre qualquer assunto, tinha que ser cordial, educado, estar sempre sorrindo e ter minha aparência impecável… então, não é de espantar que, quando finalmente estou livre, uma das coisas que anseio é a de que parem de me ver como essa criação intocada. É tentador que alguém me pegue completamente destruído e arruinado nos braços do homem que amo… sim, do homem que amo. As coisas são bem mais complexas quando se tem a coragem necessária para olhar a fundo. 

A minha culpa está diretamente ligada ao modo que acho que deveria agir. Acho que devo me portar de certa forma, e me culpo por ter desviado dessa norma que me foi imposta. Eu gostei de cada segundo que passamos juntos, amei cada toque dos seus dedos, e sei que ele sente o mesmo… se nós dois estamos satisfeitos, então para que ficar me martirizando? Nós estávamos em um jogo de provocação, se fiz o que fiz, foi porque era a minha vez de mover as peças no tabuleiro, eu tinha que fazer uma jogada para que a brincadeira continuasse. Sou um homem agora, e não posso me autoflagelar cada vez que ajo como tal, ou que sou tratado como tal. O dia de hoje é uma boa memória, e vai continuar sendo até o fim dos nossos dias, nem que seja para olharmos para trás, já bem velhinhos, e darmos risada de como fomos inconsequentes, 

Respirei fundo uma, duas, três vezes… repeti para mim mesmo como um mantra que estava tudo bem. Ousei até mesmo levantar minha saia e tocar o interior das minhas coxas para confirmar que o nosso prazer foi compartilhado… foi a primeira vez nesse tempo todo que falei alguma coisa, bem mais para um interjeição de surpresa do que uma fala, não consegui evitar quando meus dedos ficaram levemente grudentos. Faz parte.

[Katsuki Bakugo]

Estava tentando encontrar as palavras para falar mas nem sabia o que queria dizer com elas. O que é para eu falar? Se eu não falar nada não vou conseguir parar nenhuma acusação minha ou para mim, não vou conseguir resolver e isso é como perder uma luta por fugir. É pior, porque deixaria a vítima sozinha como um covarde de merda. Como fiz daquela vez com a súcubo e ele carregou tudo sozinho mesmo depois de ter sido deflorado daquele jeito. Só que se eu pronunciar essa merda vai ficar audível, ainda mais real, talvez pior; talvez fique ainda mais repulsivo para Eijiro se ainda forem minhas palavras a delinear esses acontecimentos. Como é que eu consegui fazer uma coisa dessas, o jeito que eu o tratei foi infinitamente pior do que quando fui infectado pela porra de um demônio, lá ao menos eu olhava em seus olhos. Só que estava bom demais, ele parecia estar gostando muito, ele me deixou fazer o que eu queria e era como se eu pudesse ser quem eu sou independentemente do quão sórdido seja, mas eu não posso ter isso como desculpa se-

Ele soltou algum barulho com a garganta, algum som que nem começou a formar uma palavra, mas eu ricocheteei de volta muito antes de sonhar em pensar em alguma coisa.

— EU SEI, TÁ BOM? — Deixei escapar como uma reação impensada e aí foi o fim. Quando eu explodo não tem como não deflagrar feito um canhão, é como tentar parar a bola de ferro voando com as mãos. — Eu passei dos limites, porra, estava empolgado demais, eu fico assim às vezes, sempre na verdade, que merda, você não é pra ser tratado desse jeito, eu não queria te usar desse jeito no meio de uma cidade perigosa, e muito menos te deixar se sentindo mal, eu só- merda, merda, eu juro que eu não quero ser a porra de um troll depravado mas eu fiz isso de novo, que inferno, eu não- eu- é o tempo todo assim comigo, caralho, eu não sei me controlar e é tudo tão incrível do seu lado que-

Puta que pariu, eu estou gritando de novo, travando feito uma roda amarrada. Tranquei tudo de volta e me senti tremer da cabeça aos pés ao que o fiz. Só deflagrei e foi pior do que eu imaginava. Eu odeio desculpas, elas são a prova de fracasso, de quem não sabe como resolver o que fez, na minha boca é como uma bota pisando em minha cabeça. Até as casuais são horríveis, mas saem mais fácil do que admitir que fui um merda, que cometi um erro, que feri quem não queria ter ferido. O pior de tudo é que acho que nem desculpas eu pedi, não consigo me lembrar da avalanche que saiu, e de todo modo eu não sei se mereço perdão agora.

[Eijiro Kirishima] 

Fui pego completamente de surpresa com o repentino levantar da sua voz. “Eu sei, tá bom?” ele gritou e, arrancado dos meus devaneios por isso, não fazia ideia do que estava falando. Cogitei ter deixado algo escapar enquanto pensava, mas não consigo nem imaginar o que poderia ter dito, ou feito, para perturbá-lo dessa forma. Atônito, confuso e preocupado, cheguei a abrir a boca para perguntar do que estava falando e pedir alguma explicação, mas voltei a fechá-la logo em seguida quando ele continuou. 

Como já disse incontáveis vezes, Katsuki é intenso, e para expressar seus sentimentos, não seria diferente. Para entendê-lo bem, é necessário estar atento e notar as sutis nuances por detrás da raiva, procurar pelo silêncio depois de uma explosão. A cada palavra que proferia, meu coração se apertava mais e mais, pois para mim, o arrependimento, a ansiedade, e o medo, eram palpáveis, visíveis e claros. Como pude ser tão negligente, me fechei em meu mundo e sequer perguntei a ele como se sentia… deveria ter sido mais cuidadoso, mais atencioso, notado os pequenos sinais como noto sua postura agora, tenso e curvado como só fica quando está na defensiva, quando sente que precisa de proteger de algo ou alguém… não quero que ele sinta que precisa se esquivar de mim, ou que precisa se conter quando quer se expressar. O ouvi com cuidado, acolhi e levei em conta tudo o que me foi dito… precisava fazer algo a respeito, mas não o faria se ele não estivesse olhando nos meus olhos, cara a cara. 

— Katsuki, pare os cavalos e olhe para mim, por favor. — Pedi com cuidado, e toquei gentilmente o seu ombro. Como resposta, além de fazer como pedi, também recebi um ganido estridente, como o de um filhotinho ferido. Esperei até que se virasse para mim, e então continuei o que queria dizer — De onde você tirou todas essas conclusões erradas? — Perguntei indignado, mas cheio de gentileza — Eu gostei de tudo, cada momento… — sorri para ele e suspirei, organizando melhor minha linha de raciocínio — Você não é um troll depravado e se disser isso de novo sua próxima luta vai ser contra mim, entendido? Eu amo todos os seus lados, até mesmo o mais “empolgado” deles e não mudaria nada mesmo se pudesse… então, por favor entenda: Você não fez nada comigo que eu também não quisesse. Nós passamos do limite, e que bom que fizemos… agora, vem cá — abri meus braços para ele, em um convite claro para um abraço.

[Katsuki Bakugo]

Já quando ele encostou em mim eu soltei algum sonzinho patético que acho que veio de um chacoalhão retórico em tudo o que eu estava estrangulando garganta abaixo, e o fato de que eu não era covarde o suficiente para desviar meus olhos dos dele não queria dizer que eu o estava fazendo sem um esforço ridiculamente grande. Na penumbra eu não conseguia vê-lo direito e não sei se isso era bom ou ruim em um primeiro momento, mas quando notei que ele sorria para mim foi como se eu reaprendesse a respirar.

Cheguei a perder uma ou outra coisa que ele disse, não sabia se estava mesmo seguindo o que ele queria dizer, porque acho que ele estava tão distante da minha linha de raciocínio que eu tive que repassar várias vezes pelos segundos que ele me olhou todas as coisas que ele tinha acabado de me dizer. Então... estávamos bem? Ele também... ele gostou? De tudo? Ele não estaria falando isso só pra me agradar, estaria? Não quero que me console, não preciso dessa merda, é ele quem tem que me- ah, mas porra, será que ele gostou mesmo ou é porque sou eu e ele aceitou-...

Aquele monte de ideias se atropelou em minha garganta como se quisessem sair todas ao mesmo tempo em suas respectivas palavras e não sei que som saiu. Devia ser como um cachorro engasgando num osso, que situação deplorável, devia estar contente que não me babei. Soltei meu ar com força e minhas mãos se agarraram às roupas de Eijiro.

— Que susto, caralho, puta que pariu. — Abracei-o puxando seu torso inclinado para sobre meu colo, suficiente para se deitar com as costas em minhas pernas se eu o soltasse, mas eu não o soltaria. Ele iria ficar bem ali contra meu ombro e meu peito até que eu ajeitasse minha linha de pensamentos, até que ficasse claro o que eu queria dizer mesmo sem eu conseguir começar a explicar, minha boca pressionada em sua testa em um beijo que eu não separaria.

[Eijiro Kirishima] 

Esperava acolhê-lo em meus braços, e consolá-lo como deveria, mas ao invés, Katsuki agarrou minhas roupas e me puxou para o seu colo. Me abraçava apertado como se eu pudesse desaparecer em um piscar de olhos, mas também com todo o cuidado que se tem com uma boneca de porcelana. Ria da sua ação desesperada por achar adorável, e também porque o senti relaxar de certa forma ao me ouvir… nunca daria risada se ainda o tivesse agoniado bem diante dos meus olhos. Quando beijou minha testa, um calor tomou meu peito e, sem perceber, levei minha mão livre até seu rosto e passei a acariciar com cuidado a sua bochecha.

— Tem mais alguma coisa que queira me dizer? sabe que não precisa ficar criando caraminholas nessa sua cabecinha linda, não sabe? O que te levou a pensar tudo aquilo? Foi algo que fiz ou falei? Pode me contar, se quiser — Não queria pressioná-lo, então usei o tom mais suave que pude. Meu objetivo era dar a ele espaço para que se abrisse, para que continuasse a frase que não se permitiu terminar, um estímulo e não uma imposição

[Katsuki Bakugo]

A risada dele me garantia que estava tudo bem. Não o decepcionei nem nada, ele tinha gostado, ele estava aninhado contra mim como sempre deve ser. Só que estava com um tom de voz que eu não sabia significar. Um preocupado, mas calmo, que me era sempre tão incômodo geralmente, um que normalmente eu interpretaria como uma condescendência, só uma subespécie de pena. Eu não preciso que ele se adapte à mim como se eu carecesse de ajuda. Eu não preciso explicar nada a ninguém, não devo nenhuma satisfação, não tenho obrigação de informá-lo de nada... então por que não é nada disso que eu sinto? 

Nada que coube aos outros minha vida toda encaixava assim tão bem nele. Eu não precisava me explicar, mas eu queria que ele soubesse, não queria? Não devo nenhuma satisfação, mas ele não as pedia... se o informasse, talvez ele entendesse o que nem eu entendo. Talvez... estivesse tudo bem com isso. 

— Você ficou com aquela cara de bunda ali do lado, eu tava já- que porra. Eu sei que não é pra tanto, mas eu- argh.

Trinquei os dentes, respirando pesado. Qual é, Katsuki, não é tão difícil, esqueceu de novo como é que traduz esse caos amorfo trancando sua garganta de novo? 

Suspirei. Deixei Eijiro ajeitado em meu colo. Fiz o barulho com minha boca e agitei as rédeas para os cavalos continuarem, mesmo que sozinhos e devagar, em linha reta. Estava disposto a esquecer esse assunto e guardar esse mal-entendido como o que ele é, uma futilidade qualquer. Ele aguardou em silêncio qualquer coisa ou coisa nenhuma, aconchegado em mim, sem insistir, mas sem mudar de assunto. 

Deixei minha respiração acalmar, meus dentes sempre trincados. As palavras dançavam mais perto de seus significados.

— Eu meio que... você sabe que eu perco a cabeça fácil. Todos meus impulsos são assim, demais, uma porra de uma avalanche. Você me dá corda e quando eu percebo já fiz. Não é pra você- sabe, não nisso, eu não quero te tratar mal, eu te prometi melhor do que isso aqui fora, prometi cuidar de você- Porra, eu te falei pra ser obediente lá na cidade, vai que por causa disso você só se submeteu e me obedeceu- ghnn, não sei, caralho, só me desça a mão na cara se eu te machucar alguma hora, me joga longe com o rabo, sei lá. Vai me fazer um favor se quebrar meu nariz um dia, essa merda cola de volta depois de um tempo. Eu consigo, eu- eu conserto, eu dou um jeito... só não me deixa de fora, porque aí eu não sei qual é o tamanho da merda que eu fiz.

Pela enésima vez não era isso, e me senti idiota de novo. O bobalhão dramático que entendeu tudo errado. Mas quando suspirei depois daquilo pareceu que saiu alguma coisa muito pesada de dentro de mim. Não todo o peso, mas um que eu só percebi que existia porque consegui dividir um pouco que fosse.

[Eijiro Kirishima]

— Você se vê como uma ameaça, que sequer passa pela minha cabeça… em nenhum momento eu tive medo de você, a ideia de que me machucaria nunca cruzou meus pensamentos. Eu sei que não vai me ferir, e se um dia acontecer, por qualquer motivo ou em qualquer situação que seja, sei que não seria proposital… precisa se dar um pouco mais de crédito, por acaso viu o estado no qual me encontrava? Teve todas as chances do mundo para me machucar e mesmo assim não o fez. Pode olhar meu corpo, não tenho nem mesmo um arranhão em meus braços, e consigo me sentar perfeitamente bem. Pode achar que estava me maltratando, mas eu me sentia vivo.

A força de vontade envolvida para que eu conseguisse dizer tais palavras, é digna de entrar para a história ao lado dos grandes feitos dos regentes. Envergonhado é pouco para descrever como me sentia, mas eu tinha que enfrentar isso, precisava deixar tudo claro, sem espaço para que minha fala fosse distorcida em seus pensamentos. Meu tom sério, tinha a função de mostrar minha sinceridade, e também que não estava brincando ou falando da boca pra fora só para agradá-lo… 

— Foi uma experiência nova, algo do momento, uma decisão impensada que um dia, já velhos, vamos olhar para trás e pensar como fomos jovens e inconsequentes, você já está me dando tudo o que prometeu. É a nossa aventura.

Como não queria que soasse como um sermão ou uma bronca, me permiti sorrir e até mesmo deixar uma risadinha escapar, um breve momento de leveza antes de voltar a seriedade.

— Me desculpe por ter me fechado, não fiz de propósito, estava confuso demais justamente por ter gostado tanto… mas não vou mentir, foi intenso, e não sei se aguento algo parecido de novo tão cedo… talvez nós dois devêssemos descansar um pouco, já estamos longe o suficiente da cidade e ninguém virá atrás de nós. Por que não nos deitamos por algumas horinhas? Dormir um pouco pode ajudar.

[Katsuki Bakugo]

Ele me respondeu doce, mas firme, e ainda no meu colo continuava reiterando como estava tudo bem, como eu não deveria me preocupar, esclarecia como nossos sentimentos eram recíprocos... chegou a sugerir como estaríamos velhinhos nos lembrando disso e me reduziu  de novo ao maior idiota contente da face do planeta. Prosseguiu, foi claro e prático, sucinto e chegou a pontos esclarecedores em várias partes de seu discurso mesmo que eu notasse que ele estava morrendo de vergonha. Nesse momento específico, eu poderia sentir inveja da sua eloquência. Acho que de maldade até me deu vontade como retaliação de fazê-lo corar mais, fazê-lo confessar com todas as letras que gostou do que eu fiz e de como eu fiz, mas também só agora não queria agora mexer em algo que se encaixou tão direitinho. Outra hora, talvez. Ele já estava sorrindo para mim de novo, então está tudo bem. 

Não ia falar mais nada, mas suspirei pensando no começo de sua resposta. Acho que  cresci sendo uma ameaça, Eijiro. Sem nenhum vitimismo a esse respeito; eu quis ser uma arma, eu quis ser implacável, impenetrável, indestrutível, eu paguei o preço do que isso demanda até me construir desse jeito e agora decido que não é mais o que quero. Não estou realmente cogitando mudar de ideia e confio que consigo o que quer que meu coração anseie, mas não vou desentortar esse ridiculamente volúvel coração de aço em algumas marretadas cruas na forja. Até se Eijiro o transformou em ferro derretido, nada mais do que um visco incandescente pronto pra tomar outra forma, essa porra ainda queima feito os diabos.

Acho que é normal sentir-se inseguro fazendo aquilo que somos imperitos, que somos banais ou mesmo aquém do normal. Em meu caso, essa merda toda de afeto que não quero trocar por nada. Não deixa de ser coisa de um perdedor do caralho, ser só 'normal', mas, é. É normal.

Consegui dar uma risadinha que consistiu só em um bufar e um sorriso, e acariciei seu cabelo vigorosamente, como quem esfrega um cão ou algo assim, divertindo-me em perturbá-lo de um jeito inocente dessa vez. Ele me tinha feito uma proposta, mas eu só sacudi minha cabeça devagar.

— Não estamos longe o suficiente para descansarmos. Não quero ninguém acordando naquela taverna e planejando vingança, estamos com uma folga para imprevistos mas não quero que nos atrasemos. Já deu de eu tomar riscos idiotas por hoje. — Para deixar claro o que eu disse, acelerei um pouco mais os cavalos, olhando adiante na noite. Suspirei, engoli em seco e completei quase em um sussurro. — Descanse você um pouco, dragãozinho. Eu também me diverti pra caralho hoje.

[Eijiro Kirishima] 

Por ora, o assunto parecia resolvido, e esse já é um bom começo… não sou ingênuo a ponto de pensar que não teríamos que conversar mais a respeito num futuro próximo ou distante, mas ao expor o que pensamos, conseguimos um tempo precioso para digerir tudo com calma, um espaço confortável para respirar sem sentir que havia algo engasgado. Bem, pelo menos falo por mim, quanto ao Katsuki, só posso torcer para que se sinta da mesma forma…. ao menos, meu coração se tranquilizou ao ouvi-lo rir, e por mais que tenha reclamado dele ter bagunçado ainda mais o meu cabelo, também estava rindo… nós dois, estamos bem, certo? 

Era esperado que não fosse aceitar meu convite, mas não me custava nada tentar. Não gosto muito da ideia de deixá-lo guiando a noite toda sem descanso, contudo, conheço o namorado que tenho e ele seria irredutível a esse respeito… porém, Katsuki nem sempre é tão previsível quanto faço parecer, na verdade, é um mestre em me desarmar por completo. A gentileza e o carinho em sua voz, quase um sussurro suave cheio de amor, sugerindo que eu descansasse, e não tenho mais coragem de abrir a minha boca, devo estar parecendo um bobo apaixonado olhando para o seu rosto, e tudo bem, porque sou mesmo. É, acho que estamos bem. 

— Mas eu não quero te deixar sozinho a noite toda! Vou ficar acordado também!

[Katsuki Bakugo]

Balancei minha cabeça.

— Tch. Durma de uma vez, eu estou acostumado com isso. Não vai ser de nenhuma ajuda se estiver caindo pelos cantos de sono amanhã. Vai me deixar sozinho pra dar água pro Lorde e pra Riot ao mesmo tempo? Nossas crianças não vão me ajudar em nada!

A risada dele era o descanso que eu precisava. Ele se aninhou ao meu braço, sentado ao meu lado, garantindo-me que de todo modo me ajudaria com “nossas crianças” teimosas, mas ficaria ali comigo. Deixei, passando um braço por sua cintura enquanto o outro ainda segurava as rédeas. Mais fundo na trilha, a noite seguia silenciosa se não por nós conversando e o som da carruagem, cigarras cantando e sapos coaxando em algum lugar. Logo paramos de conversar, e os bocejos dele causaram bocejos em mim, mas ele foi quem começou a pesar contra meu ombro. Não dei boa noite porque não queria que esse cabeçudo evitasse dormir, era melhor que só caísse logo no sono. Foi um dia muito longo para nós, mas é ele quem não está acostumado. 

Continuei acariciando suas costas e o senti pesar mais um pouco, até seu corpo estar todo molinho. Ele estava todo tortinho escorado em mim, abraçado em meu braço. Deixei-o ali por mais um tempo, até que seu sono leve se aprofundasse, e acho que ele iria em breve começar a babar na minha armadura, o que me fez ter vontade de rir. Desacelerei um pouco a carroça e deixei que os cavalos andassem por conta lentamente quando peguei Eijiro no colo e andei de joelhos para dentro da carruagem para deixá-lo deitado. Era complicado, realmente não havia muito espaço ali dentro, mas torci para não tê-lo acordado. Apoiei a cabeça dele em uma capa e o cobri com a outra. Não resisti a dar-lhe mais um beijinho no rosto antes de voltar ao meu posto.

[Eijiro Kirishima]

Estava preparado para insistir e convencê-lo que ficaria acordado sim! Mas não consegui, ao ouvi-lo chamar Riot e Lorde de “nossas crianças” meu coração derreteu ainda mais, se isso sequer é possível. O calor em meu peito me fazia rir com ternura, nós agora somos uma família e temos dois “filhos” bem arteiros para cuidar, só não digo três pois Tokoyami está bem quietinho pousado na cabeça do seu amigo. Não o julgo, também me encontro na situação de precisar me empoleirar em alguém para seguir viagem. Me sentei ao lado de Katsuki e me aninhei ao seu braço, claro que preferia continuar em seu colo, entretanto, tenho um ponto a provar e garanti a ele que de um jeito ou de outro, não o deixaria na mão quando fosse levar os dois teimosinhos para beber água. Com a cabeça deitada em seu ombro, não poderia pedir por travesseiro ou almofada mais confortável, admirava a vista sombria da floresta escura sem o filtro do medo para me impedir de notar sua vida e beleza. Entre nossas conversas sobre assuntos bobos e aleatórios, era possível ouvir cigarras zumbindo, sapinhos coaxando, e ver um ou outro animalzinho noturno se aventurando para caçar. É o final perfeito para um dia perfeito. 

A carícia sutil em minhas costas, junto do balançar ritmado da carroça, me embalou em um sono tranquilo, nem mesmo percebi quando meus olhos se fecharam e o cansaço venceu minha determinação. Pouquíssimas vezes fiquei acordado até tão tarde, os horários rígidos do castelo não permitiam, então para a primeira noite, pode-se dizer que fiz um bom trabalho. Tão de repente quanto adormeci, acordei, e por sorte não abri os olhos… digo isso pois o que me acordou, foi Katsuki, tão cuidadoso quanto era possível no pouco espaço que temos, me pegando em seus braços e me deitando carinhosamente na parte traseira da carroça. Mesmo sonolento, era nítido o esforço que fazia para não me perturbar, e isso me comoveu de tal maneira que foi quase impossível não começar a sorrir ou a chorar ali mesmo. Acho que foi ali, deitado em uma das capas enquanto ele me cobria com outra, que percebi a importância desse momento… ele estava fazendo algo por mim, que em sua cabeça, tem certeza absoluta de que não estou ciente. Esse cuidado todo, não é para me mostrar algo, para me conquistar mais do que já estou conquistado, é um cuidado puro, um gesto lindo de quem não espera nada em troca e tampouco quer ser reconhecido… amor demonstrado em segredo e sem palavras. 

Esperei até que voltasse a seu posto, e me desse as costas, antes de cogitar a ideia de me mexer. Abri minimamente um dos meus olhos e sorri com o pensamento que cruzou minha mente… ele é um cabeça dura mesmo, meu cabeça dura. Aproveitei para conferir se era, ou não, a minha capa que usava para me cobrir… quando notei que sim, era a minha, me remexi como qualquer um faz durante o sono, só para que pudesse ajeitar o tecido e trazer o broche, ainda preso nele, para minhas mãos… pronto, agora sim posso dormir tranquilo.

[Katsuki Bakugo]

Ajeitei minhas roupas para garantir que o meu broche estivesse firme em meu peito. Tirei-o e coloquei de novo, visível dessa vez. Olhei para trás de novo, a peça de metal retorcido presa nas minhas roupas ainda entre meus dedos. Eijiro parecia que iria dormir profundamente, ali no escuro da carruagem, longe de perigo e de qualquer problema, em paz e descansando. E eu… eu não era mais mestre de ninguém, dono de ninguém; ele não precisava pertencer a mim, eu não precisava pertencer a ele, se sabíamos que pertencíamos juntos. 

Sem muito mais a fazer, a noite era longa, mas não consigo dizer que foi desagradável. Com a lua alta e no silêncio senti-me ficar com sono, o que só confirmava o quão satisfeito eu estava e como gastei energia de formas inesperadas no dia de hoje, e estava calmo o suficiente para meu corpo dizer que eu deveria me deitar porque iria conseguir dormir. Era tentador, sobretudo, porém, porque queria mesmo testar o espaço daquela estreita carruagem me obrigando a ficar entremeado em Eijiro. O que seria com certeza em qualquer outra situação seria um porre e deve ficar em breve, mas agora me parecia mais um dos enormes confortos em situações que deveriam ser desconfortáveis. 

Eu, Katsuki Bakugo, o homem mais procurado do reino em breve, tranquilo feito qualquer cigarrinha cantando nessas árvores. Ou mais, não sei o quanto elas cantariam se estivessem completamente em paz. Paz não existe aqui fora, fora dos combinados das cidades, dos contratos tácitos, e ainda assim...

O homem mais procurado do reino é um título foda para caralho. 

 



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