O dia amanheceu calmo para o mundo, mas não pra mim. Eu só conseguia pensar no beijo, mas tinha que me focar. Enxaguei o rosto e segui minha rotina como de costume; esperei por algum constrangimento ou sinal de que Dimitry se lembrava do beijo, porém não houve. Resolvi perguntar indiretamente.
--- Ei, você está melhor depois de... você sabe... ontem?
--- Claro que sim, e, aliás, obrigada por cuidar de mim.--- respondeu-me sorrindo.--- O mais curioso, eu não lembro de quase nada sobre ontem. Sei lá...--- deu uma pequena gargalhada.
--- Ah, imagino, muitos analgésicos...
--- Eu tive um sonho engraçado--- encarou a mesa pensativo.--- Nele você me beijava, deveríamos tentar na vida real, não?--- Dimitry sorriu malicioso.
--- Você é bem engraçadinho.--- respondi me retirando para evitar aquela vergonha.--- Estou saindo, até mais tarde.
--- Ei, ei onde pensa que vai sozinha?
--- Na escola...?
--- Ata, claro. Como se nada de perigoso estivesse acontecendo.
--- Você não está em condições de me acompanhar, camarada.
--- Então é por isso que você vai levar meu bebê--- ele me deu seu canivete.---Eu te conheço, não vai apanhar de qualquer um, mas é bom que esteja armada.
--- Como se não estivesse o tempo todo.--- repliquei irônica tirando um revólver da bolsa.
--- Onde conseguiu isso?--- encarou-me preocupado--- Você não deveria levar isso à escola, Raposa.
--- Peguei da sua mochila, ontem à noite... Achei que seria útil.
--- Devolva, por favor.--- disse sério.
--- Chatooo...--- entreguei a arma e peguei o canivete.--- Bye bye!!
--- Toma jeito, menina.--- meu companheiro despediu-se com uma real preocupação.
Andei pelas ruas com calma, para refletir sobre tudo que estava acontecendo. Chegando à Sweet Amoris, meus colegas pareciam bem agitados, assim que encontrei Alexy perguntei o que acontecia.
---Vamos fazer trilha, estou tão animado.--- disse-me entregando uma blusa preta e uma jaqueta listrada com uma calça meio solta.--- Esse uniforme aqui é da escola, como foi tudo programado de última hora vamos usar esses aqui mesmo, estão guardados há décadas, mas pelo menos são bicolores, tá na moda né?
--- Ouviu isso, Lysandre, você tá na moda...--- disse Castiel já vestindo seu uniforme, que não tinha ficado nada mau.
--- Haha, Castiel.--- respondeu o platinado revirando os olhos e em seguida me encarando.--- Deveria se vestir, não acha? Já estamos saindo.--- falou e então seguiu para o ônibus que nos aguardava com o ruivo.
--- Não é normal que os meninos queiram ver as garotas vestidas, eu acho.--- replicou Alexy rindo e eu fiquei meio sem graça.--- Calma, querida, era brincadeira.
--- Ah claro.--- respondi meio sem jeito e caminhando até o vestiário.--- Já volto.
Fui até o salão e troquei de roupa, resolvi prender o cabelo em um meio rabo. Estava meio frio, passei deixar minhas roupas no armário e seguia pro transporte quando avistei o Kentin, aquele garoto da queimada. Ele parecia meio decepcionado, então parei pra conversar.
---Oi, Kentin né?
--- Isso, Jenny né?--- ele respondeu me encarando e em seguida ficando nervoso.--- Desculpa, eu nem te conheço e te chamei pelo seu apelido, desculpa mesmo. Não era minha intenção, mesmo mesmo.
--- Ei, calma. Você é meu amigo, pode me chamar de Jenny.--- repliquei sorrindo.
--- Sou? Que legal! --- a animação do garoto me deixou feliz.
--- Você me parece meio decepcionado, angustiado... Aconteceu algo?
--- Na verdade, sim... Eu estou indo embora.
--- Como assim?--- perguntei confusa.--- Todos estamos... para a trilha, né?
--- Não --- Kentin se retraiu.--- Conhece a Ambre né? Enfim, meu pai acha que eu sou uma vergonha por ser intimidado por uma garota como ela, então hoje eu vim buscar minha transferência.
--- Para onde você vai? --- pensei comigo que talvez fosse natural o pai dele ser exigente, afinal era militar.
--- Para um internato filiado ao exército.
--- Vai ser bem puxado.
--- Eu sei disso.--- senti uma raiva na sua voz e tentei acalmá-lo.
--- Ei, não é culpa sua ser atormentado por ela. Isso não faz de você alguém inferior a qualquer garoto aqui. Seu pai só quer o melhor, e talvez ele não saiba expressar. Mas tome isso como algo pra fazer você crescer.
--- Eu quero sair com você...--- Kentin disse de maneira impulsiva e ficou vermelho logo em seguida.--- Desculpe. Eu nem sei se vou voltar e ainda falo essas bobagens.
--- Eu aceito, se algum dia nos encontrarmos novamente... Vou sair com você.--- respondi rindo.
--- Vou voltar, vou mudar, você vai gostar mais do meu novo eu.
--- Independente de quem você se tornar, ainda vai ser Kentin, e eu já gosto de você assim.--- nós sorrimos e ele tinha um brilho no olhar.
O garoto saiu correndo para fora da escola e então Lysandre surgiu atrás de mim.
--- Pra onde ele vai?
--- Colégio militar ou algo do tipo.--- era tão natural como uma conversa se desenvolvia entre nós dois.
--- Talvez seja bom pro garoto.--- assenti com a cabeça. --- Agora, senhorita, você... --- ele estava se aproximando quando Nathaniel chegou gritando.
--- Jenifer, estamos desesperados atrás de você, vamos para o ônibus. Lysandre você também.--- apressamo-nos e entramos no veículo.--- Quer se sentar comigo?--- o representante me ofereceu o lugar ao seu lado.
--- Claro!!--- respondi me ajeitando e então partimos.
Foram apenas 3h de viagem até chegarmos ao local da trilha. Quando todos saíram do transporte, um professor responsável começou a formar grupos aleatórios e eu acabei no grupo do Castiel com Íris e Lysandre. Depois foram distribuídas várias tarefas para as "equipes", tínhamos que encontrar uma série de objetos e aquela que encontrasse todos mais rapidamente ganharia o desafio. Ganhamos um mapa e algumas dicas; durante meu treinamento na ME esse tipo de atividade era meu favorito. Meu grupo sempre saía vitorioso, e desse vez não seria diferente.
--- Talvez devêssemos começar pelas partes mais altas do mapa.--- sugeri aos meus amigos que concordaram.
--- Nada mal hein, caçadora...--- observou ironicamente Castiel.
Subimos até os terrenos mais altos e encontramos o primeiro objeto, seguimos descendo e passamos por outras áreas que me pareciam as mais condizentes. Lysandre dava ótimas sugestões também e por fim encontramos o último artigo da lista, porém não parecia ter caminho de volta pela região que adentramos.
--- Ruivo, cadê o mapa?--- pedi ao meu colega calmamente.
--- Não estava comigo. Estava com a Íris...--- replicou olhando para a tímida garota.
--- E-Eu n-não!!--- defendeu-se envergonhada.
--- Muito menos comigo...--- disse Lysandre.
--- Tá... eu posso ter perdido ele de vista há algum tempo.--- murmurou Castiel.
--- VOCÊ O QUE?--- me exaltei.--- Como vamos ganhar agora?
--- É só isso que importa pra você?--- Lysandre me questionou arqueando uma sobrancelha.
--- É o objetivo do jogo.--- respondi.
--- Mais importante que sua vida?
--- Uau, calma. Não é como se eu fosse morrer nessa floresta.--- gargalhei e ele sorriu de canto.
--- Vocês estão flertando ou algo do tipo?--- Castiel comentou.
--- Não, onde você colocou esse mapa?--- o platinado se dirigiu ao ruivo.
---Se eu soubesse já teria falado...--- garoto revirou os olhos.
--- Simples, vamos fazer o caminho de volta.--- falei calmamente.
--- M-Mas tem vários morros, descer foi fácil, mas subir não vai ser...--- Íris era a mais preocupada entre nós.
--- Nós vamos conseguir, tá? Fica calma.--- repliquei tentando acalmá-la.
--- Okay.--- a garota suspirou.
Fomos voltando até um ponto em que tinha um buraco, Íris quase caiu nele, na verdade parecia bem perdida em seus pensamentos e hesitante, porém eu a empurrei que acabou caindo em cima do meu corpo.
---Desculpa --- levantou-se rapidamente, porém eu demorei um pouco mais para me recuperar e quando finalmente fiquei em pé minhas pernas falharam e iria ao chão se Lysandre não tivesse me puxado.
---Ai --- gemi baixo de dor, quando olhei pra baixo meu pé estava torto, como se tivesse girado, e estava extremamente roxo e inchado.
--- Você distendeu seu tornozelo.--- disse me encarando com seriedade.--- Como está aguentando a dor?
--- Sério que é isso que vai me perguntar nesse momento?--- repliquei fechando os olhos e tentando canalizar a dor.
--- Nossa, isso tá muito horrível--- disse Castiel tirando o celular do bolso e capturando uma foto.
---VOCÊ ESTÁ COM SEU CELULAR?--- a coordenação havia tirado o aparelho telefone de todos.--- VOCÊ PODERIA TER USADO O SEU GPS RUIVO IDIOTA.--- Eu estava tão irritada que não conseguia parar de gritar. Então, em um súbito de adrenalina, eu saí andando na direção àquele rebelde desgraçado. Mas Lysandre me abraçou por trás e meu coração acelerou de surpresa.
--- Então lida com sua dor através da raiva.... que menina esquentadinha.--- disse rindo e então me pegou no colo.
--- O que você tá fazendo?--- perguntei secamente.
--- Levando uma soldada ferida.--- o garoto me encarou e em seguida intimou o amigo--- Castiel, liga a droga do seu gps e tira a gente daqui da maneira mais rápida que conseguir.
--- Me põe no chão...--- me debati.
--- D-Desculpa, Jenny--- Íris continuava preocupada.--- É tudo culpa minha.
---- Relaxa, vai ficar tudo bem.--- tranquilizei a menina.--- agora me deixa andar, eu consigo.
--- Aceita a ajuda, você não é tão durona quanto pensa.--- encarou-me com aqueles olhos bicolores profundos.
--- Eu disse que consigo.--- e então ele me soltou e eu caí sentada no chão. Uma dor aguda invadiu meu corpo e meu olho lacrimejou.
--- Então vai.--- Lysandre seguiu até o amigo que achava algum atalho no gps.
--- JENNIFER!!! --- Jade surgiu da mata correndo em minha direção e então agachou olhando com preocupação e me abraçando.--- O que aconteceu com você?
--- Eu estou bem, Pietro.--- respondi o afastando para evitar suspeitas.
--- Não é o que parece.--- ele disse olhando para meu pé.--- Vocês são incrivelmente úteis...--- Jade encarou os dois garotos no canto.
--- Ela disse que não queria ajuda, que conseguia sozinha, então deixamos ela conseguir SOZINHA.--- Castiel respondeu ironicamente.
--- Jenny não faz linha princesa em perigo igual suas piranhas.--- meu amigo falou secamente.--- Mas você também não é bom suficiente em insistir, certo?
--- Olha aqui, seu jardineiro...--- o ruivo foi se aproximando quando foi segurado pelo colega platinado.Então me levantei rapidamente de qualquer jeito.
--- Pietro, como saímos daqui?--- perguntei ignorando aquela discussão.
--- A diretora me mandou. Todos chegaram já. Mas vamos, é por aqui...
Seguimos meu parceiro até o local que fora combinado. Onde todas as equipes aguardavam impacientemente a nossa volta. O caminho todo eu fui andando sozinha, com meu próprio esforço e no final, isso pareceu incomodar Lysandre.
--- Realmente não faz a linha princesa em perigo.
--- Eu nunca disse que fazia.
--- Seu amigo, o jardineiro, nem se ofereceu pra te ajudar.
--- Porque, apesar de eu conhecê-lo há pouco tempo, ele me entende bem.
--- Quer dizer que você realmente não queria ajuda? Meus perdões.
--- Eu só não queria parecer uma vítima, porque eu não sou. Nunca disse que não precisava de ajuda. Mas passei a não precisar depois que me jogou no chão daquele jeito.
--- Eu só fiz o que você queria.
--- Não, você só fez o que VOCÊ queria, pra provar que eu estava errada.--- respondi encarando-o e sendo retribuída.
--- Tem razão. Porque você estava ERRADA.
--- Você tem um belo jeito de provar isso.---Lysandre ficou sério e parou um pouco antes de voltar a andar. Logo chegamos e Nathaniel me ajudou a subir no ônibus. Não falei mais com o platinado ou olhei pra ele.
Na escola uma ambulância me esperava e Dimitry estava lá também, bem melhor do que de manhã, já bem recuperado. Fui medicada e segui para casa sem maiores problemas. Ganhei um presentinho do hospital, lindas muletas para uma semana de aula. Seriam 7 maravilhosos dias.
--- Como foi hoje?---Dimitry me perguntou assim que chegamos em casa.
---Tirando a perda do meu pé.... Acho que bem legal.
--- Realmente, estamos sem sorte.... Quem é aquele cara, que fica te encarando sempre?
--- Hum, poderia descrevê-lo?
--- Heterocromia.
--- Lysandre, não viu a ficha?
--- Ah claro, é que ainda estou meio zoado por causa dos medicamentos.
--- Eu nunca percebi que ele me encarava. Tem certeza disso?
--- Claro que não percebeu, ele encara de longe, talvez esteja apaixonado...--- me disse sorrindo malicioso.
--- Ele me jogou no chão hoje, claro que está apaixonado....--- respondi com ironia.
--- Você deixou alguém te jogar no chão??? Está apaixonada também?--- gargalhou.
--- Para com isso, meu amor sempre foi e sempre será...--- me aproximei dele.--- Pizza! ---peguei a fatia atrás do corpo de Dimitry e subi para meu quarto.--- Boa noite!
--- Boa noite, Raposa!!--- meu guardião respondeu com um sorriso no rosto.--- Garota dilema.
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