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História O Vigia - Primeira missão e individualidade


Escrita por: bossceo

Capítulo 7 - Primeira missão e individualidade


— Gu… Não é boa ideia. — Yanan disse entre longas e profundas inaladas de ar. O mais velho lhe olhou com carinho, lhe sorrindo de volta.

— Não vai ser tão ruim. Você tem se saído bem nos treinos físicos.

— Eu posso machucar alguém! Eu posso me distrair e não conseguir ajudar vocês, alguém pode se ferir por culpa minha. Como não vai ser ruim?!

— Com esse pensamento, vai sim. — Yeeun exclamou enquanto colocava sua arma nas costas.

 

Yanan grunhiu em resposta. Yeeun parecia tão profissional se comparada a ele. Tinha uma mochila levinha nas costas  com barras de nutrição providenciadas pelo governo e uma dose de munição  e antizina. Em seu cinto, mais munição, afinal, segundo a própria Yeeun, proteção nunca era demais. Os cabelos estavam bem amarrados e cobertos por um boné, além da garota vestir roupas confortáveis para uma fuga.

 

 

Por outro lado, Shinwon parecia não se importar muito com a organização ou com a forma que se vestia, de alguma forma, lhe dava a impressão de que o Ko havia acabado de acordar. Já tinha ouvido os boatos de que ele não era um exemplo de responsabilidade, muito menos o melhor em campo, por isso, era uma preocupação a mais. Hwitaek era quem zelava pelos pontos fracos da equipe e ele não era nada como Hui.

 

 

Por mais que o líder provisório fosse o próprio Changgu, não podia deixar de se sentir responsável. Não queria se sentir como a sombra ou o protegido do Yeo, muito menos ficar para trás se comparado a Yeeun ou responsável por possíveis tragédias que acontecessem com Shinwon. Subitamente, Yanan sentiu falta de seu lugar encostado ao muro de sua torre, junto a sua amada equipe. Soltou um suspiro melancólico, checando sua munição pelo o que deveria ser a sexta vez.

 

 

— Yanan, Hwitaek hyung deve ter problemas também. Ele não sabe como atirar ao longe muito bem, então você deveria ficar tranquilo.

 

— Como assim tranquilo?! Uma pessoa ruim correndo e uma pessoa ruim vigiando. As chances disso dar errado são terrivelmente grandes, Shinwon!

— Será que vocês conseguem esquecer isso? Você já se enfiou aqui, já tá dentro do forte. Se voltar atrás agora a gente não sai ou sei com um elo fraco e por isso perdemos antizina e comida. — Yeeun exclamou em tom de irritação. — Faça o trabalho que você veio saber, caso o contrário não só nós seremos prejudicados. Se você tá assim tão preocupado com o povo e com o prejuízo que eles vão ter, crie coragem pra continuar.

 

O chinês ficou com a boca entreaberta, não esperando por aquele choque de realidade. Ao contrário das palavras mais tranquilas e cheias de eufemismo de Changgu e Shinwon, Yeeun era muito mais sincera e objetiva. Yanan se encostou à parede ao seu lado, envergonhado com o quão reclamado e vitimista estava sendo. Estava ali para cumprir um favor e não para ser um excelente parceiro de time. Daria seu melhor para que não fosse um desfalque, já que a garota havia lhe dito nada além da verdade pura e límpida.

 

 

Changgu pareceu se preocupar com seu silêncio e tomou a frente.

 

 

— Vamos. A gente tem que ir pra região sete. — Parou por um segundo lembrando que Yanan não sabia nada daqueles termos que normalmente usavam. No máximo sabia os nomes das regiões mais próximos e que estavam no seu campo de visão na torre, mas não era uma certeza. — No caso, iremos há uns dois quilômetros ao norte. É perto de uma outra cidade forte, mas graças a aparelhagem da Soojin a gente tá sabendo mais cedo da entrega do pacote.

 

— Qual a trilha? — Shinwon questionou.

— Rasa. Caminho livre e plano, espaço aberto. No máximo uns caminhantes. Não vai ser tão ruim até chegarmos perto da cidade, por lá quero que Yeeun e eu cubramos a direção da cidade enquanto Yanan fica de olho e Shinwon carrega o pacote. Tudo certo?

— Sim, tenente. — Shinwon bateu continência em tom de brincadeira. Yeeun bufou, apenas assistindo enquanto se alinhava para a corrida.

 

Changgu deu um último olhar preocupado para Yanan antes de abrir o grande portão de ferro manualmente. O chinês quis perguntar o motivo do Yeo não usar os botões, mas deixaria isso para um outro contexto. Changgu já havia lhe dito que não conversavam muito nas missões por terem problemas com infectados com audição aguçada. Não queria atrapalhar ninguém é muito menos começar um problema.

 

 

O brilho da luz solar que vinha do lado de fora lhe deixou incomodado, mas os outros já pareciam preparados para essa situação. De imediato, quando colocaram os pés para fora, foram aquecidos pelo calor das ruas desertas. Ao mesmo tempo, os fortes colocaram suas longas armas pelos buracos altos da Fortaleza, como se protegessem os corredores. Não foi a primeira vez que Yanan via aquilo, mas não era o mais experiente no assunto. Sua torre não era tão próxima dos portões, e mesmo assim, nunca esteve interessado em assistir o retorno glorioso ou a ida corajosa dos corredores.

 

 

Em silêncio, com expressões sérias, seguiam Changgu em fila indiana. Com o pouco que foi instruído, percebeu que deveria ficar atrás de Shinwon. Era estranho e lhe dava calafrios. Pela primeira vez em longos anos, Yanan estava colocando os pés para fora da fortaleza, estava caminhando sem ter uma barreira o impedindo do outro lado. De alguma forma, era libertador. Queria expor um sorriso no rosto, mas ainda lhe dava medo sentir suas costas desprotegidas. Por mais que andassem em um espaço adequado para olharem para trás e vigiassem os lados, o papel de Yanan era literalmente proteger o distraído e não tão responsável Shinwon.

 

 

Excelente.

 

 

Eram dois longos quilômetros em silêncio, temendo por sua vida e principalmente pela dos outros. O sol queimava sua pela desafortunada a tanta exposição, por mais que houvessem dividido uma quantidade moderada e pré estabelecida de protetor solar. Era um valor definido previamente para o uso de quatro pessoas, afinal, o produto não era la abundante, era quase um item de luxo.

 

 

Um quilômetro depois, por volta de vinte minutos de caminhada devido ao passo cuidadoso, embora apressado, Changgu parou para que todos bebessem água e comessem uma banana, haviam quatro especificamente. Comeram escondidos debaixo de um prédio abandonado no meio do caminho que tinha o selo da proteção da cidade vizinha, ou seja, estava livre de infectados venenosos e ácidos. Yeeun deu uma cotovelada em Yanan enquanto se organizavam para voltar a trilha, seu olhar era bem menos agressivo que o de mais cedo.

 

O chinês lhe sorriu pequeno de volta. De fato, não estava sendo tão difícil participar de uma missão. Não haviam tantos combates como Changgu havia lhe dito várias vezes, aliás, até o momento, não houve combate nenhum. Suas armas estavam paradinhas, só sendo erguidas quando ficavam em dúvida sobre alguma movimentação estranha. O único problema era o ritmo da caminhada, já que não era tão acostumado a andar tanto em um espaço de tempo como aquele. Não querendo ser um atraso, não reclamou de nada.

 

Por outro lado, o namorado do chinês e líder temporário da equipe pareceu saber da situação do mais novo. Deixou uma garrafinha de água com ele, ciente de que Yanan não era exatamente a pessoa mais ativa e que deveria estar exausto. Yanan agradeceu, sem querer fazer contato visual para não o preocupar mais. Pelo contrário, acabou preocupando o namorado ao achar que estavam brigados por algum motivo. Changgu ponderou se havia sido mesmo uma boa ideia, mas Yanan precisava experimentar outras coisas e eles precisavam de mais alguém. Era isso ou ficar sem antizina essencial para o povo.

 

 

De volta a trilha, Yanan caminhos distraído com sua missão. Não ouviu nada da conversa baixinha que Yeeun tinha com Shinwon, só distinguindo algumas risadas. Ficou tão focado que mal percebeu quando o grupo parou outra vez. O sol estava mais forte, quase sobre suas cabeças. Deveria ser por volta de meio dia. Hui deveria estar prestes a cobrir o seu turno e Yanan torcia para que o mais velho se saísse bem, caso o contrário, teria deixado sua equipe e povo em perigo.

 

 

— Yanan, cubra o Shinwon.

 

— Sim, tenente. — Respondeu em um tom sério, embora estivesse fazendo uma brincadeira com suas posições.

 

Yanan só teve uma visão de relance da formação bem organizada. Yeeun se ajoelhou, ficando à extrema direita de Shinwon, enquanto Changgu ficou na direção oposta. Ele, por outro lado, virou-se de costas. Seu coração batia tão forte quanto um tambor, torcendo para que não deixasse nada passar despercebido. Tentou aguçar sua visão e sua audição. Respirou fundo várias vezes.

 

 

Estavam em uma rua vazia. Não havia prédios por ali, somente uma grande fortaleza sem torres ao longe. Essa era a área que Changgu e Yeeun estavam cobrindo, então restava a Yanan analisar com cautela lixeiras velhas, corpos abandonados na rua que poderia se erguer a qualquer momento com o vírus e também muitos escombros. Apontou sua arma, preparado para o pior. Ouviu Shinwon fechar o zíper de sua grande mochila e ligar seu comunicador após poucos segundos.

 

 

— Equipe cinza para liderança. Câmbio.

 

 

Esperaram alguns segundos. Nada. Yanan não sabia se aquilo era normal devido a distância ou se estavam sendo bloqueados pela tecnologia da fortaleza alheia. Sua resposta veio em pouquíssimo tempo.

 

 

— Merda! — Yeeun exclamou em um tom mais agudo que o de sua voz.

 

— Yanan, Shinwon, vamos voltar.

— Eu ainda não falei com o Jinho! — Shinwon explicou sua resistência, mas quando Yanan se virou para encarar a situação, Changgu passou para o seu lado com pressa, protetor.

— Eles danificaram nosso sinal e te ouviram, soldado Ko. Eles sabem que a gente tá aqui no território deles. A gente precisa ir, agora.

— Porra. — Shinwon xingou a medida que Yeeun o puxava pelo braço.

— Sem pausa pra descanso, foda-se o Jinho. Vambora. Agora.

 

--

 

 

— Me desculpa. — O chinês sussurrou. — Eu sabia que era um erro, mas eu fui mesmo assim.

 

— Yanan… sem você, a gente estaria sem remédios e antídoto. Shinwon não foi mordido, ele só levou um tiro no ombro. E não foi culpa sua.

— Como não? Eu não deveria proteger ele?

— Não em fuga! — Changgu disse aumentando o tom de voz e largando a camisa que havia usado no chão. Começou a tirar o cinto, meio de cabeça quente com Yanan se culpando por tudo.

— Você fala como se um tiro fosse pouca coisa. Porra, ele perdeu sangue pra caralho, eu nem sei se a Seunghee pode cuidar disso adequadamente.

— Claro que pode. Não foi profundo. Yanan… — Changgu suspirou, encostou as costas na parede e começou a olhar para o chão. — Ele não foi mordido, poderia ter sido pior. Poderíamos gastar uma antizina que ajudaria outras pessoas. Shinwon serviu com orgulho e está vivo, isso que importa. Você não tinha o que fazer.

— Não consigo ficar certo sobre isso. Eu poderia ter percebido alguém escondido, era minha função.

— Você não tá vendo o que o Jinho fez com você?!

 

Changgu falou ainda mais alto, se irritando.

 

 

— Porra, pare de se culpar e de vitimizar. Você serve pra fortaleza então comece a agir como um soldado, não como um covarde.

 

— Ótimo, hoje é o dia de encherem meu saco por isso. É assim que todo mundo me vê?

— Não. É assim que você se vê e passa pros outros. Eu sempre falo o quão bom você é, mas você escuta?

— Desculpe. Merda, desculpa, eu não aguento mais machucar ninguém ou passar por nada parecido.

— Pois vai ter que aguentar. É seu trabalho e sua obrigação. A não ser que queira plantar bananas pra suprir os corredores.

 

O chinês se sentou na cama do quarto do mais velho, respirando fundo.

 

 

— Eu só não quero ter um estorvo.

 

— Não seja. — Changgu disse agora mais calmo.

— Me desculpa. De verdade eu ando conflitado demais.

— Sei disso, mas fica complicado de lidar com isso sem te machucar, e isso não é algo que eu queira fazer. Sinto muito Yanan.

— Sente? Sente muito por o que? Não fale como se fosse terminar comigo, Changgu.

— Não. Deus, não.

 

Changgu se aproximou do namorado, se ajoelhado a sua frente. Seu corpo estava cansado pela fuga e sua garganta seca. Suas costas doíam por ter carregado Shinwon até o hospital, sua cabeça doía pelo sol incessante e por ter aguentado tantos problemas, incluindo um Yanan reclamando constantemente.

 

 

— Sinto muito por ter levado você sem que estivesse pronto. Você não errou, foi muito bem. Mas se de alguma forma, algo te fez mal, sinto muito.

 

— Não é culpa sua.

— Nem sua. Então esqueça isso por enquanto. Precisamos tomar banho, comer reforçado e dormir bastante. Você principalmente, você parece exausto.

— Obrigado por me trazer pra realidade. Eu quero continuar.

— Tem certeza? — Changgu questionou, preocupado.

 

Yanan lhe deu um sorriso mais aliviado de volta. Relaxou os ombros e respirou fundo.

 

 

— A sensação é boa. De ser útil. Não que eu não me sinta assim como vigia, mas a adrenalina é diferente. Posso continuar cobrindo o Hui.

 

— A decisão é sua. — Changgu sorriu de volta, sendo um rápido selar nos lábios do mais novo. — Eu já me sinto orgulhoso de você.

— Eu te amo. — Yanan arriscou.

 

Changgu piscou os olhos várias vezes, em choque. Aquela era a primeira vez que ouvia algo daquela forma lhe ser dito pelos lábios de Yanan. Seu queixo caiu de imediato e o chinês precisou agarrar os lençóis da cama ao perceber o que havia dito. Sentindo o peso de suas palavras, puxou Changgu pelos ombros e o beijou novamente, dessa vez com mais profundidade de forma que quase passou seu desespero para o Yeo.

 

 

Changgu o empurrou sutilmente e Yanan arfou, arrependido pelas palavras que usou.

 

 

— Ama?

 

— Esquece isso.

— Não. Eu amo você também.

 

Yanan riu aliviado outra vez. No fim das contas, o dia não tinha sido assim tão ruim. Ainda preocupado com Shinwon e com Wooseok, mas um pouco mais tranquilo devido a confiança que Yeo Changgu lhe tentava transmitir. Yanan estava, de certa forma, grato pelo aprendizado daquele dia e esperava poder se tornar alguém mais útil para a comunidade da fortaleza.

 

 

Jinho não poderia continuar a lhe fazer se sentir tão culpado. Não deixaria uma outra pessoa interferir em sua vida, suas escolhas e em seu comportamento daquela forma. Ele era uma pessoa individual, e não um reflexo de Jinho e suas ordens. Era difícil não se sentir influenciado por alguém que havia sido tão importante em sua vida, mas tinha que driblar tudo que havia sido importo pelo Jo. Por sua própria saúde e pela daqueles que amava.

 


Notas Finais


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