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História O primeiro olhar - Único: colidimos como asteroides


Escrita por: BabyStayZone e changaylix

Notas do Autor


Jesus, o sufoco que foi postar essa fanfic!!! Primeiramente, eu queria agradecer às pessoas sem as quais eu nem poderia estar aqui hoje: à staff do projeto, à minha amada linda e maravilhosa @hycnatic pelo apoio e ter acompanhado os surtos e ajudado a construir o plot, e também porque tudo que eu escrevo sobre o amor de alguma forma vem de você, ao @jarvispiper por não me deixar desistir do ciclo mesmo quando meu primeiro plot desandou completamente, à @yoonies, Clarinha maravilhosa que deixou os comentários mais lindos do mundo no meio da betagem perfeita e à @blackpxxk pela capa, porque ser capista dá um trabalho desgraçado, viu? Eu senti na pele a dor de ser designer nesse ciclo, valha-me Deus!

Espero que minha estréia tenha ficado à altura desse projeto incrível e que eu consiga arrebanhar mais umas Hyunchanzinhas pro meu lado da força com essa fanfic. Não era minha ideia original, mas foi uma ideia que veio do meu coração e eu dei tudo que eu podia para realizá-la da melhor forma possível. Um beijo a todos, views em Levanter, SKZ nine or none e boa leitura!

:Ve/@changaylix:

Capítulo 1 - Único: colidimos como asteroides


Houve um tempo em que eu fui o mais tolo dos sonhadores. Sonhava com um mundo completo, brilhante e perfeito, um mundo onde a guerra é só uma lembrança e o amor é uma certeza. O amor em todas as suas formas. Eu estive esperando por ele por muitos anos, com o coração tomado de uma fé quase estúpida. Eu estava pronto para recebê-lo em quaisquer formas que ele viesse até mim, mesmo as mais impensáveis.

Como um tolo apaixonado, nunca me surpreendeu que eu fosse do tipo que acredita em amores à primeira vista e outras sandices. Há algo de muito especial sobre o momento em que você vê o amor da sua vida pela primeira vez, e por certo que a memória se encarrega de sempre nos fazer lembrar do dia e da hora como os momentos mais bonitos já registrados por olhos humanos na face da terra, mesmo que tenha sido o dia mais banal do mundo — mesmo que provavelmente não tenha parecido tão especial na época. Isso não faz dessa memória menos importante, mas a verdade é que todos nós queremos nos sentir especiais, e encontrar o amor assim que ele passa pela porta é certamente uma das coisas mais especiais que pode acontecer a alguém.

Infelizmente, para ser agraciado com essa surpresa do destino, é necessário que sejamos infinitamente sortudos e infinitamente crentes. Eu sempre fui crente, sempre disse a mim mesmo que confiaria no meu coração se algum dia ele me dissesse “vê, lá adiante, aquele que se aproxima na linha do horizonte? É ele a quem tu deves amar”. Mas isso não foi o suficiente, porque, como o mesmo destino que pode ser tão gentil e agraciador me provou pouco tempo depois do meu aniversário de dezenove anos, eu não era nem um pouco sortudo.

Depois do acidente que mudou completamente minha vida, eu parei de acreditar naquelas bobagens e deixei meus sonhos todos definharem como flores arrancadas do solo. Ao contrário delas, ironicamente, o que fiz foi enterrar meus pés no chão. Deixei que minhas paixões morressem uma a uma, me enterrei vivo em pessimismo e descrença. Eu não acreditava que poderia ser amado algum dia. Quem amaria o que eu me tornara? Quem eu seria capaz de amar com um coração tão escuro e vazio?

Com a alma recoberta de amargor, passei a questionar tudo em que costumava acreditar. Comecei a achar tão estúpida a forma como pessoas como eu costumava a ser agiam, tão deslumbradas com o amor que não percebem viver em verdadeiro desespero. Desde a canção Don’t Wanna Miss A Thing, do Aerosmith, até a inquisição frustrada de Oliver perante Elio em Me Chame Pelo Seu nome, romance de André Aciman — “Gastamos tantos dias. Por que você não me deu um sinal?” —, a cultura está lotada de referências que explicitam e até romantizam a urgência que temos a respeito do amor e a necessidade de não perder um único minuto com a pessoa amada. Mas não basta estar junto dela. No futuro, saberemos, não terá bastado, e nos angustiará profundamente o sentimento de que não a amamos tanto quanto nos era cronologicamente viável, ainda que tenhamos passado o resto de nossas vidas ao seu lado.

Não basta estar com o amor de nossas vidas — é preciso fazer sentir esse amor a cada instante. É preciso transcrevê-lo de modo que transborde as linhas das horas e dos anos.

Esse fenômeno está intimamente ligado ao profundo temor que nós, humanos, temos do tempo. Desde a grécia antiga, o tempo é pintado como um monstro que devora a própria prole, e o passar dos séculos e eras não fez dele um ser menos aterrador. O homem pode ter vencido as trevas, as feras e os limites da estratosfera, mas o tempo ainda nos caça impiedosamente, por mais que tentemos fugir dele, e ainda o tememos como os mortais que somos, desprovidos da fortuna divina perante a circular e eterna titanomaquia. 

Quando olhamos nos olhos de uma pessoa pela primeira vez e sabemos que ela é o amor de nossas vidas instantaneamente, isso é capaz de preencher pelo menos três dos nossos mais profundos anseios ocultos: criamos a memória perfeita, apaziguamos a urgência de amar e, por ser algo tão profundamente especial, raro e quase mágico, nos sentimos um pouco como deuses. Sentimos até que poderíamos vencer o tempo.

O tempo, no entanto, passou para mim na mesma velocidade que eu me tornava mais e mais mortal. Um ser humano repleto de sonhos é um ser finito. Um ser humano que não se permite sonhar, no entanto, é um ser medíocre e digno de pena. Eu costumava dizer a mim mesmo que não queria que sentissem pena de mim, mas foi o que atraí. Pena. A cada dia que passava eu sentia que o amor era uma mentira mais ridícula. Minha única certeza era a de que eu jamais seria amado. Nunca haveria uma memória como as cenas dos filmes românticos em minha mente, nunca haveria o momento derradeiro onde o grande amor da minha vida passaria pela porta e eu o reconheceria como tal.

Nunca.

Há algo de muito especial sobre o momento em que você vê o amor da sua vida pela primeira vez, e por certo que a memória se encarrega de sempre nos fazer lembrar do dia e da hora como os momentos mais bonitos já registrados por olhos humanos na face da terra, mesmo que tenha sido o dia mais banal do mundo — mesmo que provavelmente não tenha parecido tão especial na época. Esse, no entanto, certamente não foi o caso naquela manhã de outubro de 2019. As cores que pintavam as folhas na calçada, em frente ao prédio branco que abrigava meu corpo tomado de uma angústia desconhecida, revelavam-se fascinantes demais para desviar o olhar. Era como se eu estivesse descobrindo as cores pela primeira vez.

Até mesmo o branco do quarto parecia belo, o tom pálido de minha pele no espelho, os olhos escuros com veias avermelhadas ao redor. Minhas mãos suavam, eu não compreendia o porquê de tamanho nervosismo. Não conseguia permanecer sentado na cama, não conseguia parar de piscar freneticamente. Algo sobre aquele dia era diferente de todos os outros. Algo sobre aquele dia era especial.

Passos no corredor se aproximavam e depois sumiam, foi assim por muitas vezes, até que eles se aproximaram, e aproximaram, e então pararam. Ouvi batidas sutis na porta, três toques leves que pareceram três marteladas contra o meu peito. O coração que jazia ali dentro parecia grande demais, inflando como um balão, sufocando nas paredes pequenas das minhas costelas. Eu já sabia. Em meu âmago, aquele rapaz cheio de sonhos parecia ter ressuscitado. Ele era o único que poderia saber lidar com algo assim. Ele merecia viver esse momento mais do que qualquer outra versão de mim.

Suspirei. O trinco prateado se moveu e o clique da fechadura se fez ouvir como um tiro alto, cortando o silêncio denso do cômodo branco. Acompanhei o movimento da porta planando acima do chão e senti meus pés afundando, encarando a imagem que se revelava pouco a pouco. A primeira coisa que vi foram sapatos pretos bem lustrados, e isso não significaria nada se eu não tivesse sentido meus pulmões serem tomados pelo perfume de toda uma primavera. Tremi dos pés a cabeça, sem coragem de olhar para cima. Pares de pés foram sumindo até só restarem um. Um primeiro passo hesitante para dentro do quarto. Respirei fundo, finalmente erguendo os olhos.

E foi como se todo o meu universo coubesse dentro de um olhar.

Eu jamais vira aqueles cabelos castanhos e aquela pele dourada. Eu jamais vira aquele rosto de traços tão perfeitos, aqueles lábios rosados como o céu da aurora que levantava-se no horizonte, aqueles olhos que traziam em si todos os sonhos do mundo. Todas as estrelas jaziam ali, naquele olhar, transbordando serenamente pelos cantos repuxados em forma de pequenas lágrimas. Ele não disse uma palavra, suas mãos segurando firmemente um buquê multicolorido de margaridas, mas eu não precisava de palavras para saber que era ele.

Eu tinha certeza que aquele homem era o grande amor da minha vida.

Por muito tempo, eu sonhei com o dia que aquilo aconteceria comigo. Por muito tempo, eu também acreditei que coisas como aquela eram impossíveis. Eu estive nos dois mundos e hoje percebia que nunca estivera realmente certo sobre o amor, porque ele próprio é incerto. É tolo idealizar o momento em que encontraremos o amor, mas mais tolo ainda é desacreditar dele a ponto de morrer por dentro. Eu morri, eventualmente, mas o amor me trouxe de volta.

O amor daquele homem. Um homem que eu jamais vira antes aquela manhã de Outubro. Eu estava vendo o amor da minha vida pela primeira vez.

— Chris... — Sua voz doce ressoou, trazendo-me de volta de um vôo intergaláctico. 

Quando aterrissei, porém, duvidei de mim mesmo. O universo inteiro ainda estava ali, bem na minha frente, com seus olhos encantadores e o sinal sob a linha d’água que lembrava Vênus, a Estrela-Dalva. Me questionei por alguns instantes como teria sido se eu tivesse conseguido matar de vez todo o amor que havia em mim. Eu não conseguia mais me lembrar como era não estar profundamente imerso em amor. Cada célula do meu corpo queimava de amor e eu me sentia tão grato por aquilo. Eu era um homem de sorte, o mais sortudo do mundo inteiro.

— Eu não consigo tirar meus olhos de você — confessei. — Eu nunca achei que esse dia chegaria. Você é a coisa mais linda do universo inteiro.

Eu só percebi que lacrimejava quando gotas quentes escorreram pela minha face. Minha visão embaçou por alguns segundos, um vulto precipitou-se em minha direção e eu sorri ao sentir meu corpo ser envolvido pelo calor do sol que só existia dentro daquele abraço. Eu finalmente senti meus pés tocarem o chão. Era verdade, era verdade, sim. Imediatamente enlacei seu corpo com meus braços e o puxei para perto. Senti seu coração batendo acelerado dentro do peito e o tremor que se propagou dentro dele devido a um soluço. Sorri pequeno, abraçando-o mais forte. Eu o amava tanto que chegava a doer.

E eu o amava tanto que aquilo podia me curar.

Ergui meus olhos até os seus, os sete centímetros de diferença se mostrando insignificantes quando parecíamos infinitamente próximos, como dois átomos. Nossas almas se esbarravam através do olhar. Eu não podia acreditar no que via. Eu nunca havia olhado nos olhos do meu grande amor antes, e agora que eu podia, eu me sentia completo, e sentia que poderia ficar ali para sempre, apenas contemplando a beleza inexplicável do que sentíamos um pelo outro.

— Então essa é a face do amor. — Toquei as maçãs do rosto de meu amado, sentindo as digitais umedecerem de lágrimas silenciosas. — Você não pode imaginar o que eu estou sentindo agora.

— Claro que posso. Não se esqueça que um dia eu também te vi pela primeira vez.

Sorrimos em sintonia, como se só houvesse nós dois no universo e o cosmo inteiro se movesse no nosso ritmo. Meus calcanhares ergueram-se minimamente do chão e nossos narizes esbarraram-se. Eu não costumava me achar feio, mas eu certamente não estava esperando que meu namorado fosse tão bonito assim. Ele parecia uma obra de arte.

— Garoto, você é magnífico. O que foi que você viu em mim, hum? — sussurrei, nossos lábios perigosamente próximos. Ele sorriu e eu senti algo queimar sob a minha pele, como a passagem de um cometa. Seu sorriso era de longe o que eu mais ansiava poder ver, e não me arrependia. Cinco anos sem ver a luz do sol agora pareciam devidamente quitados, pois o sorriso de Hyunjin brilhava ainda mais do que ele. — Porcaria! Se você continuar sorrindo desse jeito eu vou voltar a ficar cego. Não se vendem córneas em qualquer esquina, Hyunjin.

Tão logo quanto concluí a frase, o coreano explodiu numa de suas típicas gargalhadas escandalosas, tentando abafá-la contra meu ombro ao se lembrar que hospitais têm políticas bem rígidas quanto ao silêncio. Permaneceu ali por um tempo, tentando recuperar o fôlego, sua respiração batendo contra a minha clavícula exposta pela gola larga da camiseta. Pude notar o contraste bonito dos tons de nossas peles. Eu era pálido como um dia de inverno e ele tinha as cores bonitas de um verão. Hyunjin era perfeito. Éramos perfeitos juntos.

— Foi isso — murmurou, depois de alguns segundos de silêncio, seu tom era o mesmo da primeira vez que ele me dissera um ‘eu te amo’. — Foi isso que eu vi em você, Christopher. — Uma de suas mãos subiu até o meu rosto, nossos olhares novamente alinhados com a mesma mística do alinhamento ocasional dos planetas. — Isso que não se pode ver com os olhos. — Seus dedos embrenharam-se nos meus cabelos e eu fiz o mesmo com os seus. — Eu olhei através de você, procurei pela sua alma e encontrei alguém extraordinário. Eu acho que sempre soube que aquela sua cara amarrada escondia muito mais do que aparentava. E você foi o único, em todos esses anos, que foi capaz de me amar por algo além do meu exterior. Então, tudo que eu tenho a dizer é—

— Obrigado — proferi subitamente, interrompendo-o; o embargo na garganta parecia insuportável. — Obrigado por me salvar. Eu estava perdido e você me encontrou. Você não tem que me agradecer por nada, sou eu que te devo tudo. Eu te amo, Hyunjin. Eu te amo com todas as minhas forças e eu te amo ainda mais agora que posso olhar nos teus olhos e dizer isso. Você é o amor da minha vida e eu sou grato todos os dias por ter te encontrado. E se algum dia você for embora, leve contigo os meus olhos, porque eu não quero ver o mundo sem poder acordar do seu lado todos os dias. Eu não quero ver o mundo sem o seu sorriso. Eu não quero ver o mundo sem você, Hwang Hyunjin.

O coreano uniu nossas testas, os olhinhos brilhantes de lágrimas.

— Ei, isso não é uma fala de A Culpa É Das Estrelas? — sussurrou, como se a atmosfera ao nosso redor fosse um bebê adormecido que não podia ser acordado.

— Eu estou tentando ser romântico, cacete — sussurrei de volta. Estávamos tão apaixonados que chegava a ser ridículo. — E, além do mais, não tem muitos personagens cegos com falas interessantes por aí. Estou tentando ser representativo.

— Ah, okay, me desculpe. — Riu baixinho.

— Desculpo, mas com uma condição.

— E qual condição seria essa? — inquiriu, ao que seus braços enlaçaram-me num abraço.

Rodeei seus ombros com meus braços, aproximando nossos rostos mais uma vez, finalmente sendo capaz de fechar os olhos depois de tanto tempo. Por mais que o mundo seja belo, há coisas que ainda precisamos fechar os olhos para fazer.

— Que você cale a boca e me beije de uma vez.

Eu costumava sonhar com o dia em que olharia para alguém e saberia que essa pessoa é o grande amor da minha vida, e, quando aconteceu, não foi nem um pouco como eu imaginava que seria: foi algo ainda mais especial. Porque, se algumas pessoas chamam isso de amor à primeira vista, eu não podia denominar assim, já que muito antes de poder ver Hyunjin, eu já o amava com cada outro sentido. Eu já o amava com todo o resto de mim.


Notas Finais


TA-DA! Eu espero que esse twist tenha ficado decente e não tosco. Não me apedrejem, por favor! Abraços e obrigada pelo seu view/fav!

(Deixa um fav aí, Stay, nunca te pedi nada...)


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