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História O não dito - Despertando


Escrita por: invisiblewall

Notas do Autor


Booooa noite, povo bom xD

Não tenho muita coisa pra dizer, a não ser que a fic nasceu de uma vontadezinha de escrever que sempre me acompanha e que eu consigo saciar de vez em quando.

Fazer o quê: eu alimento meu monstrinho e vocês, assim espero, se divertem.

Beijos!

Capítulo 1 - Despertando


Existe uma diferença entre o que é claramente dito e o que fica subentendido, e ela está no fato de, que dependendo da informação, decifrará apenas aquele que possui a chave correta. 

Porém, quando você compartilha uma amizade verdadeira com alguém, daquelas que você sabe dizer o significado de cada tipo de risada que a pessoa tem e reconhece o estado de humor apenas ouvindo a entonação de voz usada para responder o rotineiro “Bom dia”, a chave já é sua. Com certeza, você vai ter a capacidade de compreender qualquer informação que queira ser dividida, mesmo que ela não seja verbalizada.

Eu tenho uma chave dessas, e ela decodifica minha amizade com a famosíssima e poderosa voz de Takanori Matsumoto, mundialmente conhecido como Ruki e carinhosamente apelidado de Ru – sabe, pra aproximar o nome ao tamanho do usuário. Não, ele não gosta disso, mas não é como se pudesse negar agora, depois de 15 anos. O fato, no entanto, que tento rejeitar fazendo piadas e vivendo o dia-a-dia sem me preocupar – fingindo, na verdade, que não me incomodo – é que, mesmo acreditando fielmente nessa filosofia, não consigo entender porque ele anda tão estranho.

E quando digo que não consigo entender, falo sério.

Comecei a notar que ele não sorri mais como antigamente, o que já não acontecia com frequência; não se diverte com as pequenas brincadeiras que fazemos no backstage dos shows ou no estúdio, durante os ensaios; e, o que considero pior, mal conversa comigo. Na verdade, Ruki não tem falado muito com ninguém, mas talvez eu note mais quando é comigo por sermos próximos, por estar me afetando diretamente. Mas a situação é essa: ele está estranho. Até mesmo suas músicas andam mais tristes e as letras, depressivas.

Mas sabe como eu finalmente percebi que algo estava errado? Quando sua voz mudou.

A voz dele é como um espelho da sua própria alma.  É com ela que ele expõe para o mundo sua música e também seu estado de espírito. Foi com ela que nossa carreira começou de verdade e conseguimos unir essa quantidade absurda de fans que temos atualmente. Não é de espantar, então, que quando comecei a notar aquela melancolia intensa em sua voz, o tom obscuro e os pesares transmitidos pelas notas, soube que algo estava escondido por debaixo daquela cabeleira loira. E não eram bitucas de cigarro.

- Kaolu, posso ter uma palavrinha com você?

- Oh, Reita. Finalmente vai me deixar dar aquela repaginada em você? – falou enquanto batia as mãos no avental negro e deixava um rastro branco de pó ali. – Uruha acabou de sair daqui. Fizemos uma maquiagem bem... Peculiar. – Ele ajeitou o balcão, guardando as maquiagens dentro de caixas prateadas enormes. Acho que estava me esperando responder alguma coisa, quebrar o gelo com uma piada, talvez, mas como não aconteceu, me encarou de novo, ainda rindo, provavelmente da lembrança da sessão de maquiagem. Colocou uma das mãos na cintura e a outra na parte de trás da cadeira de couro giratória. – Certo, pelo jeito é coisa séria. Desembucha.

Entrei na sala iluminada de paredes brancas e fechei a porta atrás de mim. Sentei na cadeira de couro, futriquei em alguns pincéis que ainda não tinham sido guardados, observando com genuína curiosidade aquela variedade de materiais e tentando entender por que diabos você precisa de tantos pra passar um pouco de química na cara. Kaolu confiscou da minha mão o que eu tinha pego e me lançou um olhar intimidante, continuando sua tarefa de organizar a bancada de vidro. Acima dela, havia espelhos de um lado ao outro da parede, cobrindo tudo e dando uma visão total do que estava atrás de nós, o que era basicamente o restante do salão: o lavatório, um móvel com secadores, chapinhas, babyliss e uma dúzia de tinturas para cabelo. Reconheci uma delas, a caixa de loiro platinado com a qual Ruki coloria suas madeixas. Eu sei de cór qual coloração ele usa, o que já é bem impressionante; Mas mais ainda era o fato de que eu sabia a diferença entre todas aquelas tonalidades porque ele gostava muito de conversar sobre isso. Antigamente...

- Por que Ruki anda tão estranho?

- Estranho? Estranho como? – perguntou, meio desinteressado, quase como se eu estivesse contando uma fofoca do ano passado, velha, e da qual todos já sabiam.

- Ah, você sabe: quieto, desanimado, depressivo.

- Bom, deve ser porque ele realmente está depressivo. – A arrumação prosseguiu, e ele continuou com aquela expressão de quem está falando obviedades. Só que não era tão óbvio assim. Desde quando Ruki tinha depressão? Ele nunca me disse nada disso, e acho que teria contado, caso fosse verdade. Não...? – E por que você parece tão surpreso?

- Por que eu estou? Isso é tão novidade pra mim quanto pra qualquer outro, garanto.

E agora ele realmente tinha sua atenção em mim. Primeiro, ele franziu o cenho como se perguntasse do que diabos eu estava falando. Depois houve um período de análise, uma tentativa de me desarmar para que eu finalmente revelasse e confessasse que sabia de toda a história. Só que esse momento acabou, sua expressão morreu, e ele suspirou. Vi um pouco de pena e indignação em seu olhar, o primeiro sentimento vencendo e trazendo consigo a incredulidade. Era sincero, eu sabia.

- Você só pode estar brincando. Está me dizendo que não... Não, isso não é possível, meu amor.

- Não o quê? O que eu não...?

- Reita, ele está se tratando há 5 anos. Psicóloga, psiquiatra, remédios, longas sessões.

Minha boca abriu e fechou. Tentei formular alguma frase completa, uma contestação que fosse, porém, nada surgiu. Ruki estava depressivo e há 5 anos? Isso não é possível! Eu não poderia estar cego por tanto tempo a ponto de não ver a situação dele, sem notar que ele precisava da minha ajuda. Como aquilo tinha acontecido? E por quê?

- Mas, Kaolu, por quê? Você tem que entender que isso é muito difícil de acreditar. Sou o melhor amigo dele, estou sempre com ele, como não perceberia? Ele nunca, NUNCA, me disse nada.

- Olha, é bem difícil pra mim acreditar que você não saiba nada também, mas aparentemente esse tipo de absurdo acontece. Se bem que faria sentido, embora nós imaginássemos que você estava fazendo isso para não alimentar mais os sentimentos dele. Até mesmo estar perto para ajudar pode desencadear mais dos sentimentos que ele sente – raciocinou enquanto olhava para as próprias unhas, pintadas de esmalte preto, e depois coçou a sobrancelha.

- Imaginamos? Kaolu, quem mais sabe disso? – Levantei e segurei seus ombros, observando-o ficar imóvel e despreocupado em minha frente, aquele mesmo olhar de indagação que mais cedo me deixou tão incomodado surgindo outra vez. – E por que eu sinto que estou perdendo alguma informação aqui?

- Meu deus, Reita – Estalou a língua e soltou uma risadinha nervosa. – Ele ama você. Sobre isso que estamos falando. Ama tanto que, quando finalmente percebeu, começou a tentar se declarar, fazer investidas, fazer com que você notasse ele, só que você nunca correspondeu. Você não pode ser tão imbecil assim pra não ter percebido. Eu me recuso a acreditar nisso.

Então foi como se dois martelos acertassem minha cabeça, um de cada lado. A surra ecoou dentro do meu crânio; era uma revelação. Dolorosa, inacreditável, mas inegavelmente verdadeira. Eu conseguia sentir isso pelo jeito como ele me olhava agora, depois de se desvencilhar, rodar pela sala, guardar o resto das coisas e desistir de argumentar. Mas eu queria negar, assim como ele parecia tentar fazer com o que eu tinha lhe dito.

- Você realmente não sabe de nada, não é? Pensei que não fosse possível, mas você realmente alcançou esse ranking de idiota. Deus, como isso é possível. – Riu com sinceridade, e mais ainda quando viu que eu estava chateado com o fato de ele estar fazendo isso agora, bem no momento em que eu estava tentando lidar com tudo. E não tinha graça. – Me desculpe, mas eu preciso rir. Você não me deixa escolha. Até ele riria se estivesse no meu lugar.

- É, só que ele não está! Ele está sofrendo! – gritei, e ele recuou dois passos, voltando depois a posição inicial. Agora seu olhar voltava para o estado de pena.

- Olha, garotão, eu indico que você dê uma respirada, não quero que passe mal. – Tocou meu ombro, descendo a mão pelas costas e me levando até a porta. Pegou sua maleta e as chaves da sala. Minha respiração estava alterada e eu não conseguia prestar atenção em nada. – Não faça besteira, está bem? Se eu já estou tendo dificuldade de entender que porcaria derreteu seu cérebro nos últimos 5 anos, imagine você.

Kaolu abriu a porta e me colocou pra fora, fechando-a atrás de nós e nos dando uma visão do corredor estreito que levava ao salão de entrada e ao restante das salas do prédio. Tive a impressão de que ele me diria mais alguma coisa, mas se segurou, talvez por achar que eu não conseguiria ouvir mais nada. E bom, ele podia ter razão. Antes que ele sumisse por uma das ramificações que os corredores formavam, pedi que ele respondesse quem mais sabia, e ele completou com um doloroso “todo mundo”.

 

XX

 

O ensaio tinha acabado.

Todos estavam gloriosos naquela tarde particularmente abafada. Kai não errara uma batida sequer e até mesmos seus improvisos pareciam ter sido previamente preparados. Aoi dedilhara seu instrumento com a mesma destreza de sempre e o mesmo ar galanteador que lhe era inato, quase como se estivesse trabalhando no corpo de uma bela mulher. Uruha tocou com classe, precisão e força, nada de novo aqui, apenas sua característica perfeição. Ruki continuava melancólico, mas isso não tornava sua performance menos valiosa: ele continuava a ser aquela mesma luz norteadora de sempre, irradiando sobre todos o seu brilho magistral. Tudo estaria impecável se não fosse por um integrante: eu mesmo.

Se um dia eu tivesse que indicar qual fora o pior ensaio da minha vida, diria que foi esse. Eu tinha conseguido errar todos os trechos mais novos e complicados que já havia treinado incansavelmente e decorado, esquecera completamente de algumas partes fundamentais de outras músicas e, depois de certa tentativa e visível indignação coletiva, passei a pecar inclusive nas coisas mais básicas. Foi quando resolvemos que era melhor parar por aí porque “Reita não estava em um bom dia”. Quem tomou a iniciativa de verdade foi Uruha, que já não aguentava mais ter que presenciar minhas falhas, e era exatamente com ele que eu falaria em seguida.

O estúdio esvaziou, e Ruki foi o primeiro a sair. Kai deixou o local em seguida, pegando apenas suas baquetas para levar consigo. Aoi obviamente não recolheria o cabo e nem mesmo suas guitarras, afinal ele era do tipo folgado, e se alguém faria isso por ele, melhor. Sobrou, portanto, apenas Uruha, que sempre tratava de guardar bem sua guitarra e todos os cabos; não porque não confiasse na staff, mas porque tinha carinho por aquele momento e por seus materiais. Era como um ritual, era parte do trabalho.

- Qual foi o problema hoje, hum? Nunca vi você tão desligado.

Enrolei um dos cabos do baixo, o deixei separado ao lado da caixa de som, desplugado o que faltava do instrumento. Uruha me olhou como quem pergunta “O que diabos você está fazendo? Você nunca fica para enrolar os cabos”, o que era verdade, pois eu sempre partia com Ruki ou Aoi, mais com a última opção, ultimamente. Não dei bola e continuei com o que estava fazendo, e ele balançou a cabeça, desistindo de lidar com o mais novo perturbado da banda. Sim, porque agora havia dois.

- Sabe, é verdade?

- Que o homem foi a lua? O aquecimento global? A existência do pé grande? – Soltou uma risada abafada pelo nariz e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, o que percebi apenas porque o encarei para tentar fuzilá-lo pela piada idiota. Não funcionou porque ele nem me via.

- Ruki. Ele está doente mesmo, o Ruki?

- O que mais ele tem? E ele está falando com você? – Finalmente me encarou, agora preocupado e...Curioso. Fiquei aliviado: sabia que Kaolu só podia estar brincando comigo. Era óbvio que aquela história era besteira, já que Ruki provavelmente estava estranho com todo mundo.

- Que bom, sabia que Kaolu estava mentindo pra mim. Sei que vai ser difícil pra você saber disso, pra mim também foi, acredite, mas Ruki está com depressão. Há 5 anos, quem poderia imaginar? – O olhei, e foi então que minhas esperanças ruíram de uma vez só. Suas expressões eram quase tão confusas quanto as do cabelereiro mais cedo, só que tinham um ar de indignação muito maior. Me lembrava, na verdade, de quando alguém fazia piada com algo que considero sério demais pra brincar e fico com raiva. Eu estava sendo óbvio, de novo.

- Ficou maluco? Que tipo de babaca você é? Não se faz isso com o sentimento das pessoas. Uma coisa é você fingir que não está acontecendo, outra é fazer graça disso. Pelo amor de Deus. – Ele apressou o serviço que fazia e colocou tudo dentro da caixa da guitarra. Cada minuto que passava servia pra me deixar mais louco e confuso, então não foi surpresa me pegar segurando seu braço quando ele tentou deixar o estúdio, me abandonando com mais perguntas do que respostas. – O que é? – grunhiu, furioso.

- Por favor, me explica. Não estou fingindo nada, eu simplesmente não sei.

Uma espécie de deja vú me atingiu em cheio. Assim como Kaolu, ele ficou indignado, espantado, apavorado e com pena, tudo em apenas um minuto. Ele colheu, ao que me pareceu, bem no fundo dos meus olhos, a certeza de que eu realmente não fazia a menor ideia do que estava acontecendo e que estava perturbado. A falta de informação me atordoava, não compreender como diabos eu podia estar relacionado com aquilo tudo me deixava louco. E Ruki me amando... Não, era impossível.

- O que foi que Kaolu te contou?

- Que já fazem 5 anos e que a culpa é minha. Que ele me ama. – Soltei seu braço. – Porra, Ruki nem mesmo é gay.

- Bem, ele é. E sobre amar você, é verdade também. – Largou a maleta da guitarra no chão, colocando as duas mãos no rosto e esmagando as pálpebras com os dedos longos, tentando acordar daquele susto. – Sabe, até que faz sentido.

- Que bom que faz, será que poderia me explicar? Aparentemente isso faz sentido pra todos, menos pra mim.

- Ele tentou te conquistar – Relutou um pouco antes de prosseguir, medindo as palavras que diria. Mas então pareceu refletir que isso já era de entendimento coletivo e que, se apenas eu estava de fora, tudo bem, ele poderia falar. -, só que você não dava bola. Não era grosso nem nada assim, mas era como se fingisse que nem estava vendo os sentimentos dele, como se tudo continuasse o mesmo. E faz sentido, porque você realmente não sabia. – Colocou o indicador sobre os lábios pálidos da maquiagem bizarra, acompanhando em seguida o comprimento dos cabelos, batiam no peito, e seu pensamento o levou para outro lugar, uma espécie de flashback que ele experimentava mentalmente. Tive que despertar aquela caveira perdida em pensamentos para que ela voltasse ao presente.

- Você não deu bola e ele entrou em depressão. Você é o melhor amigo dele e, quando ele finalmente toma coragem de dizer que te ama, de TODAS as formas possíveis, você simplesmente reage não muito mais intensamente do que uma ameba, quase como se ele nem estivesse ali. Se ele precisasse ser mais explícito e dizer “Eu te amo”, você responderia “Oh... Ru, que tal comprarmos mais sakê?”, como se não estivesse escutando. E o pior é que ele não consegue odiar você porque você sempre tem essa cara de paisagem quando está ignorando ele, um tipo de modo automático irritante.

A cada nova informação que eu recebia, minha cabeça borbulhava mais. Não dava pra administrar aquilo, era simplesmente intragável o fato de que eu estava completamente cego, burro durante todos aqueles anos. Não podia me perdoar, não podia aceitar aquele erro tão terrível com alguém que tanto amo e quero bem. Ruki sempre foi meu tesouro mais precioso, a coisa mais valiosa e, mesmo assim, não fui capaz de perceber tudo aquilo. Como isso era humanamente possível?

- Como é possível que você...

- Não saiba de nada? Olha, isso está ecoando na minha cabeça o dia inteiro, então acredite: eu gostaria muito de saber.

- Escute, preciso ir. – Ele riu nervoso e esperou alguns segundos antes de terminar a fala. – Isso tudo é muito inacreditável pra mim.

Uruha recolheu a maleta e me olhou por um instante, a porta já aberta para ele sair. Antes de fechá-la e me deixar ali, sozinho, sugeriu que eu falasse com Aoi, afinal ele era meu “camarada” e ia saber melhor como me ajudar.

Só que eu duvido muito que alguém possa fazer isso agora, ainda mais aquela cabeça de vento.

XX

Eu não fumo.

Acho que mais da metade – com certeza mais da metade – da nossa equipe, a galera que cuida do áudio e do vídeo das nossas músicas e clipes, os figurinistas, os caras do financeiro e da publicidade, os administradores de redes sociais, desde quem ajeita nossa agenda de shows até a tia do cafezinho, quase todos fumam. Meus companheiros de banda fumam, uns mais que os outros, mas fumam. A maior parte dos músicos de outras bandas que conheço, parceiros, amigos, todos eles mantêm esse hábito. Isso é muitíssimo comum no mundo da música. Mas também é no mundo da arte, da literatura, da ciência, da engenharia, da saúde e no mundo, em geral. Mas eu não fumo.

Só que hoje me parece ser um bom dia para começar.

Tentei encontrar Aoi para pedir um cigarro e que pelo amor de deus ele me explicasse o que estava acontecendo, obrigado. Não o encontrei e imaginei que ele já poderia ter ido embora, só que, além de folgado, ele está ficando velho e preguiçoso, então os vinte minutos que se passaram desde o término do ensaio talvez não tenham sido suficientes para ele conseguir se mandar. Encontrei, no entanto, uma marca vagabunda de cigarros, daqueles que você mantém por último no estoque em caso de extrema necessidade – caso você fume – na mesa da sala de reuniões, aonde geralmente nos reuníamos.

Nossa sala é muito confortável, com uma grande mesa de vidro bem no meio, grandes cadeiras confortáveis na cor bege, um projetor de altíssima qualidade, bem no estilo “não poderíamos ter há 15 anos atrás”. A sala tem uma repartição de vidro que leva a outro cômodo, aonde deixávamos as mochilas, bolsas, casacos e tralhas e aonde também estavam os imensos sofás de couro – também bege – nos quais costumamos “vadiar”. Me lembro de “vadiar” com Ru aqui, bem no meio desse sofá. Da última vez, que para meu espanto percebi ter sido há mais tempo do que eu conseguia lembrar, falamos sobre como ele, embora cansado, estava feliz. Ele falou dos shows, das músicas, da plateia e disse que nunca ficava farto de subir ao palco. Ele não se queixou, não chorou, não lamentou nem me disse que estava tomando tarja preta. Ele simplesmente não disse nada dessas coisas.

Muito menos que me amava.

Com esse pensamento voltando como um soco, agarrei o maço de cigarros que eu sabia ser de Aoi, porque já o tinha visto fumá-los, e sai em direção a sacada que servia como área de fumantes. Mas por algum motivo não fiquei confortável ali, parecia muito exposto. Tomei o caminho que levava até a área de fumantes dos funcionários: já que é meio dia, pensei, ninguém vai estar lá, então posso iniciar meu vício com a mais sincera tranquilidade e privacidade. Só que nada disso aconteceu. Eu entrei, e ele estava lá, fumando encostado na parede de tijolos vermelhos. 



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