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História O Silêncio Dos Lobos - Lobo Cinza Part. II


Escrita por: DoctorCase

Notas do Autor


Referências: Capítulo 3 intitulado como Lobo Cinza.

Capítulo 66 - Lobo Cinza Part. II


Fanfic / Fanfiction O Silêncio Dos Lobos - Lobo Cinza Part. II

Cada decepção é uma certeza,
De que talvez, a minha gentileza tenha morrido contigo,
todos os meus amigos se foram,
e o que ficou comigo,
é tudo de ruim que restou.

Cinco dias antes da mudança

Chanyeol acordou do pesadelo, suado. Trêmulo, ele procurou pelo copo d'água no criado mudo. Seu pai, o líder da matilha, tinha dito que sua mãe tinha morrido quando ele nasceu. Chanyeol estava tendo pesadelos com ela todos os dias. A mulher sem rosto, mas que tinha todo o amor do mundo.

Chanyeol nem tocou no copo. Ele foi direto para a jarra e tomou-a toda, em um só gole. Ficou encarando a televisão de cinquenta polegadas à sua frente, que refletia seu reflexo. O mesmo ignorante de sempre.

Pulou da cama e sentiu saudades do pequeno Kyungsoo. Ele era um tagarela, às vezes, mas quando estava com ele, mesmo não o amando, tinha a certeza que teria alguém quando acordasse.

Agora, não tinha ninguém. Apenas o reflexo que ele odiava olhar.

Sentia-se culpado pelo estado que Kai se encontrava. De alguma forma, ele queria ajudar, mas o alfa não queria a aproximação de absolutamente ninguém. Até mesmo Sehun tinha problemas para entrar no quarto dele, quando ele está, é claro.

Chanyeol queria acompanhá-lo para fora da floresta, onde estavam seguros, onde o alfa ia toda a noite e voltava com machucados. Mesmo se fosse para se meter em problemas, Chanyeol queria ir com ele.

Sua paixão platônica tinha custado alguns dias sem sono, quando Kai, dias depois do desaparecimento de D.O teve que ser acorrentado no porão. Ele gritava toda a noite, urrava, uivava, ordenando para tirá-lo de lá. Entretanto, todos sabiam que se o fizesse, com os caçadores ainda na área, Kai seria morto. Sua área de conforto era ali. Naquela casa, onde todos estavam juntos e protegidos. Após a retirada dos caçadores, Kai foi liberto e sumiu por dias. Chanyeol ficava na porta de entrada, junto à Sehun, sentado, em silêncio, esperando que alguma moita se mexesse, dizendo que Kai estava voltando para casa.

Porém, quando Kai apareceu, estava espancado, sangue pingava dos ferimentos e a consciência apagou-se quando tocou o pé na clareira.

Naquele dia, Chanyeol sentiu medo de perdê-lo, era verdade.

Depois da ducha, Chanyeol saiu de toalha para pegar roupas na cômoda. Baekhyun estava lhe esperando, silenciosamente sentado na cama que ele próprio tinha arrumado.

-Channie?

Era um momento de crise, Baekhyun sofria com a distância de Chanyeol. Ninguém estava bem, não com o alfa matando-se aos poucos sem qualquer oportunidade de interrupção.

-Channie, você vai sair?

-O que quer dizer sonhar com a mesma coisa durante dias? - ele ignorou a pergunta e disparou a sua enquanto colocava a cueca.

Baekhyun refletiu um pouco, lembrando do que sua mãe lhe dizia.

-Minha mãe dizia que era um sinal que algo iria acontecer. Ela era religiosa. Acreditava em sonhos. E todas essas coisas.

Chanyeol olhou para ele.

-Você sabe se ela está viva?

Baekhyun balançou a cabeça, dizendo que não.

Todos ali, eram fugidos de suas casas, por carregarem a fera. Cada um tinha sua própria história, os próprios demônios, lembravam-se exatamente como tinham sido mordidos.

-Eu abandonei a minha casa aos 16, lembra? Ela deve ter morrido de desgosto pela minha fuga.-Disse Baekhyun, indiferente. Mas no fundo, seu coração estava nublado de dor e angústia.- Enfim, ela dizia que se você sonhasse...

Chanyeol fechou a gaveta com força interrompendo a fala de Baekhyun.

-Por que vocês ignoram a família que vocês deixaram?

Baekhyun suspirou.

-Por que? Baekhyun, você tinha uma mãe! Eu nem conheci a minha!

Baekhyun respirou profundamente.

-Porque eu não consigo lembrar dela sem querer voltar pra casa. E eu não posso, Chanyeol. Os caçadores a matariam. Você acha que não é dolorido lembrar dela como algo distante? Eu ainda a amo, ela é minha mãe.

Chanyeol bufou, claramente zangado.

Baekhyun sabia que ele estava perturbado com alguma coisa... com alguém.

-É a sua mãe, não é? É ela que aparece em seus sonhos?

Chanyeol olhou para baixo, fitando a madeira de carvalho da cômoda.

-Yep.

-Devo me preocupar com isso?

-Não.

Baekhyun suspirou.

-Seu pai dizia alguma coisa sobre ela?

-Nada... Nada, mesmo.

Baekhyun encarou as costas largas de Chanyeol, o cabelo pingando, as gotas de água descendo pelos músculos. Amá-lo nunca tinha sido tão dolorido. 

-Eu... Escute, acho que sei quem pode te ajudar. - Baekhyun levantou-se.

Chanyeol queria impedir a saída dele, mas ele foi rápido. Não queria espalhar seus problemas pra matilha inteira. Suspirou, terminando de se arrumar. E um pouco depois, enquanto colocava a camisa, de costas para a porta, Chanyeol fechou os olhos, xingando o maldito Baekhyun.

-Xiumin.

-Olá.

-Eu não quero a sua ajuda.

-Eu não ofereci ajuda.

-Então, cai fora.

-Não vou.

Chanyeol rosnou no fundo da garganta. Xiumin não tinha medo dele. Não tinha medo de ninguém. Nem mesmo da própria morte.

-Baekhyun me disse uma coisa. Da sua mãe.

-Ele é um desgraçado.

-Posso comentar uma coisa?

-Não.

-Se você quiser saber da sua família, vá a casa dos D.O. Os caçadores sempre tem um livro sobre a matilha que estão investigando.

Chanyeol olhou para ele.

-O xerife queria exterminar essa matilha há tempos, Chan.

Xiumin sabia sobre muita coisa dos caçadores. Ele tinha sido o cachorro de uma família. O capacho. Seria muito melhor ter sido morto quando foi capturado, aos doze anos de idade, após ter sido mordido por um lobo incontrolável. Era torturado, violentado e obrigado a ser o servo da família no norte do Canadá.

Xiumin respirou fundo, indiferente.

-Você deve ir lá. Já tá na hora de você saber sobre sua família, Chan.

Chanyeol encarou seu reflexo na televisão mais uma vez. Ele tinha quebrado o espelho do banheiro e do quarto, pois detestava ver-se, constatar que era realmente, Park Chanyeol.

MINUTOS DEPOIS...

Chanyeol olhava para os dois lados da rua. Não tinha nenhum carro passando. A vizinhança estava calma, quieta. A casa dos D.O estava a sua frente, abandonada, deixada para trás.

Quando entrou, pela porta do porão, do lado da casa, Chanyeol sentiu o ambiente pesado. O mormaço do local era um dos piores que já tinha sentido em toda a sua vida.

Ele procurou pelo interruptor e quando deu de cara um fio que saia do teto, ele puxou.

Chanyeol quis gritar.

Armas, armas e mais armas. Todas usadas em chacinas de lobos. Eram antigas. Usadas na caça na idade média. Em sumo, Chanyeol quase saiu correndo daquele local. Seus ancestrais tinham sido mortos com aquelas armas.

E o armário que abriu em seguida, arregalou mais seus olhos. Eram dezenas de pistolas de prata, com estacas de prata, correntes de prata, arco e flechas de prata...

Prata.

Chanyeol mal respirava. Os olhos enchiam-se de lágrimas.

Em outro local do porão, haviam filmes de fuga de cassetes em caixas de papelão. Chanyeol nem quis encostar nelas.

Mas, quando virou-se, cambaleou para trás, batendo as costas contra o armário que tinha aberto. Chanyeol caiu de bunda no chão, aterrorizado, tentando não chorar.

Lobo cinza.

Lobo cinza...

Lobo cinza.

Era o mesmo que aparecia em alguns de seus sonhos. Ele respirou, embargado e encarando os olhos opacos da criatura empalhada, permitiu-se chorar.

Em pânico, ele ficou trêmulo, tentando repetir em sua mente que estava tudo bem. Sair daquele lugar não apagaria as coisas que tinha achado ali;

Os caçadores eram impetuosos.

Seu pai havia sido morto pelo pai de Kyungsoo.

Chanyeol ergueu-se de repente, avançando lentamente para a criatura morta. Sua respiração encontrou com o focinho dela.

E de alguma forma, sentiu um aperto enorme no coração, a angústia subia pela sua espinha.

Então, colocou suas forças para achar o livro que Xiumin havia comentado.

Não demorou muito até que ele achou uma centena deles, em um armário, no fundo do porão.

Nas lombares dos livros antigos, haviam nomes de famílias.

Todas haviam sido exterminadas.

Alguns livros levavam o nome: "Unknown", desconhecido em português. Eram os maiores e mais pesados.

Chanyeol respirou ofegante, as lágrimas molhando suas bochechas e o dedo trêmulo foi até a lombar de um deles.

Park.

Demorou para que ele o tirasse de lá. O medo consumia sua mente.

Ele abriu. E a página que parou era justamente a dele.

Era um portfólio.

Sua foto do ensino médio estava no canto, seu nome completo, data de nascimento, local de nascimento, peso e até uma descrição minuciosa de seu comportamento.

O xerife o vigiava, então.

No final da página constava um último item.

Status: Vivo.

Ele engoliu a seco, a garganta lembrava-lhe uma lixa.

Ele mudou para as páginas anteriores. Era um livro pequeno, sabendo que ele era um transformado, não um verdadeiro, mas mesmo assim, continha informações demais sobre a vida pessoal de seus pais...

Ele franziu o semblante.

Havia uma foto de um lobo cinzento, tirada longe, como se o xerife estivesse entre os arbustos. Ao lado daquela imagem, havia outra. Chanyeol soluçou.

Sua mãe.

Em uma leitura rápida, ele conseguiu entender absolutamente tudo.

Status: Morto.

Quando leu a descrição de sua morte, Chanyeol parou no nome Minho.

Chanyeol largou o livro, como se ele pegasse fogo. Virou-se. E então, começou a gritar em dor.

A cabeça de sua mãe estava bem na sua frente.

Bem ali.

Lobo cinza.

Lobo... Cinza



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