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História O quase - Milk-shake de doce de leite.


Escrita por: princesadelesbos

Notas do Autor


falei que voltava essa semana, não falei?
voltei!

espero que enfim e até la embaixo!

Capítulo 10 - Milk-shake de doce de leite.


Na segunda-feira, eu não estava bem de tanta ansiedade. Mal conseguia acreditar que, sei lá, o tempo não havia parado ou nenhuma catástrofe terrível não tivesse acontecido no final de semana pra me livrar de viver esse dia de hoje. 

Porém, claro que não, o mundo não parou. Ele nunca pararia, eu viria a descobrir pouco depois. Nem se eu parasse. 

Nada me tirava do limbo das possibilidades e do desejo de voltar pra casa antes mesmo de ter saído. Só conseguia pensar que era só uma coisinha. Um detalhe que eu precisava resolver e voltar. Quando eu chegasse em casa, eu poderia descansar. Talvez, faltar um dia de aula ou dois. Ia ficar tudo bem, eu só precisava ir e voltar.

E falar pra Luciana que eu tinha sentimentos por ela.

Eu sabia que no final daquele dia, tudo estaria diferente dentro de mim. Tudo. 

Nenhuma aula fez sentido, o tempo só passou e rápido demais para mais uma tarde que passaríamos juntas. 

- E aí Diana, tá fazendo o que? – minha melhor amiga perguntou.

- Esperando Lua, a gente vai sair. E você?

- Me metendo na sua vida. Não falou com ela, né?

- Não, não consegui. Mas você sim. Como estão você e a Débora?

- Não sei bem, mas tô gostando muito. Acho que ela também. Nada como um romancezinho pra dar uma melhorada nos dias.

- Bom, sobre isso, não faço ideia.

- Pois tomara que a Lucy tasque logo um beijão nessa sua boca que é pra você saber. Há quanto tempo você não fica com ninguém, hein?

- Eu nunca "fiquei" com ninguém. Você faz isso. Eu esporadicamente beijo pessoas, não fico com elas. 

- E há quanto tempo você não faz isso, mesmo?

- Não vem ao caso, né Sarah? Não vem ao caso. 

- Volto a dizer, tomara que vocês deem uns beijos logo.

Agora, eu me arrependo um pouco só de não ter contado tudo pra Sarah antes. Certeza que ela me daria uma luz sobre o assunto. 

Ou não, mas eu não precisava passar por tudo sozinha.

- Nem lembro como faz isso.

- Tenho uma estratégia, se quiser.

- Não sendo nada elaborado demais, fala. 

- Não, é o que eu fiz com a Debs. Cê vai ficar pertinho. De preferência, na hora que tiver um clima entre vocês, um silêncio confortável. E aí você vai olhar pra ela. Aproveita e olha bastante até ela olhar de volta. Quando ela olhar, você se inclina um pouco. Se ela não se afastar, deu tudo certo. Daí você vai "roubar" um selinho dela.

- Isso não é invasivo demais?

- Vocês já se olharam bastante. E é só um selinho rápido. Não se inclina tão rápido pra não assustar, e nem tão devagar porque… ah, porque se for devagar demais não tem graça! E tem que ter emoção. 

- Ela pode desistir no caminho se for muito devagar. – ela riu.

- E você vai ficar muito mais tempo se perguntando do que agindo então o timing tem que ser perfeito, sabe? Espero que dê certo contigo, porque eu tive que praticar um pouco até acertar.

- Ah, que bom, sem pressão.

[...]

- E aí, o que a gente vai fazer?

- Sei lá… – eu vou tentar não surtar e só isso. 

- Cê nem almoçou, né? Vamos comer alguma coisa.

- Não, tô sem fome.

- Certeza?

- Sim. 

- Só vamos andando, então.

Eu realmente estava nervosa de um jeito que nunca estive pra fazer nada. Ouvi longe quando ela disse algo como "olha que legal, vamos entrar!" sobre algum estabelecimento e me puxou pelo braço. 

Quando estava lá dentro, percebi que era um sebo. E um bem grande. 

Respondi o boa tarde da atendente, e segui Lua pelo lugar completamente vazio de gente, cheio de livros. 

- Tem muita coisa legal aqui!

- Parece que tem mesmo. Nunca tinha entrado.

- Nem eu. – ela foi andando e se afastando da entrada, e da atendente, e de mim, que a segui.

Na minha cabeça, eu dizia e repetia: só ache um momento pra soltar isso, não é tão grande assim. E ela não morde, ela é linda… 

- Di, o que você acha? – me mostrou um livro de capa colorida. – Di? 

- Hm? Foi mal, o que você disse? – ela apontou o livro.

- O que você acha? 

- Eu acho… – pigarreei, minha voz falhou. – Lua, ahn, eu acho que gosto de você. 

Boa, Diana. Só uns meses atrasada no timing, mas foi bom. Agora pode enxugar as mãos suadas. Que continuam suando, porque os segundos intermináveis até a resposta dela, sendo propositalmente redundante, nunca chegavam ao fim. 

- Você gosta de mim?

- Você não sabia? 

- Ah, eu desconfiava, Di… – engoli seco. Essa me surpreendeu, ao mesmo tempo que não.

Tenho essa frase tatuada no peito e lembro toda vez que me questiono. Ela sabia que eu gostava dela. Sempre soube, e sempre viu. 

- É? Bom, é verdade, eu gosto. – ela colocou o livro de volta na prateleira, tomando o cuidado de colocar no mesmo lugar. 

Acho que ela estava decidindo se correr era uma boa ideia, ou me xingando mentalmente por fazê-la ter essa conversa. "Droga, nós duas sabíamos disso e estava tudo bem, por que não ficou quieta?", ou algo assim. Só estava tudo bem pra ela, o problema é esse.

- Desde quando? 

- Desde… eu não sei, faz tempo. 

- Antes da Ana?

- Bem antes dela. Enxuguei suas lágrimas, lembra?

- E você… acompanhou a gente tão de perto, desculpa, Di.

- Que é isso, você não sabia. E era sua namorada, o que eu podia fazer? Pedir para vocês não serem namoradas perto de mim? 

- Não, mas se eu soubesse…

- Nada mudaria. – ela desviou o olhar, e sentou-se no chão, encostada à prateleira maior. Juntei-me a ela, sentando ao seu lado. 

- Por que demorou tanto pra me falar?

- Porque eu não queria nem admitir. Porque achei que ver você namorando mudaria meus sentimentos. Porque você precisava de tempo depois do término.

- Não precisava, tava tudo bem. 

- Mas, de qualquer maneira, não é bem uma conversa que eu gostaria de ter. 

- Acho que entendo. Eu nunca faria isso.

- O que você faria no meu lugar?

- Morreria com meus sentimentos. 

- Principalmente não sendo recíprocos, né? Era o que eu queria fazer, mas acho que faz parte do meu processo essa conversa. Eu precisava que você soubesse, com todas as letras, só para acalmar a minha cabeça. 

- Isso é muito bom pra você, porque eu jamais escolheria acalmar minha cabeça. – rimos. – Eu me sinto vivendo uma fanfic. 

- Fanfic?

- É, parece um momento de fanfic. Eu e você sentadas nesse chão, dentro desse lugar aleatório, que acabou de ficar muito importante porque você me falou que gosta de mim. – ri. Nunca foi minha intenção fazer uma cena, mas momentos simples se tornavam cenas com Lua. Fazia parte da sua maneira de ver o mundo. 

Eu não queria ser amargurada e dizer que seria uma ótima fanfic se ela me correspondesse. Aliás, não amargura. Eu não queria dizer porque eu nem conseguia imaginar esse mundo no qual ela me corresponderia. Era muito irreal pra mim, mesmo ela sendo uma menina de dezesseis anos exatamente como eu era. Não parece impossível que fosse recíproco quando olho daqui, uns anos depois. Mas naquele momento, era. Luciana estava meio que num lugar de “contemplação”, porque eu olhava muito pra ela. Eu a admirava.

Eu não me sentia falando de igual pra igual com ela. 

Poderia dizer que era o efeito de Luciana, que ela causava isso nas pessoas. Poderia jogar isso pra ela sim, e talvez até fizesse sentido. Mas isso na verdade dizia mais sobre mim. 

-  Di, me conta essa história. Quero ouvir tudo. 

Eu contei tudo. 

Nem lembro das coisas que falei, mas tenho certeza de que falei tudo. E ela foi a primeira a quem eu contei detalhes disso. Todas as coisas que eu passei, todas as fases até aquele momento, os dias bons e os dias ruins, tudo. 

Acho que ficamos horas ali, sentadas no chão daquele sebo. Nenhuma pessoa apareceu, que eu me lembre. Era como se estivéssemos sozinhas no mundo. Naquele mundinho entre os livros. E eu me senti acolhida por ela. Pelo seu gesto de ouvir o que eu tinha pra dizer, e mais, se preocupar com isso. 

Tenho esse dia como muito bom em minha memória. Enquanto a gente conversava, fiquei até sem entender o porquê de eu ter tanto medo de falar, se eu sabia quem ela era. Eu sabia, no meu coração, que ela teria tanta coragem pra ouvir quanto eu teria pra falar. Não era fácil pra ela também.

Mas era mais fácil pra ela do que era pra mim. Pelo menos eu acho.

A gente foi comer antes do fim da tarde e o combinado pôr do sol, já que depois do nervosismo inicial eu senti muita fome, e dividimos um milkshake. 

- Isso já tinha acontecido com você?

- O que?

- Gostar de alguém assim. Tipo, sei lá, se você já sentiu algo pela Sarah. Ou a Bruna. – eu nem conversava direito com a Bruna. Mas já chegamos nela. 

- Você quer saber se eu faço isso com frequência?

- Frequência não, só se eu sou a primeira amiga sua que… enfim. 

- Não, isso nunca aconteceu comigo e nenhuma amiga. Por que, com você acontece bastante?

- Bastante não, mas já aconteceu, sem querer me enaltecer nem nada.

- Ah, sim. Não é o meu caso. 

Perfeito, só mais uma no meio de outras várias que já “confundiram as coisas” enquanto estavam com ela. Quis perguntar onde elas estavam, agora. Mas temi a resposta. E mantive o silêncio por um tempo.

- E agora que você sabe que gosta de mim, o que você vai fazer? 

- Eu já sei há um tempo, né? Mas não entendi bem a pergunta… como assim?

- Tipo… não sei, você vai tentar parar?

- Que? 

Silêncio.

- Que opção eu tenho? Vou tentar parar, fazer o que? 

Ela não disse nada. A conversa, daí em diante, consistiu em amenidades e falas engraçadas. A gente estava bem e eu realmente achava que isso poderia não nos afetar em nada, naquele momento. 

Ingênua, inocente.

- Quantas coisas um mesmo ser humano pode passar né? A gente é tão pequeno, e mesmo assim, tão complicado.

- E mesmo assim, a gente se reinventa, e se adapta, e passa por tudo. 

- Verdade. – ela parou por um longo momento, e me olhou. Mais uma vez, ver Lua iluminada pelo restinho de sol no horizonte fez meu coração sambar, mas com calma. 

- No que tá pensando, Lua? 

- Milk-shake de doce de leite. – rimos. – Daqui a pouco cê tem que ir pra casa, né?

- É… – ela deitou a cabeça em meu ombro. Fiquei rígida por um segundo, e contive meu impulso de tocar nela, temendo ser mal interpretada. Isso doeu.

"O que você vai fazer? Vai tentar parar?" 

Isso não saía da minha cabeça. Eu estava confusa com um monte de coisa e essa pergunta era traiçoeira demais pro meu ser desesperado por esclarecer e explicar tudo. 

O problema da vida real é que não dá pra confiar 100% na memória. Eu lembro de um jeito, ela lembra de outro, ou nem lembra. E, apesar da cabeça da gente fazer isso com toda a falta de credibilidade que lhe cabe, não dá pra pausar e voltar e rever uma cena por todos os ângulos várias vezes. A gente só tem uma vez, e por um ângulo. E, por mais que você acredite no que quer que possa acreditar, na vida há sim coisas que não têm propósito. Pessoas realmente às vezes dizem e fazem coisas sem pensar. É claro que a vida tende a cobrar essas pessoas por isso, mas no caso dessas frases, eu quem deveria ter cobrado. 

Não cobrei porque não queria que ela me visse mais vulnerável ainda. Não queria que ela tivesse certeza de que eu ousei concluir que tinha chances com ela. 

Bom, eu estou contando uma história. Não quer dizer que isso tudo estava certo, só é como aconteceu. 

Então, ao invés de perguntar que diabo de frase foi essa, eu resolvi mudar a abordagem. 

- A Sarah… – a minha voz chamou sua atenção. Nesse dia, as palavras saíam da minha boca e eu nem conseguia acreditar. - Bom, ela sabe em parte.

- Sabe? Por isso que ela parou de brincar daquele jeito? De que a gente era namoradas, e tal? 

- Não, ela realmente parou porque ela quis, eu não disse nada sobre… ah enfim, eu falei vagamente sobre o que eu ia fazer hoje, sabe? – ela assentiu. – E aí ela me disse pra não dizer nada.

- E você disse mesmo assim. – ela disse, parecendo surpresa ainda com a minha coragem porque tinha certeza de que eu havia decidido aquilo sozinha. Ser desencorajada pela minha melhor amiga e ainda fazer mesmo assim era realmente surpreendente, até porque eu sempre dava muito ouvidos ao que Sarah tinha a dizer, quando ela falava sério. 

- Na verdade, eu escolhi a minha abordagem. Porque a dela era meio que… só olhar pra você. – e finalmente fiz o que falei, e evitei a tarde toda: olhei nos olhos dela. Lua assentiu. -–E aí quando você me olhasse de volta eu… só beijaria você. Simples assim. – e ri, pra manter o tom de brincadeira. Lua só escutava. – A Sarah é maluca, né? Isso não daria certo nunca. 

Nós duas desviamos o olhar ao mesmo tempo.

- Como você sabe? Você não fez isso. 

Senti meu corpo gelar. Quando a olhei, ela deu de ombros. Eu poderia ter feito um milhão de coisas depois dessa. Inclusive, fingir que nunca havia dito nada e beijá-la. Foi um dos milhares de momentos nos quais senti que poderia. Mas, novamente, eu estava presa comigo. E já tinha lhe dito que tentaria parar, o que quer que isso signifique em termos sentimentais, que não obedecem a razão em nada. 

- É. Você tem razão, Lua. Eu poderia ter feito isso. 

Escolhi essa porque tinha acabado de aceitar: seria assombrada pela conversa desse dia. Só tinha acabado de escolher um momento e uma frase diferentes para repassar na minha mente várias vezes.

Horas depois, senti muita raiva de Luciana pela primeira vez.


Notas Finais


/quietinha


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