1. Spirit Fanfics >
  2. O Monótono Diário de Isaac >
  3. 26.05.18 - Sábado

História O Monótono Diário de Isaac - 26.05.18 - Sábado


Escrita por: lyanklevian

Capítulo 30 - 26.05.18 - Sábado


Fanfic / Fanfiction O Monótono Diário de Isaac - 26.05.18 - Sábado


De: [email protected]
Para: [email protected]
Assunto: [campo deixado vazio pelo remetente]

 

 

Boa noite, como vai, amiga?

Eu estava pensando… Ter a pessoa que amamos morando tão perto é uma coisa bizarra. Eu fico o tempo todo espiando pela janela e me perguntando “o que será que eles está fazendo agora?”.

E… Eu não fico comentando isso com você nos e-mails, mas… Muitas vezes fico pensando nele enquanto estou me masturbando… (fantasiando em como seria poder lambê-lo todo… ou tê-lo dentro de mim, ou até eu dentro dele, pra viajar mais longe ainda na maionese… prontofalei).

Hoje ele estava lindo (ele é lindo SEMPRE, mas aquele conjunto de calça e jaqueta jeans… ahhh!). Ele me mandou uma mensagem para que nos encontrássemos às 14h, e lá fui eu, com uma camiseta de manga longa preta (porque ainda dá para ver algumas daquelas marcas no meu braço e pescoço), e também com uma calça e All Star, tudo preto (e como meu cabelo é bem escuro, acho que eu devia estar bem gótico assim… mas, gosto dessa maneira). Também peguei minha câmera, porque gosto de ficar registrando coisas a esmo.

Fui recepcionado na casa de flores com o Lucas se escondendo de mim atrás do Nicolas. Achei estranho na hora (ele estava agindo como se não me conhecesse), e aí o Nick disse, olhando pra ele: “Vai, filho… Dá o que você fez pra ele”. E me explicou que o garoto estava com vergonha porque tinha um presente.

Na mãozinha do Lucas tinha um papel dobrado, e ele me deu sem sair de trás das pernas do Nick (só vi a mão dele esticada, mais nada). Eu fiz aquela pergunta besta “É pra mim?” (mas quem não faz?), e abri o papel. Era um desenho de três pessoas segurando vários sorvetes (já que estávamos prestes a ir a uma sorveteria, ele fez o desenho já no clima), e acima os nomes: Papai, Lucas, Isac (com um “A” só, rs). O Nicolas disse que ele ficou a manhã inteira trabalhando naquilo, e o próprio Lucas disse que o pai ajudou com os desenhos. Eu achei o máximo aquilo, porque me senti muito considerado. Era como se o Lucas estivesse me incluindo naquela família através daquele desenho. Não que o desenho de uma criança determine qualquer coisa, mas… é um sentimento sincero dele, e eu gostei (falando em sincero, não pude deixar de notar: no desenho, os dois sorriam, menos eu… isso me fez pensar um pouco).

 

[imagem anexa no início]

 

No caminho, o pingo quis subir de cavalinho em mim (sentar em meus ombros), mas eu não sei se tenho força (muito menos confiança) o bastante pra carregar uma criança assim (imagine se ele se desequilibra, cruzes), então o Nick fez as vezes de cavalo (e eu acabei de pensar bobagem enquanto escrevo isso… mas deixemos isso pra lá, não é?). Por causa da greve que está tendo, as ruas parecem mais vazias que o normal (acho que todos estão economizando combustível), e também só tivemos como escolher entre os sabores de manga, caju e mamão (o resto tinha acabado, e o caminhão que repõe o estoque não tinha dado sinal de vida). Por causa disso, a gente começou a conversar sobre esse assunto mesmo: os caminhoneiros e a gasolina. É legal ver como eu e o Nick pensamos semelhante em muitas coisas, porque eu comentei sobre como eles (os caminhoneiros e o combustível) são importantes e praticamente movem o Brasil, e de como a gente depende disso hoje em dia (sem eles, está tudo parando). E, como o Nick está naquela vibe de estudar pro vestibular, comparou eles aos glóbulos vermelhos, porque eles suprem a todos (é que as hemácias transportam oxigênio, daí a comparação dele).

Bom, enfim… não quero te entediar com esses papos, mas o fato é que isso rendeu muita conversa pra gente (dois filósofos de sorveteria papeando, foi bem legal). Sei que já falei várias vezes como o Nick é lindo e inteligente (eu devo estar me tornando enjoativo), só que essa tarde eu tive a confirmação: o cara é foda. Ele só não entrou numa universidade antes por causa do rolo com o Lucas (ele nasceu, o Nick precisou de emprego, pensão, etc…), aí os pais dele morreram, e depois que isso tudo passou a Jack foi estudar um tempo no exterior, deixando o Nick cuidando das coisas da família (flores e morangos). E o incrível é que não dá nem pra começar a ficar com “peninha” dele, porque o Nicolas fala de tudo com uma leveza de dar gosto.

Por causa dessa conversa de faculdade e futuro de carreira, ele perguntou sobre mim… Sobre o que eu quero. De repente senti um vazio esquisito, porque isso não é algo em que eu costumo pensar. A única vez em que eu tive algo que se assemelhasse a um sonho, foi quando eu queria ser piloto de avião (há muuuitos anos). Eu ficava me imaginando naqueles caças militares (porque eu tinha uma miniaturinha de plástico), e vivia nessa fantasia de que um dia isso seria possível, de que eu trabalharia para a aeronáutica brasileira, etc. Mas o tempo foi passando (a vontade vai apagando), e no dia em que eu comentei isso com minha mãe ela disse que “Não era qualquer um que conseguia ser piloto” e “Quem eu pensava que eu era”. Bom, eu sabia que não seria fácil, mas aquilo matou o pouco de faísca que tinha sobrado. Hoje não tenho mais a menor vontade de ser piloto. Nem de nada, acho.

Eu tentei contar isso pro Nicolas sem parecer dramático. Além do exemplo maravilhoso dele (que fala das desgraças da vida como se não fosse nada) eu também lembrei do desenho do Lucas, onde eu não sorrio (isso mexeu comigo mais do que você imagina).

Eu pendurei o desenho na parede do meu quarto, com durex, pra me lembrar o tempo todo que não devo ser tão transparente assim em público. Acho que vivi tanto tempo recluso, que quando convivo com pessoas diferentes acabo não me policiando, e continuo a ser o mesmo Isaac antissocial de sempre.

Não que eu não goste de pessoas, não é isso. É que eu prefiro estar sozinho (bem, nem TÃO sozinho assim… queria ELE aqui).

O Nicolas ouvia tudo o que eu falava com tanta atenção, que eu senti como se ele estivesse me gravando com os olhos. Fiquei até sem graça em alguns momentos (ele se inclinava pra mim na mesa da sorveteria, e apoiava o queixo na mão e ficava me mirando - mas estávamos em lados opostos da mesinha). Teve uma hora que eu ri, e ele perguntou o que era. Eu falei “É que você me olha assim, desse jeito”, mas falei sorrindo (morrendo de vergonha… eu devia estar que nem um tomate). Ele perguntou “que jeito?”, aquele sacana… Só pra me ver mais constrangido, tenho certeza! Quando eu não soube o que dizer ele me perguntou “Por que você não gosta de ser visto?”.

E essa foi uma pergunta forte. Ele não falou de forma simples. Dava pra perceber que o Nicolas intencionalmente abrangeu tudo o que eu sou. E ele estava com aqueles olhos de quem sonda… (ele devia fazer Psicologia, e não Engenharia dos Alimentos).

Eu dei de ombros, e ele insistiu na pergunta… Eu fiquei perdido um tempo, mas depois respondi que não gosto que as pessoas fiquem me olhando, me julgando, porque elas sempre vão julgar errado (e é verdade). Aí ele pediu a minha Canon… Eu não entendi na hora, mas ele ligou ela, e me mostrou a última foto que foi tirada, do Lucas com o sorvete na mão (a foto saiu com ele piscando numa careta, e pareceu que estava chorando - mas não estava). Ele me perguntou exatamente assim: “Como você se sentiria se uma pessoa olhasse para essa foto e dissesse que o Lucas é um menino triste, e que vive chorando?”.

Na hora eu achei a pergunta esquisita. Eu falei que não me importaria, não daria a mínima. E ele me perguntou “Por que?”. Eu disse que era “Porque eu sei que não é verdade”.

E ele sorriu, e quase gritou “BINGO”.

Nossa, eu tenho que confessar, amiga: nessa hora eu fui meio lerdo, e não entendi a mensagem. Mas ele levantou as sobrancelhas e ficou esperando eu ter uma reação… Até que as coisas se encaixaram…

Ele deve ter notado que eu comecei a compreender, porque se reclinou na cadeira e cruzou os braços com aquele sorriso dele: “Fez sentido?”.

E tinha feito, sim.

Da mesma forma que em uma foto, eu não tenho que me importar com o que os outros pensam do que é aparente, porque EU SEI que, o que quer que pensem de errado sobre mim, não é a minha verdade.

Acho que eu estou certo em dizer que aquilo foi quase como um tapa na cara pra mim (daqueles que a gente necessita levar). Eu pensei um tempo, e falei que “É fácil falar”. E ele respondeu que ao menos agora eu entendo. “Ao entender, você vai começar a pensar sobre isso… Igual como quando estamos aprendendo algo novo: no começo é difícil, mesmo”.

Eu tinha ficado tanto tempo embasbacado olhando pra ele que meu sorvete começou a escorrer pelos meus dedos. No fim, acabei dando risada e falando aquilo que comentei com você mais acima: que ele devia ter escolhido Psicologia. Ele riu e disse que todos somos um pouco psicólogos, filósofos, e loucos.

Acho que Deus deve ter me dado só o último ingrediente, quando me fez.

Nessa o Nick ficou meio alerta, olhando para os lados. Na hora eu já entendi e comecei a procurar o Lucas também. Ele estava distante da gente, agachadinho do lado de um formigueiro, espetando o montinho de terra com uma colherzinha de plástico. O Nicolas criou asas (sério, ele praticamente voou até onde o moleque estava, nunca vi tanta velocidade) e puxou o Lucas pra longe. Quando fui ver, eram saúvas (daquelas vermelhonas, com cabeça de coração, que picam doído).

Que moleque doido…

Depois disso, pagamos as contas e fizemos uma caminhada lenta de volta para casa. Foi uma tarde produtiva, porque conversei muito com o Nicolas (nenhuma conversa pessoal, mas foram assuntos variados, provando que ele é alguém com quem quero estar sempre, independente de como seja). Eu queria não gostar dele daquela maneira, porque se eu não tivesse esse sentimento ele com certeza estaria ocupando o lugar nº1 de meu melhor amigo. Ele é uma pessoa gradável demais… É fácil de se conversar, e o papo dele não são coisas bobas. Ele fala sobre ideias e faz aquelas perguntas que me faz pensar profundamente. Gosto disso.

Já li uma vez uma frase mais ou menos assim:

 

Pessoas medíocres falam sobre pessoas;

Pessoas comuns falam sobre coisas;

Pessoas incríveis falam sobre idéias.

 

Eu sempre levei essa frase comigo como se fosse um termômetro do quão medíocre eu estava sendo quando conversava com a Hellen (porque a gente ficava às vezes falando dos outros… quem nunca?), e agora, nessa tarde de sábado com o Nick, me senti “incrível”. Estar com ele, trocar ideias com ele, olhar para ele, ver aquele sorriso e ouvir as teorias que ele tem… é incrível.

E, embora já tenhamos nos beijado duas vezes no passado, eu confesso que tenho medo de estragar isso ao querer algo a mais. Fico até imaginando Deus falando “Porra, Isaac, te dei um amigo desses e você ainda acha pouco?”. Isso me faz sentir culpado.

É verdade… Eu tenho uma amizade incrível (não só dele, mas da irmã dele), e até noto às vezes algo da parte do Nicolas, mas… Não é exagero da minha parte eu esperar que um cara que sempre se achou hétero de repente mude e comece a se relacionar comigo?

Sim, é querer demais. As pessoas não mudam assim, de uma hora para outra.

Eu não digo que vou afogar esse sentimento (porque já vi que não dá), mas tenho que parar de enxergar esperança por qualquer bobagem que ele faça (tipo aqueles olhares que me deixam confuso… eu tenho que ignorar, sei lá). Tenho que ver ele como amigo… (ou entender que ELE me vê como um, e que aqueles beijos foram mera curiosidade).

Eu preciso colocar isso na minha cabeça, para não ficar sofrendo com a dúvida…

Quando nos despedimos, hoje à tarde, todas essas coisas passaram pela minha cabeça em questão de segundos. Ele me deu um abraço, e colocou a mão na minha nuca. Ele NUNCA tinha me dado um abraço… (olha eu de novo NOTANDO coisas que não deveriam ter tanto significado ¬¬). Ao nos separarmos ele estava meio vermelho, e puxou o Lucas para que entrassem logo. E eu voltei pra cá, tomei um banho quente e comecei a escrever este e-mail…

… E eu estou mais uma vez parecendo o “Isac”. Aquele, com um “A” só, do desenho do Lucas: sem sorrir.

Ao menos durante o dia eu consegui. E foram sorrisos autênticos, porque realmente foi uma tarde excelente. Eu é que sou um ingrato com a vida. Tenho que aprender a aceitar o que ela manda.

E se algum dia o Nick arranjar uma namorada… Devo ficar feliz por ele.

Amar consiste nisso: querer o bem do ser amado… Não é isso? Independente de meu egoísmo.

 

… Difícil, isso.

Amiga, vou parar por aqui. Esses pensamentos estão me dando uma desanimada (mas não vou beber, relaxa). Quero ver se jogo um pouco, ou talvez eu estude (o Nick me inspirou… não quero me sentir um ignorante perto dele).

Uma boa noite, irmã de alma. Tenha um lindo domingo, amanhã!


Notas Finais


🌸

Site oficial: http://lyanklevian.com

Facebook: http://facebook.com.br/lyanklevian

Instagram: https://www.instagram.com/lyanklevian

Twitter: https://twitter.com/LyanKLevian

🌸 🌸 🌸

💕 Agradeço muito pela leitura 💕


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...