História O ponto de ônibus Amayado - O ponto de ônibus Amayado

Todos os dias era a mesma rotina. Acordar, tomar banho, se arrumar, tomar café da manhã, ir a escola. Pela tarde eu pegava o mesmo ônibus, no mesmo ponto. Todos os dias consecutivos da minha vida humilhante e tediosa de estudante. Costumava sempre pegar o ônibus vazio, ninguém pegava mais aquele ponto. Porém, naquele dia, algo de diferente me chamou atenção no décimo terceiro banco da fileira ao lado da minha. Seus olhos concentrados na janela, com seus fones de ouvido. E aquilo se repetiu. Durante todos os dias da semana, todos os malditos sete dias da semana, eu o via e ficava cada vez mais curiosa para saber seu nome. 

Era uma tarde nublada de 2009. Adentro no ônibus após fazer sinal para o mesmo parar. Olho para o motorista e desejo uma ''boa tarde'', aonde acabo recebendo um sorriso em resposta. Varro meu olhar pelo ônibus em busca do garoto misterioso. Hoje eu iria me sentar ao lado dele. O encontro, na mesma posição de sempre. 
Ele vestia uma blusa preta, com touca, calça e tênis combinando com a mesma. Estava com seus olhos fixados na janela, apenas olhando as gotas que começavam a despencar lentamente do céu criado por Deus. 
Em passos lentos e pequeninos, vou me aproximando. Respiro fundo, retiro minha mochila das costas e me sento ao seu lado, cruzando as pernas logo em seguida. Passo minhas unhas roídas por minhas meias finas. Bato os pés. Faço uma batida enquanto bato minhas mãos em minhas coxas. Até que sinto um olhar pesado em minha direção. Ele estava me olhando. 
Ousei virar o olhar em encontro com o seu. Ele me olhava com extrema surpresa, como se eu fosse algum amigo distante que não via a anos. 
- M-me desculpe, eu incomodo? - Pergunto timidamente. 
- Vo-você? - Perguntou um tanto assustado, me deixando totalmente confusa. - Pode me ver? Você consegue me ver? 
- Sim, consigo - Soltei um riso fraco. Talvez fosse alguma brincadeira comigo.
- Oh, nem me apresentei, - Riu fraco e coçou a cabeça - Jeon Jungkook, mas pode me chamar de Jungkook - Deu um sorriso que poderia matar qualquer um. 
Eu conhecia esse nome de algum lugar, já havia escutado esse ''Jungkook'' pelos corredores da escola.
- Sou Chitose - Sorri sem mostrar os dentes, completamente hipnotizada por aqueles olhos castanhos. 
Depois daquele dia, sempre nos encontrávamos no ônibus. Conversávamos sobre músicas, culturas diferentes, fizemos até brincadeiras divertidas. Algumas vezes Kookie ficava um pouco sério, o que chegava a me assustar. Ele ficava com um olhar um tanto fechado, como se quisesse matar qualquer um que ousasse cruzar seu caminho. Mas, dois minutos depois, ele já me abraçava e me chamava de ''Min-chantose''. 
- Gostaria de descobrir algum dia o motivo deste apelido - Falei enquanto jogávamos o jogo de xadrez que eu havia trago.
- Um dia descobrirá - Ele ficou sério novamente. Olhava fixamente para o jogo de xadrez, totalmente concentrado.
- Kookie? - O chamei. Ele despertou, piscando duas, três vezes. 
- Estou bem, não se preocupe - Sorriu mostrando seus belos e invejosos dentes brancos e bem cuidados. 

''Com o tempo aquilo foi florescendo e os dois sentiam algo inexplicável um pelo outro.  Algo que talvez seja o amor. Kookie faria de tudo para que ela ficasse lá a tarde toda para que ele aprecie seus cabelos negros, seus lábios vermelhos como morango e aquela pele macia como algodão.''

Eu estava seguindo minha rotina normalmente. Tinha acabado de dar a hora para o intervalo. Me apressei e fui direto para meu cantinho embaixo de uma árvore. Eu estava tranquila, pensando calmamente em como diria a Jungkook que estava perdidamente apaixonada por ele, que eu o desejava a cada batida do meu coração, que era totalmente consumido por ele. 
Estava tudo indo bem, quando vejo Milan se aproximando com seu canil de vadias. 
- Olhe só quem está aqui pessoal, - Disse uma das meninas, com sua voz fina e irritada. - a estranha - Riu maldosamente, sendo acompanhada pelas outras garotas
- HITSUNE! - Uma das garotas gritou. Me assustei. Um garoto forte se aproximou. - Faça o que deve ser feito. - Naquele mesmo dia, eu fui estuprada, no banheiro da escola, naquele chão podre. Todos os dias tem sido a mesma coisa, apenas me sinto confortável quando estou com Kookie, ele me faz bem. 
- Eu estou apaixonado por você - O mesmo dizia após me dar um selinho demorado. Estávamos deitados nos bancos do ônibus. Ficamos mais próximos depois que nos declaramos um para o outro. Incrível como as coisas acontecem, não?
- Eu também te amo, Oppa! - Sorri. Jungkook pausa o olhar em meus braços. Me lembro que eu não estava usando blusa de frio, pois brinquei de pega-pega com Kookie e fiquei com calor. Oh, não. - Kookie...- O chamei, tentando fazer seu olhar desviar de meus cortes.
- Por que? Por que não me contou? - Perguntou se levantando sério e indo para os fundos do ônibus. Eu tentei ir atrás mas, eu apenas não conseguia passar, algo me impedia. Chegou na minha parada, olhei para trás e apenas peguei minha mochila que se encontrava no chão
- Eu te amo - Sussurrei, saindo do ônibus. 

- E ai, gatinha? - Hitsune disse após chegar por trás de mim. Eu estava no ponto esperando o ônibus. Eu sofria abusos de Hitsune diariamente. Não respondi, apenas abaixei a cabeça e esperei o ônibus em silêncio. 
Quando o mesmo chegou, me apressei, ignorando totalmente o fato de Hitsune estar ao meu lado. Entrei e procurei por Jungkook. Sem sucesso
O que aconteceu com ele?

Passou-se três semanas e nada do meu Kookie. Nada. Nenhum rastro. Nenhuma pista. Ele apenas sumiu, sem deixar quaisquer vestígios.

Os abusos estavam cessando um pouco, então passaram a ocorrer somente por 2 dias por semana. 
Jungkook POV'S

- Já sabe o que tem que fazer depois que ela entrar? - Eu digo, depois de explicar meu plano para o motorista mudo. O mesmo concordou, balançando a cabeça. Volto para o meu lugar e espero parar no ponto de Chitose. 

Jungkook POV'S off

O ônibus para e eu entro no mesmo. Encontro Jungkook. Abro um sorriso enorme e saio correndo em seu encontro. 
- Kookie - Dou-lhe um abraço apertando, que o mesmo corresponde.- Senti tantas saudades - Suspirei. 
- Min-chantose, - Suspirou pesado - preciso te contar uma coisa. Nunca se questionou o fato de eu sempre viver neste ônibus, nem de eu nunca sair daqui de dentro? - Fez movimentos circulares com seus polegares em minhas mãos. 
- Já, mas resolvi deixar essas questões de lado, o que me importa é que você está aqui, eu também - Sorri
- Que bom, pois agora você permanecerá comigo aqui, para toda a eternidade - Sussurou chegando perto de mim. Seu olhar estava sério, aquilo estava me dando calafrios
- Kook, o que você vai fazer? O que está dizendo?
- Eu morri aqui Chitose. Sofria bullying igual você, abusavam de mim igual a você. Até que eles vieram até aqui e me mataram. Lembra da história de Akatsuni Jungkook? - Respondeu friamente. Por isso jurava já ter escutado esse nome... '' Jeon Jungkook, mas pode me chamar de Jungkook - Deu um sorriso que poderia matar qualquer um. 
Eu conhecia esse nome de algum lugar, já havia escutado esse ''Jungkook'' pelos corredores da escola.''
- Inverno de Novembro de 1997, assassinado a facadas por sete alunos da escola dentro do ônibus 7461, o ônibus que leva diretamente a sua casa, pequena Chitose - Disse passando suas mãos pelos meus cabelos. Me afastei. Eu estava assustada. Jungkook iria me matar covardemente, igual foi feito com ele. Vingança, talvez? - Oh, está com medo? Relaxe, não vai doer nada - Retirou uma faca de dentro de sua bota marrom. 
- Não, por favor...
AAAAAAAAAAAAAAAAHHHA! 
Um grito feminino ecoou por toda extenção do ônibus. O ônibus havia brecado, fazendo Jungkook tombar e enfiar completamente a faca na barriga de Chitose. Sangue jorrava. Chitose já se encontrava no chão, apenas seu corpo. 
- Agora, você é apenas minha - Sussurrou sorrindo. Chitose, caida no chão, abriu os olhos - Não parece ter sido uma grande diferença, não? Agora estaremos presos aqui, para sempre, juntos, por toda a eternidade. Fazendo novas vitimas. 
Todas as tardes, Jungkook e Chitose jogavam xadrez e atormentavam os jovens curiosos que passavam naquele lugar por conta das mortes que ali ocorreram. Dizem que, até hoje, é possível escutar Jungkook e Chitose brigando por conta do roubo no xadrez. Mas, uma outra lenda urbana, diz que, eles conseguiram se libertar da maldição de viverem presos um ao outro e que em madrugadas assim eles saem por aí, visitando novos pontos de ônibus, ou até mesmo casas. Eles podem estar atrás de você agora mesmo.

~O ponto de ônibus Amayado~