História O inocente - Reencontros

Cada passo que dava parecia que chegava perto de cair em um buraco negro onde meu ser estava inativo.Enquanto o pastor fazia o discurso de despedida eu imaginava como a situação poderia ter tomado um rumo diferente se Lilly não tivesse esquecido sua máquina fotográfica em casa ,certamente não estaríamos no lugar errado e na hora errada.Nesse enterro havia pessoas que nunca tinha visto, amigos parentes desconhecidos ,papai tinha bastante conhecidos.Era doloroso e ao mesmo tempo estranho saber que a pessoa que viveu comigo desde a infância não estaria mais perto de mim para me consolar me fazer rir,tudo por conta de um carro desgovernado e de um motorista sem controle.Mas o fato era que meu pai havia morrido.
***
A casa estava vazia lilly e eu não nos falamos desde o enterro,estávamos fazendo as malas ,como a casa era alugada e não tínhamos um lugar fixo para ficar , Julie nossa avó nos ofereceu moradia por algum tempo. Lilly é minha irmã mais nova e agora era apenas eu e ela .Certamente ela não havia atingido ainda sua maturidade então agora teria que zelar pelo bem estar de nós duas.Ao ir para o quarto pude ver que as lágrimas escorriam de modo sútil ao no rosto de Lily.
-Ei,vai ficar tudo bem-disse tentando confortá-la.
-Será mesmo ?.-disse ela em um tom de sussurro.
-Sim eu prometo.
***
Vovó já estava lá fora nos esperando,logo estaríamos em uma cidade nova Ocala. Ao terminar de colocar as malas no carro vovó veio nos cumprimentar com um abraço que por um momento acho que foi o bastante para amparar a alma.
-Há quanto tempo minhas pequenas.-disse abraçando lily e eu.
-É a senhora nunca mais veio nos visitar.
-Sabe como as coisas andam seu tio Markos tem andado doente esses últimos anos.Aliás eu sinto muito queridas pelo ocorrido,Billy Ray meu pequeno eterno menino, pai de duas meninas lindas partiu.-disse com a voz solene.
-É-eu disse ,enquanto vi que lily tentava disfarçar o choro.
Ao chegarmos em "nossa" nova moradia logo reparei que era uma cidade muito bonita bem diferente das anteriores que vovó escolhera anteriormente a casa então sem comparações.Logo que sai do carro vi tio Markos deitado na rede onde ficava a varanda.
-Olá meninas quanto tempo em...-disse com uma voz suave.
-Oi tio.
-AH bom eu sinto muito vocês sabem.
-Tudo bem -disse tentando forçar um sorriso.
-Sinto muito?depois de roubar algo que não lhe pertencia você simplesmente diz sinto muito?- disse lilly com uma voz de ironia misturada com ódio.
-Lilly você sabe muito bem que não foi isso que aconteceu.-disse TIO Markos tentando se defender.
-Sabe de uma coisa morreu a pessoa errada, meu pai morreu e era um homem justo e bom,agora me diz quem merecia estar no lugar dele?Ah eu só estou aqui por falta de opção logo logo Miley e eu vamos achar um lugar para morar.
- Ok Lilly já chega.-disse tentando acalmá-la.
Eu poderia tentar calar Lilly,mas acho que em parte ela tinha razão,apesar de Markos ser meu tio,não o considero como um,ele roubara a mulher que meu pai tanto amou , sim a nossa "mãe" e para isso não havia explicações muito menos perdão.Ao entrar vi que a casa era grande e com bastante entrada de luz solar.
-Bem vou mostrar o quarto novo de vocês.-disse vovó caminhando até o corredor que ficava atrás da sala.
O quarto era bem grande com duas camas e uma escrivaninha no canto perto da janela.
-BOM,é aqui que vocês irão dormir.Espero que gostem.-disse ela,mesmo sorrindo seus olhos traziam o ar de tristeza.
-Ok.Obrigada
-Vou deixar vocês arrumarem suas coisas enquanto faço o jantar.
-Tudo bem.Obrigada
Havia poucas coisas para se guardar,ao abrir a gaveta da escrivaninha vi que tinha um álbum de fotografias,ao pegá-lo caiu um cartão com uma carta dentro com as siglas "JPS'',por algum motivo resolvi não ler,apenas vi que dentro da carta havia um pingente com a mesma sigla um pouco enferrujado ,mas ainda tinha uma certa beleza e novamente por algum motivo resolvi guardá-lo em meu bolso.
***
Ao acordar notei um clima estranho naquela casa onde vovó conversava com tio Markos.Eles estavam de certo modo sussurrando:
-Você sabe que mesmo que tenham provas que o motorista estava bêbado,eles irão sair impune pois são bem de vida.-disse vovó.
-É eu sei.
-Como assim bem de vida,então quer dizer que o culpado vai sair impune sem pagar pela vida de papai?-disse com um tom surpreso.
- Não querida você entendeu errado,estávamos falando de outro assunto.-disse vovó tentando converter a situação.
-Ah vó,por favor nós duas sabemos que não sou mais criança e que é direito meu saber sobre meu pai.
-Bem...se não souber por mim vai saber por outro,é como eu disse o culpado será declarado inocente.Eu sinto muito.-disse vovó enquanto Tio Markos estava com os olhos arregalados
Tentei me conter,mas veio a emoção de ódio misturada com a dor.
-E o que nós iremos fazer?-disse gritando
- Infelizmente nada pois as autoridades já encerraram o caso então...
Realmente fiquei sem reação e fui para o banho tentar me acalmar,mesmo não conseguindo.Ao sair coloquei uma calça jeans e uma blusa então resolvi sair para colocar a cabeça no lugar,mesmo não conhecendo a cidade.Deixei um bilhete na cama de Lilly avisando-a da minha saída.Logo ao abrir a porta estava nas ruas de Ocala.