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História O Inconveniente da Porta ao Lado - Apenas clichê


Escrita por: PjKiribaku e YooDae

Notas do Autor


Chegamos no fim!
Essa história virou uma das que eu mais gostei de desenvolver, e apesar da vontade de estende-la eu não vou, porque (quase) tudo precisa chegar no fim um dia.

Mas apesar da trajetória de Kirishima e Bakugou ter acabado, após um pedido do @biiiina no comentário que ele fez no primeiro capítulo, eu cedi e fiz um Spin-Off de um dos casais secundários: ShinKami. Caso alguém queira ler, vou deixar o link nas notas finais. Não é obrigatório, claro, mas vi que algumas pessoas realmente ficaram curiosas com o desenrolar dessa casal.

É isso gente, vejo vocês nas notas finais.
Boa leitura!

Capítulo 6 - Apenas clichê


Estava escuro, Katsuki demorou alguns minutos para processar que encarava a parede e gastou mais alguns para entender o motivo de sentir um peso em seu corpo. A cabeça se moveu com lentidão, os olhos sonolentos observaram a expressão serena no rosto de Eijirou e um beijinho foi deixado sobre os lábios entreabertos.

Sabe se lá que horas eram, mas Bakugou sentia que ambos haviam dormido durante muito tempo, poderia até mesmo ser a manhã do dia seguinte. Porém, ele não se importava, estava em paz, finalmente podia observar o rosto de Kirishima sem aquele aperto característico no peito, de quem achava que os seus sentimentos nunca iam ser correspondidos. O loiro só esperava que não estivesse tendo mais um sonho com o ruivo, mas não parecia ser esse o caso, pelo menos, era real e palpável demais para ser algo criado pela sua mente.

Lentamente, para evitar acordar Eijirou, Katsuki afastou o corpo menor e sentou na cama. Acompanhou a agitação de Kirishima em agarrar o cobertor, e grunhir de insatisfação por ter sido deixado sozinho no colchão. Entretanto, o mais novo não acordou e Bakugou, após ficar longos minutos sentado, apenas observando o rosto adormecido do de fios rubros, levantou.

Demorou para conseguir encontrar a sua cueca no escuro do quarto, mesmo a sua vista já tendo se acostumado com a falta de claridade e, após vestir a peça, pegou o preservativo usado e sua embalagem do chão e saiu do cômodo. A porta foi fechada, para evitar que a luz adentrasse o cômodo e acabasse acordando Eijirou.

Katsuki passou rapidamente no banheiro para jogar a camisinha usada e a embalagem que a envolveu anteriormente no lixo. Aproveitou para escovar os dentes, já muito incomodado com o gosto amargo na boca. Alguns minutos depois, estava na sala, acendeu as luzes e encarou o relógio digital em formato de gato, em cima da estante, onde a televisão jazia desligada.

Nove horas e trinta minutos, o número amarelo e vibrante fez Bakugou cruzar os braços. Aparentemente, não dormiu tanto tempo como estava achando. Talvez fosse a euforia falando mais alto e obrigando-o a acordar, porque precisava fazer algo decente para Kirishima, o seu garoto, dormindo em sua cama, comer quando finalmente despertasse.

Entretanto, foi surpreendido por Todoroki passando pela porta. As feições eram de contentamento, entretanto, o bicolor parecia cansado, esse era o resultado de ficar até altas horas na universidade esperando Midoriya sair.

— Pensei que você ia passar a noite com o nerd. — Katsuki disse com um sorriso de escárnio nos lábios. Shoto olhou o melhor amigo ignorando completamente a provocação ao erguer uma sobrancelha.

— Eu vou, mas antes precisei passar em casa, porque esqueci de pegar as alianças.

— Nem me lembra dessa joça. — O loiro revirou os olhos e bufou, apenas a menção das joias era capaz de trazer à tona as memórias do dia em que foi com o bicolor comprar os anéis. Todoroki fez Bakugou ir com ele em três shoppings diferentes, e ainda o obrigou a entrar em cada loja que vendia alianças.

— Agora que você e o Kirishima estão juntos, eu posso retribuir o favor.

De repente, Katsuki ficou ansioso e Shoto ergueu o cenho.

— Nós transamos, mas não quer dizer que estamos juntos. — A rispidez na voz do menor era apenas para camuflar como ele estava se sentindo. — Eu quero muito finalmente poder chamar o Eijirou de “meu namorado”, mas e se ele não quiser? Pior, se ele se arrependeu?

— É a primeira vez que eu te vejo tão inseguro.

— Você sabe, é o Kirishima. Até mês passado ele nem olhava na minha cara direito.

— E daí? Mês passado não importa. — Todoroki cruzou os braços e se aproximou do melhor amigo. Uma das mãos do bicolor tocou o ombro tatuado do menor, e um singelo sorriso repuxa os lábios de Shoto. — Conversa com ele e tira essa maquiagem. — O bicolor ergueu o indicador e rodou na frente do próprio rosto. — ‘Tá um horror, sabe? Tudo borrado. Vocês fizeram sexo ou saíram na porrada?

— Shoto... pega logo aquela porra e vai embora.

Todoroki riu e, para evitar acabar ganhando um cascudo, correu até o quarto que dividia com Bakugou. Entretanto, adentrou o cômodo com cautela, ao ver o corpo de Eijirou na cama do melhor amigo. A busca foi fácil, o seu lado era arrumado e Shoto sabia exatamente onde foi deixado a caixinha, por isso não demorou mais do que cinco minutos.

Ao retornar para a sala, viu Katsuki na cozinha.

— Eu já vou indo, vocês vão ficar bem?

— Não somos crianças.

— Mas agem como se fossem. — Bakugou revirou os olhos e observou o bicolor caminhar até a porta, parando na frente dela. Por cima do ombro, o olhar heterocromático fixou-se em si. — Tente ser paciente e sincero com o Kirishima.

Katsuki não respondeu, mas Todoroki saiu do apartamento, ciente de que o amigo tentaria acertar dessa vez.

Agora, sozinho na cozinha, Bakugou encarou o mármore escuro do balcão. O silêncio, pela primeira vez, não era bem-vindo pelo motivo do loiro não ter a mínima ideia de como as coisas seriam daqui para a frente.

Já no quarto, Eijirou estava acordado, relutante se deveria ou não levantar. Estava diretamente ligado com a sua vergonha de encarar Katsuki, porque, apesar de eles já terem se entendido, resolvendo a briguinha idiota, ainda precisavam conversar. E o ruivo nem iria citar como estava dolorido, mas que com certeza faria tudo de novo.

Kirishima puxou o travesseiro debaixo da cabeça e o pressionou em seu rosto. Conseguiu sentir o cheiro forte do perfume do mais velho, misturado com o seu de fragrância mais doce e, claro, suor. Era esquisito, mas reconfortante de certa forma e o objeto macio serviu para abafar os seus resmungos frustrados.

Depois desse momento de surto, Eijirou saiu da cama. Foi fácil para o mais novo encontrar a sua boxer e vesti-la. Entretanto, ao invés de vestir a camisa cropped que estava usando anteriormente, optou por caçar alguma peça mais confortável no armário de Bakugou. Encontrou uma camiseta jeans de botões, ela estava pichada e cheia de caveiras desenhadas pelo tecido, uma arte que com certeza foi proporcionada por Katsuki.

Eijirou a vestiu, fechou alguns botões e acendeu a luz, para poder observar o seu reflexo no espelho grudado na porta do guarda-roupa. Kirishima estava um caos, os fios vermelhos apontavam para todos os lados, algumas marcas em seu peito eram possíveis de serem vistas pela abertura da camiseta e nem se deu ao trabalho de olhar para as suas coxas, ainda cobertas pelas meias, pois pelo pouco que viu pelo reflexo, estavam bem manchadas. Além da maquiagem borrada, que foi um dos motivos pelo qual ele passou no banheiro depois de sair do quarto e, como encontrou escovas de dentes novas no armário da pia, se deu o luxo de pegar uma para usar. O gosto característico que dormir deixava na boca estava incomodando-o.

Quando enfim Eijirou apareceu na sala, viu Bakugou atrás do balcão. Katsuki estava de costas, dando ao menor a visão privilegiada das tatuagens e marcas deixadas pelas unhas de Kirishima. O ruivo sorriu e se aproximou da estrutura que separava os cômodos, apoiou os antebraços na pedra gelada e ficou quieto, apenas acompanhando os sutis movimentos do loiro.

— Eu te acordei? — Bakugou perguntou.

— Não. — Katsuki virou para trás, dando a Eijirou o vislumbre das marcas que o próprio deixou na pele do outro. — Bakugou... você disse que me deseja desde os dezesseis anos, mas quando você percebeu que não era só atração física?

— Depois de eu ter afirmado várias vezes que não me importava de te ver com outras pessoas, mas ter ficado puto com o Shoto depois que ele me contou sobre vocês terem ficado naquela festa. — O loiro mexeu no cabelo, tentando apaziguar a situação dos fios. — Eu estava com dezenove anos e foi um choque, porque eu namorava a Camie na época. Mas, no fundo, eu sempre soube que não era só desejo. — Kirishima esticou a mão na direção do outro, esperando-o entender o pedido silencioso para segurá-la. Katsuki hesitou, mas segurou a mão do mais novo ao parar na frente dele. — Não quero que se sinta pressionado. — Bakugou riu ao segurar, com a outra, o colarinho da camiseta jeans. — Aliás, ficou bem melhor em você. — Eijirou soprou uma risada, mas foi algo breve, chegando até a preocupar Katsuki pelas feições contorcidas no rosto do outro.

— Me perdoa... — Kirishima sussurrou e apertou a mão de Bakugou com força, abaixando a cabeça para evitar o contato visual com o mais velho. — Eu sou um babaca com você desde que somos crianças, nunca te dei o devido valor e sempre deixei claro o quanto era insuportável para mim estar no mesmo lugar que você. Mas eram mentiras, para encobrir que, na verdade, eu estava apaixonado. — Katsuki arregalou os olhos, era como se estivesse sonhando. Para o loiro, era improvável ouvir essas coisas do ruivo. Mas estava acontecendo. — Provavelmente eu me apaixonei primeiro, sabe? E eu nunca soube lidar com esses sentimentos, porque você era popular, poderia ter quem quisesse e, bom, ficava mesmo com quem quisesse. — Eijirou fungou e, ainda de cabeça baixa, firmou o queixo em seu próprio ombro. — Por mais idiotices que eu te falasse, era óbvio que eu não conseguiria viver sem você.

Bakugou soltou a mão de Kirishima e saiu da cozinha, para amparar o corpo trêmulo do mais novo em seus braços.

— Me perdoa por ter duvidado de você naquele dia, eu sei que te magoei. — Katsuki passou um dos braços pelas costas de Eijirou, e usou a mão livre para erguer o rosto do menor pelo queixo. — Sinto muito, eu não devia ter achado que só queria brincar comigo.

— Não importa mais. — Kirishima não aguentou, mesmo agora, depois dele ter quase fodido o relacionamento de ambos, Bakugou ainda estava sendo amável ao envolver o seu corpo ansioso. Ele começou a chorar. — Eu entendi que era apenas o seu jeito, e foi essa uma das razões pela qual eu me apaixonei. Nunca esperei que eu fosse ser correspondido, mas só por você me permitir estar perto, já era o suficiente para me deixar feliz. Me incomodava em alguns momentos, mas eu nunca te abandonaria, Kirishima. Porque eu te amo, e estava disposto a ser o que você precisasse.

— Como o Jacob, para a Reneesme? — Eijirou brincou, trazendo à tona o assunto de quando eles foram para Chiba. Katsuki riu ao assentir com a cabeça.

— Só que menos estranho, porque eu sou apenas um ano mais velho que você. — Bakugou secava as bochechas molhadas pelas lágrimas de Kirishima. Fazia com carinho e calma, respeitando o momento de fragilidade dele. — É claro que eu te perdoo. Mas e você? Me perdoa? Fui idiota por ter feito aquilo, mas eu juro que em momento algum eu quis te enganar.

— Sim, você ‘tá perdoado. — Eijirou ficou na ponta dos pés para deixar um selinho nos lábios entreabertos de Katsuki.

— Aliás, lembra quando você perguntou se eu já tinha me apaixonado, e respondi que sim? — Bakugou segurou o rosto de Kirishima pelas bochechas, apertando levemente a área para formar um biquinho fofo nos lábios do ruivo, onde o loiro depositava alguns beijinhos. — Eijirou, você foi a única vez. — Katsuki ergueu a mão das bochechas do menor, para os fios tingidos. Bakugou beijou de forma demorada Kirishima. Os dentes agarraram o lábio inferior do ruivo e soltaram lentamente, em uma clara provocação.

Hum... — Eijirou enlaçou o pescoço de Katsuki com os braços, encostando ainda mais os corpos. — Por que você é assim? — Perguntou, com uma felicidade não usual na voz. Para Bakugou, mesmo sendo uma pergunta frequente, dessa vez soou de forma diferente. — Tão piegas, acho que eu devo ter sido contaminado, porque agora eu percebo que você também foi a única pessoa que eu me apaixonei.

Ou seja, fomos o primeiro amor um do outro. — Kirishima ergueu uma sobrancelha, mas não negou, porque estaria mentindo. — Eu amo você, Eijirou.

— Eu... também amo você, Katsuki.

Se o plano era comerem alguma coisa, infelizmente eles precisaram adiar, porque mais uma vez encontravam-se trancados no quarto do mais velho.

 

— ♡ ♡ —

 

Kirishima acordou sozinho na cama, no dia seguinte. Não estranhou, Bakugou sempre teve o costume de acordar cedo, mesmo tendo ido dormir tarde, como acontecera. Eijirou girou o corpo na cama, o rosto pegando fogo e as mãos amassando as bochechas. Ficou nessa lenga-lenga durante alguns minutos, até tomar vergonha na cara e levantar. Vestiu a cueca e a camisa jeans.

Prestes a sair do quarto, notou um post-it colado na luminária do loiro, e só aí Kirishima notou que Katsuki arrumou a sua parte do quarto, enquanto Eijirou estava inconsciente, dormindo de forma tão profunda que nem se a casa pegasse fogo, acordaria.

O ruivo sorriu, lembrando do dia em que o mais velho o deixou em cativeiro no seu quarto. Agora, depois de um tempo ter passado, Kirishima percebeu que foi algo positivo aquela provocação idiota, caso contrário, era capaz de Eijirou nem ter se dado conta dos seus sentimentos.

Aproximou-se então da escrivaninha. Contudo, ao pegar o post-it, acabou notando um dos cadernos de desenhos de Bakugou, separado da pilha em que os demais estavam. Aparentemente, Katsuki estava desenhando antes de sair. Kirishima sempre teve oportunidades de ver os desenhos de Bakugou, e mesmo que na época a relação deles não fosse das melhores, nunca poupou elogios quanto ao talento do maior. Entretanto, fazia algum tempo que não via nenhuma das artes do loiro, por isso puxou a cadeira e sentou. O ruivo abriu na primeira página, vendo apenas alguns desenhos soltos, pequenos, possivelmente feitos para o flash futuro que o estúdio que Katsuki trabalhava iria realizar.

Eijirou passou as páginas de forma lenta, prestando atenção nos detalhes de cada linha traçada. Teve uma surpresa, ao chegar na metade do caderno e ver um desenho seu sorrindo. Kirishima franziu o cenho, não sabia que Bakugou o desenhava e queria saber quando isso começou, porque todas as páginas seguintes eram desenhos de Eijirou em situações variadas.

Na última folha, o ruivo sentiu as bochechas formigarem e um calor de dentro para fora o fez fechar os olhos. Era mais um desenho seu, mas os traços formavam a imagem de Kirishima apenas de boxer, meia-arrastão e choker no pescoço. Era a visão que Katsuki teve do seu corpo, algumas horas atrás. Bakugou apenas acrescentou a cueca para não ficar algo tão explícito, mesmo o desenho por si só, apesar de ter sido feito com lápis, sendo algo bem chamativo pela riqueza de detalhes. Eijirou riu, fechou o caderno e o jogou na pilha, junto aos outros.

Enfim, puxou o post-it da luminária.

Oe, namorado

Kirishima fez uma pausa na leitura, a palavra com traçado mais forte, para deixar enfatizado que estavam namorando, quase o fez chorar de felicidade.

Precisei sair, porque tenho alguns assuntos pendentes no estúdio. Que tal você comer alguma coisa, se arrumar e vir me visitar aqui?

Talvez, até podemos aproveitar para fazer aquela tatuagem que eu te prometi.

Me manda uma mensagem, independente se você vem ou não.

Espero te ver logo, porque já estou com saudade.

P.S.: você fica uma gracinha dormindo.

Eijirou bufou. Mas agora que estava ciente de que era o único no apartamento, optou por recolher os seus pertences e ir para o seu. Lá, teria mais liberdade para se arrumar.

Após vestir a calça, recolheu as suas coisas e saiu. Entretanto, tomou um susto ao encontrar Kaminari na cozinha e Shinsou no sofá da sala.

— Bom dia, Kirishima. — Hitoshi saudou o ruivo, a voz saiu baixa e falhada, indícios de que não retornou totalmente. Denki virou para trás, com uma frigideira na mão.

— Bom dia, Eiji! Vai ficar ‘pro café?

— Ah, não... — Eijirou quase riu ao ver as manchas no pescoço do casal. Bom, não estava assim tão diferente, mas ao menos as suas roupas estavam escondendo o estrago que Katsuki fez em si, nas três vezes em que transaram. Ia acontecer uma quarta, mas os dois estavam tão cansados que apenas tomaram banho com os corpos grudados. — Vou ‘pra casa mesmo, como algo lá e depois vou para o estúdio visitar o Bakugou.

— Fico feliz que tenham se resolvido. — Kaminari olhou o melhor amigo durante alguns segundos, deixando claro que o zoaria apenas quando estivessem sozinhos. — Aliás, vocês dois perderam o babado! Eu e a Mina flagramos o Sero beijando o Iida. — Kirishima arregalou os olhos levemente e a risada de Shinsou preencheu o silêncio dos cômodos. Lembrou da conversa que teve com Ashido no dia anterior, e estava ouvindo a concretização da fala dela. — Assim que vermos o Hanta, que tanto zoava a gente, ele finalmente vai provar do próprio veneno.

— Esse festival realmente foi uma surpresa. — Eijirou amassou os seus pertences contra o peito, e soprou uma risada. — Mas o que vocês estão fazendo aqui?

— Toshi precisava tomar alguns remédios, e disse que na nossa casa não tem comida decente ‘pra uma pessoa doente. Além do Bakugou ter enchido o celular dele de mensagem, pedindo para ele abrir a porta ‘pra você. — Hitoshi estreitou os olhos na direção de Denki, recebendo uma piscada do loiro.

— Ele não ‘tá errado. — Kirishima riu, sabendo que era bem a cara de Katsuki fazer algo assim, e se aproximou da porta, aproveitando o fato de a chave estar na maçaneta para destrancá-la. — Vou indo, vejo vocês depois.

A despedida foi breve, e logo Eijirou estava cruzando o curto caminho da entrada do apartamento, até o seu quarto. Após enfiar a roupa suja no cesto, estando apenas de boxer, pegou o celular para enviar uma mensagem para o loiro, avisando que em quarenta minutos estaria no estúdio.

Bakugou respondeu mandando a localização do lugar.

 

— ♡ ♡ —

 

— Eu definitivamente não recebo o suficiente ‘pra ajudar você com essas palhaçadas. — Jirou franziu o cenho e, para punir o loiro por ter feito ela acordar cedo, esfregou com um pouco de força o papel toalha úmido em cima da tatuagem recém-feita, limpando o sangue seco. Katsuki grunhiu um palavrão. — Qual vai ser a próxima tramoia? Uma fileira de piercings no pau?

— Como eu e o Eijirou estamos namorando, nem na lista isso ‘tá. Mas tem aquela tatuagem que eu comentei com você...

— Porra, mano, nem brinca, vou te cobrar o dobro por essa idiotice. — A mulher bufou, amassando o papel sujo e descartando-o no lixo, localizado embaixo da mesa que a máquina de tatuagem se encontrava. — Não quer ficar sem transar né, ô, seu pervertido. — Kyoka brincou ao dar um tapinha leve no braço tatuado. Bakugou resmungou algo incoerente, e Jirou ficou em pé para buscar o rolo de papel filme. — Se você já ‘tá fodido desse jeito, tenho pena de como o Kirishima deve ter ficado.

— Você ficou duas vezes pior do que eu, quando saiu a primeira vez com a Yaoyorozu. — Katsuki riu do semblante irritado da menor. Kyoka retornou ao banquinho que estava sentada durante as horas anteriores, puxou uma parte do plástico e grudou no braço de Bakugou, envolvendo-o de forma firme para não acabar caindo tão rápido, por causa dos movimentos que o mais velho acabaria fazendo no decorrer do dia. — Ela só tem mesmo cara de princesa da Disney, porque te deixou-

— Pelo amor de Buda, Katsuki, cala a porra da sua boca. — Largou o rolo na mesa com os utensílios de trabalho e respirou fundo. — Que algum Deus dê paciência o suficiente para o Kirishima te aguentar, porque eu iria tentar te matar no primeiro dia.

— É muito gratificante saber sobre os seus desejos homicidas, Kyoka.

Jirou estava prestes a bater em Bakugou, porém, o som da campainha do estúdio a interrompeu.

— Vai atender, deve ser o seu namorado. — A menor debochou um pouco, mas estava feliz pelos dois estarem, finalmente — depois de passar anos escutando como Katsuki estava frustrado por saber que nunca teria uma chance com Eijirou —, juntos.

O loiro praticamente correu do cômodo em que as tatuagens eram feitas até a entrada. A porta era de vidro, porém quem estava de fora não conseguia ver o interior, Bakugou viu Kirishima parado e ficou alguns segundos apenas observando o menor. O ruivo parecia agitado, as bochechas estavam um pouco coradas e ele mordia o lábio inferior de forma constante. Katsuki riu, se aproximou do vidro para ver melhor Eijirou e, apenas quando o mais novo tocou a campainha mais uma vez, o maior abriu, saindo do seu transe.

— Me diz que você não ‘tava me encarando de dentro, com essa cara de idiota, enquanto eu esperava você abrir a porta? — Kirishima perguntou quando entrou, se dando conta de que quem estava dentro conseguia ver a movimentação lá fora.

— Eu estava sim, pode me processar se quiser. — Bakugou aproximou os lábios de ambos, e roçou levemente o piercing de seu inferior na boca do mais novo. — Você é muito bonito, o que posso fazer se gosto de te observar?

— E de me desenhar também, aparentemente.

— Você mexeu nas minhas coisas? — Katsuki não estava bravo, mas sim envergonhado por ter tido o seu segredo descoberto.

— Um caderno estava fora da pilha, e como você nunca achou ruim me mostrar os seus desenhos... — Eijirou virou o rosto para o lado.

— Ah, falha minha então. Suponho que tenha visto o recente. — Bakugou segurou a cintura de Kirishima e andou alguns passos para trás, obrigando o ruivo a acompanhá-lo até o loiro sentar em uma das cadeiras da recepção, e puxar o menor para o seu colo.

— Sim, eu vi. Você desenha bem, melhorou bastante os retratos de pessoas desde a última vez que me mostrou um da sua mãe.

— Alguns anos de prática ajudaram, mas eu tentei retratar o mais fiel possível, a forma como eu te vi naquela hora. — Eijirou ergueu as sobrancelhas, ajeitou as pernas e acomodou as mãos no pescoço de Katsuki. — A cueca foi só um extra, porque eu quero ser o único a ter a imagem de você sem ela.

— Você é tão idiota. — Deixou um breve beijinho na boca entreaberta do maior e, ao afastar a cabeça, notou o plástico no braço esquerdo do loiro. — Tatuagem nova? — Kirishima inclinou a cabeça para ver o desenho. Ele estranhou ao ver a letra K envolta por linhas grossas, que formavam uma moldura. — Não sabia que você era egocêntrico ao ponto de tatuar a própria inicial.

— Eu não sou. — Bakugou riu e acariciou os fios baixos do homem sentado em seu colo. — Por acaso, compartilhamos a mesma inicial. Mesmo que a minha seja no nome, e a sua, o sobrenome. — Eijirou estreitou os olhos antes de arregalá-los.

— O quê? Você é doido?

— Pelo menos não foi o seu nome.

— Puta que pariu, Katsuki! — Kirishima deu um tapinha na testa de Bakugou. — Não espere que eu vá tatuar um K também.

— Até porque, se você for seguir a mesma linha que eu, teria que ser um B.

— Nem fodendo.

— Como você é sem graça, mas não é o suficiente para que eu não queira mais me casar com você.

— Casar? Começamos a namorar ontem e você já está pensando em casamento? — Katsuki escondeu o rosto no pescoço de Eijirou, sorrindo contra a pele do mais novo.

— A ideia de se casar comigo é tão ruim assim?

— Não, idiota. Eu... quero, mas não agora, precisamos ver se esse relacionamento vai para a frente. — O ruivo meteu os dedos nos fios claros, fazendo um cafuné no maior.

— Você não vai se livrar de mim tão cedo. — Bakugou deitou a cabeça no ombro de Kirishima, os olhos fechados e os lábios entreabertos denunciavam que ele estava gostando no carinho. — Quer ouvir os meus futuros votos de casamento? — Eijirou riu, mas concordou com um murmúrio e viu Katsuki abrindo os olhos. — Kirishima Eijirou, desde que nos conhecemos, eu sabia que estaríamos nesse altar, nos casando. Mesmo você constantemente dizendo o quanto eu sou inconveniente e sempre deixando claro como não suporta ouvir minhas piadas de duplo sentido, além de parecer odiar ficar muito tempo sozinho comigo, mas ter uma estranha fixação pelos meus piercings e tatuagens, que eu fingia não perceber, porque gostava de ver os seus olhinhos brilhando, apesar da expressão de quem chupou limão e não gostou. Eu sabia que se falasse algo sobre isso, você ia começar a disfarçar. Mas, cá entre nós, nessa hora eu viro para os convidados, dou uma piscadinha e volto a te olhar, você sempre foi péssimo em tentar fingir que não estava interessado. — O mais velho riu alto ao sentir um puxão forte em seus fios. — Ah, e parece que o meu querido futuro marido, não aprendeu que sempre que puxar o meu cabelo, vou considerar isso um convite para fodermos.

— Katsuki! — Eijirou riu e deu um soco, relativamente forte, no ombro direito de Bakugou. — Os seus votos de casamento são horríveis.

— ‘Pera lá, eu nem terminei! — Katsuki ergueu a cabeça, voltando a ficar com o rosto de frente para Kirishima. O ruivo ergueu uma sobrancelha, cruzou os braços e esperou Bakugou retomar a falar, após fingir uma tosse. — Brincadeiras à parte, eu achava que os meus desejos e sentimentos nunca seriam correspondidos, mas depois da viagem para Chiba, percebi que ainda existiam esperanças. Kirishima Eijirou, você foi o meu primeiro e único amor, não me arrependo um segundo sequer de nunca ter desistido do que eu sentia, apesar de muitas vezes ficar desanimado por achar que a minha presença era insuportável para você. No fim, sempre que eu te via sorrindo, a minha intuição dizia que valeria a pena. — Eijirou fechou os olhos ao sentir as mãos quentes de Katsuki em seu rosto, e os polegares acariciando suas bochechas era como se dissessem que eles teriam todo o tempo do mundo para curtirem o outro. — Eu amo você, para sempre.

Foi nesse momento que a ficha de Kirishima caiu totalmente. Ele sabia que não merecia Bakugou, mas estava feliz por não ter percebido os seus sentimentos tarde demais. Eijirou estava bem, mesmo sentindo-se egoísta, por ter tudo o que Katsuki poderia proporcionar para alguém que ele amasse. E, a partir de hoje, o ruivo faria questão de ser cada dia melhor para o loiro, ao ponto dele não se arrepender de ter dedicado tanto tempo a alguém que demorou anos para entender os próprios sentimentos.

— Ei, você ‘tá chorando, por quê? — Kirishima abriu os olhos e sorriu. Não importava se a cena era ridícula, ele não conseguiu conter os seus sentimentos. — Não me diz que ainda ‘tá se sentindo culpado pela forma que me trata-

— Minha vez de falar os meus votos. — Bakugou arregalou levemente os olhos, mas não respondeu, deixou que o rápido beijo plantado nos lábios de Eijirou fossem a confirmação de que escutaria. — Bakugou Katsuki, se você fosse o último homem na terra, eu preferia pegar fogo a ficar com você e sempre deixei isso claro, mas parecia te atrair ainda mais para mim, ao invés de afastar. — O loiro arqueou uma sobrancelha. Kirishima cobriu a bochecha de Bakugou com a palma da mão, deslizou o polegar nos lábios cheios do mais velho e pressionou o dígito no piercing. — Mesmo você encontrando novas formas de me irritar, quando começou a se afastar, por causa daquela víbora que era a sua primeira namorada, eu percebi que não conseguiria viver sem você. No fundo, aceitei que uma parte minha carecia da sua atenção e tinha um grande apreço por ti. — Katsuki virou um pouco a cabeça e deixou um beijo demorado na palma da mão de Eijirou. O maior parecia um cão, procurando pelo carinho do dono que passou meses longe. — Foi difícil, mas eu finalmente entendi porque me incomodava te ver beijando outras pessoas, que toda a raiva que eu sentia, era um bendito ciúme e inveja. Apesar de ter sido um babaca, ter me deixado de cativeiro em seu quarto foi o dia decisivo para que eu finalmente percebesse que estava apaixonado pelo inconveniente da porta ao lado, o homem que dividiu os bons e maus momentos da minha vida. Aquele que me defendeu dos valentões, mesmo eu dizendo para ele que não era para se meter onde eu não o tinha chamado. — Bakugou fungou e soprou uma risada, estava prestes a chorar, mas segurou para poder continuar ouvindo os votos de Kirishima. — Eu sei que não te merecia, Katsuki. Mas eu tenho esse sentimento egoísta, de querer esfregar na cara dos outros que você é meu, apesar de eu ter sido um filho da puta com você durante tantos anos. — Eijirou tocou a outra bochecha do loiro e puxou o rosto dele para perto do seu. — Obrigado por não ter desistido de mim. Eu amo você, para sempre.

— Eijirou, eu não acredito que os seus votos foram melhores que os meus. — Indignado, Bakugou sacudiu o corpo de Kirishima pelos ombros. O ruivo riu, porque agora não era o único que estava chorando. — Pode deixar, vou melhorar os meus e ganharei de você no dia.

— Ganhar? Katsuki, pelo amor de Deus, nós vamos casar, quando isso virou uma competição?

— Ao menos eu tenho um ponto a mais por ter tatuado a sua inicial, e vou ganhar outro, depois que tatuar aquele último desenho que você viu.

— Bakugou... o que, exatamente, estamos competindo? E não, você não pode tatuar aquilo! — Eijirou desferiu alguns soquinhos no peito do mais velho, até ter os pulsos agarrados pelas mãos de Katsuki.

— Eu vou sim, você não pode me impedir de gastar o meu dinheiro! — Ele sorriu de forma presunçosa, com grandes resquícios de deboche. — Quem ama mais, essa é a competição. Os seus votos foram os melhores, mas eu estou na frente porque fiz os votos primeiro e tatuei a sua inicial. — O ruivo revirou os olhos, mas sequer conseguiu ficar irritado com o loiro, porque logo estava recebendo dezenas de beijos em seu rosto e pescoço.

Por que você é assim? — Kirishima sussurrou e Bakugou parou, com os lábios no maxilar do mais novo.

— Você mesmo disse. — Katsuki ergueu a cabeça, a língua passou pelos lábios de forma demorada, deixando o maldito piercing a mostra. Ao invés de ficar só olhando, Eijirou fez questão de capturar a língua do maior e a sugou lentamente para dentro da sua boca, fazendo questão de esfregar o seu próprio músculo molhado e quente contra a joia prata, conseguindo tirar um arfar excitado do loiro.

— O que eu disse?

— Porque eu sou o inconveniente da porta ao lado.

Kirishima revirou os olhos, mas o sorriso em seus lábios denunciava que estava satisfeito.

Bakugou Katsuki era um porre, mas um que com certeza valia a pena, pelo menos na maior parte do tempo.


Notas Finais


Como de praxe, agradeço a @MarsKnight por ter betado! Sem ela, a história seria apenas metade do que ela é hoje, tanto em enredo quanto em quantidade de capítulos. Pela última vez nessa história agradeço por todo o carinho e dedicação da Mars em betar e deixar os seus comentários, que conseguem me animar demais.

Link do Spin-Off, que algumas pessoas já acharam inclusive KKKK
https://www.spiritfanfiction.com/historia/o-conveniente-da-porta-ao-lado-21665996
Nas notas inicias vai ter uma explicação de como essa história vai funcionar.

Espero que tenha sido uma boa experiência acompanhar toda essa trajetória, porque eu gostei demais de escrever cada palavra.
É isso gente, aqui eu me despeço de vocês.

A gente se vê por aí ♡.


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