História O passado - Capítulo 6

Camilo sentou-se no sofá, esperando que a mais velha fizesse o mesmo. Via no semblante dela que aquela conversa não seria fácil e que ela relutava se lhe contaria a verdade ou não.

A rainha sentou-se em frente ao filho, não sabia por onde começar a contar-lhe todos os horrores que carregava em seu passado, pior ainda, não queria que o filho sentisse pena dela e nem tão pouco que o mesmo se sentisse culpado, por tudo que ela viverá na mão do pai dele.

- Meu filho, eu quero primeiro que você saiba que eu te amo muito, e sempre te amei, desde o momento que soube da sua existência

Ele estava tentando entender por que ela resolveu começar dessa forma, falando que o amava

Ela tomou fôlego e prosseguiu

- Quero que você saiba que você não tem culpa de absolutamente nada e de antemão te peço perdão por ter sido fraca, por não ter lutado

Aquilo o estava deixando confuso, angustiado, mas resolveu deixar ela tomar o seu tempo

- Te peço perdão também por tirar de você a imagem de bom pai que você tem de Osório, a admiração que você tem por ele, na verdade ele nunca fora o que você imagina.

Camilo não gostava de ver a forma a qual a mãe se referia ao pai, seu pai, homem que ele tanto amo e admira.

Mas continuou se mantendo calado, não queria dar motivo a ela para desistir de lhe contar o motivo dela ter te feito tanto mal e por ser essa mulher fria.

As lágrimas desciam pelo rosto da rainha do café, e ele ficou sem entender o que de tão grave o pai poderia ter feito pra causa nela essa tristeza, essa angustiado, esse descontrole emocional. Rara foram as vezes que ele presenciou aquela cena, ver a mãe chorando. Julieta Bittencourt não era dada a emoções, ele sabia.

Ele esperou ela prosseguir

- Eu conheci seu pai eu era ainda muito nova, como toda menina da minha idade sonhava em casar, ter filhos - percebeu que ela se perdia nas lembranças - quando conheci Osório. Ele era amigo do meu pai, ambos compartilhavam interesses e por esse motivo ele sempre estava na minha casa. Um dia meu pai me chamou para conversar, ele me falou que estávamos entrando em falência e que a única solução era eu me casar com seu pai, e o pior, ele já havia concebido.

Naquela noite chorei horrores. Nunca pensei que meu pai seria capaz de me trocar por uma dívida, de me dar de mão beijada, e ainda por cima a um homem mais velho, que eu mal conhecia. Mas como filha obediente resolvi acatar sua ordem - Camilo ouvia tudo atentamente, mas não entendia onde a mãe queria chegar com aquela história - um dia resolvi tomar coragem e fui a casa de Osório sem que ninguém soubesse para cancelar o compromisso que meu pai houverá feito com ele. - ela engoliu em seco e prosseguiu - fui lá para que ficasse claro que não aceitaria eles me envolverem nos negócios deles, e muito menos me usarem como moeda de troca. Seu pai não aceitou, transformando daquele dia a minha ruína. O meu fim. Osório me violentou, abusou de mim, destruiu a minha vida. Tirou de mim tudo de bom que eu tinha - lágrimas caiam pelo rosto dela de forma copisiosa, Camilo custava a acreditar naquilo que acabará de ouvir. Como poderia alguém que ele amava tanto ter causado tanto sofrimento em sua mãe?

- Ele me machucou da pior forma, para que eu não tivesse escolha a não ser me casar com ele. Me sujou com tuas mãos imundas, tomou meu corpo para si sem nem pedir permissão. Seu pai era sádico, vivia me machucando, me humilhando, foram anos a fio nessa tortura, nessa infelicidade, nessa prisão.

Camilo andava para lá e para cá na sala, sem conseguir acreditar em tudo aquilo que estava ouvindo

- Até que ele morreu, e eu finalmente pude respirar aliviada. Apesar de toda a dívida que ele houverá me deixado, nada se compara a não ter mais sua presença assombrosa na minha vida. Eu tive que começar do zero, me erguer para ser quem sou hoje, e você não sabe meu filho como foi difícil abrir mão de você.

Agora você entende meu filho, porque escondi isso de você durante todos esses anos?. Queria te proteger, te poupar de todo sofrimento, de toda dor, toda decepção - disse em meio as lágrimas, segurando a mão do filho q logo dei um passo para trás se afastando do contato

Percebeu que Camilo estava sem reação, com o rosto pálido.

- Preciso ir embora - disse pausadamente, quase em um sussurro. - preciso assimilar isso tudo sozinho - disse indo em direção a porta

- Meu filho, espere - pediu, mas já era tarde, ele já havia ido.

Ela sentia que houverá tirado um peso da sua vida contando a verdade a Camilo, mas por outro lado tinha medo que o filho nunca a perdoasse.

Sabia que Camilo tinha o direito de saber, não podia mais evitar, na verdade ter contado a verdade ao filho havia feito enterrar de vez o passado, se libertar.

Então por que se encontrava ali, no meio daquela sala, chorando?