História O Vassalo - Prefácio

Bradford, 12 de março de 1431

Trisha saia todas as noites em busca de alimento para seus 3 filhos queridos: Zain, Wendy e Safaa. 

Pertenciam a uma família humilde, viviam em condições precárias, eles faziam parte de uma classe social chamada Corveia, onde trabalhavam de 3 a 4 dias para algum senhor feudal e em troca recebiam migalhas que mal davam para se sustentar por uma semana inteira, viverem confortavelmente. Ela se preocupava com o bem estar de seus filhos como todas as mães, obviamente.

Mas tudo mudou naquela noite, em que Trisha descobriu o casarão da família Del Rey, uma das famílias mais poderosas de Bradford, onde os boatos eram diversos e escandalosos, de todos os tipos. Ela não se importava com eles, apenas com seus filhos.

Muitos dizem que quem habitava aquele lar era a única descendente legítima: Esmeralda Del Rey. Ninguém ousava desafiá-la uma única vez, ela tinha a alma de demônio e seus traços eram como o de um anjo. Só Deus sabia os segredos daquela mulher.

A casa estava escura, era um ambiente macabro, ainda mais no período da noite em que o silêncio e a luz da lua reinava em todo o ambiente e alguns candelabros. Mas o que uma mãe não faria numa situação em que seus filhos praticamente morriam de fome? Não poderia fazer nada além de trabalhar e caso não sustentasse o seu esforço, então roubaria diversas vezes se fosse necessário.

Ela entrou na casa dos Del Rey, não ligavam para os boatos da vila sobre a única herdeira pois achava que era tudo mentira e que provavelmente essa mulher fosse fonte da imaginação da velha população de Bradford, já que nunca ouviu falar o nome da tal susserana poderosa e absoluta que todos seus vassalos temiam e a demônia que todos fugiam.

Estava tudo indo bem, ela pegou a uma quantidade farta de comida que havia na mesa, era um banquete, porém a mãe necessitada entrara em uma porta que dava para a biblioteca particular, vasta de livros empoeirados, era de ser admirada a quantidade. Trisha começou a dar uma risada baixa e nervosa, pegou uma outra sacola em seu avental. Zain ficaria maravilhado e mais ainda se ela furtasse algum livro para ele, de aventuras ou romances, uns dicionários também seriam bons. Não importava o título ou o gênero, ele adoraria.

Zain foi educado de maneira diferente. Vivia saindo escondido de sua mãe, ia para a biblioteca tomar aulas de leitura com a bibliotecária senhora Grey. E quase todos os dias, e quando aprendeu ia quase todos os dias para pegar um livro diferente. Passava todos os seus 20 anos de sabedoria para suas irmãs mais novas: Safaa de 10 anos e Wendy de 18 anos.

— Quem ousa entrar em meus domínios? – a morena indaga com sua voz possessa de raiva.

Trisha sobressaltou-se de susto, o coração palpitava descompassadamente, a boca seca.

— Digo e repito. Quem ousa entrar em meus aposentos? – a voz melodiosa reverberou pelo recinto como um trovão em época de tempestade. – RESPONDA. Ou não serei terei dó e muito menos piedade ao matar a sua alma infeliz.

— Sois só uma alma em busca de conforto para mim e meus filhos que tanto amo, minha senhora. – a mãe de família responde. – Minhas duas meninas e o meu mais velho. E quem é a senhora?

— Sou a dona de tudo isso que está prestes a roubar. Sois Esmeralda Del Rey. Vá te embora, e não volte nunca mais, largue tudo o que estás a roubar e será perdoada por seu atrevimento, velha insolente. – emitiu com sua voz estava mais perto que nunca de Trisha. – Vá e poupe a sua vida miserável, terei um pouco de misericórdia pela sua alma.

— Eu não posso deixar meus filhos sem alimento, senhora. Tenha compaixão dessa pobre alma trabalhadora! Tenho 3 filhos para sustentar, e meu marido me abandonou.

— Que fazes aqui na biblioteca, se o que procuras é comida? – Esmeralda indaga desconfiada.

— É pelo meu filho mais velho, minha senhora. Ele ama ler, e pode ensinar as irmãs o que sabe. Tenha piedade de vós, senhora! – choramingava com veemência.

— Traga-o para mim. Deixe-o ser o meu vassalo. – propôs, autoritária como nunca.

— O- o que? – Trisha estava petrificada, não sabia o que fazer.

— Volte para a sua casa e traga seu filho mais velho para mim, e em troca eu lhe darei o suficiente para sustentar suas duas filhas, serão tratadas como princesas, tanto você quanto elas duas. Ou então eu tiro-te a vida e deixo seus filhos miseráveis órfãos e sem nada.

— A senhora não pode fazer isso comigo!! – respondeu espantada. – Não teria coragem!

— Posso e farei. – a morena diz diabólica, e em seguida, deu uma risada maléfica.

Não via o rosto da mais velha, mas o medo que ela sentia era visível, reconhecia as emoções humanas com a palma de suas mãos. Esmeralda era cruel demais, cruel como o diabo.

— Para que quer o meu filho, minha senhora? – Trisha pronunciou após algum tempo.

Trisha temia pelo seu filho, era inocente e sensível demais, ele iria sofrer demais nas mãos dessa mulher cruel, de alma ruim que iria sugar toda a pureza de sua alma e transforma-lo em um pobre diabo... Mas por outro lado, seu filho poderia mudar aquela alma amarga.

— Uma coisa por outra coisa. Você me traz seu filho e eu lhe darei conforto e vida boa. Lhe darei 2 dias para pensar bem no assunto, caso não queira dar a resposta por agora.

Não queria fazer isso com seu filho, ela se sentia suja demais para chegar a tal ponto de praticamente estar vendendo o seu mais velho. Amava seus filhos como nunca amou nada na vida, mas Zain iria entender que foi par o bem de todos, ele era bom demais.

E tinha a possibilidade de seu filho mudar a si mesmo ou mudar a pobre diaba.

— Tudo bem. Eu aceito. Trago ele, se me der um tempo.

— Dois dias e não se fale mais nisso. – a morena disse, aparecendo pela primeira vez para Trisha. – Já sabe as condições caso não aparecer, irei até o inferno se precisar.

Era uma morena linda de cabelos negros, toda coberta por um véu preto que mal dava para ver o seu rosto, apenas o vermelho forte colorindo seus belos lábios carnudos. A primeira vez que Trisha via de corpo e alma, a bela e temida Esmeralda Del Rey. Ela era um anjo com alma de demônio, quem a visse poderia achar que era um anjo, e logo em seguida descobriria que aquilo era um demônio que o seduziu e em seguida o destruirá.