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História O Vestido, o Baile e a Seleção - A Chegada


Escrita por: K_A_Costa

Capítulo 48 - A Chegada


Fanfic / Fanfiction O Vestido, o Baile e a Seleção - A Chegada

Depois de ler a carta de Layla, tudo o que eu pude fazer foi chorar por quase meia hora. Sentei-me olhando pela brecha da janela e tentei imaginar Layla como ela realmente deveria ter sido. Alguém capaz de proteger um velho homem que acabara de perder sua única filha e também de suportar ser usada, sem demonstrar fraqueza, como peça de um jogo doentio em que seu pai tentava usurpar a coroa. Alguém capaz de trair sua própria família para fazer o que achava certo. Arrependi-me por tê-la odiado tanto a princípio, por ter sido incapaz de notar que ela usava aquela pose como forma de autodefesa. Agora era tão óbvio...

Layla era apenas humana.

Enquanto refletia tudo aquilo, pude ver – já que a janela dava para a estrada – quando um carro parou e desceram dois homens de dentro dele. Imediatamente reconheci Marid Illea. Meu corpo se retesou e eu me afastei da janela mesmo sabendo que ele não poderia me ver daquela distância e através de uma brecha tão estreita. Num ato quase de reflexo, guardei a carta de volta no envelope e prendi o pacote à cintura. Voltei a olhar. Enquanto Marid fazia um telefonema, o outro rebelde caminhou para a porta da casa da frente – cuja existência só agora eu notava. Ele esmurrou com grosseria a porta até que a luz da varanda fosse acesa. De dentro da casa, saiu um homem baixo e careca, que gesticulou nervosamente em negativa enquanto o rebelde parecia gritar um interrogatório. Insatisfeito, o comparsa de Marid adentrou a casa, sendo seguido pelo homenzinho aflito.

Batidas na porta do quarto me fizeram pular na cadeira de susto. O sr. Johnson colocou a cabeça para dentro do recinto e gesticulou em direção ao tapete. Entendi a ordem. Acordei Miriam em silêncio e abri a porta secreta em seguida. Miriam desceu depois de mim, e fechou a porta acima de sua cabeça, puxando o fio de linha que fazia o tapete voltar ao seu lugar. Agora era esperar que nosso anfitrião cuidasse do resto.

Em meio a escuridão, tateamos um lugar para sentar.

Menos de cinco minutos depois, ouvimos o estrondo. Agora era a porta do sr. Johnson que era esmurrada.

“Já vou! Já vou!”, o velho homem resmungou. Ouvimos seus passos pesados e lentos pelo corredor. “Será que um velho não pode sequer dormir nesse maldito lugar?!”

Novas batidas rudes na porta.

Um instante de silêncio se passou enquanto o sr, Johnson abria a porta. Em seguida, ele começou a berrar exatamente como fizera ao nos ver.

“SAIAM DAQUI! SAIAM! MALDITOS REBELDES, EU JÁ FALEI QUE NÃO QUERO NADA COM VOCÊS! SEUS MONSTROS! ASSASSINOS! VÃO EMBORA DA MINHA CASA!”

Ouvimos a voz do comparsa de Marid tentando se sobrepor, em vão, à voz do sr. Johnson. Passos adentraram a casa enquanto nosso anfitrião continuava a berrar e a – ao que parecia – espernear. A porta do quarto foi aberta, e eu fechei os olhos torcendo para que ele não notasse a cama desarrumada. Os passos se afastaram, saindo do quarto, então a porta da casa foi novamente fechada. Nosso anfitrião começou, então, a chorar, murmurando algo sobre Erica. Do lado de fora, Marid falava com o outro rebelde.

“Deixe-o. Ele é claramente louco. Acho que se o rei aparecesse diante dele também seria chamado de rebelde.”

Os dois riram e se afastaram da casa.

“Vamos, precisamos seguir caminho. Elas ficam ainda mais distantes a cada segundo que perdemos.”

Quando o motor do carro soou e os pneus cantaram estrada afora, os passos do sr. Johnson vieram até nós. Ele abriu a passagem secreta e acenou para que saíssemos de lá.

“Subam, ele já foi embora.”

Miriam subiu na frente, fazendo uma expressão de surpresa ao sair. Quando minha cabeça ficou acima do nível do piso, também não pude conter meu queixo, que caiu.

O sr. Johnson estava usando um vestido.

“Não falem nada!”, ele alertou antes que pudéssemos esboçar qualquer outra reação. Então saiu do quarto murmurando “eu não sou louco!” e “aqueles malditos rebeldes”.

Olhei para Miriam, que deu de ombros, então sorri.

Ele tinha nos salvado.

_-*-_

A manhã seguinte chegou bem cedo, após uma noite em que eu mal pude fechar os olhos. Fomos despertadas por batidas na porta antes que os primeiros raios de sol aparecessem no horizonte. O sr. Johnson havia preparado o café da manhã: queijo, ovos, pão, leite e café. Comemos rapidamente e fomos levadas sob uma aura de mistério por nosso anfitrião até a parte de trás da casa. Ao lado da escada havia um portão fechado por um cadeado enorme. Curiosa, Miriam se aproximou e o pegou entre as mãos.

“Não é aí que iremos entrar”, disse-nos o velho homem. “Esperem, ela deve chegar em breve.”

“Ela?”

Antes que minha pergunta pudesse ser respondida, uma mulher apareceu por entre as árvores. Ela era alta e tinha a pele negra. Estava vestida de preto, e seus cabelos longos e crespos, presos em tranças, tinham mechas acinzentadas. Ela nos fitou com uma expressão séria e analítica, então caminhou até nós a passos decididos.

“São elas. Eu duvidei um pouco, porque o rei não divulgou o sequestro, mas realmente são elas”, falou para o homem ao nosso lado.

“Você pode ajudar?”, o velho perguntou.

“Veremos.”

Com um gesto, ela nos pediu para segui-la. Olhei para Miriam, que me olhou de volta. Quem era essa mulher? O sr. Johnson acenou para que a obedecêssemos.

Sem muita escolha, fomos atrás dela. Acenei um “obrigada” para o nosso ex-anfitrião, que me deu um sorriso breve antes de entrar em casa. Imaginei se ele devia se sentir muito solitário.

“Eu apreciaria a discrição de vocês duas. Só estou fazendo isso porque devo muito ao velho. Aquele porão e seus vestidos já me salvaram várias vezes.”

“Podemos saber o seu nome?”, pedi.

“Não.”

“Quem é você, afinal?”, Miriam perguntou um segundo depois.

“Uma negociante. Vendo coisas que encontro por aí a um preço muito melhor que o do mercado.”

“Você quis dizer coisas roubadas?”, indaguei e me arrependi no instante seguinte.

Imediatamente, a mulher parou, quase fazendo com que esbarrássemos em suas costas, e se virou para mim com um olhar flamejante.

“Eu quis dizer o que eu disse. Sem mais perguntas!”

Com o coração acelerado de medo, me calei.

Seguimos a misteriosa figura até um casebre no meio da floresta acessado por um caminho de terra. O sol começava a despontar no horizonte, pintando o céu com uma aquarela de tons. Quando nos aproximamos da humilde moradia, vi um caminhão parado ao lado dela, e meu peito se encheu de esperança.

“Eu vou levá-las até Angeles, mas não posso ser vista perto do castelo. Isso me traria problemas. Posso deixá-las em uma viela ao lado da praça principal ou perto da margem da floresta que dá para o palácio, se vocês preferirem. O que me dizem?”

“Aceitamos”, respondi de imediato.

“Nos deixe perto da floresta, por favor”, Miriam completou.

A mulher entrou no caminhão e o ligou, acenando para que fôssemos para a parte de trás. Miriam e eu abrimos as portas da traseira do veículo e nos enfiamos entre as caixas lacradas. Alguns segundos depois a mulher apareceu e fechou as portas.

_-*-_

A viagem foi desconfortável e longa demais. A cada buraco na estrada eu e Miriam precisávamos nos segurar nas caixas mais pesadas para não sermos lançadas de um lado para o outro. Quando o veículo finalmente parou, soltei um suspiro de alívio. As portas foram abertas e só então eu percebi como estava abafado ali dentro. Descemos. Estávamos tão perto do castelo que podíamos avistá-lo. Ao nosso redor, havia apenas árvores, e o dia finalmente havia raiado por completo.

“São que horas?”, perguntei para a misteriosa mulher.

“Seis ou sete. Não tenho certeza.”

“O castelo está despertando agora. O café da manhã acontecerá bem em breve”, Miriam comentou.

Acenei afirmativamente. Quase não conseguia acreditar que estava tão perto...

De casa?

Meu próprio pensamento me assustou. Desde quando eu pensava no castelo como minha casa?

Sacudi a cabeça para afastar a ideia. Era apenas bobagem, eu precisava focar na realidade.

“Muito obrigada pela ajuda”, falei para a mulher, que já caminhava em direção à porta do motorista.

“Já falei. Fiz isso pelo velho”, ela respondeu. A porta bateu e o motor rugiu enquanto ela acelerava. O caminhão saiu do nosso campo de visão rapidamente.

Olhei para Miriam.

“Bem... Vamos lá, não é?”, ela falou.

Sorri e estendi minha mão para ela, que a apertou carinhosamente.

“Vamos.”

Caminhamos em direção ao castelo, meu coração acelerado de ansiedade. Nós chegaríamos pelos fundos, ao que parecia, e eu não tinha certeza do que ficava lá. A cozinha? Os alojamentos dos funcionários? Fomos adiante. Por algum motivo, eu estava com medo. Meu peito se contorcia dentro de mim como se eu fosse encontrar ainda mais perigo à minha frente. E se nós tivéssemos sido seguidas? E se aquela mulher tivesse nos traído? De repente, eu já não conseguia andar. Estava sufocando. Miriam seria ferida e Alex ficaria arrasada e seria minha culpa. Eu não deveria ter confiado naquele velho. O rosto de Miriam apareceu diante de mim, sua boca se movendo em palavras que eu não conseguia entender. Ela tinha sido atacada? Ah não... Senti que estava sentada no chão, mas eu não lembrava de ter me sentado. Estava quente, eu transpirava?

“LILLIAN!”

De repente, o mundo voltou para os seus eixos, e eu me senti tonta.

“Lillian, eu estou aqui”, era Miriam me abraçando.

“O quê...?”, gaguejei.

“Está tudo bem, você está segura agora. Está tudo bem...”, Miriam repetia sem me soltar.

Ainda confusa, a abracei de volta. Ela passou carinhosamente a mão por meus cabelos murmurando uma velha cantiga de ninar. Tomei consciência, para a minha surpresa, de que havia lágrimas escorrendo pelo meu rosto, e me afastei um pouco de Miriam para que pudesse secá-las.

“Desculpe, Miriam”, falei baixinho. Eu sabia o que tinha acontecido. Uma crise de ansiedade.

“Ei, Lillian, está tudo bem.” Ela apoiou uma mão em meu ombro e me fitou os olhos. “Nós passamos por muita coisa, e você está cansada. Eu também estou. Não se preocupe, os rebeldes não vão nos alcançar aqui. Está tudo bem.”

Acenei afirmativamente enquanto secava meu rosto.

“Agora vamos. Precisamos chegar ao palácio”, ela finalizou.

Respirei fundo e aceitei a mão que ela estendia para mim. Estava tudo bem. Precisávamos apenas chegar ao palácio.

Poucos metros adiante, a floresta se abriu.

“Paradas! Este território pertence à Sua Majestade Real, o Rei Maxon!”, um guarda gritou apontando uma arma para nós. Outros dois homens o ladeavam e ameaçaram tirar as armas dos coldres.

Lentamente, Miriam e eu erguemos as mãos. Senti vontade de rir.

“Não atirem!” Uma outra voz gritou. “São as selecionadas sequestradas!”

Vindo de dentro do prédio, outro guarda avançou em direção à nós ansiosamente e correu em minha direção, agarrando-me e erguendo-me no ar com o melhor abraço do mundo.

Viktor.

Agarrei seu pescoço e aproveitei a sensação pacífica que seus braços me traziam. Finalmente estávamos à salvo. Finalmente...

O mundo ao meu redor escureceu e sumiu.

_-*-_


Notas Finais


Boa noiteeeee
E aí, como estão? Tudo bem?
SEMANA QUE VEM TEM MAIS, HEIN?!
BEIJOOOOOS *3*


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