História O Menino e a Estrela (AUTORAL) - Um Amor (quase) Impossível

Lá estava ela... brilhando como todas as noites. Para muitos podia ser só mais uma simples estrela, mas eu sabia que não! Sempre aparecia em meio as outras, mas eu sempre conseguia diferenciar. Ela era tão importante para mim.

Todos os dias na chegada da noite, eu corria para o quintal de minha casa e me deitava no gramado, só para a ver cintilando. Ansiava poder tocá-la ou vê-la mais perto, porém sabia que isso não seria possível. Então, eu apenas apreciava toda a sua beleza de longe... tendo a certeza de que ela era feliz lá em cima. Perdi as contas de quantas vezes a vontade de voar para alcançá-la tomou conta de mim.

Me lembro bem de minha mãe falando:

ㅡ Menino, já é tarde! Entra e vem dormir.

Ah, como eu queria continuar ali fora. Se dependesse de mim, passaria a noite observando aquela luz brilhar no céu. Apenas ela conseguia me trazer uma sensação de paz e tranquilidade. Sempre que meus olhos a encontravam, todo o estresse e tristeza passava... ao mesmo tempo que um sorriso brotava em meu rosto.

O tempo passou.

Tudo aquilo que eu sentia pela estrela, resultou em que passei a conversar com a mesma. Eu tinha certeza de que ela me ouvia. E mesmo não escutando uma voz física, conseguia obter respostas silenciosas que mais ninguém tinha a capacidade de ouvir.

ㅡ Você acha que um dia ainda poderemos nos tocar? ㅡ perguntei.

ㅡ Existem algumas chances. ㅡ ela respondeu. ㅡ Mas é quase impossível.

O sorriso em minha boca se desfez e o brilho de meus olhos se apagaram neste momento. Eu não conseguia aceitar que nunca estaríamos juntos. O meu maior desejo era tocá-la pelo menos uma vez.

ㅡ Não fique triste, querido. Ainda que a distância não permita, estamos juntos... sempre estaremos.

ㅡ Promete nunca me abandonar?

ㅡ Prometo, querido. Estarei aqui todas as noites, como sempre fiz.

Naquela noite, eu notei que ela realmente me amava. Mas não sabia se da mesma forma que eu.

Ela era minha melhor amiga. Apesar de que... por mais estranho que isso seja, eu sentia algo que ia além da amizade. Algo que no momento me parecia impossível, mas eu tinha uma gotinha de esperança. Ou pelo menos até a noite posterior, quando recebi a pior notícia que eu poderia receber.

ㅡ Querido...

ㅡ Diga, minha luz.

Um triste silêncio tomou conta do ambiente e prevaleceu por alguns segundos bem constrangedores, até eu o quebrar:

ㅡ Tá tudo bem?

ㅡ Eu... nem sei como dizer. Nos conhecemos a tantos anos. Não queria te deixar.

ㅡ O quê? ㅡ me levantei num pulo.

ㅡ Minha hora de partir está próxima.

ㅡ Partir? Eu não entendo...

ㅡ Amanhã a noite, eu irei cair... cair... cair até explodir.

ㅡ Não... fala que é brincadeira!

ㅡ Querido... isso acontece com todas as estrelas. Eu tive sorte de ter vivido durante todos estes anos. Algumas vivem apenas alguns dias.

ㅡ Não é justo! ㅡ gritei abraçando a mim mesmo. As lágrimas corriam desesperadamente por meu rosto. Não consegui contê-las. ㅡ Você não pode ir!

ㅡ Pra uma nova estrela nascer, uma tem que morrer. Esse é o nosso destino. A mãe Lua já disse que isso vai acontecer e ela não volta atrás em suas decisões.

Minha voz já não saia. Eu estava fraco. Minhas pernas tremeram, até me derrubarem de joelhos. Minha respiração ofegante era algo agoniante. Se minha amada morresse... eu também iria querer partir.

ㅡ Querido... levante-se. Amanhã você poderá me ver pela última vez. Caindo. E poderá me fazer um desejo, que se o fizer de coração, se realizará. Só não quero que sofra por mim.

ㅡ Filho! ㅡ minha mãe grita. ㅡ Já é tarde e está frio, entra!

Me levantei lentamente, enquanto olhava pra minha amada. Dei meu último suspiro, antes de correr pra dentro de casa. Sem dizer uma palavra.

Lembro-me que naquela noite, demorei muito até conseguir dormir. Só conseguia pensar que eu iria perder "alguém" que amava.

Amanheceu, entardeceu e por fim, anoiteceu.

Hesitei muito. Não tinha certeza se queria ver ela caindo, sabendo que explodiria. Ainda me pergunto o motivo das pessoas romantizarem estrelas cadentes.

Apenas balancei minha cabeça para me livrar destes pensamentos e corri para o quintal. O céu estava coberto de luzinhas, mas nenhuma me encantava como a minha pequenina. Permaneci olhando para o alto, até enxergá-la. Caindo.

ㅡ Adeus, querido. Eu te amo muito. ㅡ ela sussurrou em meu coração. ㅡ Não esqueça: faça um desejo. Prometo realizá-lo.

Eu não pensei duas vezes. Meus olhos se fecharam, assim como meus punhos. Meu peito parece ter se apertado e meu sangue esquentado.

ㅡ Você. É você quem eu quero.

Abri meus olhos. Ela já não estava no céu. Por um momento, pensei que tudo estivesse perdido e que eu deveria voltar chorando pra casa, mas... eu senti que devia ir em direção ao local onde ela caia. Assim o fiz. Corri o mais rápido que pude e inclusive pulei o portão da casa.

Não me importei com as pessoas me olhando correr pelo meio da rua, naquela hora da noite. Eu só precisava encontrá-la. Minha amada ia em direção a praia.

ㅡ Estou chegando, querida!

Minhas pernas estavam endurecendo, minha respiração acabando e eu sentia que minha alma estava saindo de meu corpo. Mas eu não desistiria! Só parei mesmo quando senti a areia em meus pés descalços e avistei aquela grande quantidade de água em minha frente. Segurei minhas pernas com meus braços e parei para respirar. Olhei em volta e percebi que já estava tudo acabado. Minha amada partiu.

ㅡ NÃO É JUSTO!

Eu estava sozinho na praia.

Comecei a andar tristonho e com lágrimas escorrendo. Gemia baixinho, enquanto o frio arrepiava os pelos de meus braços. Ela se foi... não podia ser verdade. Eu tava arrasado. Queria ter dito pra ela que a amo muito, pelo menos uma vez na vida. Eu perdi. Perdi.

Percebi que algo iluminava o local. O que era estranho... a praia estava deserta. Decidi olhar para trás, assustado. Não acreditei quando vi... era ela. Seus longos e lisos cabelos pretos, junto aos seus olhos de cor azul denim, se destacavam em meio aquele brilho dourado que a rodeava. Seu sorriso era perfeito e seus dentes branquinhos como o roupão que usava.

ㅡ Querida...

ㅡ Querido...

Ela abriu seus braços e eu corri, a abraçando fortemente pela primeira vez na vida. Uma emoção tomou conta de mim naquele momento. Eu finalmente estava tocando nela. Era inexplicável a alegria que tomava conta do meu coração.

ㅡ Agora sim... estamos por fim juntos. E nada vai nos separar. ㅡ eu disse a empurrando levemente. ㅡ Eu te amo.

ㅡ Eu também te amo.

Passei a mão em seu rosto e em seguida, segurei seu queixo. Nós nos beijamos pela primeira vez. Aquela noite foi perfeita e eu nunca vou me esquecer.