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História O Plano Perfeito - (James e Richard) - A Verdade de Uma Traidora


Escrita por: RebelD

Notas do Autor


Muito obrigada por favoritarem! Estou muito contente com a resposta de vocês tanto ao comentar quanto ao favoritar.
Continuem me motivando, é muito importante para mim.

Capítulo 31 - A Verdade de Uma Traidora


She's Thunderstorms - Arctic Monkeys

O tom do trabalhador era duro e tentava parecer o mais indiferente possível. Ela demorou alguns segundos para entender aquela reação. Ele a ajudou da última vez, por isso decidiu vir procura-lo, só havia se esquecido de um único detalhe. Agora não era mais uma simples garota tentando descobrir coisas sobre Howard Palentir, ela era a namorada do filho dele.

            - Agora que está mais calma vá embora! – falou sério quase chegando a cuspir.

            - Eu... – era difícil escolher as palavras que o fariam acreditar. – Sei que deve se sentir um idiota por ter dado ouvidos a uma garota que agora está ao lado do cara mais imbecil do mundo. – respirou profundamente olhando-o atenta. – Mas sou aquela garota que veio aqui procurando respostas, ainda estou assustada.

            Abdel não deu tempo para que ela pudesse continuar sua explicação. Deu às costas e se enfiou no meio da multidão. Aos olhos de todos Mistye poderia representar duas coisas: a linda e perfeita namorada dos sonhos de James, ou a mentirosa que engana as pessoas para conseguir o que quer.

            Levantou-se com dificuldade sentindo tontura e se enfiou no meio das pessoas para chegar ao trabalhador e tentar, continuar tentando. Conseguia vê-lo, conseguia ouvi-lo, mas não conseguia alcança-lo.

            - A minha paciência é curta, estou avisando. – alertou-a sem olhar para trás.

            Depois de passar para o outro lado da rua onde ficava a tenda de joias, apoiou-se na mesa e manteve sua respiração controlada tentando de todas as formas não perder o juízo mental e gritar com ele. Com a cabeça baixa sentindo gotas de suor escorrerem por seu corpo inteiro, ficou parada com os olhos fechados e as mãos firmes na toalha que cobria a bancada da tenda. Uma mão trêmula pousou sutilmente em seu ombro, em seguida ouviu a voz arranhada e falha de uma senhora.

            - Criança, não deve sair sem rumo em um dia como este.

            Olhou a dona da tenda com dificuldade e visão turva, a temperatura de seu corpo estava muito alta, ela temia ter abusado de sua capacidade. A mulher de idade cheia de rugas e expressão marcante apresentava um pequeno sorriso e o corpo coberto por trapos enrolados ao longo do corpo.

- Vou ficar bem, eu só preciso-...

            A mão tremula foi retirada de seu ombro indo de encontro às costas de Abdel que estava a poucos centímetros das duas organizando os produtos, bateu com uma força repreensiva ao corpo dele que se encolheu e respondeu com uma careta para a mulher.

            - Quantas vezes vou precisar dizer para ser educado com os clientes.

            - Ela não é cliente! – respondeu voltando-se para a senhora.

            - Claro que é, minha mais bela e importante cliente.

            Mistye tentava prestar atenção nos dois, mas sua pressão estava baixa e não tinha forças nem para levantar a cabeça. Abdel bufou e levantou-se tardando alguns minutos até que voltou com um copo de água e uma caixa de madeira para a garota sentar.

            - Obrigada. – falou baixo sem esperar um milésimo de segundo para colocar o copo na boca e despejar o líquido que a esfriou por dentro.

            Permaneceu calada enquanto tentava se manter consciente. Foi uma péssima ideia ir ao mercado naquele dia escaldante. Muito imprudente e impulsivo! Ela tinha que parar de agir assim, sem planejar nada, só com a esperança de que a ajudassem sem mais nem menos.

            Abdel e a senhora perceberam o conflito interno que Mistye travava olhando fixamente para o chão com uma expressão carregada e cheia de culpa. A mão trêmula pousou novamente ao ombro da menina e veio acompanhada de um sorriso.

            - Não se preocupe, criança. Abdel não irá tratar você assim novamente.

            - Desculpem-me por incomodar mais uma vez, mas eu realmente não sei a quem recorrer. – Mistye falou baixo e sem tirar os olhos do chão.

            - Tá... – Abdel pronunciou áspero. – Chega de explicações, fala o que veio fazer aqui e eu decido se vou ajudar.

            A senhorinha olhou feio para ele, mas percebeu que o rapaz iria fazer o melhor que pudesse para a sua “mais bela e importante ciente”. Voltou a ficar atrás da bancada da tenda e deixou que os outros dois conversassem.

            Abdel agachou chamando a atenção de Mistye para ele. Os dois se encararam por alguns segundos em silêncio enquanto um tentava descobrir o que se passava na mente do outro.

            - Sei que sou horrível, sei que não é certo e algum dia vou me arrepender por isso. – ela disse concentrada no rosto dele. – Tudo o que eu mais faço é mentir e atuar, sou uma atriz, não sei por que decidi fazer antropologia e não artes cênicas.

            Abdel ainda sério balançou a cabeça em negativo e cortou a fala dela.

            - Me explica direito o que está acontecendo Mistye, ou não vou poder fazer nada por você.

            - Tenho um trato com James Palentir. Nosso relacionamento é... não sei como chegamos a isso, mas... uma estratégia política de todas as formas que puder imaginar. Ele me usa como troféu de exibição e eu estou aproveitando a impunidade e a acessibilidade de estar namorando um Palentir. Quero acabar com todos eles, mas preciso de provas e de informação, mesmo que isso signifique fazer algo terrivelmente errado.

            - Você...?

Abdel ficou paralisado olhando desconfiado para ela, mas Mistye tinha os olhos cheios de lágrimas e uma expressão dura de quem sabe que está errada, mas não vai desistir por nada. Ele achava que ela não estava mentindo, mas ainda desconfiava.

- Se estiver mentindo para mim, garota! – fez uma pausa e diminuiu o tom. – Juro que vou te levar pessoalmente até as portas do inferno.

- Não estou mentindo e de alguma forma você sabe. – respondeu prontamente e firme.

- Então a garotinha assustada se tornou uma competidora à altura de um Palentir! Isso me deixa ao mesmo tempo com desgosto e admiração por você. Está dormindo com ele? – perguntou intrigado.

Mistye fez uma careta achando que era brincadeira, mas quando percebeu que era sério, quase o agrediu por ser tão indelicado.

- Não me ofenda! – respondeu ríspida. – Acho que não fui clara sobre como isso funciona. James sabe que não gosto dele, ele também não gosta de mim. A questão é que fingimos estar apaixonados para o mundo e sorrimos na frente das câmeras. Eu sequer sei onde ele está agora, ou do que ele gosta.

            - Não está mais aqui quem falou. – o rapaz sentou-se no chão com a expressão mais relaxada. – Qual é o problema, então?

            - Eu não sei exatamente o que estou procurando. Parece que nada do que tem dentro do Campus é realmente relevante. – respondeu tomando fôlego. – Eu peguei alguns jornais pra analisar, mas o conteúdo é completamente à favor do empresário. Parece que os únicos escândalos que podem ser atribuídos à Howard são os de James. Eu não sabia que ele causava tanto problema.

            - Como não? Aquele cara é o maior imbecil do país. – Abdel disse sarcástico. – Desculpa, eu esqueço que você é estrangeira. Não adianta procurar na biblioteca ou nos livros que estão à disposição do público em geral. Não acho que deixariam algum material que pudesse ser usado contra eles. – refletiu olhando para os pés de Mistye que ainda escorregavam dentro do calçado. – Você vai a eventos com ele, não é?

            Mistye acenou em positivo.

            - Tente participar das reuniões de negócios também, ou pelo menos, preste atenção nas conversas que ele tiver com empresários e pessoas desse tipo. Eu vou ver o que posso fazer de fora, mas não prometo nada. – levantou-se e estendeu a mão para ela. – E mais uma coisa. – continuou temeroso. – Tente não se apaixonar.

            Mistye almoçou uma comida estranha em um pequeno restaurante disposto dentro das construções antigas e desbotadas. Era uma sopa de textura viscosa com gosto forte acompanhada de frango. Molokhia era a planta que cozida gerava a sopa que continha o mesmo nome. Se não estivesse com tanta fome teria cuspido de volta no prato. Era uma comida muito pesada para um dia tão quente.

            Custou terminar a refeição, custou mais ainda ir embora do centro da cidade. Ela não estava passando bem, mas estava tão concentrada no que faria em relação a James que decidiu ignorar seu estado de saúde. Abdel havia sido gentil em se dispor a buscar alguma solução, mas os conselhos dele não eram nada que Mistye já não tivesse pensado. O problema é que na prática, estar presente em reuniões e conversas importantes era muito mais difícil do que arrancar a verdade da boca do metidinho. As reuniões eram particulares e confidenciais, nem o próprio James podia participar de algumas. Seria realmente difícil entrar em contato com alguma ocasião do gênero.

            Caminhando zonza até a porta do dormitório, procurou a chave jogada dentro da bolsa, que mesmo pequena, brincava com a capacidade de Mistye de encontrar o objeto. Ela se apoiou em um dos braços com a mão espalmada na parede, fechou os olhos e, ao abri-los avistou uma pessoa borrada passando pelo corredor não muito longe. Com a mão livre alcançou a pessoa que passou ao lado dela e tentou se manter em pé.

            - Pode me ajudar a pegar uma chave aqui dentro? – estendeu a bolsa para a pessoa sem parar de olhar os próprios pés. 

            Ouviu o barulho de chaves. Em seguida a mesma pessoa a segurou e a guiou para dentro do dormitório, com firmeza e cuidado.

            Mistye sentou-se no sofá tentando recuperar os sentidos. Respirou profundamente e cerrou as pálpebras novamente para melhorar a visão. Alguém pegou sua mão. Era um homem com dedos firmes. Deu a ela um copo com água gelada e a observou tomar o líquido.

            Poucos minutos se passaram durante o tempo em que Mistye recobrava os sentidos e estabilizava sua temperatura. Mas foi um tempo lento e silencioso ao qual a pessoa ao seu lado estava tensa a espera de alguma resposta. Ao abrir os olhos avistou a televisão desligada à sua frente, desceu o olhar para o copo em mãos - as mãos estavam extremamente vermelhas e trêmulas -, viu joelhos finos encobertos por jeans negro e gasto e, por fim, as botas de couro. Aquelas botas! Ela já saia quem estava ao seu lado, mas como se precisasse de uma confirmação, direcionou seu olhar para o rosto pálido dele.

            - Você está bem? – Richard perguntou com a expressão facial carregada.

            Mistye continuou estática olhando para os profundos olhos azuis que tanto evitara. Ela não sabia se agradecia, ou se o mandava embora.

            - Sim, vou ficar bem. – respondeu sem piscar.

            - Não. Eu quero saber se está bem agora.

            Ela não respondeu, só ficou olhando para ele fixamente. Estava feliz. Mas como podia estar feliz? Ela queria que fosse ele, mas não imaginou que seria. Ela queria que ele continuasse ali, mas sabia que a paz não duraria.  

            - Se não responder, eu vou ficar aqui até alguém chegar.  – ameaçou mantendo o tom constante.

            Mistye ia respondeu, ia mesmo. Mas com aquilo ela decidiu não falar nada só para ver se ele ficaria ou iria embora. Deitou no sofá e fechou os olhos. Podia ouvir o som das botas de couro batendo sutilmente contra o piso. Ele estava nervoso, balançando as pernas e batendo os pés no chão por não saber como reagir ao silêncio.

            - Escuta! – pronunciou um pouco alto demais. – Você está me ouvindo, não está?

            Richard começou a perder a paciência. Levantou do sofá, se afastou, depois voltou para perto do objeto e se ajoelhou para ficar próximo de Mistye. Inclinou-se sobre ela para ver perfeitamente cada centímetro de seu rosto. Ela abriu os olhos lentamente e suspirou.

            - Agora, acho que estou melhor. – respondeu sussurrando.

            O rapaz passou a mão pelo rosto atordoado e soltou o ar preso nos pulmões.

            - Mas que merda, Mistye! – gritou olhando para cima. – Não pode agir como se estivesse prestes a desmaiar e dizer que está bem.  – direcionou a visão de volta para ela, mais calmo.

            Mistye sentou-se devagar e sorriu minimamente, antes de ficar cara a cara com Richard que ainda estava ajoelhado.

            - Obrigada. – disse mantendo o pequeno sorriso educado.

            - Está doente? Prestes a morrer? Foi mordida por algum lobo do deserto? – perguntou sorrindo. – Porque, se eu me lembro bem, faz dois meses que não fala comigo, nem olha pra mim.

            - Eu sou educada, Richard. Você me ajudou, eu agradeço. – concluiu direta.

            - Então, acho que eu vou pro meu dormitório. – falou levantando.

            Mistye levantou-se também, ato que fez Richard parar e prestar atenção nela.

            - Se importa de esperar alguém chegar? Eu não sei se pode acontecer de novo, é a segunda vez. Vou ligar pro Charlie. – pediu antes de pegar o celular e mandar uma mensagem para o colega.

            Richard ficou olhando para ela surpreso. Mistye passou por ele e foi até o quarto. Encostou a porta atrás de si e se olhou no espelho do guarda-roupa colocando a mão no rosto.

“O que eu estou fazendo?”

            Foi a pergunta que se fez mentalmente enquanto olhava sua imagem refletida no espelho. Ela queria a presença do garoto que esperava na sala, mas ao mesmo tempo, queria gritar com ele por não ser capaz de sentir indiferença. Será que ainda gostava dele? Ou só não havia ficado claro que ele não era bem como ela imaginava. Colocou a bolsa em cima da mesinha de canto e deixou a janela aberta para entrar um pouco de claridade no cômodo. Aquele quarto roxo precisava de um pouco de vida. Pegou o notebook e levou até a sala.

            Ele estava sentado no tapete, encostando as costas no sofá. Mistye sentou ao seu lado e abriu o notebook. Checou seus e-mails em busca de alguma notícia da madrinha, mas não continha nada além de propagandas e comunicados da universidade sobre palestras e datas de provas. Ah as provas. Ela estava bem ferrada em relação a isso.

            - Droga... – murmurou emburrada.

            Richard olhou para ela sorrindo. Fazia tempo que não via aquela expressão. Fazia tempo que não ouvia aquela voz. Mas ao mesmo tempo, ele também não sabia o que estava fazendo.

            - Ficou sabendo da data das provas? – perguntou tentando estabelecer uma conversa impessoal. – São no final do mês.

            - É... mas você vai bem. Não faltou em mais nenhuma aula e entrega as atividades no prazo.

            Mistye parou de mirar a tela e se direcionou para ele. Queria ver o rosto de Richard, saber que cara ele fazia ao revelar que a observava.

            - Não é suficiente. Eu não fui muito bem nas atividades. Não sabia direito o que fazer. Também perdi muitas aulas no começo. – falou frustrada consigo mesma por não ter levado a nova rotina com seriedade. – Sabe. Quando cheguei não tinha ideia de que seria tão difícil. Eu não sei como você consegue passar sem nenhum esforço.

            Ele riu, uma risada sem humor, mas compreensiva.

            - Acha que eu passei? – perguntou retoricamente. – No segundo semestre... não, esquece. – desistiu de falar e fechou a boca lentamente.

            Ela não tinha certeza se queria ouvir o que ele pretendia dizer. Mas como havia deixado a frase inacabada, decidiu não pressionar. Não queria ter mais motivos para não gostar dele.

            A porta abriu e Charlie entrou desajeitado. Ele tinha os óculos tortos no nariz e o cabelo bagunçado. Caminhou ofegante até a colega e agachou na frente dela apoiando as mãos no joelho de Mistye.

            - O que houve? Você pediu para eu vir rápido. Ele te fez alguma coisa? – acusou olhando feio para Richard.

            - Não, desculpa te pedir para vir assim. É que a Marilyne está sumida desde ontem, então tive que chamar você.

            - O que ele faz aqui? – Charlie continuou olhando feio para Richard.

            - Se eu estiver atrapalhando posso ir embora. – o moreno respondeu em deboche.

            - Ótima ideia. – Charlie disparou. – Feche a porta quando sair.

            Charlie ficou encarando Richard, esperando que ele saísse como havia dito. Mistye percebeu que a conversa não prosseguiria bem e tomou partido.

            - Acho que já pode ir. Obrigada por esperar. – falou deixando o moreno intrigado e desagradado visivelmente.

            Os dois não disseram nenhuma palavra até Richard sair de cena. Quando a porta foi fechada, Mistye voltou-se para Charlie que despencou sentando ao lado dela. Era estranha a atitude dele que costumava ser amigável com todos. Algo não estava certo.

            - Charlie? – indagou.

            - Sim? – ele falou sem olha-la.

            - Quer me contar alguma coisa?

            - Não. – respondeu com dificuldade. – Quer me falar o que ele fazia aqui? Vocês ainda estão ficando? – finalmente olhou-a ao fazer a pergunta com um toque de preocupação.

            - Ei! – exclamou levantando as sobrancelhas. – Eu tenho namorado sabia? – falou com ar divertido tentando descontrair o clima.

            - É sério, Mistye. Fica longe desse cara.

            Depois de falar isso, ele levantou e foi para o seu quarto, mas deixou a porta aberta para o caso de Mistye ter outra “recaída”.

“Eu perdi alguma coisa...”


Notas Finais


Conflitos se aproximam...


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