Eu não queria estar ali, muito menos cruzar com ele, principalmente agora, depois que ele passou noventa minutos sentado no banco de reservas com uma cara nada boa. Sei que minha função é registrar o jogo, mas confesso que neste prestei muito mais atenção no banco, e para piorar um pouco as coisas minha macumba resolveu funcionar: “O PSG só vai fazer gol quando o Cavani entrar.”
Me posiciono no corredor que leva ao vestiário enquanto os jogadores vão se retirando do campo sem pressa, conforme eles passam faço algumas fotos e para eles parece que foi apenas mais uma derrota, alguns até passam rindo. Mas eles não tem o mesmo ponto de vista que eu: Cavani ficou o jogo todo no banco com cara de poucos amigos, minha macumba para o Di María não fazer gol resolveu funcionar e eles perderam o jogo de dois a zero. O dia está indo de mal a pior.
-Temos que conversar. - David me puxa pelo braço.
-Tenho que trabalhar. - Balanço a câmera em frente ao seu rosto.
-Resolvo isso. - Ele tira a câmera de minhas mãos e se dirige até um segurança. - Sabe bater fotos né? - O homem assente. - Quero que registre cada jogador que passar por aqui, logo eu volto pegar a câmera.
-David! Esse é o meu trabalho. - Reclamo assim que ele volta para perto de mim.
-Sim, e você vai fazê-lo assim que terminarmos de conversar.
Ele me puxa até uma porta que há ali perto, a qual não tem nenhuma indicação no lado externo e eu mesma não consigo identificar para que a sala serve, já que a mesma possui apenas alguns bancos dispostos por seu interior e cheia a produtos de limpeza que não me agradam nenhum pouco.
-O que quer? - Pergunto um pouco irritada, pois quero sair do estádio o mais rápido possível e por culpa dele vou demorar mais anda.
-Não vai embora.
-Quê?
-Sei que você e o Cavani se desentenderam, e pelo que ele falou você ficou bem chateada com isso, mas não deia essas coisas te fazerem fugir, Paris tem muito mais à te oferecer.
-David, eu…
-Não adianta dizer que não está pensando em largar tudo, te conheço o suficiente para saber que você faria isso, e se quer saber, acho que ele sente sim algo por você, mas deve ter uma boa explicação pra ele ter ficado quieto.
-Ele te falou e porque, e já que você está se empenhando em me manter por aqui, acho que deveria me contar.
-Não vou falar nada, quero que conversem, e para isso acontecer você tem que ficar.
-Eu não vou embora.
-Eu sabia que o Edison não seria mais um. - Ele fala baixo, para mim não escutar, mas ouço e isso me faz por um sorriso bobo no rosto. Realmente ele não era só mais um, mas ele se fez ser.
-Não vou ficar por ele.
-Oi?
-Eu decidi que aqui seria o último lugar para onde eu fugiria, e confesso que repensei essa minha decisão milhões de vezes, mas assim que cheguei eu notei que se eu não conseguisse montar minha vida aqui, eu não conseguiria em lugar nenhum.
-Então quer dizer que daqui você não sai e ninguém te tira?
-Mais ou menos isso.
-Ah ruivinha. - Ele se amina e me abraça. - O Edi vai ficar muito feliz em saber isso.
-Não quer mesmo me falar o que sabe?
-Não. Já disse que vou deixar vocês conversarem.
-Não sei se quero falar com ele depois de ontem.
-Para de drama, nem foi tanto assim.
-Foi sim.
-Se me disser que chorou eu te bato.
-Eu não digo, mas você vai atrás da minha câmera.
-Ok madame.
David sai da sala e confesso que essa conversa me fez ficar mais segura quanto a seguir minhas próprias promessas, e como ele disse: Daqui não saio, e daqui ninguém me tira.
-Então quer dizer que não vai pra Tóquio? - Me viro em direção a voz e vejo um Zlatan de braços cruzados me encarando.
-Como assim?
-Bom, seguindo o ritmo das suas mudanças eu concluí que o próximo destino seria Tóquio, mas vi que mesmo brigando com o idiota lá vai continuar por aqui.
-Como você sabe sobre isso?
-Hoje em dias há modos mais seguros de se proteger um passado obscuro do que em um caderninho. - Ele descruza os braços e então vejo em suas mãos o meu caderno preto de capa de couro aonde costumo escrever as coisas das quais tenho medo de esquecer. - Assim que encontrei pensei em te devolver, mas aí uma foto do nosso querido zagueiro saltou para fora e eu tive que matar a minha curiosidade. O que você faria com uma foto de David Luiz?
-Você leu? - Não, ele não pode ter lido, são minhas palavras, é o meu passado o qual eu não quero que qualquer um fique sabendo.
-Tudo. - Ele se movimenta andando ao meu redor, como se eu fosse sua presa. - E confesso que achei tudo muito interessante. Te achei interessante. Não se encontra mulheres que seguem em frente dessa forma em qualquer esquina, mas principalmente, pelos seus relatos me parece que você mantêm uma vida bem apimentada, digamos assim e isso me interessa muito, então se aquele Uruguaio idiota não te quiser pode ter certeza que eu quero.
-Porém eu não te quero.
-A cada momento você se torna mais fascinante. - Ele para em minha frente e com a mão em meu queixo levanta meu rosto.
-Sou uma pessoa extremamente fascinante, porém não sou para você.
-Estou adorando ser dispensado por você, mas fique sabendo que não vou esperá-la por muito tempo.
-Não quero que me espere.
-Claro, porque você vai se entregar agora.
-Não, apenas não quero que me espere e espero que desista dessa ideia maluca, pois tenho algo bem melhor.
-Melhor que Zlatan? Impossível.
-Não se ache tanto, você pode até se o fodão dentro de campo, mas é apenas nele mesmo.
-Acha que pode falar assim comigo? - Ele segura me braço com certa força. Acho que o deixei irritado.
-Devo, pois alguém tem que te mostrar que o mundo não gira ao seu redor de vez em quando.
Me solto dele e saio da salinha remendo. Não acredito que falei daquele jeito com Zlatan Ibrahimovic, ele dá medo só de olhar.
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