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História O novato - Primeiro dia de aula


Escrita por: LimitedClarity

Notas do Autor


História nova, espero que gostem <3

Capítulo 1 - Primeiro dia de aula


Fanfic / Fanfiction O novato - Primeiro dia de aula

Prólogo

Lake City – janeiro de 2007

A noite estava chuvosa, a terra molhada com marcas de pegadas e a casa de campo feita de madeira escura com as luzes acesas e as janelas fechadas. O garoto de cabelos negros e olhos mais escuros vestido com umas botas amarelas, um pequeno casaco e uma calça cumprida, corria para o abrigo para se enxugar e trocar a roupa que havia ficado molhada com as gotas da chuva.

Subia a pequena escada da varanda e retirava o sapato sujo de lama do pé, ao ficar descalço, abriu a porta de correr da casa. Quando entrou, chamou pelos pais que até então estavam preparando o jantar para a família. No entanto, não foi respondido nem pelo pai, nem pela mãe e nem pelo irmão, gritava mais alto, pensando que eles não tinham escutado. O tom de voz fino de criança eclodia pelos cômodos, mas o silêncio permanecia.

O garoto procurava pela família dentro daquela enorme residência, entrou nos quartos, contudo, todos estavam vazios. Passou pela cozinha, pela dispensa, pelo banheiro, pela sala de jantar, não estavam lá. Caminhava com passos desesperados que de início eram calmos, corria com força nos pés ocasionando barulhos altos no chão de madeira.

Naquela busca angustiante, escutou um grito agudo que permaneceu em seu ouvido por um longo momento, vinha do quartinho de tralhas próximo ao sítio. Corria, corria, parecia nunca chegar, parecia estar muito longe dali. O medo possuía o menino e a adrenalina já realizava a função dela. Andava descalço na terra molhada, sujava os dedos e as unhas dos pés, mas não ligava.

As luzes daquela pequena casinha na qual se guardava objetos sem valor e sem utilidade estavam acesas. A janela estava suja com algo que parecia ser uma tinta vermelha, dentro se conseguia ver a sombra de uma pessoa, parecia o irmão mais velho.

Por um momento travou, não conseguia se mexer, a razão dizia para não entrar lá, mas a vontade própria falava o contrário. Em passos calmos e aflitos se dirigia para a porta, sentia o corpo suar frio, colocou a mão na maçaneta e ali permaneceu por alguns segundos a segurando com força. Demorou para criar coragem, empurrou a madeira para frente e entrou.

Observou o local, fechou e abriu os olhos desacreditado. O chão que antes era feito de uma madeira marrom, ficou vermelho de sangue. A mãe e o pai deitados no chão com os corpos gelados e ensanguentados. Um olhar frio permanecia na face do irmão mais velho que olhava o garoto de cima. Ele segurava uma faca que pingava o líquido vivo no taco.

- O que aconteceu? – Disse a criança com lágrimas nos olhos.

- Você é muito inocente. – Falou o irmão mais velho com o rosto sujo de sangue.

- Quem fez isso?

- Não é óbvio? – Estava com um sorriso de lado malicioso.  

- Por que?! Por que?! – Gritava indignado, a dor que sentia naquele momento era insuportável, queria morrer também.

- Porque eu quis. – Lançava um olhar psicopata. – Você terá que conviver com isso, com esse ódio e essa dor que está sentindo agora. Me odeie, não se esqueça de mim, carregue esse rosto na sua memória, você passará por muitas coisas agora. O seu pesadelo só está começando irmãozinho.

Depois do discurso ameaçador, o irmão abre a porta e some na neblina formada pela chuva, com a escuridão é impossível vê-lo. O garoto ajoelhado no chão sem forças para ficar em pé grita desesperado, abraça os pais já mortos se sujando com o sangue escorrido.

 

Capítulo l

Primeiro dia de aula

Lake City – setembro de 2016

Despertador toca às 6:00 horas, tento adiantá-lo para poder dormir mais um pouco, mas escuto minha mãe gritar.

- Você vai se atrasar!

Vou sentir muitas saudades das férias, nunca vou entender essas pessoas que sentem falta da escola.

- Já levantei. - Até minha voz demonstra preguiça.

Nessa época de chuva e de frio dormir é a melhor coisa, ficar debaixo das minhas cobertas e colocar um edredom por cima sempre foi um prazer para mim. Porém, hoje começa as aulas do último ano da escola e o meu inferno só está começando.

Levanto aos poucos, sento na cama e permaneço ali por alguns minutos, quase durmo de novo naquela posição.

- Você já saiu da cama Sakura? – Grita minha mãe do primeiro andar.

- Já mãe.

Saio do meu quarto e vou para o banheiro, me observo no espelho, meu cabelo está bagunçado e sujo. Tiro minha roupa e a jogo no chão, entro no chuveiro e começo a me lavar. Amo tomar banho, mas é uma tortura fazer isso às 6:00 da manhã. Depois de ensaboar meu corpo e passar o shampoo e o condicionador no meu cabelo, saio do box, me enxugo, passo a toalha no cabelo e entro no meu quarto. Não faço ideia de qual roupa vou usar, nunca fui vaidosa para ir na escola, na verdade, nunca fui vaidosa. No meu armário só predominam roupas estranhas e com cores escuras, não gosto de fazer compras, mas estou precisando.

Pego a primeira blusa e calça que encontro e as visto, calço meu all-star preto e desço as escadas para comer.

- Bom dia.

- Bom dia mãe.

Minha mãe trabalha em um escritório de advocacia, não tem muitos clientes e precisa fazer outras coisas para conseguir nos sustentar, o dinheiro que ganha é bem suado. Ela acorda todo dia muito cedo e sempre se arruma bastante, gosta de parecer uma mulher independente e vaidosa para as pessoas. Os cabelos cor de mel, os olhos verdes e o batom vermelho destacando os lábios pequenos dela a faziam chamar atenção de muitos homens cinquentões solteiros – e até casados.

De manhã, ela é a primeira a acordar e a arrumar a mesa do café, me sento para comer, ela já havia terminado e estava quase saindo para trabalhar.

- A Ino vai te buscar para irem juntas?

- Sim, mandei uma mensagem para ela, disse que ia chegar aqui umas 7:00.

- Tudo bem, eu já estou saindo, até de noite filha. – Fala e me dá um beijo no rosto deixando uma marca na minha bochecha com o batom.

- Até. – Digo passando a mão no rosto limpando a marca. 

Ovos mexidos, torradas, biscoitos, leite, achocolatado, café, manteiga, a mesa está cheia de comida. Não sou do tipo de pessoa que se empanturra de manhã, no entanto, preciso comer alguma coisa para não ficar com a barriga roncando depois. Coloco um pouco de café na xícara, pego uma torrada e passo manteiga nela, dou uma grande mordida e o resto jogo fora, tomo o líquido todo rapidamente e, para não deixar para minha mãe arrumar tudo depois, guardo as coisas que estavam em cima da mesa no armário, lavo o prato e o copo.

Subo as escadas e vou para o banheiro escovar os dentes, será o primeiro ano que eu vou para a escola sem aparelho dentário. Lembro como se fosse ontem, tirando aquela coisa de metal, passava a língua nos meus dentes ‘’nus’’ e tinha a sensação de ter os perdido.

Depois de lavar a minha boca, reparo meu rosto no espelho, queria passar pelo menos um rímel e uma base para não ir tão avacalhada. Sempre tinha dificuldade para passar aquele produto nos meus cílios, saía um milhão de lágrimas e borrava tudo, por isso, acho que vou passar só uma base mesmo. Quantas indecisões logo de manhã, primeiro a roupa, agora isso.

São quase 7:00 a Ino já deve estar chegando, melhor eu esperá-la lá fora sentada na varanda. Já fechando a porta escuto uma buzina atrás de mim.

- Oie! – Grita a loira.

- Olá. – Digo dando um sorriso amarelo.

- Entra logo, não quero atrasar, quero pegar as mesmas aulas que você!

Na escola aprendemos a chegar cedo para conseguir vagas nas aulas menos chatas, tipo história, só quem chega atrasado pega essa matéria.

- Preciso abastecer o carro. – Diz já virando a rua para entrar no posto de gasolina com aquele carro amarelo mostarda. Ino adora chamar a atenção, até o carro dela é chamativo, loira com os cabelos longos presos em um rabo de cavalo, um corpo escultural e roupas provocativas, minha melhor amiga definida em poucas palavras.

Depois de encher o tanque, voltamos para o caminho em direção à escola.

- Ai que saco! – Grita Ino socando o volante.

- O que Ino? – Digo espantada.

- Olha para frente Sakura, olha esse congestionamento.

- Calma, não deve demorar.

Não deveria ter falado aquilo, as aulas começam 8:00 horas e lá estávamos nós 8:10 naquela imensa avenida presas no trânsito.

- Com certeza vamos pegar a aula de história. – Fala a loira desapontada.

Os carros andavam devagar, mas já estávamos quase na porta da escola. Entramos no inferno, os corredores vazios e as vozes dos professores predominantes. Quando pegamos a grade escolar vimos que a maior parte das matérias são iguais, tirando uma: história avançada. Eu havia pegado a pior matéria e com o professor mais mal-educado de todos.

- Boa sorte amiga. – Diz debochada.

Só reviro meus olhos, teria que acostumar meus ouvidos com aquela voz grossa e intimidadora do professor Madara, quanta má sorte para um dia só.

- Até o almoço! – Fala piscando um olho.

- Até. – Digo com uma voz de tédio.

Abro a porta da sala e me deparo com a turma, todos me observam.

- Licença professor. – Abaixo minha cabeça com vergonha.

O professor de cabelos longos negros virado para o quadro escreve sobre a colonização dos Estados Unidos. Não sei se vou conseguir suportar essa aula.

Levanto minha cabeça para procurar alguma carteira disponível, a sala está tão cheia, como alguém pode escolher participar dessa aula? Todas estão ocupadas na frente, bem como no meio, o jeito vai ser sentar no fundo. Na segunda fileira ao lado das janelas, penúltima mesa, parece que é única vazia. Ando no corredor formado pelas cadeiras, reparo nos rostos, são todos conhecidos. Distraída observando os meus colegas, não vejo uma mochila na minha frente, quando ia me desviar já era tarde, tropeço e caio de joelhos no chão junto com a minha bolsa.

Aqueles que estavam virados para frente anotando o registro do quadro olham para mim, meu rosto fica completamente vermelho de constrangimento, alguns riram da situação, outros só me lançavam um olhar de pena, sabiam o quão vergonhoso era aquilo. Depois de alguns segundos, me recomponho do tombo, levanto normalmente e continuo andando até chegar na minha carteira.

No momento em que sentei, sinto um alívio percorrer o meu corpo, o pior já havia acontecido, contudo, espero não ter que passar por mais algum caso humilhante.

- Machucou? – Pergunta um garoto sentado na minha frente, um rosto desconhecido para mim. Cabelos lisos e pretos, olhos mais escuros, uma boca pequena e delicada, além de um olhar intimidador.

- Nã-não, tá tudo bem. – Digo constrangida, ele era bem bonito.

O novato vira para frente e volta a fazer as anotações dele.

Quando a aula de história acabou o sinal para o intervalo havia tocado. Na cantina pego somente uma maçã para comer e sento em uma mesa com a Ino para conversarmos.

- Você viu o novato que entrou? Ele é lindo, super misterioso, quero ele na minha listinha. – Diz Ino rindo maliciosa.

- Faço aula de história com ele. – Viro a minha cabeça a procura dele na cantina, não estava sentado em nenhuma mesa. No entanto, o encontro encostado na parede próximo à máquina de lanches, segurava uma lata de coca-cola na mão. Ele era tão fechado.

Sem perceber, fico o encarando. Ele levanta a cabeça e me olha nos olhos, estava me observando da mesma forma que eu observava ele. Com vergonha viro o meu olhar e volto a conversar com Ino. 

- As garotas já estão falando dele. Será que ele gosta de loiras?

Ino gostava de todos os tipos de garotos, de jogadores de futebol até nerds, nada escapava do desejo dela.

O sinal para o próximo horário de aula toca.

- Não sei Ino, tenho que ir.

- Aff – Reclama me olhando com cara de tédio. – Ah, mas antes, tenho que te avisar, não vou poder te deixar em casa hoje tá? Até depois amiga. – Dá uma risada e pisca o olho para mim.

Ótimo, vou ter que me virar para chegar em casa.   

No final da aula saio da escola correndo para não pegar o segundo ônibus que passava cheio. Dou passos rápidos até o ponto, desesperada, não quero ter que ir naquela lotação abafada de pessoas encostando em mim com a pele suada.

Quando vejo aquele enorme transporte público de cor azul chegando lá na frente, vejo que o novato caminha na minha direção. Ele anda com passos calmos, as mãos ficam no bolso e a mochila jogada para o ombro direito, o jeito dele me atraí de alguma forma.

Subo as escadas para entrar dentro do ônibus, ele sobe também, fico um pouco envergonhada, tento fingir que não o vi. Passo pelo trocador e pago minha passagem, ainda bem que tinha conseguido pegar o mais vazio, a maior parte das cadeiras estão desocupadas. Sento em um banco perto da janela, o veículo começa a se mover.

Na abertura da janela, consigo ver o céu, as nuvens cobrindo o Sol, as gotas de chuva batendo no vidro. Aqui em Lake City o tempo é sempre assim, nublado e chuvoso.

Mudo minha atenção e começo a procurar onde o aluno novo havia sentado, ele conseguia despertar uma curiosidade em mim, era como se eu quisesse ver todos os movimentos dele. Estava em pé na minha frente, segurava a barra de ferro para se apoiar, ele me observava e antes que pudesse encará-lo, viro minha cabeça de novo para a janela. Por que ele ficava me olhando?

Havia chegado no ponto mais próximo da minha casa, quando me levantei da cadeira, percebi que o garoto me seguia com os olhos. Antes de descer as escadas olho para ele nos olhos, por um momento, acho que o vi sorrir.

De noite minha mãe chega, junto com o nosso jantar. Dentro do meu quarto fico mexendo no meu celular conversando com a Ino.

- Filha, desce para comer.

- Já vou. – Digo me levantando, estava com muita fome.

Quando chego na cozinha, vejo a mesa toda pronta. Ela trouxe comida chinesa, nossa preferida.

- Como foi na escola hoje?

- Normal.

- Ino te buscou?

- Sim, mas tive que voltar de ônibus porque ela não ia poder me trazer.

Um silêncio permaneceu na cozinha, eu e minha mãe não tínhamos assunto, não éramos muito íntimas, não sabíamos os interesses uma da outra, nem o que gostávamos de fazer. Isso tudo por causa da atenção dela sempre voltada para o trabalho, era muito ocupada, inclusive depois do papai morrer, com isso, as contas dobraram.

Meu pai era um grande homem, não me lembro muito bem dele, mas sei que sempre esteve presente e sempre ajudou minha mãe. Nós duas sentimos muita falta dele, a presença de uma figura masculina aqui afeta em muita coisa. Me recordo das visitas que fazia para ele no hospital, ele teve câncer no fígado, fez tratamento, porém, o tumor era muito grande e acabou o matando.

Depois de comer, lavei as vasilhas para ajudar a minha mãe que estava muito cansada. O relógio marcava 22:00, antes de me deitar fui tomar um banho.

A água escorria pelo meu corpo, viajava nos meus pensamentos, lembrava do aluno novo e do seu jeito atraente de andar e de agir, ele me deixava curiosa sobre a vida dele. Aqueles cabelos escuros, os olhos intimidadores, ele era tão dissimulado, mas para mim, era o truque dele para atrair as garotas bobas que caiam na ‘’teia’’ dele.

Deito na minha cama, olho para o teto do meu quarto e observo os adesivos que brilham no escuro com formato de estrela, estão grudados ali desde sempre. Viro para o lado e fecho os meus olhos, penso em como hoje havia sido um dia cansativo para o começo das aulas, tenho saudades da minha infância. 


Notas Finais


Pretendo postar mais capítulos, obrigada por ler <3


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