Aiko devorava um bolinho e comentava algo sobre o novo episódio do anime favorito dela. As pessoas ao nosso redor seguiam suas próprias rotinas, rindo e conversando. Mas minha mente estava em outro lugar. Meu garfo brincava com a comida, sem vontade nenhuma de comer, enquanto eu continuava voltando aos acontecimentos da noite anterior.
Depois do jantar, Fiona queria fazer um teste comigo. Nós pegamos nossas zanpakutos e descemos até o porão, eu estava com um kimono de shinigami, mas a mulher continuou com suas roupas normais. Como estávamos indo ao porão, imaginei que ela teria uma sala de treinamento escondida, e não um vasto deserto rochoso bem debaixo da casa dela.
Meus olhos se arregalaram. Olhando para o horizonte, o lugar parecia não ter fim. Não tinha a mínima ideia de como isso seria possível, mas resolvi que não queria saber.
— O que estamos fazendo aqui mesmo, Fiona?
— Comprovando uma teoria — disse tirando sua espada da bainha.
A zanpakuto de Fiona era diferente de muitas que já tinha visto. Era no estilo shikomizue — basicamente, era uma lâmina reta, com cabo e bainha pretos.
— Quero que use sua shikai — disse e apontou a espada pra mim. — Eu sei que você já consegue fazer.
— Sim... bom, mais ou menos — foi a minha vez de desembainhar minha arma.
Encarei a lâmina por um momento. Ela sempre foi toda preta, mesmo em seu estado normal. O cabo era da mesma cor, com detalhes roxos e, preso na ponta do cabo, havia um fio com duas bolinhas vermelhas. O tsuba — o disco entra a lâmina e o cabo que protege a mão — da zanpakuto era dourado e arredondado. Às vezes me perguntava se tinha alguma coisa a ver comigo.
— Quando você quiser, querida — disse Fiona, mas esta não tomou posição de defesa. — Não precisa se segurar.
Respirei fundo e passei a mão pela parte lisa da lâmina.
— Desintegre, Kiyohime!
Chamas negras envolveram minha espada e eu usei meu shunpo para atacar Fiona. Com o primeiro golpe, ela bloqueou mas consegui empurrá-la para trás. Acertei mais dois golpes contra a espada dela até que as chamas se dissiparam.
— O quê...?
— Como pensei — ela suspirou. Parecia chateada de estar certa. — Você não consegue mantê-lo por muito tempo.
— Mas... antes eu conseguia por mais tempo do que isso! — protestei.
— Sim, querida. Porém, isso foi antes de você se rebelar contra tudo que era.
— O que... quer dizer?
— Sua conexão com sua zanpakuto está instável — tentava dizer de uma maneira suave. — Porque você não sabe quem você realmente é. Você cortou laços com tudo que acreditava. E isto faz muita diferença em sua relação com sua espada.
— Então... — olhei para ela, suplicante. — o que eu faço, Fiona?
— Vamos dar um jeito nisso. Eu prometo — ela sorriu. — Não é o fim do mundo. Na verdade, é mais normal do que pensa na jornada de um shinigami.
Entretanto, para mim, parecia o fim do mundo.
Voltei à minha realidade com barulho que a bandeja do garoto fez na mesa. Nós duas os encaramos e ele retraiu os ombros.
— Foi mal — disse e se sentou ao lado de Aiko.
— Osh. Decidiu sentar com a gente agora, é? — a ruiva estranhou.
— Por quê? Tem algum problema? Se quiserem eu posso... — Tatsuo pegou sua bandeja, pronto para levantar.
— Não, relaxa. Senta aí. O que a Aiko quis dizer é que a gente achou que você fosse o tipo de pessoa que prefere ficar sozinha.
— Bom, às vezes sim, mas... — ele enfiou uma batata frita na boca. — Eu ficava sozinho porque eu não tinha amigos.
— Cê não tem uma irmã? — questionou Aiko.
— Ela não conta — revirou os olhos. — Mas, enfim, agora eu tenho vocês. Claro, se não tiver problema...
Meus olhos não acreditavam no que viam. Aquele era mesmo o garoto do meu primeiro dia que mal olhou na minha cara e tinha uma aura sinistra? Agora ele parecia mais um ursinho fofo.
— Já falei que não tem problema, não falei? — bebi um pouco de água.
— Ai, que grossa. Agora eu não quero ficar mais aqui também!
— Nossa, então você também é dramático?
— Olha, você não me irrita, Sakura.
— Ui, ele ficou bravinho! — falei com uma voz boba. Ele me encarou sério por um segundo antes de cair na risada. — Ah, você sabe rir! — acabei rindo também.
— Se continuarem assim, vou ser obrigada a shippar — comentou Aiko.
— Sai pra lá, sua doente.
— Misericórdia — Tatsuo fez uma cruz.
— Ai, gente! — O garoto de cabelos castanhos se aproximou. — Vocês viram o aluno novo?
Ren era uma das pessoas mais legais da nossa turma. Ele conversava com todos, sem preconceitos. O famoso amigo de todos e ao mesmo tempo amigo de ninguém; não fazia parte de um grupo específico.
— Que aluno novo...?
Antes que Ren respondesse, a porta do refeitório abriu com um estrondo, como se alguém tivesse chutado. Por ela, passou um garoto que usava uma máscara preta. Daquelas que cobre só a boca e nariz.
— Aquele — indicou Ren.
— Espera aí, aquele é o... — Tatsuo arregalou os olhos.
— Kota?! — dissemos nós três.
— Tô vendo que já conhecem o moleque — Ren deu o fora.
Kota caminhou devagar entre as mesas. Todos os olhares sendo direcionados a ele, mas quando o garoto encarava de volta, todos evitavam o contato visual. Ele estava com o uniforme da escola padrão, tirando o fato de que ele havia simplesmente arrancado as mangas da camisa do uniforme.
— Por que essas caras de bobos? Surpresos em me ver? — disse rindo e se jogou ao meu lado.
— Tá fazendo o que aqui? Você disse que nunca mais voltava para uma escola — Aiko franziu as sobrancelhas.
— É, só que aqui é o único lugar que eu tenho mais tempo com vocês, então — deu de ombros.
— Que fofo!
— Que gay — comentou Tatsuo.
— Olha quem fala! Se eu sou gay, você é o gay dos gays!
— Isso nem faz sentido!
— Qual é a da máscara? — perguntei.
— Ah, essa coisa? Bom, não tinha uma maneira lógica de explicar os dentinhos de tubarão para as pessoas.
— Heh. Faz sentido — pensei por um momento. — Os vaizards concordaram?
— Eles não podem concordar com algo que não sabem — deu de ombros. — Somos um grupo, mas eu não gosto deles sabendo de todos os passo que dou. Então, eu só saio sem falar nada.
— Então você foge todo dia?
— Ei, você também fez isso. Não tem moral para julgar!
— Isso não vem ao caso. E abaixa essa guarda, cacete, eu não tô te julgando.
— Caralho, já te falaram que você tem um puta jeito de mãe?
— Oh, dois! — Aiko chamou. — Enquanto vocês discutiam...
— Parece até eu e minha irmã conversando — Tatsuo revirou os olhos de novo ao lembra da irmã.
— Eu e o Tatsuo tivemos uma ideia. Nós pensamos que talvez nós poderíamos ir ao cinema amanhã depois da aula.
— Cinema...? — virei a cabeça de lado.
— Cê não sabe o que é isso, né? — Kota suspirou. — Pelo amor de Deus... olha, você sabe o que é um filme? Diz que sim, por favor — assenti. — Bom, lá é onde geralmente eles estreiam primeiro. O cinema é basicamente uma sala escura com um telão e várias cadeiras. Você compra um ingresso, pipoca, e assisti o filme.
— Ah — meus olhos brilharam. — como um teatro!
— Você sabe o que é um teatro mas não sabe o que é um cinema?! Menina...
Aiko bateu na cabeça dele com um livro.
— De onde cê tirou esse livro, caralho?!
— Não importa — a ruiva fez um bico. — Deixa a Sakura em paz, ela não tem culpa. Nunca deixaram ela vir ao mundo humano.
— Sério? — ele me encarou surpreso. — Nunca tinha colocado os pés aqui? Eu achei que você tinha vindo uma vez ou outra...
Neguei.
— Tudo o que eu sei foi o que a Aiko me ensinou quando eu era mais nova — dei de ombros. — Meu pai nunca quis que eu viesse para o Mundo Real.
— Foi mal por te zoar — estendeu a mão para mim. — Prometo que não vou fazer de novo.
— Tudo bem — apertei a mão dele. — Eu adorei as músicas que você me mandou.
— Claro que gostou, eu tenho bom gosto musical — disse estufando o peito. — E para filme também, posso escolher o que vamos assistir?
— Depende — Tatsuo ponderou. — Se for terror...
— Nah. Relaxa, cara. Eu sei que você ia se borrar de medo.
— Não! Eu ia dizer que eu gosto de terror!
— Sei... — Kota franziu as sobrancelhas. — Minha escolha obviamente seria alguma coisa de super heróis. Tem muito filme bom saindo!
E assim Kota e Tatsuo entraram em uma discussão de qual tipo de filme seria o melhor para assistirmos. E parece que nenhum dos dois iria desistir tão fácil.
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