História O preço do poder - Tudo ou nada - parte 3

POV ALEX

Ver Piper naquele estado me causava diversas sensações. A primeira foi a tristeza, óbvio, nada do que eu vi no vídeo se comparava a ver pessoalmente a mulher que eu amava totalmente destruída pela segunda vez. Havia marcas roxas em sua pele e alguns arranhões avermelhados. A outra sensação foi a alegria, sim, alegria. Por saber que ela estava viva e bem na minha frente, depois de tantos meses separadas vê-la ainda fazia meu coração bater mais forte e minha respiração se tornar mais leve. A terceira sensação foi a raiva. Eu tinha certeza que tudo o que eu queria naquela hora era salvá-la e acabar com todos os outros que encostaram nela.

No fundo da sala estava Hank com alguns seguranças. Ele estava encostado na parede, com as mãos no bolso e um imenso sorriso no rosto. 

-Eu te disse que iria acabar com você se tocasse nela. -Gritei para ele entrando na sala, os dois homens atrás de mim rapidamente se apressaram em se por na minha frente, me impedindo de avançar na direção de Hank.

-Eu estou bem aqui. -Ele falou, andando na minha direção. -Acabe comigo.

-Você é fraco. Não sobreviveria nem um minuto sem tantos seguranças ao seu redor. -Falei de forma debochada, voltando minha atenção para Piper.

Seus olhos azuis estavam brilhantes e bem fixos nos meus. Fraquejei e dei um passo na sua direção, sendo rapidamente presa pelos braços. Eu suspirei pesadamente, tudo o que eu queria era senti-la mais uma vez.

-Tenho uma surpresinha pra você, antes de começarmos o nosso... "assunto de negócios". -Hank disse, fazendo aspas no ar. 

Ele saiu pela porta apressado, parecia bem ansioso.

Eu e Piper nos olhávamos intensamente, eu não conseguia desviar os olhos dos seus e não havia nada no mundo que me faria fazer isso. 

-Eu senti sua falta. -Sussurrei para ela, sentindo minha garganta apertar.

Ela suspirou, mordendo o lábio inferior e desviando os olhos dos meus. Eu senti que ela estava prestes a chorar e aquilo me deixou em ruínas por dentro.

-Alex. -Uma voz familiar chamou por mim, vindo em direção da porta. Eu me virei, sem acreditar no que estava ouvindo.

-Franklin? -Chamei seu nome, ao vê-lo parado na minha frente ao lado de Hank.

-Que cara é essa? Parece que viu um fantasma. -Hank disse, com seu habitual sorriso debochado no rosto.

-Que merda é essa? -Falei andando em direção a Franklin, sendo novamente presa pelos braços. Aquilo estava me irritando cada vez mais.

-É exatamente o que parece. -Hank respondeu.

-Eu não perguntei a você. -Debati, sem olhar para ele.

-Foi mal, Alex. Mas trabalhar para você estava me dando muito prejuízo... Eu fazia todo o trabalho pesado e não ganhava o dinheiro extra. -Franklin confessou, sorrindo, não parecendo nem um pouco culpado pela traição.

Aquilo foi como levar um facada nas costas. Eu confiava nele, tratava-o como um profissional e pagava uma boa parte do nosso lucro para ele, e foi assim que Franklin agradeceu.

-Foi você. -Afirmei.

-Sim, Vause, foi Franklin que contou do seu esquema de dinheiro extra. 

Mordi o lábio, querendo mais do que tudo arrebentar a cara daquele desgraçado.

-Eu vou acabar com você. -Falei baixo.

-Alex. -A voz mais adorada por mim, a mesma que eu desejei ouvir por tantos meses, chamou por mim, o que fez eu me virar instantaneamente em sua direção. -Apenas entregue o dinheiro e vamos sair daqui. É só isso que você tem que fazer.

-Escute sua namorada, Vause. -Hank disse, mas sua voz era só um pequeno ruído na sala. Tudo o que eu conseguia me concentrar era em Piper.

-Piper, eu não posso. Esse dinheiro é meu. 

Ela abaixou a cabeça, fechando os olhos lentamente e respirando fundo várias vezes. Eu podia sentir o seu cansaço e sabia que tudo o que Piper queria era sair dali, mas eu simplesmente não conseguia decidir o que fazer. 

-Seu tempo está se esgotando. -Hank falou novamente.

-Esse dinheiro é meu. Eu trabalhei por você durante meses e fiz as vendas subirem de uma forma que nem você nem ninguém conseguiu fazer aqui nesse lugar antes. Eu. Nós conseguimos ficar no topo por minha causa, e agora você quer acabar comigo assim? Isso aqui não é nada sem mim, e você mais do que ninguém sabe disso.

Ele ouviu tudo aquilo atentamente, dessa vez sem um sorriso. Ele sabia que eu estava certa, eu era muito boa no que fazia e seria difícil arranjar alguém a minha altura para me substituir. Mesmo que eu não fosse mais produzir, tudo o que eu tinha que fazer era convencê-lo daquilo, e meu poder de persuasão nunca foi dos piores.

-O que você está me propondo? -Ele me perguntou de forma séria.

-Eu posso trabalhar pra você por mais... 5 meses. Isso vai dar pra cobrir o meu dinheiro extra. E dessa vez nós dividiremos o lucro. 

-Eu quero 100%. -Ri alto daquilo, o que certamente o tirou do sério. Estava adorando como o jogo estava se invertendo.

-Nem sonhando eu vou trabalhar de graça para você.

-70% é a minha oferta final. 

-Hank, o máximo que eu te ofereço é 60%. -Falei, e por longos minutos ele permaneceu em silêncio, eu podia quase ouvir ele pensando.

-Feito. -Ele respondeu por fim, aparentando extrema insatisfação com aquilo.

Estendi minha mão para ele com um sorriso triunfante no rosto. Ele parecia desconfiado, mas por fim apertou minha mão, "selando" nosso acordo.

Eu já estava pensando para onde fugir, já que Hank sabia de minha casa na França agora ela teria que ser abandonada, quando um grande estrondo veio lá de cima. Os seguranças correram para a porta, pegando suas armas e tentando decifrar o que tinha acabado de acontecer. 

-Vocês dois, subam. -Hank ordenou para os homens armados na sua frente. -E você, fique. Eu não confio nela.

-Covarde. -Sussurrei, rindo da situação. 

Eu aproveitei o momento para me aproximar de Piper, então me ajoelhei ao seu lado, tirando a corda que prendia suas mãos. 

-Eu sinto muito. Sinto de verdade. -Falei enquanto começava a desatar os nós. -Eu... Nunca imaginei que isso fosse acontecer. Muito menos imaginei que envolveria você assim.

-Alex... A culpa não é sua. Eu errei. Eu vim até aqui achando que conseguiria um acordo e nos coloquei nessa situação. -Ela suspirou, finalmente conseguindo mover suas pernas e seus braços.

Eu me joguei contra ela e a abracei forte pela cintura. Suas mãos estavam em volta do meu pescoço e ela me apertou contra si mesma, eu era capaz de sentir o calor de sua pele na minha novamente e o seu coração batendo acelerado. Eu fechei os olhos, exalando toda a essência tão única e especial que pertencia apenas a Piper. Desfrutei ao máximo daquele nosso "primeiro" abraço, porque rapidamente o único segurança da sala veio ao nosso encontro e nos separou.

Eu já estava me sentindo melhor após senti-la e conseguia pensar de forma mais otimista diante da situação. Nós iríamos fugir e depois conversaríamos sobre o nosso... "relacionamento", e da forma que Piper me olhava eu tinha fé que conseguiríamos ficar juntas novamente. Esse pensamento iluminou totalmente toda a escuridão abissal que a minha mente tinha se afundado.

De repente, dois barulhos de tiro ecoaram pela casa. Eu corri na direção de Piper, ela ainda estava sentada na cadeira provavelmente devido a fraqueza.

-Que porra tá acontecendo lá em cima? -Hank gritou, andando até o fundo da sala, visivelmente assustado.

Franklin, que havia subido anteriormente com os seguranças, apareceu na porta ofegante e apavorado.

-Os seguranças... Estão mortos... -Ele falou, tentando recuperar o fôlego.

O segurança andou lentamente até a porta com a arma carregada, apontada para o lado de fora da sala. Eu apertei a mão de Piper, ela também estava assustada.

-Vai ficar tudo bem, eu estou aqui. -Falei baixo, olhando em sua direção.

Ela assentiu, mordendo o lábio. Eu beijei o seu rosto levemente, tentando confortá-la.

Quando olhei de volta para a porta, a minha surpresa conseguiu superar todos os outros sentimentos que vieram a tona quando vi Max com uma arma na mão, apontada para as outras três pessoas na sala.

-Max?? -Perguntei, me levantando no mesmo instante e o olhando. -O que diabos você tá fazendo aqui? 

-Eu vim te ajudar. -Ele disse com a voz trêmula, ainda apontando a arma para os outros.

Aquilo realmente me surpreendeu. Max era a pessoa mais medrosa que eu conhecia e o fato dele vir aqui me ajudar, mesmo após eu conseguir lidar com a situação, me abismou mais ainda.

-Ajudar? Então quer dizer que você estava armando para mim? -Hank gritou, com seu rosto enrubescendo de raiva. 

Antes que um de nós pudesse fazer qualquer outra coisa, vi o segurança parado na minha frente se preparar para atirar em Max, quando percebeu que sua intenção ali era matar todos eles.

Tentei não pensar, simplesmente agi com o instinto. Corri até ele e fechei o punho direito, aplicando toda a força que eu tinha na nuca do segurança. Anos atrás, quando decidi entrar nessa vida, aprendi que essa é uma das áreas mais sensíveis quando você pretende desestabilizar alguém, exatamente pelo fato de que é uma das regiões externas mais ligadas ao cérebro. 

Ele caiu de joelhos, soltando a arma no chão. Eu olhei para Max, praticamente implorando para ele agir rápido também, então ele chutou a arma para longe enquanto apontava sua arma para a cabeça do segurança que no momento estava inútil. 

-Alex... Por favor, entrega o dinheiro e vamos sair daqui. -Ele pediu, mostrando uma pequena mochila preta que estava em suas mãos.

-Eu não posso Max, esse é o meu trabalho, esse dinheiro não pertence ao Hank. -Disse enquanto puxava Piper pela mão e a colocava em um lugar "seguro" no canto da parede atrás de mim. -Você não deveria estar aqui, eu estava resolvendo tudo. 

-Você não iria sair daqui viva Alex, não sem entregar todo o dinheiro para ele. -Percebi que Max fazia menção de jogar a mochila em minha direção, eu não podia acreditar que ele realmente estava achando que eu iria desistir facilmente.

Todos na sala escutavam nossa conversa atentamente. Os olhos de Hank estavam grudados na bolsa com o meu dinheiro e de uma vez por todas eu desejei que Max nunca tivesse aparecido ali.

-Se eu fosse você faria o que seu amiguinho está mandando. -Hank disse se aproximando lentamente de nós. 

-Fica longe. -Max disse e disparou um tiro na parede perto de Hank, o que fez com que um grupo de seguranças se infiltrasse no porão, apontando suas armas para todos nós. Nesse momento, tive certeza que estávamos nos afundando cada vez mais em um poço sem volta. 

-Max! -Eu gritei impulsivamente após ouvir dois disparos contra sua direção. -Max, não. -As palavras saíram de forma inútil de minha boca, ele já havia caído e o sangue escorria por todo o chão. Um tiro no meio de suas costas e outro em sua cabeça, não havia o que fazer... ele estava morto. 

-Você se acha muito esperta, né Alex? -Me virei na direção de Hank e Piper havia entrado também no meu campo de visão, ela estava totalmente sem expressão, seu corpo todo tremia e ela estava encolhida o máximo possível num canto da parede. -Quem você pensa que é pra tentar me enganar assim? -Ele disse se aproximando de mim, suas mãos alcançaram um dos meus braços. -Nosso trato está desfeito. 

-Hank, eu não sabia que ele iria vir. -Ele me empurrou num canto da parede. -Você vai se arrepender muito por ter feito isso. -Eu suspirei e chequei se Piper estava bem. -Sabe de uma coisa? Max morreu, e levou a honra dos seus seguranças de merda junto com ele.

-Não, Alex, quem irá se arrepender muito é você. Por se destruir e levar a sua namoradinha junto com você. -Hank dizia enquanto eu caminhava devagar até a bolsa que estava perto de Max. 

-Você não vai pegar o meu dinheiro. -Me abaixei rapidamente pegando a bolsa e a arma que estava na mão de Max. 

-Alex... Por favor, não! -Piper disse e eu rapidamente voltei para perto dela, fazendo com que ela ficasse atrás de mim. -Por favor, Al. -Suas mãos envolveram minha cintura, e senti Piper me abraçar fortemente. 

-Piper, eu não posso sair daqui sem isso. -Sussurrei para ela. 

Eu sabia que poderia ser morta a qualquer momento, mas Hank tinha conhecimento de que sem mim ele não era nada. A minha produção dava a ele lucros inimagináveis e eu sabia exatamente o que Hank queria, o dinheiro que estava em minhas mãos. Após isso ele iria me deixar livre para que eu pudesse produzir novamente, Hank sabia que eu não poderia ir a lugar algum sem esse dinheiro. 

-Vamos Alex, escute sua namoradinha, eu não tenho o dia inteiro. -Ele disse sentando em uma cadeira qualquer. -Seu amiguinho já fez bastante sujeira por hoje, vou por essa na sua conta também.

Eu abri a mala para checar o dinheiro que estava ali dentro. -Max, seu filho da puta. -Sussurrei para mim mesma. Max havia colocado o dinheiro apenas por cima, misturando com notas em branco, eu conhecia muito bem esse método e fui eu quem havia ensinado para ele. Após por as notas era só embalar a vácuo, para que dê tempo de fugir sem que ninguém consiga abrir rapidamente. Mesmo assim, havia muito dinheiro ali e meu tempo estava esgotando... Eu precisava tomar uma decisão, precisava arriscar, esse era o preço do meu poder. 

Os minutos pareciam segundos, eu mal conseguia respirar. Eu precisava me decidir rapidamente, e sabia que só tinha um alternativa... Entregar o dinheiro para Hank e sair o mais rápido possível deste lugar com Piper.

-Tudo bem, Hank. Digamos que eu te entregue esse dinheiro... Quais serão as minhas garantias? -Perguntei quebrando o silêncio tenso que se instalou no local.

-Você vai sair daqui respirando e não dentro de um saco preto. -Ele disse e Piper apertou fortemente minha mão. Eu estava fazendo isso por nós, eu amava o poder, mas amava Piper mais ainda, antes eu me questionava se abriria mão disso por ela mas depois do que eu passei nos últimos meses longe de seus braços, não havia nada que eu não cederia se fosse para viver com ela. -E claro, vai continuar produzindo pra limpar a sujeira de seu amigo da minha cabeça. 

-Quero que Piper entre no carro antes. -Isso provavelmente daria tempo antes que ele percebesse que estava faltando dinheiro. -E eu te entregarei tudo no portão da mansão. 

-O que você está armando dessa vez Vause? -Ele disse rindo debochadamente. 

-Nada, Hank. Eu só quero tirar Piper daqui o mais rápido possível. -Disse olhando para ela e depositando um beijo em seu rosto. 

-Vamos, andem logo, vamos acabar logo com isso. -Hank disse nos fazendo andar em direção a porta. 

Segurei a mão de Piper na mesma mão que segurava a mala, não soltei a arma pois sabia que Hank e seu bando não era nada confiável. Caminhamos rapidamente em direção a porta de entrada, e então soltei a mão de Piper pegando a chave dentro do bolso da minha jaqueta. 

-Se tudo der errado, por favor, fuja! -Eu disse sussurrando em seu ouvido enquanto entrega a chave para ela.

-Alex... Eu não posso. -Ela disse e eu pude notar seus olhos completamente marejados. 

-Por favor Pipes, só entra no carro e deixa a chave no lugar certo. -Disse e a beijei rapidamente, e logo ela estava caminhando em direção ao carro.

 Eu observei ela se afastar com o coração na mão. Quando Piper finalmente estava segura dentro da carro, eu me virei de volta para Hank.

-Pronto, agora somos só eu e você. -Eu disse olhando nos olhos dele. -Dei um passo para dentro da casa, precisava que Hank continuasse lá dentro. 

-Sem mais conversa, Vause. 

Joguei a mala para o centro da sala, Hank a pegou e eu dei as costas para ele. Caminhei lentamente para fora da casa, meu estômago estava revirado, mas não podia demonstrar nervosismo. Apertei o passo a medida em que eu ia ficando mais próxima do carro. O portão de entrada estava totalmente destruído. 

-Max. -Disse para mim mesma, uma onda de tristeza e culpa me atingindo. -Entrei no carro e rapidamente o liguei. Piper me bombardeou de perguntas, mas eu não poderia responder nenhuma delas. 

-Bota o cinto. -Ordenei a Piper e rapidamente ela fez. -Acelerei em direção a casa pegando com uma das minhas mãos um pequeno dispositivo que estava dentro da minha jaqueta. 

-Alex, o que está... -Antes que Piper pudesse terminar sua frase, um grande estouro saiu de dentro da casa.

-Queime no inferno, seus malditos! -Chamas consumiram rapidamente toda a mansão enquanto os destroços começavam a cair no chão. Eu acelerei o mais rápido possível saindo daquele lugar aproveitando que toda a atenção dos seguranças estavam voltadas pra casa totalmente destruída.