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História O Imperfeito, cria a Perfeição - Único


Escrita por: PjKiribaku e gabizera123

Notas do Autor


Hey hey hey!

Chegando aqui com algo que me faz pensar muito... Escrevi isso no celular, às 3h da manhã, quando estava ansiosa demais com as minhas ideias.

Vocês sabem que eu escrevo bastante por aqui, tenho histórias demais em andamento e ainda faço outras completamente diferentes. Eu amo a escrita, mas as vezes, a criatividade me deixa em pânico por não poder controla-la.

A escrita é minha paixão, mas também meu vício, e... bom, a história tem bastante sobre isso, então pode ficar meio confuso, espero não ter tanta gente se identificando como eu rsrs.

Boa leitura!

Capítulo 1 - Único


Bakugou estava chegando ao pico, quase alcançando o tão sonhado objetivo, em tempo recorde, coisa que poucos seriam capazes de fazer.

Ele tinha total ciência de que seu prazo era mais longo do que podia mensurar, seus dedos não precisavam digitar com tanta rapidez, e as horas de sono perdidas na elaboração daquele enredo, não precisavam estar sendo utilizadas para agilizar o projeto.

Katsuki estava fissurado, obcecado e completamente inerente ao mundo que tinha ao seu redor. Enclausurou-se dentro de uma bolha e ali permaneceu, evitou sair para os encontros costumeiros com os amigos, revogou seu tempo de lazer e se deixou levar para o isolamento.

Workaholic é o termo usado para compulsão pelo trabalho, mas o loiro não via aquilo apenas como uma troca remunerada.

Não, Bakugou amava escrever, amava colocar sua essência no enredo, um pouco de sua personalidade em cada personagem, dar asas à sua imaginação.

Todos os editores o admiravam por sempre trazer algo mais inovador que a proposta real, sempre atento aos detalhes e aperfeiçoando sua escrita para evitar dar trabalho aos revisores.

Todos o colocavam em um pedestal. Talvez, ele mesmo tenha montado um para se colocar em cima, mas todos acatavam sua arrogância por entenderem que, em suma, se tratava da mais pura verdade.

Genial, excêntrico, determinado, esforçado. Ninguém dizia que era sorte, nunca foi e nunca seria a definição para a luta de Bakugou em colocar palavras no papel, na tela ou em qualquer lugar que lhe desse espaço.

Aquele livro em que trabalhava era importante para si de maneira pessoal, como nunca outro pudera ser. Até hoje, esteve preso em enredos supérfluos, irrisórios, apenas mais do mesmo com um pouco mais de clímax para se destacar entre a multidão.

Haviam muitos escritores no mundo. Haviam muitos leitores no mundo.

Bakugou queria ser aquele que pode ser conhecido por quase todo mundo, mesmo que nunca atingisse a totalidade.

Ninguém conseguiria atingir, ninguém precisava disso também, mas o loiro queria ser reconhecido de todos os modos, porque a atenção que recebia o deixava menos inseguro com sua própria aversão.

Katsuki sempre acreditou que a escrita era a única coisa que o fazia ser incrível. Suas doces palavras rebuscadas sobre o desenvolvimento páreo de diversos seres fictícios, pessoas que criou em aparência, passado e personalidade, decidindo seus futuros dentro de um mundo que era dele, somente dele.

Os livros que escrevia, eram sua essência, sua alma, mas aquela obra que estava diante de si, ainda pela metade, antes mesmo de atingir um terço do tempo que possuía, era o auge de sua carreira. Ou melhor, o auge de sua vida.

Kirishima, seu melhor amigo, era o centro da história, ainda que ele nunca fosse saber, mesmo que Bakugou nunca tivesse pretensão de revelar.

Seu amor platônico pelo homem de cabelos ruivos, o levou a criar uma história inteira, somente para fantasiar com uma realidade que desejava para si ferrenhamente.

Fugir da vida era fácil quando se colocava em destinos hipotéticos, onde sua personalidade era mais branda, onde suas falas eram pensadas por horas antes de serem postas como decisivas.

Ele o fazia sempre que podia, mas, por vezes, seus pensamentos se tornavam mais altos que a própria voz. Sua imaginação o fazia pensar em cenários e mais cenários, situações diversas, diálogos diversos.

Bakugou tinha a escrita como paixão, como válvula de escape para se sentir bem.

Bakugou tinha a escrita como seu maior vício, e como todo comportamento compulsivo, isso o deixava louco na mesma proporção que o fazia feliz.

Em contradição consigo mesmo, se isolou mais do que o normal para focar em sua realidade alternativa mais desejada. Deixou de sair de casa por dias, consumiu doses altas de cafeína para se manter focado na tela, pois sabia que ao deitar na cama, quando fechasse os olhos e repousasse no travesseiro, sua mente não iria parar.

Nunca parava, nunca o deixava em paz. A ansiedade o fazia cogitar sobre o que já estava escrito, a agitação o fazia refletir sobre como seguiria a partir dali.

Havia faltado uma vírgula naquele parágrafo? Deveria ter expressado melhor as expressões do personagem naquela cena? Aquela transição de cenário era mesmo necessária?

Perguntas e mais perguntas, possibilidades e projeções, tudo o perturbava até que desistisse de dormir, voltando a sina de escrever como se não houvesse amanhã, ignorando o sol que já nascia de novo através da janela, enquanto ele havia virado mais uma noite no torpor de seus

pensamentos.

No terceiro dia, já sem café para fazer e sem comida decente para se alimentar mal como fazia, Bakugou decidiu apenas continuar até onde podia, o cansaço era evidente, as mãos tremiam e os dedos já se embaralhavam nas teclas do computador.

A raiva se fez presente, mas Bakugou estava afoito demais com sua agonia para terminar. Precisava escrever, precisava deixar suas ideias irem para onde deveriam ficar, precisava fazer as pessoas verem, comentarem. O aplaudirem.

Kirishima já havia percebido o sumiço do amigo, Katsuki ignorou cada uma das batidas na porta, levando o ruivo a pensar que ele deveria estar viajando, mas depois de tanto tempo sem sequer uma resposta de SMS, Eijirou viu que precisava agir com mais ênfase sobre o assunto.

Ligou para a editora a fim de saber a agenda do amigo, descobrindo com espanto que ele sequer tinha algo marcado para a semana de folga.

Os editores demonstraram sua preocupação, mas não tanto quanto Kirishima considerava que deveriam, já que estavam mais para admirados e satisfeitos por terem ao menos 3 a 4 capítulos por dia chegando em suas mãos.

Estava errado, Eijirou sabia e deveria ter tirado essa conclusão antes.

Sem escolhas, o ruivo vai para o apartamento do amigo uma vez mais, subornando o porteiro para conseguir uma chave, garantindo que era o melhor a se fazer e que arcaria com qualquer consequência.

Realmente, ele o faria, pois não podia sequer cogitar o que encontraria ao entrar naquele lugar.

Como se fosse o destino, Eijirou entrou e chegou ao quarto no exato momento em que Bakugou surtou por completo.

Não havia gritos, nem coisas se partindo no chão, nada estava sendo pisoteado, sem xingamentos.

Nada.

Bakugou estava olhando para a tela, encostava seus dedos no teclado e voltava a erguê-los quando sentia ser incapaz de apertar as teclas com força suficiente. As mãos trêmulas pareciam chacoalhar como se ele o fizesse por vontade própria, Kirishima se aproximou devagar, temendo assustá-lo, mas se sentia ainda pior vendo as olheiras que marcavam a pele extremamente pálida do amigo.

Katsuki sentiu que alguém havia entrado, não qualquer um, pois sabia que ninguém seria tolo o bastante para entrar em seu território dessa forma. Apenas Kirishima tinha esse direito, essa coragem.

Aspectos que faziam-no sorrir e chorar ao mesmo tempo, pois queria denotá-los um pouco mais em suas palavras. Queria continuar a construção de sua história irreal, para chegar no ápice, no auge de sua imaginação, precisava continuar até conquistar o seu final feliz.

Por mais falso que fosse, por mais que seu personagem fosse somente a idealização de alguém que ele achava ser perfeito para Kirishima, enquanto aquele que representava o ruivo tinha todos os trejeitos do amigo. Tudo o que ele sempre observou e amou em segredo, tudo o que ele sempre quis para todos os dias de sua vida.

Unir a paixão pela escrita com o amor que sentia por Kirishima era uma boa escolha, mas a obsessão por viver algo que não era, o tornava um fracassado.

Ele via isso no reflexo fraco do monitor, que se apaga após muito tempo sem uso. Seus olhos arregalados e cheios de lágrimas, que desciam pela face preguiçosamente, fazendo cócegas em suas bochechas, mas não ao ponto de que fizesse suas mãos erguerem-se para limpá-las.

Ele se sentia perdido, a mente conturbada e frenética, mesmo que as pálpebras pesassem toneladas e os dedos já não flexionassem com tamanha facilidade.

— Bakugou, tudo bem... Está tudo bem, você precisa descansar. — Kirishima se senta na cama ao lado da escrivaninha do loiro, tomando cuidado para não tocá-lo ainda. Podia notar o quão em choque seu amigo parecia, se sentia idiota por ter deixado que ele o afastasse com tanta convicção.

Kirishima se culpava pela covardia, porque Bakugou parecia totalmente averso a tê-lo por perto. Então, para não incomodar a pessoa que amava, deixou-a ir conforme desejava. Ficava à espreita como o bom amigo que era, mesmo que nunca abandonasse o desejo de ser algo além.

Agora, ele não abriria mão disso, de cuidar da pessoa mais valiosa da sua vida.

— Eu não posso parar, eu tenho que... Eu tenho que entregar. Ainda tem dois arcos até o clímax, personagens novos... Eu... Foda-se. Vou buscar café. — Katsuki ainda resistia, seu corpo pedia por misericórdia, mas a mente inabalável, sustentada pelo vício em se afundar no que era fictício, o fazia continuar a lutar consigo mesmo.

Ele chorava, estoico por evitar a emoção, mas por dentro queimava e se regozijava. Queria gritar e espernear, queria apenas dormir.

Os pensamentos não o deixavam em paz, não queriam abandonar os ideais tão calorosos que tinha criado. Ele mesmo fez cada um desses detalhes. Ele mesmo criou tudo do zero, e talvez por isso, estivesse escravizado pela mentira.

A ilusão era confortante, mesmo que Kirishima estivesse ali ao seu lado como almejava a cada dia, a cada página escrita, ele não podia admitir e aceitar. Ele não tinha as qualidades que Eijirou merecia, mas seu personagem sim. Sua criação havia sido liberta de todos os seus defeitos, suas falhas e seus aspectos mundanos. Tinha uma aparência mais dócil, um raciocínio menos agressivo e, com certeza, uma facilidade tremenda para revelar seus maiores sentimentos, tirando-os do fundo de seu peito.

Bakugou não notava que tudo o que transmitia era ele, totalmente sobre ele. Era a sua verdade, mas que não podia enxergar dentro de si, em seu âmago mais profundo. A necessidade de ver isso transparecer, o levava a obsessão; o levava a levantar da cadeira subitamente, pretendendo ir buscar cafeína para o organismo sobrecarregado.

No instante em que deu o segundo passo, tudo escureceu, mas as mãos de Kirishima já estavam de prontidão para evitar sua queda.

— Bakugou, você precisa descansar. Comer algo decente e dormir. Porra, há quanto tempo você não faz isso? — Eijirou começava a se enraivecer, não pelo amigo ou sua teimosia, mas por ver a situação em que Bakugou se encontrava sem qualquer amparo.

A genialidade que possuía fez as pessoas acreditarem que ele estava apenas muito focado, enquanto o homem agora com a pele quase translúcida e olhos opacos, estava prestes a colapsar. As roupas desgrenhadas, uma enorme mancha de café na frente da camisa, que com alguns botões abertos mostrava uma vermelhidão digna de queimadura.

Ele não estava sentindo dor, ou apenas se encontrava apático demais para focar nisso.

Eijirou não permitiria que isso continuasse, então quando Katsuki lutou, ele segurou forte os braços do loiro, não tendo muita resistência por conta da fraqueza que Bakugou sentia em seu corpo.

— Me solta, porra! Eu preciso trabalhar. Foda-se o que você acha, eu não saio te tirando do seu emprego para encher o saco! — Katsuki parecia quase lúcido ao gritar, mas nem sequer percebia que suas mãos agarravam a camisa de Kirishima, não para afastá-lo, mas sim para conseguir um apoio que nem sabia precisar.

A expressão furiosa de Katsuki deixava Eijirou até aliviado, porque assim tinha certeza que seu amigo ainda estava ali, apenas cego demais para vir à tona em meio ao torpor de sua fissura.

— Katsuki Bakugou, você vai dormir um pouco e eu vou te dar algo para comer. Ainda tem tempo para escrever, você está se sobrecarregando! — Kirishima precisava ser mais enfático, mas Bakugou estava tão desesperado, tão aflito para ter a realidade que desejava no mundo inteiramente seu, que não podia fazer nada além de revelar a verdade, para que a gentileza de Kirishima transpusesse suas páginas e o deixasse em paz.

— Não, porra! Não! Eu preciso continuar, eu preciso disso. Eu não consigo... Eu não consigo parar... Kirishima, porra... — Katsuki de repente se deu conta, da proximidade, da preocupação exacerbada que o ruivo mantinha em sua face. Aquilo era angustiante, pois a realidade decepcionante lhe arrancava o sorriso radiante e galanteador que almejava receber em um instante a sós. Ele estava quebrado e só conseguia um drama ao invés de romance, suas linhas jamais seriam verdade. Então, se deparar com a mentira, o deixou no ponto de ruptura.

Bakugou quebrou, mas Eijirou estava lá para amparar.

— Katsuki, pelo amor de Deus. Me deixa te ajudar! Por favor, eu amo você e não vou me perdoar se ficar sem falar isso por mais um dia! — a fala desesperada de Kirishima, não tinha fundamento para chantagem. Apenas, era uma sinceridade trazida pelo medo. Ele temia ser rejeitado uma vez mais, e jamais se deixaria ir embora com a pessoa que mais lhe importava se deteriorando pelo trabalho.

Ele não imaginava que esse afinco era mais do que apenas um vício, era sentimental, era desesperadamente uma forma de conseguir algum amor.

Bakugou não se achava digno daquele diálogo feito de palavras emocionais, não se sentia capaz de retribuir com honrosas declarações como seus personagens conseguiam em poucos parágrafos.

Ele não sabia transcrever a si mesmo, mas agora era tarde demais. Uma fala como aquela precisava de resposta, ou, então, os capítulos até que uma solução chegasse se arrastariam entediantes para qualquer um que acompanhasse.

Estava quebrado, exausto e impotente, portanto, abraçou o ruivo com força, deixando os soluços surgirem catárticos, rasgando-lhe o peito como se fossem facas afiadas dilacerando a carne.

— Eu não sou a pessoa para você, caralho. Eu não sei fazer isso, eu queria saber! Eu queria te amar como você precisa ser amado, eu queria que você me amasse. Eu preciso do meu final feliz, então, vou continuar... Escrevendo... — a voz some lentamente, conforme o corpo começa a perecer diante a falta de nutrientes e sono.

Kirishima fica sem palavras, mas age rápido para deitar o loiro na cama, fazendo questão de ficar ao seu lado sem desgrudar um centímetro sequer.

Não ficaria longe, não deixaria que Bakugou o enganasse como enganava a si mesmo.

Ele havia sido bobo por não notar antes, mas a plenitude estava longe de chegar com o amor correspondido.

Katsuki estava destroçado, sua mente não estava saudável o bastante e seu corpo estava pagando o preço pela negligência. Dele mesmo, dos editores que ignoraram a compulsão e de Kirishima, que não pensou em ser mais firme antes.

Ele tinha bastante tempo para se culpar depois, mas, agora, seu único objetivo era cuidar de Bakugou, que estava lidando com as consequências de uma insegurança com alarmantes escalas.

— Katsuki, eu te amo. Eu não quero que você seja diferente em nada, só... Me aceite, e deixa eu aceitar você — Eijirou diz, com toda sua paixão, olhando para o rosto contraído do outro por segurar o pranto que ameaçava destrinchar novamente.

— Eu não... Você não merece um filho da puta desses, idiota. Você é burro? Eu sou... Eu não... — As palavras que sempre tinha na ponta da língua, agora pareciam perdidas como uma sopa de letrinhas em cima de um dicionário. Katsuki tinha um vasto vocabulário, mas não tinha capacidade de usá-lo para algo no momento.

O coração martelava no peito, e por mais que doesse sentir que estava estragando a vida de quem ama, ao contrário do personagem que fizera para ele, agarrou o corpo de Eijirou como se fosse sua última chance de viver, fechando os olhos e dando espaço para a inconsciência enquanto a voz doce de Kirishima rondava sua mente, extinguindo por instantes o ciclone de informações que o atordoavam e perturbavam antes:

— Nossa história deveria ter começado há tempos atrás, mas isso quer dizer que temos uma saga inteira antes de chegarmos ao final feliz, juntos.


Notas Finais


Enfim, muito obrigada a @Moyasu pela capa lindissima e @CecySazs pela betagem impecável como sempre.

Agradeço muito ao @PjKiribaku também, por ser essa coisa maravilhosa e cheia de pessoas incríveis.

Até mais!


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