Estava com certa dificuldade para dormir aquela noite, estava com medo do que viria amanha. Era o dia da escolha do meu irmão, ele deixaria a erudição e eu sabia disso. Eu o entendo, tanto ele quanto eu queremos deixar essa casa, essa facção e as duas pessoas que por via das circunstancias chamamos de pais.
Levantei da minha cama e fui para o quarto do meu irmão, abri a porta sem fazer barulho e sentei na cama dele.
- Drew, ta acordado? – cutuquei ele devagar
- Nem se eu quisesse eu dormiria – Ele virou de frente pra mim, deitei ao seu lado
- Ta ansioso? – Eu olhava em seus olhos
- Um pouco, mas também estou com medo, medo por você baixinha – Ele acariciou minha bochecha
- Por mim? Eu vou ficar bem Drew, eu só terei de agüentar-los por dois anos – dei uma risada fraca
- Isso se você não os matar antes – Ele riu baixo
Ficamos conversando ate cairmos no sono juntos, seria o ultimo dia que estaria com a pessoa que realmente amo.
Acordamos por volta das nove horas, a cerimônia começaria ao meio dia. Fui para meu quarto, tomei um banho, vesti um vestido azul e coloquei uma sapatilha preta.
Desci e fui para a cozinha, Drew estava fazendo nosso café, sentei em um banquinho e fiquei observando ele. Estávamos terminando nosso café quando nossos pais entraram na cozinha.
- Bom dia - Nosso pai falou serio e frio, como sempre
- Dia – Drew respondeu no mesmo tom, eu continuei calada olhando para baixo
- Espero que você pense na família e faça a escolha certa – Nossa mãe olhava para ele, mas ele olhava para mim
- Escolha certa para mim ou para a reputação de vocês? – Drew fechou as mãos em punhos
- Drew, só estamos pensando no seu bem – Ele continua com o tom seco
- Meu bem? Vocês nunca se importaram com alguém alem de vocês mesmos – Ele levantou e saiu porta a fora, fui atrás dele.
- Esquece essa palhaçada de família e pense somente na sua liberdade – Sorri sincera
- Ta, mas e você? Você sabe que ele vai descontar em você toda a raiva que ele vai sentir hoje – Drew apertou minhas mãos e olhou nos meus olhos, ele realmente estava preocupado comigo
- É, eu sei, mas eu sei me defender Drew, sou pequena mas não estou morta - Sorri fraco, ele sorriu de volta e beijou minha testa, depois me abraçou
- Então vamos lá – voltamos a andar. Em poucos minutos chegamos ao local que seria a cerimônia.
Entramos e sentamos junto aos outros membros da Erudição, nossos pais já estavam lá, ao lado de Jeanine.
- Sejam bem-vindos a Cerimônia de Escolha – Diz Max, líder da Audácia, sua voz grave preenche facilmente o salão. Ele não precisava do microfone; sua voz é alta e potente o bastante - Hoje, vocês vão escolher suas facções. Ate este momento, vocês seguiram os caminhos dos seus pais, as regras dos seus pais. Hoje, encontraram seus próprios caminhos, criaram suas próprias regras.
Seguro a mão de Drew, está completamente suada.
- Se acalma – Sussurrei para ele e apertei sua mão. Ele sorriu.
- Há muito tempo, nossos ancestrais perceberam que cada um de nós, cada individuo, era responsável pelo mal que existe no mundo. Mas eles não concordaram sobre a que exatamente era esse mal – diz Max – Alguns diziam que era a duplicidade...
Penso em todas as mentiras que já contei sobre meus hematomas, machucados, choros.
- Alguns diziam que era a ignorância, outros a agressividade.
Será que Drew iria para a Amizade? Seria um bom lugar para se refugiar dos pais abusivos.
- Alguns diziam que a causa era o egoísmo...
Isto é para o seu bem, e no mesmo instante meus olhos se cruzaram com os olhos dos meus pais, eles diziam isso sempre que batiam em mim ou em Drew, quando nos trancavam em um armário minúsculo.
- E o ultimo grupo disse que a culpa era da covardia.
Alguns loucos da Audácia gritaram outros caíram na gargalhada
- Foi assim que criamos as nossas facções: Franqueza, Erudição, Amizade, Abnegação e Audácia – Max abriu um sorriso – Nelas, encontramos administradores, professores, conselheiros, lideres e protetores. Nelas, encontramos nosso senso de pertencimento, nosso senso de comunidade, nossas próprias vidas – Ele limpa a garganta – Mas chega disso. Vamos direto ao ponto. Venham para a frente e peguem suas facas, depois façam a escolha. O primeiro é Zellner, Gregory.
Drew se endireitou na cadeira e apertou minha mão. Gregory posicionou sua mão sangrando sobre o recipiente com a terra, escolhendo a Amizade.
-Rogers, Helena
Ela escolheu a Franqueza
-Lovelace, Frederick
Ele continuou na Erudição, pra ele é fácil, ele não tem que fugir do abuso dos pais.
- Erasmus, Anne
Roupas longas e cinzas, Anne cortou a palma de sua mão, tremula, e derramou seu sangue sobre as pedras cinzas.
- Eaton, Tobias
Filho de Marcus, Jeanine dizia que Marcus batia nele, sei bem o que ele passa. Ele não parece nem um pouco nervoso, pega a faca das mãos de Max e corta sua mão, ele para por alguns segundos, parece pensar, e então deixa que seu sangue caia sobre as brasas da Audácia.
- Courtney, Drew
Ele apertou mais ainda minha mão, beijou minha testa e foi em direção ao palco. Max o entregou uma faca, Drew cortou a palma da mão e sem nenhuma duvida derramou seu sangue no recipiente da Audácia.
Ouço a comemoração dos membros da Audácia. Estava feliz por meu irmão, mas quando eu chegasse em casa eu pagaria por essa rebeldia de Drew.
* * *
Fui para casa andando, queria evitar ao máximo ter que encarar meus pais. Abri a porta, meus pais estavam sentados no sofá olhando para a porta, estavam me esperando.
-Porque demorou tanto Katie? – Meu pai estava ereto, serio e com os braços cruzados.
- Não estava com paciência para esperar o ônibus então vim andando – Falei sem vontade, escondendo o medo
- Você sabia? Não é? Sabia dos planos de seu irmão, o que foi isso? Uma tentativa de destruir nossa família e nossa reputação? – Ele começou a alterar a voz – RESPONDE – Ele gritou e deu um tapa no meu rosto.
Coloquei minhas mãos em minha bochecha.
- Ele queria se ver livre disso, livre de vocês, dos seus abusos, dos seus espancamentos – Eu segurava o choro, por mais que o tapa tenha doído eu não deixo nenhuma lagrima escorrer de meus olhos – E LOGO EU TAMBÉM ME VEREI LIVRE DE VOCÊS, EU PREFIRO MORRER A FICAR AQUI COM VOCÊS – Ele começou a me dar tapas, socos e chutes. Eu gritava por socorro, minha mãe fingia que nem estava vendo nada. Então tudo ficou escuro e eu não senti mais nada.
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