POV JIMIN
Eu fui para o quarto trocar a camiseta e senti com mais cuidado o perfume que eu usava. Não tinha reparado o quanto ele era cheiroso, eu só gostava do vidro e recebia muitos elogios por ele. Fiquei curioso a respeito de que perfume ele usava, tinha um cheirinho de madeira e floral, era marcante mesmo que fraco; senti pela primeira vez no carro, depois quando ele me jogou na parede e quando segurou a minha mão. Ah esse fato não passou despercebido pelo meu corpo.
Seus dedos frios suavizavam o calor das minhas que pareciam pegar fogo toda a vez que eu ficava nervoso e provocou uma corrente elétrica pelo meu corpo inteiro. Era o primeiro contato gentil que eu recebia dele. Depois ele afagou meu cabelo, tão gostoso que eu não queria que ele parasse o toque. Imaginei como seria dormir com o cafuné do mais velho, com os seus braços em torno de mim, como seria seus lábios nos meus. Ele me daria um beijo calmo ou seria algo realmente intenso? Acho que dependeria da razão do beijo, do quanto ele estivesse com vontade e de quanto eu o irritasse.
Eu estava fodido de todo jeito, então nada me impedia de brincar com fogo, já que ele iria me consumir de todo jeito.
Coloquei uma camiseta preta com alguma coisa escrita na frente e peguei um boné preto; eu colocaria o branco se a tinta no meu cabelo ainda úmido não corresse o risco de mancha-lo. Ainda estava frio, então eu peguei uma jaqueta jeans grossa forrada por dentro que tinha mil bolsos, verde militar. Era a única coisa que não era preta que eu vestia.
Yoongi tinha pegado o casaco preto, era coincidentemente a única peça escura que vestia, o que ficava muito bem com a calça desgastada e a camiseta branca. Muito bem? Ele estava gostoso. Confesso.
- ‘Bora que eu estou começando a ficar com fome.
- Eu dirijo? – Perguntei, indo até ele.
- Nem fodendo, Jiminie. Não esquece isso aqui.
Ele guardou a chave no bolso e jogou um óculos escuro que eu logo reconheci pela textura de madeira ser o meu. Devo ter deixando em algum lugar, eu tinha essa coisa de perder coisas.
- Achei que eu tivesse perdido.
- Deixaram no meu apartamento, eu achei agora. Parece que essas pessoas não sabem que você não mora comigo.
- Ou elas sabem que eu perco tudo e deixaram com você.
- Não sou seu pai pra ficar tomando conta de você. – ele esperou eu trancar o apartamento.
- Se notar, meu pai também não toma.
Ele pareceu pensar sobre por algum tempo, e depois não disse mais nada. Nós entramos no carro e fomos para o shopping cantando I’m Not Sorry e eu descobri que suga era um ótimo rapper e a sua voz era linda. Até agora estava tudo sob controle e eu não tinha apanhado mais. Estava contando o tempo que conseguia permanecer assim.
POV SUGA
A voz de Jimin era linda, eu fiquei pensando o que ele estava fazendo que não tentou ser cantor. Eu elogiei sua voz e ele a minha, o que eu achei que fosse só educação. Nós chegamos ao shopping, ele estava sem o boné ainda, mas usava os óculos escuros e passava a mão pelo cabelo de um jeito sexy que ele nem notava que era. Às vezes ele ria e sorria de alguma coisa que eu falava, o que me fazia desviar o olhar para não ficar encarando muito tempo.
Nós começamos a andar pelo shopping sem ver nada em especial, era só pra matar o tempo e conversar, provavelmente eu não faria isso se ele estivesse dentro do apartamento dele, eu só o deixaria lá. O que também não era muito seguro, visto que da última vez ele simplesmente sumiu. O rumo da conversa estava incomodando um pouco pelo tanto que era pessoal, mas ao mesmo tempo eu queria compartilhar com alguém. Talvez ele entendesse. Talvez ele conseguisse ver o motivo de eu ser como eu sou.
- E seus pais, hyung?
- Não sei da minha mãe há muito tempo e meu pai... não tenho ideia de pra onde foi.
- Não era ligado a eles?
- Não... meus... eu... – porque não conseguia dizer? Ele entenderia, não é? – saí de casa muito cedo. Meu pai, ele... bebia muito e me espancava quando chegava em casa. Então eu saí de casa.
- E pra onde foi?
Ótima pergunta.
- Vaguei pelas ruas por um tempo. Alguns meses depois eu achei seu pai, ou ele me achou.
- Deve ter sido complicado.
- As ruas não são nada bonitas principalmente pra alguém como eu.
- Aprendeu a bater depois de apanhar a ponto de não conseguir levantar. – ele olhava uma vitrine com falso interesse, eu sabia que era só pra não precisar me olhar enquanto dizia.
- Você sofre todo o tipo de abuso quando se está nas ruas e pessoas como eu são mais procuradas pra algumas coisas. Eu vi minha inocência e dignidade ser arrancada à força de mim, eu vi o mundo de azul se tornar cinza, vi todo o tipo de impureza e sujeira, e as pessoas se destruírem por dinheiro, deixarem a máscara cair, serem elas mesmas. E elas são horríveis.
Eu esperava que ele me olhasse com nojo depois de tantas informações – ditas e não ditas, esperava que ele simplesmente se afastasse.
- Faz todo sentido você ser assim, mas tem coisas que não se tira de nós, por mais que tentem. – ele passou o braço pelos meus ombros e me puxou para continuar andando. – Você ainda tem o seu sorriso de quando era criança, ainda tem sentimentos bons, mesmo que eles fiquem escondidos debaixo do swag.
- Vai se iludindo.
- TaeTae e Lynn. Ainda acha que eu estou me iludindo?
Ele tinha simplesmente descoberto isso?
- Por que você quer jogar toda essa poeira que está quieta no chão pra cima, Jimin? – eu parei e encarei o rapaz que sorriu e passou a língua pelos lábios.
- Não quero jogar pra cima, quero limpar tudo isso.
Eu ri de lado. – Se fosse fácil...
- Tô fazendo nada, Suga, vou tentando limpar enquanto ainda me sobram dias de vida. Você me ajuda e eu te ajudo.
- Não quero mudar, se é isso que você...
- Não quero que mude. Eu quero que confie em mim, quero que acredite no que eu falo, e que abaixe a guarda comigo. Eu não vou te fazer mal, tampouco conseguiria, então relaxa e me deixa te alcançar mesmo com essa casca aí.
Era isso que ele queria? Me alcançar? E o que ele queria com a minha confiança? Por que ele insistia depois de tudo em me conhecer e em se aproximar? Não tinha ficado claro que eu não era seu amigo e não seria mais dócil com ele? Então o que ele poderia querer se não a minha mudança? Ele... gostava de mim como eu era? Afastei os pensamentos.
- O dia que tu for sugado por um buraco negro nessa bagunça toda, tu vai ver porque eu não deixo ninguém entrar.
- Eu não tenho medo do escuro, nem do que eu não conheço. Estou acostumado a me jogar primeiro e ver aonde depois.
- Suicida.
- Diria intenso. Se estiver com medo pula fora agora.
O filho da puta disse isso mesmo?
- Medo? Eu não sei o que é isso desde que comecei a trabalhar com seu pai.
- É uma das coisas que eu gosto em você, a sua falta de medo. – ele me soltou. – Eu queria ser assim.
- Se tem medo por que continua aqui?
- Por que eu não tenho medo de você. Nenhum pouco.
- Devia ter. – eu disse bem baixo.
- Me mostra que eu tenho que ter e a gente vê se é tudo isso mesmo.
Ele piscou e continuou andando tocando meu ombro sem força. Eu bufei duas vezes, acompanhando-o meio passo atrás. Aonde ele queria chegar com isso? Ele tinha dito o que eu achava que tinha? Ele tinha ideia do que eu queria fazer depois de vê-lo piscar para mim com aquele sorriso de lado? Ele tinha ideia do quanto eu podia machuca-lo e do quanto ele deveria ter medo de mim? “me mostra e eu vejo se é tudo isso mesmo”, essas palavras atingiram minha coluna como um choque e eu senti meu membro enrijecer. Jimin... não brinca com fogo, moleque, eu vou queimar você inteiro.
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