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História O Tabuleiro - A Corrente Quebrada


Escrita por: BlackHole

Capítulo 33 - A Corrente Quebrada


Os barulhos vindos dos demais pavilhões estava deixando Edgar preocupado:

– O que está acontecendo? Trevon, temos que ir lá para ver.

– Você não sai deste lugar até que algum membro de sua família chegue para testemunhar a sua traição.

A situação em que ele se encontrava era realmente humilhante. Trevon o mantinha amarrado com cordas grossas acertando-o com a arma de raios periodicamente para garantir que ele não conseguisse utilizar os poderes. Ele se mexia para tentar se soltar, mas o trabalho feito pelos rebeldes havia sido muito bem feito, os nós da corda estavam muito firmes:

– Você vai se arrepender Trevon. Espere só até eu sair daqui.

Trevon lhe deu uma coronhada com a arma de raios que ele mantinha sempre em punho:

– CALA A BOCA, DESGRAÇADO!!! VOCÊ REALMENTE ACHA QUE ESTÁ EM POSIÇÃO DE ME FAZER AMEAÇAS?

De repente um som de passos interrompe a discussão. O pavilhão estava repleto com cerca de trinta rebeldes empunhando as odiosas armas de raio. Edgar e Trevon estavam ao fundo, protegidos pelo pequeno exército. Os sons de passos revelaram duas pessoas que atravessaram a porta do grande pavilhão. Eram Cielo e Elisa, a vidente.

Edgar empalideceu, ele esperava por Sony, Gina ou até mesmo o próprio senhor Zoan, mas de todas as pessoas ele não esperava que seu próprio pai fosse resgatá-lo:

– P...Pai! Por que você veio até esse lugar? COMO você descobriu esse lugar?

Sua expressão era terrivelmente séria, Elisa parecia muito aflita ao seu lado:

– Então você é o pai deste filho da puta? – Trevon quebrou o silêncio – Quero que saiba que esteve criando uma cobra dentro da própria família, esse garoto traid...

– EU VOU CONTAR ATÉ TRÊS PARA QUE VOCÊS SOLTEM MEU FILHO!!! – gritou Cielo com um tom de voz furioso.

Trevon ficou paralisado ao ouvir a voz do homem:

– Como é? Você tem ciência de que o seu filho passou informações confidenciais de sua família para o grupo de resistência? Vai deixá-lo impune?

– Pai! Por favor! Tenha cuidado! – Edgar estava apavorado.

– A minha paciência acabou Edgar!

Após dizer isso, Cielo bateu o pé com força no chão e um terremoto começou a abalar toda a fábrica. Rachaduras surgiram por todas as paredes e todos os rebeldes não conseguiram se manter em pé. Depois de fazer esse estrago o Anjo se conteve. Trevon levantou-se assustado:

– Que porcaria de poder é esse?

– É o poder da terra. – disse Edgar – Meu pai é capaz de controlar o solo e as rochas. É até coincidência que ele e eu tenhamos um relacionamento tão difícil, já que o solo não conduz eletricidade. Isso significa que ele é completamente imune aos meus poderes. – Edgar soltou um riso desanimado – Pai e filho não poderiam ter poderes mais incompatíveis que esses.

– Trevon. Eu avisei que seria melhor soltar esse garoto. Se não fizer isso agora eu prometo reduzir esse lugar a escombros.

O Líder rebelde o encarou com ódio e em seguida ordenou:

– ATIREM!

O pequeno exército se preparou para atirar, mas Cielo socou o chão com força e uma parte do solo se ergueu como se fosse uma parede interpondo-se entre ele e os inimigos. Em seguida ele socou essa parede e ela avançou contra os rebeldes e tombou por cima deles.

– Devolvam o meu filho agora!

– Espere. Por favor não ataque. Eu prometo libertar Edgar, mas antes você tem que ouvir o que eu tenho a dizer. – disse Trevon tremendo de nervosismo.

Cielo baixou a sua guarda e se dispôs a ouvir o que ele tinha a dizer. Edgar sabia que ali sua traição viria à tona e entrou em desespero:

– Não ouça o que ele diz!

– Silêncio Edgar, já está mais do que na hora de eu saber o que você anda fazendo toda vez que sai da sede dos Anjos de Ferro.

– Então agora você saberá! – gritou Trevon ainda tremendo. – Este garoto estava passando informações sigilosas sobre sua família para o nosso grupo de resistência. Ele nos ajudou no roubo dos circuitos eletrônicos para o desenvolvimento dos inibidores de poder. Ele fez isso porque estava tentando de todo modo tirar o velho Zoan do poder!

– Não, Pai! Ele tá mentindo!

Cielo estava tenso e sério. Elisa continuava aflita ao seu lado. O pequeno exército da resistência começava a se levantar recuperando-se do golpe que havia levado.

– Filho, a minha maior alegria da vida foi quando você se tornou um membro oficial dos Anjos de Ferro. Eu não sei se você sabe, mas eu era um forte candidato a sucessor do Senhor Zoan no comando da família. Mas os anos foram passando e ele nunca largou o cargo, e agora até eu já estou velho para me tornar um patriarca de família. Já que eu não pude conhecer essa glória eu esperava que o meu próprio filho pudesse. Hoje, ao ver a sua situação o meu sentimento é mais de tristeza do que raiva. Você se tornou minha maior decepção Edgar.

Ao ouvir aquelas palavras Edgar ficou paralisado. Com aquela frase, Cielo tirara todas as esperanças que ele porventura ainda tivesse de se tornar um patriarca. Era o seu fim. Ele era um fracasso.

Trevon se aproximou dele pronto para desatar os nós das cordas e começou a dizer:

– Esse garoto também foi uma decepção para mim. Na primeira oportunidade ele nos entregou para os Bastardos Urbanos e atrasou os nossos planos em meses.

– Vocês todos receberão suas devidas punições, Trevon. Pode acreditar.

Enquanto Trevon soltava as cordas Edgar não podia acreditar que estava sendo entregue como uma criança que era denunciada por fazer travessuras. Ele pensou em usar sua última cartada:

– É você quem me decepciona Trevon – disse ele. – Vocês tiveram coragem para enfrentar três patriarcas naquele dia de protesto na prefeitura e agora me entrega assim de mão beijada só porque meu pai fez uma ameaça.

– Você já não me tem tanta importância agora que todos sabem que você é um traidor. – respondeu o líder dos rebeldes depois de ter soltado o Anjo totalmente.

– Não são todos que sabem. Ainda dá tempo de mantermos esse segredo só entre nós! – disse ele colocando-se em pé.

Elisa por algum motivo se desesperou e puxou o braço de Cielo:

– Cielo, temos que sair daqui agora. Deixe que outra pessoa venha resgatar Edgar. Temos que fugir!

Edgar não compreendeu o desespero dela, mas ele ignorou-a e foi falar com Trevon, tomando o cuidado para que a vidente e seu pai não o ouvissem:

– Não desista de lutar contra o meu pai. Se conseguir acertá-lo com o inibidor vai ser muito fácil tirá-lo do caminho.

– Não me diga que você está se entregando agora.

– Você me fudeu completamente. É capaz que eu seja expulso da família.

– Edgar! O que está cochichando? Vamos embora! – gritou o seu pai.

Trevon soltou um riso malicioso:

– Eu diria que isso é inesperado garoto. Estou realmente em dúvida sobre o que fazer.

– Então não seja covarde. Ataque com força total!

Cielo continuou apressado:

– Edgar, vamos embora logo ou eu vou te buscar aí.

Elisa o puxou pelo braço mais uma vez e ele se distraiu por um segundo. Essa era a deixa que Trevon precisava:

– Atirem!!!

O pequeno exército de rebeldes disparou com as armas de raios, mas Cielo revidou a tempo. Com mais um pisão firme, o chão abaixo de seus pés fez pequenas ondulações que foram crescendo e avançando na direção deles abalando a estrutura de toda a construção. O solo oscilava como se fosse um lençol chacoalhado pelo vento.

O teto e as paredes ruíram completamente. Cielo ergueu um monte de terra como se fosse uma cabana protegendo ele e Elisa, assim como Trevon e Edgar do outro lado do pavilhão.

Quando o desabamento acabou Cielo desfez a proteção e gritou para o filho:

– Edgar! Eu não acredito que você esteja se voltando contra o seu próprio pai! Vamos embora daqui agora mesmo!

Edgar pela primeira vez respondeu diretamente a ele:

– Ir embora? E depois? Voltar para a sede daquela família idiota, receber ordens daquele velho maluco, ser humilhado pelos nossos rivais? E o pior de tudo é não ter o meu talento reconhecido pelo meu próprio pai. Você sempre me diminui perante os meus colegas de mesma geração. Se eu não posso ser o patriarca, então quem vai ser? Karoline que não consegue controlar a própria fúria? Sony que mal consegue usar os poderes? Raniel e Gina que nem tem poderes ideais para luta? A verdade é que você nunca acreditou em mim!

– Teremos tempo para conversar depois que sairmos daqui. Agora vamos!

– Não, pai.

A conversa dos dois foi interrompida subitamente por um dos rebeldes que emergiu dos escombros e atingiu Cielo sem que ele sequer visse de onde o ataque viera. Ele caiu no chão e levou alguns segundos para se recuperar, em seguida vários outros rebeldes também saíram dos escombros e cercaram a ele e a Elisa.

Edgar e Trevon se aproximaram dos dois e dessa vez foi Elisa que começou a falar:

– Edgar, você se lembra do sonho que eu tive com você? As suas escolhas estão te levando a um caminho sem volta. No sonho, a corrente de ouro era algo que te aprisionava, mas era o bem mais precioso que você tinha. Você consegue traduzir isso para esse momento que está vivendo?

Mas o rapaz estava irredutível:

– Acertem essa feiticeira. – ordenou – Quem sabe assim ela cala a maldita boca.

Um dos rebeldes a atingiu com a arma fazendo com que ela fosse ao chão totalmente sem forças. Dois deles seguraram Cielo por um dos braços, deixando-o imobilizado. Elisa ficou largada no chão sem que ninguém desse muita importância a ela. Trevon abriu um sorriso maldoso para Edgar:

– Tenho que dizer que estou surpreso. Parece que você está disposto a manter sua posição de agente duplo. Mas terá que provar isso de outra forma!

Ele tomou um inibidor da mão de um dos capangas, acionou alguma alavanca e entregou a Edgar:

– O que é isso?

– Esses inibidores sofreram algumas modificações, agora além de tirar os poderes eles enfraquecem a pessoa que foi atingida, por isso seu pai e a vidente estão assim tão enfraquecidos.

Porém ao apontar para a vidente, ela já não estava mais deitada no mesmo lugar. Edgar ficou desesperado:

– Ela fugiu! Isso não podia acontecer! Temos que encontrá-la imediatamente.

– Esqueça essa mulher. O Seu pai é muito mais importante.

– Isso é tudo culpa sua! – disse Edgar virando-se para o seu pai que mal conseguia manter-se sobre os joelhos.

Trevon continuava com seu sorriso malicioso:

– Calma aí garoto. Eu não entreguei essa arma a você à toa. Quando os poderes deles estiverem voltando você estará encarregado de acertá-lo de novo. Cuidado, pois a potência está bem forte.

– E para onde nós vamos? A fábrica foi destruída!

– A resistência possui bases secretas por todas as três províncias, vamos ficar em um esconderijo menor até estarmos prontos para ira para Lém.

– Sinto muito, mas não posso ir. Tenho que voltar para a sede dos Anjos de Ferro. – respondeu Edgar ainda desesperado.

– Você vai aonde nós formos. É nosso refém tanto quanto ele.

– O que? Depois de tudo o que fiz por essa maldita resistência! O que mais eu preciso provar para vocês?

Cielo soltou um pequeno gemido e Edgar rapidamente apontou o inibidor para ele. Seu dedo estava no gatilho, pronto para disparar a qualquer momento:

– Cala essa boca. Você não vai mais continuar me prendendo e impedindo o meu sucesso. Vamos te manter prisioneiro para que você não conte tudo para o velhote que eu sou um “traidor”. E eu mesmo vou me encarregar de inibir esses seus poderes malditos.

Em seguida ele virou-se novamente a Trevon:

– E você trate de colocar seus capangas para ir atrás daquela feiticeira. Ou ela vai me complicar.

– E quem você pensa que é para me dar ordens? – respondeu ele com um sorriso debochado.

O rapaz apontou o inibidor para ele, Trevon riu:

– Eu não tenho superpoderes, isso não vai adiantar em mim.

– Não importa. Temos que capturar a feiticeira antes que ela...

– Antes que ela o que? – interrompeu Trevon. – Antes que ela corra para os Anjos de Ferro e conte tudo sobre você. E quanto ao seu pai? Pretende manter ele prisioneiro para sempre? Você não vai conseguir manter essa dupla identidade a vida toda Edgar Vincent. Uma hora vai ter que tomar uma posição.

Edgar apontou mais uma vez o inibidor para o pai que estava de joelhos sendo segurado por dois capangas:

– Meu pai sempre me achou ambicioso. Quando eu fui promovido a membro oficial da família dos Anjos de Ferro eu já sonhava um dia me tornar o patriarca da família. Com o tempo eu fui vendo que essa família perdia tempo com rivalidades estúpidas contra os Bastardos Urbanos quando poderia focar o seu potencial em melhorar e crescer e se tornar a maior família que as três províncias já viram. Agora vejo que o meu sonho de me tornar o patriarca não se realizará, parece que preciso tomar uma escolha.

Ele então virou-se para os dois capangas que seguravam Cielo:

– Soltem-no! – Ordenou.

O homem, incapaz de se manter sobre o próprio corpo, caiu no chão e encarou o filho enquanto respirava fracamente. Edgar nunca havia visto um raio de inibidor tão forte quanto aquele:

– Essa é minha escolha. Volte para os Anjos de Ferro, pois eu não vou voltar. Essa família é pequena demais para o que eu pretendo me tornar.

O momento a seguir aconteceu rápido demais, tão rápido que Edgar só conseguiu compreender depois que tudo havia ocorrido. A voz de Sony surpreendeu a todos ali:

– EDGAR! O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?

Neste segundo Edgar se distraiu de seu pai e virou-se para Sony. Cielo aproveitou a oportunidade e reuniu as suas últimas forças e avançou contra o próprio filho tentando fazer com que ele derrubasse o inibidor.

E foi aí que aconteceu...

Edgar foi tomado pelo susto e disparou o raio em potência máxima contra o seu próprio pai já enfraquecido da primeira vez que havia sido atingido. O choque foi tão forte que até ele foi jogado para trás com o impacto. Quando ele se levantou, viu o corpo do seu pai eletrocutado jogado ao chão:

– PAI! NÃO! – Ele gritou enquanto corria em direção ao corpo. Sony também aproximou-se correndo.

– O que você fez, seu desgraçado? Como foi capaz? É o seu pai. – disse Sony já empurrando Edgar para o lado.

– Foi você que me desconcentrou. – respondeu Edgar devolvendo o empurrão. – Eu não tinha a intenção de atirar.

– O que pretendia fazer então apontando essa arma para ele? Porque ele não levanta? Essa não é a arma de inibir os poderes?

Edgar debruçou-se sobre Cielo, sua pele estava fedendo a queimado:

– Pai, não foi por querer. – disse ele começando a chorar desesperadamente. – Você sempre foi capaz de suportar a eletricidade, mesmo quando eu era um bebê e te dava choques sem querer. Não me diga que justamente um choque seria capaz de te derrubar.

Trevon se aproximou e tocou em seu ombro:

– Tivemos que aumentar a potência dos inibidores para atingi-lo. Como as armas usam choques elétricos para atingir o alvo ele ficaria imune se não aumentássemos a potência. Eu te avisei. Dois raios nessa potência é demais até para alguém com os poderes dele.

– Isso significa que...

Trevon assentiu com a cabeça sem dizer palavra. A essa altura Sony também estava chorando:

– Você o matou, Edgar. Tal como na visão da Elisa, você matou seu próprio pai. Ela disse que você o mataria.

– Não foi minha intenção. Não era para as coisas terem acontecido assim.

Os dois rapazes choravam desesperadamente sobre o corpo de Cielo Vincent, até que Trevon puxou Edgar pelo braço:

– Vamos! Agora não adianta ficar chorando. Temos que ir.

– Não! Eu quero ficar com meu pai. – disse ele resistindo e abraçando o corpo eletrocutado.

– Você fez sua escolha Edgar. Agora vem conosco, pois você tinha razão, precisamos encontrar a vidente para o seu próprio bem. Em pé, homem, agora!

Com mais um puxão ele se colocou em pé pronto para dar adeus a seu pai e aos Anjos de Ferro. Era horrível como as visões malucas de Elisa acabaram se concretizando de uma forma metafórica. Edgar sempre achou que Cielo o impedia de crescer na família, mas só agora diante de sua morte ele percebeu o quanto ele era importante para ele. Ao sair sendo puxado por Trevon, Edgar lançou um último olhar a seu pai e compreendeu: A corrente finalmente havia sido quebrada.


Notas Finais


E enfim aconteceu. Edgar chegou ao seu limite de toda traição. O que será que vai acontecer agora que ele fugiu para sempre dos Anjos de Ferro. Comentem aí.


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