História O Preço da Felicidade - Os Preparativos

OS PREPARATIVOS

Sakura ia à frente do grupo, vez ou outra olhava para trás, procurando pelo olhar do rapaz na cadeira de rodas, porem o Uchiha sempre desviava os olhos.

Ele fazia sua cadeira girar sozinho, era o ultimo dos quatro, sua mãe e a doutora Tsunade iam no meio, conversando animadamente sobre a cirurgia. Seria dali a um mês e alguns dias, nesse meio tempo ele ainda precisaria fazer um exame de sangue.

- Ele passara por estes corredores e ficara internado, depois de sair da UTI, alguns dias, em algum desses quartos. - Tsunade comentou, agitando os braços para dar mais amplitude aos seus argumentos, estava explicando todos os detalhes da cirurgia.

Sakura esgueirou-se pela parede e deixou as mais velhas tomarem à dianteira, assim que fizeram, a moça de cabelos rosa passou a acompanhar Sasuke. Ele estacionou seu meio de locomoção e Sakura estagnou seus passos quando viram as duas mulheres à frente pararem para cumprimentar algumas enfermeiras.

- Está bravo comigo ?

Ele não respondeu, fechou a cara em uma carranca.

- ...Você não responde ás minhas mensagens e hoje está me evitando.

O que diabos ela queria que Sasuke fizesse ? Sakura passou os olhos pelos números dos quartos no corredor, pegou com firmeza na cadeira de rodas de Sasuke e o guiou para dentro de um dos quartos, mesmo com o protesto do moreno.

Fechou a porta depois de entrar, tendo a certeza de que o paciente deitado na maca estava sem visitas.

- Você é doida. - Sasuke comentou e seus olhos focalizaram o senhor dormindo na maca. - O que ele tem ?

- Está em coma. Podemos conversar aqui.

Aquilo não deixava Sasuke muito confortável.

- Eu sinto muito se te magoei. - Ela começou e ele girou a cadeira para sair do quarto. - Você não vai me deixar aqui falando sozinha.

- Sai da frente ou vou te atropelar. - Avisou.

- Acho que cometi um erro... Mas você tem que entender que como sou sua médica, não é ético que eu saia com um paciente.

A moça usava calças sociais cor de rosa e uma blusa com babados branca, cordões dourados adornando seu pescoço delicado. O jaleco branco terminava o visual. Sasuke fez a cadeira investir sobre a moça, cumprindo sua ameaça de atropelá-la. Os cantos de metal acertaram as canelas dela e Sakura tombou para frente, quase caindo debruçada por sobre o Uchiha.

Ele aspirou o perfume dela com a proximidade, doce delicado, Sakura se manteve naquela posição desconfortável por mais tempo que deveria, estava ocupada olhando mais de perto o rosto implacável agora tão próximo do seu.

Será que ele sabia que por debaixo daquele bom humor e piadinhas infames, estava um homem de traços fortes, linhas duras e charmoso ?

- Sai da frente. - Sasuke pediu outra vez e sua voz fez com que saísse muito mais como uma ordem do que como um pedido. - Sai, agora. Vou dizer para a Tsunade que você está me molestando.

Ela poderia ter se ajeitado e obedecido, mas por impulso esqueceu quem era, de onde estava, grudou seus lábios aos dele por apenas um instante.

Se era para algo ser dito á Tsunade, que pelo menos fosse uma meia verdade.

- Você é bipolar.

Sakura pode escutar sua voz com perfeição por estar muito próxima a ele. Se ajeitou, aprumando a blusa, Tsunade abriu a porta logo em seguida, colocando a cara para dentro do quarto.

- O que estão fazendo ai ?

- Sakura estava me mostrando o quarto. - Sasuke mentiu, tinha inventado aquilo de uma hora para outra. - Ela disse que todos os quartos são iguais.

Tsunade confirmou e os dois mais novos saíram para o corredor com agilidade,

Mikoto admirava os quadros presos nas paredes, sorriu para o filho e depois para a moça de cabelos cor de rosa, percebendo que os lábios do rapaz tinham o mesmo brilho cintilante que os da moça. Ah, aqueles dois estavam aprontando algo !

Não que reprovasse aquilo, aprovava muitas características da moça de cabelos cor de rosa.

- Então está tudo certo ? - Mikoto perguntou e recebeu um sorriso afetuoso de Tsunade.

- Só precisa de mais algumas informações e tudo estará certo para a cirurgia.

- O que ?

- Altura e peso. Precisamos saber os dois corretamente para que o anestesista faça as contas corretamente.

A morena concordou com um meneio de cabeça, tinha conseguido uma folga no trabalho para estar ali. E fora uma coisa ótima, seus pulsos latejavam de dor, assim como suas costas, aquele descanso faria bem ao seu corpo. Ela usava um vestido florido até a altura dos joelhos, com detalhes ricamente bordados em cada estampa de flor. A própria tinha costurado aquilo, do zero.

Sasuke admirava muito a mãe e seu senso de moda, ele próprio tinha se enfiado na primeira roupa limpa que encontrara em seu quarto, calças de moletom azul marinho e uma camiseta cinza com gola e um bolso na frente, por ele, tinha aparecido naquele hospital de pijamas, mas a mãe iria protestar veementemente.

Encarou Sakura ao seu lado e a moça fez um sinal para que ele limpasse os próprios lábios, que ótimo, ela o tinha sujado de batom !

- Podemos fazer isso agora, se tiver tempo, claro.

- Bom, eu tenho uma reunião com alguns médicos da minha equipe cirúrgica, mas Sakura pode tirar as medidas, sem problema.

Tsunade se despediu e se retirou, deixando os dois aos cuidados de sua aluna. Voltaram ao ritmo de antes, agora Sakura os guiava pelos corredores, até uma sala com equipamentos de ginástica.

A sala estava vazia e o som de uma musica eletrônica muito famosa revertebrava baixinho pelos auto falantes presos ás paredes.

Grandes bolas elásticas, pesos de todos os tamanhos e cores, passarelas com grades em ambos os lados, colchonetes espalhados pelo chão, esfignomanômetros em pedestais metálicos por todo canto.

- Aqui é a sala da fisioterapia. - Sakura informou e indicou a balança eletrônica em um dos cantos da sala. - Como é horário do almoço, não tem ninguém.

- Sasuke fará alguma fisioterapia aqui, depois da cirurgia ?

- Sim, exercícios para fortalecer os músculos das pernas, no começo ele usará muletas, mas com o tempo vai conseguir caminhar sozinho... Até correr.

Aquilo era musica aos ouvidos de Mikoto ! Seu filho andando de novo...

Seus olhos se encheram de lágrimas e ela passou a circular pelo salão, observando cada objeto e imaginando o filho usando aquilo para se restabelecer.

Os dois mais novos chegaram diante da balança e Sakura percebeu que não sabia como faria para o moreno ficar de pé sem auxilio.

- Acho que deveria chamar alguém para ajudar.

Sasuke a encarou para ter certeza de que ela entenderia.

- Bobagem. É só segurar na minha cintura, eu fico de pé.

Ele conseguia ? A moça se perdeu em pensamentos, perguntando-se o que mais ele era capaz de fazer.

- Tem outras coisas que ficam de pé em mim, caso esteja se questionando. - Sasuke falou em um sussurro, não precisava falar alto com ela, sabia que Sakura leria seus lábios.

A moça corou, tinha sido pega no flagra !

- Eu não estava pensando nisso.

Claro que estava !

- Claro que não, só comentei para o caso de você estar curiosa com a total função do meu corpo.

Foi uma tarefa ridiculamente fácil travar a cadeira e ajudar o rapaz a se levantar, ele se equilibrava muito bem sozinho, apoiando um braço na parede e sentindo as mãos firmes de Sakura em sua cintura, o moreno era mais alto que a moça, o que se tornou uma surpresa agradável Sakura sorria o tempo todo enquanto decorava o peso e a altura do rapaz, sentindo o corpo maior por entre seus dedos.

- Você sente ? - Ela perguntou quando notou que estava sendo observada pelo moreno. – Quer dizer, as pernas ? Sente ?

- Minha cabeça esta girando. - Ele choramingou, estava de pé há muito tempo e seu corpo não estava acostumado com aquela posição. - Preciso me sentar.

A moça pediu para que ele mantivesse o corpo apoiado na parede, buscou a cadeira alguns centímetros de distancia e a posicionou de modo que ele precisava apenas jogar o corpo para trás e se sentar.

O moreno apoiou as mãos em cada braço da cadeira, preparando-se para o próximo passo, quando sentiu a mesma rodando para trás, seu corpo foi de encontro ao chão e ele gemeu com o impacto.

- Ah meu Deus ! - Sakura se agitou e procurou ajuda com o olhar para Mikoto.

A morena deu de ombros.

- Esqueceu de travar a cadeira, querida.

Ela mesma já tinha feito muito daquilo.

- Vou chamar alguém para ajudar ! - Sakura disse em desespero.

- Não precisa. - Mikoto a cortou. - Ele se levanta sozinho.

Desviou os olhos do filho e continuou a observar os pesos de metal. Tinha criado um homem, não um gatinho assustado. Sasuke era completamente capaz de se virar sozinho.

O moreno ainda estatelado no chão sorriu para Salura quando esta o fitou.

- Eu sinto. - Ele a respondeu. - Mas não tenho forças para movimentar as pernas.

Pensou em perguntar se ele queria ajuda, mas sabia que o moreno negaria. Em dois tempos ele se sentou no chão, puxou a cadeira de rodas para mais perto, travou-a e subiu como se tivesse feito aquilo milhares de vezes.

Talvez tenha feito mesmo milhares de vezes.

- Você é impressionante. - Ela teve de admitir, estava girando os pingentes do colar entre os dedos. - Queria poder ver mais.

- ...Mas você não quis, lembra ? – Gracejou, com um sorriso de canto, enquanto arrumava os cabelos lisos com os dedos.

Ela se lembrava e ainda estava na mesma sinuca de bico.

Mikoto ignorava a conversa dos dois, mantendo-se afastada dos jovens.

- Talvez quando você terminar todo o seu tratamento nós poderíamos rever aquele seu pedido de sair para tomar um chá gelado...

Ofendido, ele tirou o sorriso dos lábios.

- Então você está disposta a sair com um cara que vai andar, mas não com um cara em uma cadeira de rodas ?

Se ela não o aceitasse agora, mostrava seu pouco caráter. Ou talvez apenas mostrasse um preconceito muito grande. Ela porém não encarava daquela forma, tinha sugerido aquilo pois quando Sasuke estivesse andando ele não seria mais seu paciente e ela estaria livre para um encontro sem Tsunade ameaçar cortá-la da residência.

Porém perder aquela oportunidade poderia significar perder a chance de conhecer melhor aquele cara.

Se ele estava ou não preso naquela cadeira, não era um problema para a rosada.

- Então que tal nós adiantarmos esse encontro para esta semana ainda ?

O Uchiha deixou um risinho escapar por seus lábios, ele concordou com um meneio de cabeça e viu a mãe, pelo canto dos olhos, acompanhando seu sorriso.