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História O Silêncio Dos Lobos - Jangada


Escrita por: DoctorCase

Notas do Autor


não chorem pf não chorem.







Eu chorei

Capítulo 141 - Jangada


Kyungsoo prendeu o ar. Ele nunca entenderia a maneira como descobriu que em meio á tantos uivos, identificaria apenas um como sendo a de seu amado. Abraçado com seus filhos, Kyungsoo apertou-os contra o peito, naquele aconchego Hans e Helene sentiam a emoção transmitida à eles. Kyung estava atormentado pela emoção do sentimento puro e divino que penetrava seus ouvidos.

                Uma onda de paixão o inundou. O uivo poderoso, forte era escutado há quilômetros de distância. Parecia até que estava perto do rio, da jangada, deles, de Kyungsoo.  Havia uma emoção nele, um ar de completa alegria.  Os olhos flamejaram de energia, escuridão, mas marejados. Kyung os olhou ainda confusos e perdidos daquele abraço repentino. Ele separou os lábios para dizer, para revelar que papai estava ali, que Kai estava próximo deles, mas Hans virou o rosto para a margem do rio. E Kyungsoo seguiu o movimento. Seu sorriso murchou e ele soltou as crianças para se armar. Ele lançou olhares entre as duas margens enquanto a jangada seguia pelo rio.  Lobos os cercavam, os acompanhavam sem sequer se esconderem entre as árvores.

                Hans e Helene se abraçaram, tentando se esconder na parte coberta da jangada. O cheiro de medo e a reação chocada das crianças ativou o instinto de proteção de Kyungsoo.

                O uivo continuava tão forte e alto quanto antes. Era só isso que escutavam. O som das águas, da jangada sobre o rio, da correnteza, do vento levando as folhas do chão, dos pássaros, nada mais era perceptível, tamanho o volume daquele uivo.

                Kyungsoo se pôs a frente de Hans e Helene, com o bastão feito de tronco na mão. A ponta continha uma lança raspada em uma das muitas rochas perto da caverna.

                O uivo se interrompeu.

                E a copa das árvores começaram a chiar. A correnteza ficou mais violenta de repente. Os pássaros saiam em bandos de seus ninhos para o norte. O cheiro de umidade se misturou com os daqueles que os perseguiam nas margens. Kyungsoo contou sete. Porém, sabia que havia mais dentro da floresta, se escondendo, aguardando para abocanhá-los quando houvesse alguma brecha. Kyungsoo, no fundo, mesmo com a expressão de bravura e ferocidade, estava com medo. Eram muitos. E dessa vez, Kyungsoo não se sentia tão forte. Sua perna doía, a ferida feita enquanto cortava troncos da floresta para a criação da jangada nunca fora bem tratada, já que não possuía recursos suficientes.

                O peito de Kyung apertou, seu coração bombeava rápido, explodia de ansiedade. Lobos castanhos e cinzentos corriam conforme a jangada pegava velocidade por causa do vento. O uivo havia parado afinal. Talvez não fosse Kai, Kyungsoo quis acreditar, contudo ele sabia que era ele. Sabia que aquele uivo pertencia á Kai. Suas mãos tremiam e suavam. Mas a emoção não foi o que o fez cair.

                Foi à perna. A dor se alastrou pelo seu músculo, apertando, não somente a área do ferimento, como toda a panturrilha, subindo até a coxa. Kyung se derrubou para trás involuntariamente, com a mão na perna, no ferimento que sangrava pelo mau cuidado, que gangrenava. A parte avermelhada tinha aspecto podre, a cor se tornava mais arroxeada e depois negra.

                Ele tentou se concentrar nas presenças ao seu redor, nos lobos os acompanhando, as feras que ameaçavam a sua vida e a de seus filhos. Hans se soltou de Helene e puxou o pai pela gola da camisa. Kyungsoo não queria ir para o fundo da jangada, pelo contrário, era sua responsabilidade protegê-los com a sua vida, evitar aquele ataque eminente. Não poderia demonstrar fraqueza diante daquelas ameaças. Então, ele tentou se levantar. Mas foi em vão. A perna pulsou e doeu ainda mais. Kyungsoo não conteve o grito de dor. E a primeira gota de chuva caiu.

                Era final de noite. A lua cheia estampava o céu azul marinho. Nuvens carregadas se posicionavam á frente da luz, bloqueando sua passagem e deixando aquela noite cada vez mais escura. Raios riscavam o céu. Trovões rugiam.

                Gotas de água pingaram. Uma. Duas. Três vezes no rosto de Kyungsoo até cair todas de uma vez.

                Do lado direito, Kyungsoo observou de canto de olho o primeiro movimento. Lobos aceleravam. Não para cima da jangada, do rio, deles. Mas sim para dentro da mata. Fora algum sinal dado como se houvesse um perigo ainda maior nas redondezas. A fuga aconteceu também do lado esquerdo e mesmo aqueles lobos se afastando, Kyungsoo não se sentia mais seguro.

                Pelo contrário.

                Com a falta dos sons das patas batendo contra a terra com velocidade das margens, Kyungsoo pôde se concentrar mais em outros sons similares ou próximos. Constatou realmente que os lobos tinham ido embora.

                Ensopado e ainda incapaz de mover o corpo da frente da entrada da pequena cobertura onde as crianças estavam Kyung sentiu a jangada balançar. Seu rosto se virou para os dois lados, procurando por lobos que deveriam ter adentrado á água para pegá-los. Nada na esquerda e nem na direita.


                               Por trás.

                Kyung se manteve alerta, sentado com as pernas esticadas ele apontou a lança para frente. Ele esperou, permitindo os batimentos rápidos do coração distribuísse a adrenalina para eliminar um pouco da dor por alguns instantes.

                A tempestade, os raios, os trovões, a água turbulenta. Hans e Helene se encolhiam, com os rostos desfigurados pelo medo, os olhos arregalados de terror.

                A aproximação veio do lado esquerdo.

                Kyung girou o bastão de madeira nas mãos e fincou a ponta da lança em algo duro.

                Uma mão puxava a jangada para a margem. E com os olhos escuros e a visão tão clara quanto à luz do dia, Kyungsoo viu e estava incrédulo. Kyungsoo ficou estático, o cérebro dele estava entorpecido pelo choque. A respiração foi tirada de seu corpo.

                Kyungsoo teve de se segurar quando a jangada esbarrou contra a terra.

                -Saia. –a voz era mais grossa, mas Kyungsoo a conhecia como a própria palma de sua mão. –Kyungsoo. Saia. –ele falou de maneira firme, muito mais do que pretendia, seu medo pela segurança dele foi maior que sua paixão.

                O comando paralisou o corpo de Kyungsoo. Os olhos estavam aterrorizados, surpresos, marejados enquanto ele se agachava para vê-lo melhor.

                -Ka-ka-kai? –Kyungsoo o chamou, como se a miragem a sua frente pudesse responder.

                Mas ele respondeu.

                -Sim?

                Hans e Helene puseram as cabeças para fora. E logo sorriram, saindo e correndo para abraçá-lo, para tocá-lo.

                Kyungsoo tremia, inerte, surpreso, surpreendido.

                Kai, abaixado, passou as mãos pelos ferimentos dele, tentando descobrir se havia outros, o tamanho do estrago.

                Kyungsoo sentiu o choque. Seu lábio inferior tremia enquanto a água da chuva descia pelo seu corpo.

                -Vamos, Soo, saia.

                A expressão dura de Kai parecia uma máscara de pedra, dura, implacável, frio. Helene e Hans estavam pendurados no pescoço dele e Kai usou apenas uma mão para segurar Kyungsoo no colo, como se o peso dele se assimilasse com o de Helene ou Hans.

                -Se pendurem no papai. Isso. Como vai, campeão? Tudo certo, princesinha?

                Kyungsoo o encarava de baixo. O queixo aparentava estar mais quadrado, firme, muito maior do que antes. Pontinhos negros de pelos rodeavam a mandíbula, de uma barba ainda não totalmente crescida. Ele descansou a cabeça no peito de Kai e se certificou que aquilo não era um dos seus muitos sonhos com aquele momento, com o reencontro dos dois. O coração de Kai batia. Ele estava ali. Cheirava e sentia que era realmente o Kai pelo qual se apaixonou.

                Kai olhou para baixo, não se atrevendo a mover o pescoço para olhá-lo, já que podia fazer Helene e Hans caírem. Mas ele os segurou com a outra mão e usou a que sobrou para carregar Kyungsoo.

                -Você está vivo.

                Ele sussurrou as palavras.

                Kai sorriu, mostrando os dentes modificados, pontiagudos, grandes, caninos brancos preparados somente para dilacerar corpos.

                -Eu senti o seu cheiro. E de alguma forma foi à única coisa que me fez voltar a ficar são.

                -Vo-você...

                Kai voltou o olhar para frente. A expressão carrancuda voltou. Kyungsoo tremia de frio e de dor em seu braço. E o cansaço lhe abateu.

                -Eu parei até aqui por causa da fera. Não me pergunte como, mas algo me trouxe até aqui, até você, até você, Soo.

                A imagem dos lobos nas margens do rio estampou a mente de Kyungsoo e curioso, ele o questionou:

                -Você estava com aqueles lobos?

                -Não.

                -Quem eram?

                Kai negou com a cabeça, com os olhos focados em encontrar sua irmandade.

                -Temos muito que conversar. –a voz gutural respondeu. – Mas não. Não eram meus amigos ou... Uma matilha que eu conheci. Eu... Na verdade estava caçando eles.

                O olhar chocado de Soo olhou para cima.

                -Como é?

                -A fera não se contenta em caçar... coisas que lobos caçam, sabe? –Kai disse, para não assustar as crianças, mas não era difícil de entender que Kai agora caçava até a própria espécie. – Eu sinto muita fome e... nada me satisfaz.

                Kyungsoo ficou em silêncio, mas sua mente não estava quieta. Ele usou os braços para abraçá-lo, para senti-lo mais perto do que nunca e quis chorar, desabar no peito dele. A boca estava aberta contra o peito de Kai, a respiração curta e ofegante. Soo chorava baixinho e Hans sussurrou o que acontecia no ouvido de Kai.

                -Eu sei. Quer descer? –Kai o questionou. –Ta tudo bem. O papai tá aqui agora. Nenhum monstro vai machucar vocês ou o papai, tá bem?

                Hans desceu primeiro e logo em seguida Helene, que andava perto da perna de Kai.

                Kai aproveitou e usou as duas mãos para carregar Kyungsoo no colo, tomou cuidado para não encostar-se ao ferimento aberto da perna.

                E então, Kai parou abruptamente. Soo levantou o olhar para ele e demorou a entender.

                -Estão aqui. Posso senti-los.

                -Quem? –rebateu Soo, já em alerta, olhando para Hans e Helene.

                Kai sorriu abertamente.

                -Meus irmãos.



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