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História O Senhor da Chuva - Capítulo quatro: O que nos move.


Escrita por: AliceDracno

Notas do Autor


Eu ia postar esse capítulo no fim de semana, como havia prometido. Porém, há na minha vida seres bastante inconvenientes quando querem, chamados parentes. Enfim, imaginem vocês eu não ter tido muita privacidade nos últimos dias.
Vamos as pessoas lindas que comentaram capítulo passado?
E elas foram:
LucyBlackbird, a autora de Evangelho, segundo Light Yagami, a qual eu recomendo e deixarei link nas notas finais;
Dyryet - Clan Dragon, minha Daphnezinha, amor da minha vida ! Nos conhecemos num grupo de HP e adoro ela. Sério, vocês também tem que ler as fanfics dela, maravilhosa essa mulher.
MichelleMxM, nos conhecemos agora, mas já corei com o comentário dela.
_Be-Chan_, que está aqui há certo tempo e eu fico muito feliz em receber os comentários.
Sério, gente, vocês são incríveis. Beijos!

Capítulo 4 - Capítulo quatro: O que nos move.


Brasil, cidade de Salvador, Bahia.

19hrs35min, hotel Sheraton da Bahia, locação de Salvador.

 

A moça saia do banheiro com uma toalha azul no cabelo e outra da mesma cor enrolada no corpo. Quando morava na Europa, achava estranho o fato dos brasileiros tomarem tantos banhos por dia, mas agora, depois de sua estadia de 5 meses no Brasil, sabia perfeitamente bem que o calor do país era o motivo.

Jogou a toalha do corpo no chão e foi para cama. Depois de, metodicamente, passar creme por todo o corpo e se sentir extremamente cheirosa e pronta, pegou seu secador e, ainda nua, caminhou para a penteadeira branca e começou a secar os fios lisos e negros. Tirou os pequenos brincos da orelha e colocou-os na caixa de joias que comprou em sua última visita a Paris. Guardou seus cosméticos e depois vestiu seu pijama de seda branca com renda nas pontas. O bronzeado de sua pele destacava a cor branca.

Finalmente, começou a trabalhar. Vivia bem com a herança de sua família e, por isso, seu trabalho como detetive era somente diversão. Alguns hábitos nunca deveriam morrer. Estava de férias no Brasil e, mesmo assim, acompanhava os avanços de L em sua caçada por Kira, literalmente do outro lado do mundo. Ligou para o serviço de quarto e pediu sorvete de manga, ganhou o vício de sorvete de manga e brigadeiro naquele país.  

Amaya abriu o notebook enquanto esperava para checar sua caixa de e-mail, estava ajudando um procurador a pegar políticos corruptos, o grande problema do país. O medo do procurador era que Kira pegasse-os e os matasse antes que pudesse investigar e chegar ao fundo daquilo tudo. Porém, surpreendentemente, o único e-mail que havia recebido não era do juiz Marcelo Oliveira ou do procurador Dirceu Coelho, era de Watari.

Inclinou-se para frente e viu vários arquivos diferentes. Sorriu, o que diabos aquilo significava? Não os abriu, somente desceu até encontrar a única informação acompanhada de todos aqueles arquivos do caso Kira: Eu e L estamos mortos. Sabe o que isso significa. Investigue. Abaixo, os e-mails de Near, Mello e BB, contate-os quando achar necessário. Primeiro veio o choque. L, morto? Não podia ser possível. Mesmo levando em consideração contra quem ele lutava, era impossível ele estar morto, já que sua identidade era completamente preservada por várias pessoas. Passando o mouse por todos os arquivos, vendo datas e nomes bem curiosos, ela optou por começar pelo começo:

—Ora, ora, ora... —pôs a mão no queixo e sorriu quando abriu o primeiro arquivo. —Muito interessante, Watari... muito interessante. —Aquilo mudava quase tudo. Ao invés de começo, podia chamar aquilo de final. O início do que ali estava escrito não foi tão surpreendente assim. Não estava nada surpresa em saber que os dois sabiam que estava viva, na verdade, surpreendeu-se ao descobrir que L só a descobriu viva, quando ela apareceu no Brasil. Havia, naquele primeiro arquivo, uma das páginas do diário de L e, mais especificamente a última folha do tal diário de investigação. Era uma carta para ela com instruções bastante interessantes. Ali dizia que deveria pegar o primeiro voo para Londres e depois se encontrar com outras duas pessoas no The Five Fields¹, um dos mais luxuosos restaurantes de Londres.

A camareira bateu na porta e, permitindo a entrada dela falando fluentemente português, fechou o computador para pensar em como aquilo tudo parecia divertido.

Obrigada —desejou no português e a camareira saiu sorrindo. —Qual é o seu plano, L? O que você quer que nós façamos? Do jeito que te conheço, vai vir coisas grandes por aí. Ah, se vai!

 

(...)

Prisão de segurança máxima em Los Angeles.

14hrs:35min, ala de recreação para presos com bom comportamento.

De frente para seu computador, BB jogava um dos poucos jogos que o restrito computador da cadeia permitia: forca. Era irônico. BB estava condenado a morte e, somente pela intervenção de L, podia mexer nos computadores. É claro que alguém Beyond não estava seguindo as regras. Ele burlou a segurança de restrição dos computadores e agora navegava pela internet com muita liberdade. Seu talento com computadores enganava o sistema e mandava informações falsas para os vigias.

O canto da tela mexeu quando recebeu um e-mail. Ao abri-lo, esperava desde cartas de suas fãs psicóticas até ameaças da família das vítimas, mas o que recebeu ao abrir era muito diferente de tudo. Era uma carta de L, mandada por Watari, e esta dizia sobre a morte do detetive e algumas informações sobre ele ter de fugir da prisão com ajuda de suas fãs e ir se encontrar com outras duas pessoas no restaurante The Five Fields em Londres. Quase soltou sua gargalhada morta. L morto significava que ele o havia superado e, significava também que não havia ninguém no mundo capaz de o prender caso ele fugisse da prisão. Agora, sua missão não era cometer crimes perfeitos para superar L, mas sim capturar e matar Kira para superar L.

—Isso me parece extremamente divertido... —Beyond já tinha um plano. Estava somente esperando uma deixa como aquela. Abaixo, havia um arquivo com uma foto, coordenadas de um hotel já pago para ele, passagens compradas com uma identidade falsa e, por último, o e-mail de uma das pessoas com quem devia entrar em contato e se encontrar em Londres. —Depois que tudo acabar, vou poder me matar em paz.

—Beyond —um dos guardas o chamou —, vem, está na hora de seus remédios. —Não era como se Beyond realmente os fosse tomar.

 

(...)

 

 A data e o local não são do interesse, e mesmo que assim fosse, são informações já desnecessárias. Aqui é o registro de tudo o que eu investiguei sobre o incidente Kira. O fato de vocês estarem lendo isso agora significa que eu estou morto. Eu deixo esse registro como meu legado.

Como um último pedido, instruo você a ir ao The Five Fields em até 5 dias depois que, usando o e-mail abaixo, contatem um ao outro marcando um encontro, que ocorrerá com uma terceira pessoa que não será aqui especificada. A cada um de vocês, mandei distintos arquivos e instruções já que cada um de vocês encontram-se em distintas posições e estão espalhados pelo mundo. É meu último pedido.

Isso é tudo, L.

 

(...)

 

Light se sentou na frente do computador que L usava. Uma sensação terrível se apoderava dele, era como invadir a privacidade de Ryuuzaki. Light continuava desconhecendo o nome de L, arrancou a página do Death Note onde o nome dele estava e a queimou, pois não se sentia no direito de o saber e destruir o segredo que L tanto lutou para manter.

Aqui é o registro de tudo o que eu investiguei sobre o incidente Kira. O fato de vocês estarem lendo isso agora, significa que eu estou morto. Eu deixo esse registro como meu legado. É só.

Era tudo o que o computador dizia e, até mesmo isso, foi se apagando lentamente até que a tela ficasse totalmente preta. Havia se livrado de tudo que estava em seu caminho com uma única jogada. Levou Ryuuzaki e Rem a morte e, por mais que continuasse inspirado a transformar aquele mundo em um novo e ser o Deus deste, Light se sentia terrivelmente vazio. A verdade era que, depois da morte de Ryuuzaki, seus planos de mudança mundial eram motivos frágeis para se viver. Agora que não havia mais ninguém no mundo capaz de persegui-lo e tentar pega-lo, Light viu que o que mais amava era o jogo de gato e rato que ele e Ryuuzaki jogavam, era o próprio detetive. A briga de intelectos que, muitas vezes, se colocavam em xeque e quase venciam. Adrenalina, havia se tornado um viciado na adrenalina de quase sempre estar a um passo de ser pego por L, viciado nela como L era em doces.

A simples menção de um dos nomes dele doía. Ver doces em padarias e em casa doía muito também. Uma dúvida povoava a mente dele, somente uma pergunta matutava na mente dele: será que um novo mundo valia o preço de perder L? Fez a coisa certa? Se sim, por que se sentia como o pior dos monstros?

É claro que não havia nenhuma resposta para aquilo, jamais haveria. O único que poderia responder estava morto, morto por culpa de Light. Morto pelas ambições de Light. Havia manipulado toda aquela situação, não foi? Chegara ali porque era necessário, não era?

Por que justo naquele momento as dúvidas se apossavam de Light? Ele havia feito a coisa certa? L merecia morrer? Light tinha aquele direito? O direito de se tornar Deus? O que aflorou na cabeça de Light todas aquelas duvidas foi, sem dúvida, a constatação de amar L. Aquilo tudo poderia transforma-lo em um ser sem escrúpulos ou sentimentos, capaz de tudo para ter aquilo que queria. Um megalomaníaco sedento por poder, glória e reconhecimento. Uma lenda urbana, uma divindade ou algo assim.

Contudo, se acabasse se tornando aquilo, ele não seria como os criminosos que mata? Veio a sua mente como L era um tipo de protetor do mundo, que agia nas sombras, sem se deixar mostrar para ninguém, desconhecido e, muitas vezes, ignorado. Um herói que poucos conheciam e que a muitos beneficiava.

A pergunta sobre quem era L, quem realmente era L, surgiu depois na mente de Light. Não queria saber seu nome, mas sua história, queria compreender seus sentimentos, suas ambições, o que sonhava, quais eram seus planos, como era ser ele. Queria compreender como L se sentia com relação ao mundo, como planejava tornar ele melhor a sua forma. Porém, ao mesmo passo que essas perguntas surgiam, certezas sobre a necessidade de Kira para o mundo também apareciam. Todas aquelas notícias onde inocentes morrem. Crises políticas, todos vivendo sob a fachada de paz, escondendo as tensões onde Light sabia que os países se armavam para guerras por poder.

Populações inteiras sendo manipuladas para um destino triste, pois o ser humano não aprendeu nada com duas guerras e tantas mortes. O que era Hitler além de um líder com sede de poder que, sem dúvida alguma, poderia pensar como Light? Aquela pergunta que afligiu a mente dele. Contudo, Hitler matava inocentes, Light matava aqueles que mereciam morrer, criminosos: ladrões, estupradores, políticos corruptos, assassinos e mafiosos.

Seria temido e respeitado pelo mundo todo; se eles não tinham consciência de que o que faziam era ruim, Light os puniria como um deus deve fazer. Mesmo perdido na dor e igualmente no desespero, Yagami acreditava piamente que poderia fazer o bem com aquele poder que, acreditava ele, não caiu em suas mãos por acaso.

O mundo sujo teria que ser limpado, e somente Light tinha como limpá-lo. Definitivamente seria L e Kira a partir daí. Os dois maiores ideais de justiça, para o gosto de qualquer ser humano. Olhou uma última vez para o antigo QG e saiu, fechando as portas da última coisa nesse mundo que tinha ligação com L.    

 

(...)

 

O detetive olhou mais uma vez o relógio de pulso. Jaqueline estava atrasada. Era sempre assim, ela sempre estava atrasada. L não resistiu e, mais uma vez, pediu café e doces, Rem o observava por cima dos ombros, em dúvida. Não era sua lanchonete preferida, nem de longe. Aquele restaurante francês era do outro lado da cidade e não tinha doces tão bons quanto o lugar onde conheceu Light. Contudo, ali era seguro. Quando a moça finalmente chegou, andou até ele e encontrou-o não da mesma forma peculiar de sempre, o que indicava que ele não queria chamar atenção alguma. A peruca loira que cobria seus cabelos negros não combinava em nada com a palidez cadavérica do homem a sua frente.

—Espero que saiba que estamos violando algumas leis —sentou-se na frente dele, puxando a cadeira. —E que eu não faria isso se não devesse algumas para você.

—Está tudo bem, eu tenho tudo planejado —respondeu, pegando o morango com a mão e lambendo o chantilly antes de engolir a furta. —Fez o que eu te pedi?

—Sim —respondeu, coçando a nuca. —Seu “corpo” vai ser levado junto com o de Wataria para Inglaterra amanhã pela manhã. Souichiro e Light Yagami vão cuidar dos preparativos do enterro em Les Innocents², como você pediu.

—Ótimo, isso é ótimo —ele devorou mais um pedaço do bolo. Ela suspirou e chamou o garçom, pedindo chá e biscoitos.

—Você me fez vir de Paris até aqui só para isso, Lawliet? —A pergunta dela foi incisiva, é claro que ela já sabia que não era só para isso. Ele negou.

—Gostaria de ficar com você até que meus planos sigam os caminhos que planejo —outra xícara de café.

—Por que está fazendo isso, L? —A pergunta dela fez o detetive erguer os olhos do bolo e encara-la de frente.

—Pelo mesmo motivo que você fez aquilo há três anos —ela se remexeu desconfortável na cadeira. Não era possível, até aquela presente data, achava L incapaz de amar.

—Amor a quem?

—Como vai a Linda? —Perguntou, mudando de assunto. Esquivo como um peixe que levanta areia do fundo do rio para fugir. O pedido de Jaqueline foi colocado a sua frente. Linda e Jaqueline eram duas órfãs gêmeas que moravam em Wammy’s House, não eram nem de longe as sucessoras de L, mas este mantinha pelas duas um apreço e carinho bem grandes. Elas foram para o orfanato com 10 anos, depois da morte de seu pai, um policial amigo de L.

—Ela está bem, vai se casar em alguns meses —declarou, tomando seu chá. —Me perguntou o que eu faria aqui no Japão, tive que mentir e você sabe que eu odeio mentir para Linda —acentuou para ele como o favor que estava fazendo era grande.

—O que ela anda fazendo?

—Ao contrário de mim, que agora sou agente da Scotland Yard, como você bem sabe, ela é fotógrafa —declarou e viu L sorrir. —Se tem mais um pedido, por favor, faça-o agora. —Olhou para a janela, vendo a chuva cair. Estavam na época da Tsuyu³, era normal chover daquela forma. Era um dos motivos de L gostar tanto do Japão, aquela “quinta estação do ano” era para ele fascinante. Na Inglaterra chovia muito, mas fazia frio ao mesmo tempo, era diferente.

—Tenho alguns outros pedidos —foi a vez dele de se remexer na cadeira. —Mas só um você pode atender.                 

 

(...)

 

Wammy’s House, data não especificada.

 

Chovia fortemente quando o senhor desceu do carro com uma criança de aparentes 4 anos e um bebê de um ano no colo. O típico táxi amarelo inglês deixava os dois na frente do enorme orfanato mundialmente conhecido. O pequeno Lawliet apertou a calça de Watari ao ver a imponência de tal lugar, a começar pelos portões enormes e pretos. Colado ao senhor, caminhou para dentro do orfanato. Na porta de madeira polida, encontrava-se outro homem com cerca de 50 anos. Ele, ao contrário de Watari, usava óculos pequenos e redondos, tinha dedos longos e tortos, usava um terno sem o paletó. Era um bom contraste entre o homem de cabelos brancos e calvo na frente do orfanato e o homem em terno Armani que chegava.

—Quem seriam os dois, Watari? —O homem perguntou, estendendo a mão num comprimento ao amigo, que fechava o guarda-chuva e tirava o chapéu coco da cabeça. Watari sorriu.

—Este é Lawliet e este —estendeu a criança adormecida e embolada numa manta azul para o colo do outro —é seu pequeno irmão, Brandon. São os meninos que avisei que deveriam ficar aqui, Roger.

—Hum.

—O pequeno Lawliet é um menino brilhante, pode ter certeza, vai descobrir isso logo. E garanto que Brandon vai ser igualmente inteligente —respondeu. Já estavam dentro do hall, com Watari pendurando o chapéu, guardando o guarda-chuvas e pondo o paletó ao lado do chapéu. Ao lado de Roger, uma mulher bonita, de 30 anos, surgiu. Ela tinha longos cabelos castanhos mel e olhos da mesma cor. Roger entregou o embrulho azul que era Brandon aos cuidados da mulher. Ela ficou ali.

Mesmo com Lawliet prestando atenção na conversa dos senhores, ele também observava o local. Era rico, no estilo gótico como uma catedral antiga das quais sua mãe sempre adorara por fora. Olhou fixamente para o enorme lustre de cristais brilhantes e velas amareladas. O tapete vinho que cobria a escadaria de mármore que se dividia, no topo, em corredores para esquerda e direita; donde no topo encontrava-se um enorme vitral como os das igrejas já citadas.

Os floreios das paredes indicavam uma reforma para o estilo moderno numa mistura harmoniosa com Art Déco. Os móveis estilo década de 1920 unidos ao estilo arquitetônico apresentado por dentro era Art Déco, com a presença de seus costumeiros arabescos. Mas haviam detalhes atuais em lâmpadas, um ou outro móvel e, ele podia espiar pela porta aberta a sua esquerda, pelos aparatos tecnológicos da mansão.

—Onde estão as outras crianças, Melissa? —Watari perguntou a moça que segurava Brandon no colo.

—Almoçando —ela respondeu. —Devo levar ele para o berçário? —Perguntou, vendo os dois homens assentirem. Melissa tentou sair, mas os pequenos e gordos dedos de Lawliet grudaram em sua longa saia azul turquesa. Ele a encarou, os olhos negros e chorosos, as linhas expressivas no rosto pequeno e infantil pedindo para que ela não fosse.

—Eu quero ficar com meu irmão —a voz era tão baixa e fina que poderia ser de uma garota. L estava amuado. A mulher arregalou os olhos e sorriu:

—Depois que vocês três tiverem uma conversa, levo você até seu irmão, sim, pequeno Lawliet? —Ele assentiu. —E amanhã eu irei atrás de roupas para você e seu irmão, sim? —Ele assentiu novamente.

Roger se abaixou, ficando de cócoras a frente dele. Pegou nos ombros de Lawliet e o fez retribuir o olhar. Os olhos de Roger eram profundamente azuis, e naquela posição podia ver os tufos de cabelo negro e enrolado no topo da cabeça com entradas de calva.

—Garoto, você entende o que está acontecendo? —Ele maneou a cabeça e, surpreendentemente, respondeu:

—Meus pais morreram e eu estou num orfanato, depois de ter sido retirado da casa de minha família adotiva —Roger ficou de pé, olhando o sorriso de Watari. Pegou o garoto pelas mãos e o quarteto foi em direção as escadas.

—Sim, exatamente —respondeu. Entraram no corredor a direita, Melissa e Brandon foram para a esquerda. —Pode me dizer como sabe disso?

—Eles morreram na minha frente —respondeu, um tanto apático. Desde muito jovem ele havia aprendido a ser apático para não sofrer, mais exatamente, desde a morte dos pais ficou assim. —Foi lá em casa, eu fiquei quatro horas entre eles esperando a polícia chegar —contou os detalhes sórdidos que criança alguma deveria saber.

Roger passou os olhos rapidamente por Watari, ele maneou a cabeça. —Vamos ter uma conversa no meu escritório, sim? —Lawliet assentiu. Ao entrarem no gabinete, igualmente mobilhado na moda dos anos 1920, aquele que se tornaria L foi sentado numa cadeira de frente para a de Roger, com Watari a seu lado.

—Aqui, seu nome deixará de ser Lawliet, sim? —Roger acompanhou as mudanças nas expressões de Lawliet. —Aqui dentro você responderá pelo pseudônimo L.

—Por quê? —Balbuciou.

—Sabe o detetive que capturou os assassinos de seus pais, criança? —Lawliet não se achava uma criança depois de tudo o que passou nos últimos meses. Aliás, mesmo tendo aparência de uma criança de 4 anos, tinha cinco, quase seis.

—Sim, ele se auto denomina L.

—Ele está muito doente—respondeu. Lawliet arregalou os olhos, já grandes, e olhou para Watari de queixo caído. Não havia chegado a conhecer L, mas sabia que ele era um grande detetive, não só por ter resolvido o caso de seus pais, como também por todos os outros casos que resolveu.

—Sim, minha pequena criança —o mais velho acariciou a cabeça dele. Nem Roger nem Watari acharam que era necessário dizer que L era um adolescente de 15 anos, filho do próprio Watari, que estava com leucemia.

—Por que eu estou aqui? —Murmurou baixinho.

—Porque eu acho que você pode ter capacidade de ser seu sucessor —naquele instante, nem Roger nem Watari desconfiavam de como a escolha de L estava certa. —Ele pediu para que você o conhecesse dentro de dois meses, e em três ou quatro anos, você o substituirá permanentemente.

—Por que eu? —Houve silêncio, os mais velhos não sabiam o que responder. —Vocês não sabem... creio que terei que esperar dois meses para descobrir —ele balançou os pés para cima da cadeira, ficando torto e colocando o queixo sobre um dos joelhos. —Eu posso ir ver meu irmão agora? —Era impressionante a maturidade do garoto. Watari e Roger nada puderam fazer, a não ser assentir e chamar Melissa. A moça pegou o pequeno pela mão e o levou até onde seu irmão dormia calmamente. Passaram por um corredor cheio de janelas que davam para um jardim chuvoso, onde havia plantas, gramas e brinquedos como balanços.

—Amanhã, se não chover, poderá ir lá, Lawliet —ela sorriu para ele. Estavam na Inglaterra, era provável que choveria, mas mesmo assim Lawliet apreciou o incentivo.

—L —a mulher olhou para o garotinho com um olhar de dúvida. Seria sobre isso que os três conversavam? Não podia ser verdade. Ele era jovem demais para ser L. —Por favor, me chame de L.

Quando finalmente chegaram ao berçário, Brandon estava no último leito. A verdade era que o pequeno irmão de L estava doente, uma forte gripe. A família adotiva que ficou provisoriamente com os dois não era exatamente uma boa família, os últimos seis meses foram infernais. O lugar estava vazio fora o menino de que logo completaria 2 anos. Soltando-se de Melissa, L correu até o irmão e pulou para a cadeira que ficava ao lado do leito. Velar o sono do menor era o motivo das olheiras e da maturidade que, tão precocemente, encontravam-se nos olhos e rosto do garotinho. Passou a olhar bem para o rosto pequeno e rechonchudo. Por baixo das pálpebras branquinhas, havia um par de olhos vermelhos. Os olhos que tanto lembravam os de sua mãe.

Se ele estava ali, havia um motivo. Se L queria que ele se tornasse o novo L, Lawliet tentaria ser capaz de o suceder. Tentaria para que ele e seu irmão não tivessem que retornar para casas como a da família que com eles ficou nos meses antes de L surgir com a resolução do caso e de os trazer para o orfanato.

Aquele era um preço ao qual o pequeno estava disposto a pagar.

 

(...)

 

As coisas começaram a ruir naquela tarde de verão chuvosa em Wammy’s House, condado de Winchester. Chovia não só forte, como também caia granizo, foi naquela tarde que BB a conheceu. Watari entrou no orfanato não só com L, mas também com uma garotinha. Ela era pequena, magra, tinha cabelos na altura dos ombros e olhos grandes e azuis. Assim como L, ela era impassível. Agarrada as calças do irmão mais velho de BB, ela parecia ainda mais frágil. Ele, mesmo com 12 anos, já tinha 1,75m, era alto. Isso só contribuía para a aparência frágil da menina. Deparando-se ali, naquela imensidão de hall de entrada, a menina era ainda menor. Miudinha e franzina, ela parecia mais uma boneca.

—Quem é ela? —Perguntou ao irmão. L focou-se em BB, deu de ombros e falou:

—Esta é A, ela acabou de chegar aqui, vai estudar com você e os outros.

—Mais um sucessor? —Ergueu uma sobrancelha.

—Sim, ela já estudava em um dos orfanatos de Watari. Só a trouxemos aqui porque este é o principal —tirou a menina de trás de si e a instigou a ir falar com BB. Acima da cabeleira negra, o nome real dela brilhava em laranja.

—Essa é a número um? —BB gostou da menina, ia ser um desafio a mais, um desafio como nenhum dos outros ali era. Ela lhe ofereceu um sorriso que tentava ser amigável, mas saiu estranho, estendeu a mão para ele, pedindo um cumprimento. BB não viu por que de não a cumprimentar.

—Prazer, pode me chamar de Amaya —ele levantou os olhos.

—Meu nome "oficial" é  Beyond, mas é melhor que me chame de B ou BB —ela assentiu. —Em que quarto ela vai ficar?

—No seu —declarou Roger, surgindo ali.

—Não seria melhor ela ficar com, sei lá, uma menina? —Amaya apertou a borda da própria camisa e disse:

—Eu pedi para ficar com um menino —aquilo era no mínimo curioso, já que meninas da idade dela preferem andar com outas meninas. Ela punha em xeque tudo o que aprendera observando outras pessoas. Interessante, para dizer o mínimo.

—Tudo bem para você, irmão? —BB olhou o mais velho e assentiu.

—Se para ela está tudo bem, por que para mim não estaria? —Coçou a bochecha, ela finalmente abriu um sorriso de verdade, mesmo que mínimo.

—Mostre a ela seu quarto, sim? —Assentiu e estendeu a mão para ela. Ela agarrou e enlaçou os dedos, num gesto de carinho. Geralmente as crianças fugiam de BB por causa dos olhos vermelhos e os modos frios, apáticos e, às vezes, cruéis e muito irônicos. Porém, ele via que com A seria diferente.

Levou-a ao quarto, deixou que ela se arrumasse na cama e no seu lado do quarto e, depois se encarregou de mostrar o lugar para ela, explicando regras básicas e dizendo os horários de cada coisa. Descobriu que ela tinha 7 anos, que gostava de chuva – o que explicava a escolha de pseudônimo – e que amava café sem açúcar, que preferia doces com chocolate amargo e apreciava literatura clássica. Ela tinha paciência para ler enormes livros e o fazia em velocidades incríveis. Não perguntou sobre os pais dela e ela pareceu ficar grata por isso. Aliás, ela também tinha descendência escocesa e ficou admirada com ele não confundir escocês com irlandês, como tantas outras pessoas.

Ela também descobriu coisas sobre BB, ele contou que não gostava de muito sol, que não suportava comidas apimentadas, que seu hobby era jogar futebol e praticar artes marciais, que era irmão do próprio L, que L não era o primeiro a ter essa alcunha e que logo mais órfãos apareceriam para, eventualmente, suceder L, já que num trabalho tão arriscado, nunca se sabe quando L partiria. Não contou o próprio passado e ela também entendeu sobre isso e não comentou. Disse que adorava cheiro de grama e que gostava de brincar no jardim depois das aulas.

Depois de mostrar tudo a ela e se conhecerem um pouco, BB encontrou em Amaya a primeira amiga de sua vida. Em algumas semanas, mais três crianças entrariam naquele orfanato e BB, em um ano e pouco, teria mais três amigos. Mas nada disso ocorreria sem A. Ela era, sem dúvida alguma, o pilar deles, do grupo que ficaria conhecido como The Wammy’s Boys. O grupo que começou com uma dupla, depois um trio, e no fim se tornou um quinteto.

 


Notas Finais


O próximo capítulo será pesado. Pelo menos eu o achei muito pesado. Bem, eu tenho dois pedidos para vocês, um deles é que deem uma conferida na minha fic MattxMello.
https://spiritfanfics.com/historia/vermelho-malicia-7721516
E que deem uma olhada na fic da Lucy, https://spiritfanfics.com/historia/evangelho-segundo-light-yagami-6780633
Se ainda não leram, recomendo.
Beijos!
1- The Five Fields é um restaurante chique e muito caro em Londres. Além disso, é um dos mais seguros também.
2-Les Innocentes, ou Os Inocentes, na verdade é um cemitério citado nos livros de Entrevista com o Vampiro. Não tive nenhuma ideia para nome de cemitério e aí coloquei esse.
3- Tsuyu realmente existe e é considerada quase como uma quinta estação ou coisa do tipo. A época das chuvas é meio que de maio/junho e vai até meados de agosto. A tradução do nome é bem bonita, algo como chuva de ameixas. Eu tenho vontade de ir ao Japão nessa época do ano primeiro porque gosto muito de chuvas, segundo porque é a baixa temporada. Desculpe estar colocando isso depois, foi a falta de atenção mesmo.

Ahh, e Art Déco é um movimento artístico dos anos de 1920. As casas antigas na minha cidade ou são coloniais ou são nesse estilo. A casa do meu falecido avó era nesse estilo, que eu particularmente acho muito bonito.


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