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História Oasis - Sou-Gostoso-Mas-Não-Me-Toque


Escrita por: Otoni

Notas do Autor


Desculpem se não estiver legal ou se eu decepcionar, não estava num momento muito bom, então pode não ter saído tão gostoso de ler como vocês têm esperado. Além disso, mil desculpas pelo atraso! Estava sem o computador e ficou um tempo sem luz, pelo capítulo ser enorme, não deu tempo de editar tudo e postar ontem.
Aproveitem, então!

Capítulo 12 - Sou-Gostoso-Mas-Não-Me-Toque


Quando Iris me disse naquele dia que viria me buscar na sexta, não estava mentindo. Mais ou menos uma hora antes do horário, lá estava ela toda animada abrindo as cortinas do meu quarto. 

E eu com meu costumeiro mal humor, praguejei o quanto pude e fui empurrado até o banheiro, onde fiz o mais rápido possível a minha higiene matinal, o que incluía a barba rala que eu havia deixado crescer nos dias passados. 

Quando estava tudo pronto, esperávamos meu pai na porta. O velho tinha decidido nos levar, alegando que não sairíamos por aí carregando as malas por tanto tempo até chegar a escola. 

Mas sabia que não era bem isso. Queria passar esse tempo comigo e eu agradecia. 

Ao contrário de mim, os olhos do meu pai eram de uma tonalidade esverdeada muito bonita. Alex também era ruivo, porém era alguns centímetros mais alto do que eu. 

- Vamos? – Perguntou ao descer as escadas em nossa direção. 

- Não tem problema, pai? 

- Não, quero passar pelo menos um pouco de tempo com meu menino – Sorriu e bagunçou meus cabelos. 

Ele não era muito de falar, mas, quando resolvia fazer isso, envergonhava todo mundo. 

A bagagem foi colocada no porta-malas e entramos no carro. Sentia-me mais animado aquele dia, apesar do fato de que Alice estaria lá. 

Rezava, igual a um crente frente a morte, para que o professor não deixasse escolher as duplas. A última coisa que queria era a loira vindo me infernizar. 

Pude suspirar quando chegamos em frente a instituição e uns três ônibus já nos esperavam do lado de fora. Mesmo tendo colocado as ideias do lugar, ainda não me sentia confortável. 

Iris puxou-me para fora do veículo antes que eu desistisse, mas, antes que pudéssemos partir, meu pai chamou-nos com um sinal de dedo. 

- Não exagera, tudo bem? Qualquer coisa, volta pra casa – Pediu seriamente. 

- Tudo bem, pai. 

- Iris, toma conta do meu garoto – Sorriu e logo pude vê-lo dobrando a esquina com seu carro negro. 

Havia uma fila para cada uma das salas em frente a cada ônibus. Enquanto me dirigia para o local, conversava com minha melhor amiga e, consequentemente, ficava cada vez mais animado. Animação essa que durou pouco até ver uma loira vindo em minha direção. 

- Oi, meu ruivo – Disse sorridente. 

- Oi Alice. 

- Por que essa daí está te agarrando? – Apontou para Iris que me abraçava. Revirei os olhos com falta de paciência. 

- Não sei o que você está tentando sugerir, mas apenas estou cuidando do meu ruivo gostoso – Sorriu maliciosa a morena e eu sabia. 

Começaria o fight. 

- Seu? – Começou a rir – Se não sabe, te conto. Esse aí me pertence, então sai daqui, sua cachorra – Falou Alice irradiando raiva. 

Minha melhor amiga olhou-me por um segundo e eu sabia que havia entrado no modo "Iris-psicopata". 

- Você pode até ter um feto na tua barriga, mas não tem nenhuma corrente presa ao pescoço dele. Se não percebeu, ele não é um cachorro. E olha só – No momento seguinte, sentia lábios macios de encontro ao meu e uma língua ousada pedindo espaço. 

Fiquei espantado. Minha melhor amiga deveria ter parafusos a menos. 

Quando se afastou, ainda teve a audácia de levar o indicador aos meus lábios, limpando um pouco de saliva que havia ali. Tudo sem tirar o sorriso vitorioso do rosto. 

- Você não deveria ter feito isso, sua vadia – Alice estava vermelha de raiva e apertava os dedos contra a palma, machucando-se com as unhas grandes. 

- Hm? – Fez uma cara inocente. 

Quando a cara da loira se distorceu mais ainda em raiva, pude ver que ela se jogava em cima da morena. 

Por puro azar, minha melhor amiga era a melhor lutadora que eu conhecia. Ela nunca perderia para uma mimada que nem Alice era. 

Iris passou uma rasteira na menina que tentava agarrar seu cabelo, fazendo-a ir de encontro ao chão de bruços. Montou-se em cima das costas dela e puxou seus cabelos, levantando sua face. 

Pronto, já era o suficiente. Não queria minha melhor amiga em uma suspensão. 

Avistei Caio na multidão e chamei-o com um gesto. Logo as duas estavam separadas. Alice mais ensandecida do que tudo, debatendo-se em meus braços. 

- Logan, me solta! – Esbravejou. 

- Já chega. 

- Ela te beijou. 

- Qual o problema? 

- Você é meu! 

Fiz um careta de desgosto. 

- Alice... 

- Deixa eu mostrar pra essa puta. E não quero você perto dela. 

- Alice, eu não vou fazer isso – Estava perdendo a paciência. 

- Eu sou a mãe do teu filho. 

- Isso não é motivo. 

- Ah, é? Então chega perto dela e daquele nojento mais uma vez e nunca verá teu filho. 

Arregalei os olhos. Ela não havia friamente usado nosso filho para me controlar certo? Ela não podia fazer isso. Como podia brincar com a vida do seu próprio sangue? 

- Você não ousa – Perdi a paciência. 

- Ah, você vai ver. 

- Como pode fazer isso? 

- Não te diz respeito. 

- A porra do filho também é meu. 

- Foda-se. Eu faço o que quiser, já que o filho é meu. 

Tinha passado dos limites. Bufei de raiva. Isso era algo que uma mãe fazia? 

- Faça isso mesmo. Vai! Espero essa criança nascer e pego a guarda. Que juiz em sã consciência daria uma criança para uma mãe desequilibrada que nem você? 

Vi quando ela abriu e fechou a boca por algumas vezes, sem resposta. Suspirou e saiu correndo dali. 

Desde quando estava em uma novela mexicana? 

Eu definitivamente estava na merda com aquela mulher. 

Senti dois tapinhas nas minhas costas enquanto suspirava e lá estava ele, o loiro aguado. 

- Obrigado pelo show – Sorriu. 

- Idiota – Passei a mão pelo cabelo, tentando me acalmar. 

- Aquela vadia ainda achou que poderia me bater – Reclamou Iris. 

- E você sempre adorando provar o contrário – Rebati. 

- Ainda estou em negação quanto a essa história do Logan ser pai – Disse Caio que também estava por ali. 

- Imagina eu, então? – Sorri amarelo. 

- Se for menino, as novinhas estão perdidas. Com um pai desse, o garoto vai nascer na atividade – Brincou Art. 

Antes que tivesse tempo de responder, o professor havia pedido silêncio. 

- A organização do teste de sobrevivência será em duplas. A reserva ao qual vamos não tem nenhuma espécie de perigo e os pares serão os mesmos do trabalho anterior – Deu a instrução o professor de biologia, que estava do lado do professor de geografia, que também participaria do projeto. 

Espera! Isso quer dizer que eu ficaria com o Grey esse tempo inteiro? 

Pensamentos maliciosos logo invadiram minha mente e sorri. 

- Iremos ter aula prática no primeiro dia e, nos demais, teremos um teste de sobrevivência. A dupla que ficar por mais tempo na reserva, ganha e levará um prêmio. Qualquer imprevisto ou desistência, estaremos acampados no início da reserva. E para as duplas mistas, nem pensem em fazer nada inapropriado! Temos câmeras em todo o lugar... 

E continuou o seu discurso. Não prestei atenção. Meus olhos corriam afoitos pela multidão, procurando um par de olhos coloridos. Mas nem sinal. 

Quando entramos no ônibus, percebi que cada assento tinha o nome dos alunos escrito em uma pedaço de papel. Todos estavam organizados em suas respectivas duplas. 

Em um dos últimos bancos, lá estava o meu e certo russo que olhava pra fora da janela com uma cara de tédio característica. Usava fones de ouvido especiais (daqueles que colocam atrás da orelha) e um moletom cinza largo e meio gasto. 

Sentei-me em meu lugar e fui ignorado por ele. Podia ouvir alguns barulhos que saiam dos fios por onde escutava a música, mas não conseguia identificar qual era. 

Inclinei-me para o seu lado, roubando um de seus fones e colocando no meu ouvido. Tocava uma música do Legião Urbana chamada "Eu Sei". Sorri. Gostava daquela música. 

- Isso é meu – Rosnou. 

- Eu sei. 

- E não te emprestei. 

- Não pedi emprestado. 

- Folgado do caralho – Resmungou. 

- Vi que sentiu minha falta – Sorri e ele me olhou, pela primeira vez, em uma cara de escárnio. 

- Nem fodendo. 

Essa frase é tão comum vinda da boca dele que poderia ser transformada em um bordão. 

- Vamos dormir juntos de novo – Provoquei. 

Esquecia-me dos meus problemas ali. 

- Isso nunca aconteceu. 

- E aquela vez, sabe... – Fui interrompido por uma cotovelada nas costelas. 

Fiquei sem ar por um instante, mas logo sorri. Ele não tinha mudado nada. E, por algum motivo, me sentia aliviado. 

Devia mesmo ser masoquista. 

- Cala a boca. 

- Você está mais sociável ultimamente. 

- Te dou um soco se continuar. 

- Pode me dar um beijinho também – Não resistia. 

- Puto – Fez aquela cara de desgosto – Vou dormir. Encosta em mim e corto teu pau fora. 

- Quanta agressividade – Sorri mais uma vez. Cheguei perto dele e beijei-lhe a bochecha, recebendo em troca um olhar mortal. 

Era engraçado como tudo era mais leve na presença daquele ser tão bruto. 

- Morre – Encolheu-se no banco, colocando de volta os fones. 

Pegou um cobertor fino e preto da mochila para se cobrir e fechou os olhos.  

Era tudo muito confuso. Tudo nele me fazia sentir livre e era um sentimento que ainda não havia experimentado. Acho que justamente por isso odiava-o tanto. 

Assim que me acomodei na poltrona e minhas pálpebras fecharam, senti um peso no meu ombro. E lá estava ele, o mesmo idiota que tinha falado que não me queria por perto. 

Se era assim, porque tinha que se encostar em mim? 

Abri os olhos e olhei para a face serena já adormecida. Era muito mais encantador dormindo. Isso era fato. 

Senti quando o ônibus fez uma curva e o corpo do garoto acabou se acomodando no meu colo. E depois eu que era o culpado. Droga de Grey. 

Ainda por cima, só pra testar o meu limite, o desgraçado agarrou-se a mim em meio ao sono como se eu fosse seu bichinho de pelúcia. Porra, isso não era justo. 

Era tentação demais para um Logan só. 

Acabei dormindo com aquele cheiro que só ele tinha. Um cheiro que me despertava curiosidade. Como nesse mundo alguém pode ter cheiro de morangos e bebês? 

Não tinha sonhos já havia um tempo e até agradecia por isso. Estava cansado de acordar no meio da noite por causa de pesadelos horríveis. Era a pior parte. 

Acordei com um barulho irritante e, quando abri os olhos, percebi que era um sino usado pelo professor para acordar os alunos e chamar a atenção. O mesmo começou a explicar como funcionaria toda a estadia naquele lugar. 

Primeiro iríamos ao refeitório tomar café e o resto da tarde seria para ouvir as aulas explicadas pelos professores que estavam com a turma. De tarde, entraríamos na reserva e montaríamos as barracas antes do anoitecer. 

Assim que terminou de falar, saiu do ônibus e pediu que todos o acompanhassem. O pior foi quando pisei na cantina e Alice já tinha grudado no meu braço esquerdo. 

Tentei pensar em imagens fofinhas, cachorrinhos e gatinhos filhotes, pôneis, o caralho a quatro pra não perder a paciência com aquela mulher novamente. 

Sentei-me em uma mesa, acompanhado dela, e fiquei a viajar meus olhos pelo local. Pude ver quando meus amigos foram perturbar o russo, sentando-se na mesma mesa que ele. Foi inevitável um sorriso. 

- O que foi? Disse algo engraçado? – Disse Alice. Nem havia prestado atenção nela – Logan... 

- Esse sou eu. 

E continuou a fofocar no meu ouvido. Minha sorte era que conseguia ser disperso quando queria. 

Às 12:00 da tarde, todos os alunos reuniram-se para escutar as explicações e aplicações que os professor tinham preparado para aquele dia. Como era um assunto que eu gostava, consegui prestar atenção e apreciar a aula. 

Sempre gostei de lições expositivas. 

O empecilho era que a loira não desgrudava de mim, mas a minhas sorte era que não demorou muito para que nos reuníssemos em frente a reserva para o início do teste. 

- 'Tá cansado? – Perguntou ela. 

- Sim, estou. 

- Não quero que fique perto do viadinho. 

- Isso é impossível. 

- Dá seu jeito. 

Ignorei. Não valia a pena discutir com ela. Não estava afim de perder meu tempo.

O professor começou a chamar as duplas para irem entrando. Quando ouvi meu nome e o do russo, pude vê-lo adentrando o lugar sem ao menos me esperar. 

Maldito desgraçado! 

Essa ideia de ir pra floresta não era legal. De dia parecia uma conto de fadas e de noite era igual a um cenário demoníaco. Isso me dava calafrios e não era do tipo bom. 

Assim que estava com todas as minhas coisas entulhadas nas minhas costas e mãos, fui andando em direção ao local. Como estava quase anoitecendo, parecia mais o cenário preferido do capeta. 

Havia de árvores altas a gramíneas por todo lado. Era tão silencioso que podia claramente ouvir os mosquitos zumbindo no meu ouvido. Isso tudo me deixava apreensivo e não podia deixar de apertar a alça da mochila. 

Olhava fixamente para a frente e quase morri de susto quando senti uma mão no meu ombro. Achei que fosse desmaiar ali mesmo, mas apenas dei um pulinho assustado no mesmo lugar. 

Acabei armando uma pose de luta ridícula. Só então pude perceber que era o idiota, vulgo Grey. Relaxei os músculos e pude respirar mais normalmente, apesar do coração acelerado. 

- Puta que pariu! 

- Que foi? 'Tá com medinho? – Provocou. 

- Vai se foder – Resmunguei. 

- Onde vamos ficar? 

- Agora quer saber minha opinião. 

- Ahn? – Fez cara de confuso – Claro que não, só perguntei para depois ignorar – Revirou os olhos. 

- Que vontade de te arrebentar de porrada – Reclamei. 

- Estou bem aqui – Abriu os braços. 

Ignorei e comecei a andar novamente. Por uns cinco minutos ou mais, procurei o lugar ideal. Havia ali uma espécie de clareira e em alguns metros, depois de passar por plantas espinhosas e árvores de porte médio, havia um riacho que não parecia ser muito fundo. 

- Aqui está bom – Comentei. 

Nos próximos quarenta e poucos minutos, nos concentramos em arrumar nosso lugar para passar a noite. Enquanto Grey começava a montar a barraca, que, por acaso, só tínhamos trazido uma, eu comecei a fazer uma fogueira ali. 

O céu estava começando a ficar escuro e logo entraríamos noite adentro. Até a temperatura parecia ter caído alguns graus. 

Por um, infeliz ou feliz, descuido, olhei para o Ivanovich. Apenas me condenei por isso depois do ato. A cena que eu presenciava era um tanto excitante para alguém como eu, que estava na seca havia alguns dias. 

Como montava a barraca, havia abaixado o torso para prender algo. Algo esse que não prestei atenção porque meus olhos estavam colados em algo mais importante. 

Uma bundinha (linda) e redonda que havia ficado empinada por causa da posição. 

Isso era pedir demais para o meu auto controle. 

Meu apetite sexual retornava com força. 

Arfei com a cena um tanto deliciosa e logo me veio o pensamento de que Iris havia mesmo acertado quando disse que ele tinha uma bunda gostosa. E bota gostosa nisso. Meu Deus. Muitas mulheres não tinham o que ele tinha. 

Logan, Logan... Foco e... 

- Ai, porra! Caralho! – Gritei. 

Fiquei babando tanto na cena que acabei me distraindo e queimando minha mão no fogo recém acendido. 

- Aposto que fez merda – Havia finalizado a tarefa na barraca e vinha em minha direção. 

- Insensível – Fiz bico – Me queimei. 

- Bem feito – Deu de ombros. 

- Tem pomada aí, cara? 

- Tenho. 

- Dá uma moral aqui! 

Foi em direção a mochila e tirou o necessário de lá, logo voltando e sentando-se ao meu lado. Quase morri quando pegou minha mão e começou a tratar do machucado. 

Havia batido a cabeça em algum lugar? 

- Que surpresa, ehm? Quando disse aquelas 'parada lá no hospital, sobre tu cuidar de mim, não acreditava que isso iria acontecer – Sorria vitorioso. 

- Sorte tua que eu 'tava te devendo pelo dia no parque e tira esse sorriso do rosto. É nojento. 

- Ahn? Me devendo? 

- É. Pela ajuda, caralho – Apertou meu machucado de propósito e gemi de dor. 

- Não faz assim, lindinho. 

- Cala a porra da boca, sua bicha. 

Desatei a rir com aquela frase. Como assim ele, que era homossexual, vira e me chama de bicha? 

Recebi alguns olhares mortais e logo ele largou minha mão quando tinha acabado de fazer o trabalho ali. Estávamos sentados ao redor da pequena luz proveniente do fogo que queimava na fogueira. 

- Mas, então... Me conta o que foi aquilo do hospital e no parque. 

- Não é da sua conta. 

- Chato. 

- Intrometido. 

- Idiota. 

- Te odeio. 

- Não acredito nisso. 

- Vai se foder ­– Levantou-se e foi em direção da barraca – Você dorme aqui fora. 

- Eu que não vou ficar aqui fora nessa floresta sinistra. 

- Ah, vai sim. 

- Vou dormir contigo. 

- Não vai. Se quiser, vai procurar tua mulher e me deixa em paz. 

- Não quero – Na verdade, estava correndo disso. Não queria nem pensar nisso. 

Eu não ia dormir ali! Vai que o carinha do pânico está me esperando por aí? Nunca se sabe. 

- Então fica aí. 

Levantei-me e segui-o antes que entrasse. Agarrei no seu pulso e senti que seu corpo inteiro estremeceu. 

- Espe... AH! – Gritei e, mais uma vez naquele dia, dei um pulinho do lugar depois de me assustar com um barulho feito por uma coruja. 

Parece mais que aquele maldito animal está te convidando pra morte. 

O susto foi tão grande que acabei apertando mais o pulso do menino e pude sentir seu corpo ficar mais rígido por causa do contato da minha pele naquela área proibida por causa das cicatrizes. 

- Você 'tá com medo – Provocou com um sorriso de escárnio. 

- Não estou! 

- Então fica aí sozinho – Livrou-se do meu agarre no seu pulso. 

- Não – Respondi rápido demais. 

Ele me olhou por alguns segundos, balançou a cabeça negativamente, mas voltou a sentar-se ao redor do fogo, esfregando as mãos por causa do frio. 

- 'Tá com frio? – Sorri malicioso. 

- Não vem com esse sorriso pra cima de mim não, seu puto. 

- Hm, 'tô com fome – Desconversei. 

- Não tenho nada a ver com isso. 

Dei de ombros e alcancei minha mochila, tirando de lá dois bolinhos que havia levado. Estendi um para o russo. 

- Quer? 

- Não – Mas pegou a comida mesmo assim. 

- Porra, você é chato pra caralho – Suspirei. 

- Ouço isso com frequência. 

- Então porque não tenta ser mais amigável? – Deitei-me em cima da mochila e fiquei fitando-o com interesse. 

- Não preciso me adequar para que minha presença seja mais agradável para as outras pessoas, principalmente quando ninguém faz nada ao meu favor. Não faz sentido. 

- Você é bem pessimista – Pensei em voz alta entre uma mordida e outra no alimento. 

- Sou realista. Cada um tem somente o seu bem estar em vista. Só estou fazendo o mesmo. Não é como se pudéssemos confiar em alguém esses dias – Deu uma mordida no seu bolinho. 

- Não acha que poderia confiar em mim, por exemplo? 

- Você não é diferente. Nem eu, na verdade. É da natureza humana errar e acabar decepcionando os outros. É certeiro. 

- Eu já conheci alguém que pensava assim – Sorri amargamente – Mas ele conseguiu ser feliz e mudar por um tempo. 

- E o que aconteceu? 

- Não quero falar sobre isso – Olhei para o céu escuro que estava completamente estrelado, sem as luzes da cidade para ofuscar o brilho dos astros. 

Como eu sentia falta... 

- Aposto que não foi nada de bom – Concluiu – As pessoas são assim. Usam as outras, pisam nelas para se sentirem melhores. O que importa é o seu mundinho e o quão confortável e feliz é a pessoa que está dentro dele. O resto é o resto, contanto que não afete quem está lá dentro, as pessoas apenas fecham seus olhos e ignoram. 

Abaixei meu olhar e encontrei o russo brincando com um graveto no chão de terra. A luz da fogueira reluzia em si e ele parecia tão sincero que era assustador. 

- Mas também não é como se a vida fosse ruim. 

- E não é. Os humanos que estão ruins e apodrecendo por dentro. O pior é que estão levando todo o resto com eles – Falou em meio aos bocejos. 

Não estava tão tarde assim, mas o dia havia sido muito cansativo. 

- Vamos dormir – Propus. Não queria acabar dando razão a ele. 

Estávamos todos presos ao passado. 

Nós nos levantamos e adentramos a barraca, que era um pouco apertada para dois homens do nosso tamanho. Não que eu achasse isso um problema. 

- Só não encosta – Avisou, como sempre, enquanto tirava os tênis e deixava-os para fora. 

Fiz o mesmo e fechei o zíper, excluindo-nos do resto da floresta.

- Tudo bem, senhor sou-gostoso-mas-não-me-toque.

- Porque não vai fazer essa piadinhas em um circo? Palhaço – Disse. 

- Ah, mas meu palhaço interior pediu demissão.

Apenas fui ignorado. O menino remexeu o piercing na língua, balançou a cabeça em desaprovação e deitou-se ali, cobrindo-se com o cobertor que tinha trazido logo depois. 

Fiz o mesmo, já que estava frio ali. Podia ouvir os barulhos arrepiantes da floresta lá fora e ficava apreensivo. 

Desde quando florestas eram cenários de filme de terror? Ah, não, espera. Sempre! Não sei como aceitei fazer isso. 

Droga de vida. 

O silêncio reinava ali e, mesmo depois de alguns minutos, só continuava a me remexer no lugar, sem ao menos conseguir pegar no sono. 

A única luz vinha do fogo que continuava aceso lá fora. Havia esquecido de apagar. Fui tentar me levantar afim de ir fazer isso, mas acabei esbarrando no russo, que esfregou os olhos e me olhou mortalmente. 

Acho que acabei de acorda-lo do melhor sonho da sua vida. 

- Foi mal, cara – Tentei. 

- Foi mal o caralho, seu desgraçado – Rosnou. 

- Foi sem querer – Levantei as mãos em sinal de paz. 

- Não quero saber. 

- Deixa de ser fresco. 

Levei um soco no nariz sem aviso nenhum. Nem deu tempo de desviar ou de tentar bloquear o ataque. Senti a dor excruciante e um filete de sangue descendo do mesmo. 

Não ia aceitar isso! Fiquei o tempo inteiro me segurando, agora não acho justo. 

Retribui o soco no mesmo lugar. Senti seus olhos carregados de ódio dirigidos a mim. Levei um soco no estômago. Senti uma imensa vontade de vomitar. 

Acertei suas costelas com o cotovelo e vi que ele tossia pra tentar respirar. De alguma forma, senti que ele tinha acertado minhas partes baixas e gemi alto de dor. 

Consegui ir pra cima dele, imobilizando-o e colocando minhas mãos ao redor do seu pescoço. Antes que pudesse fazer qualquer movimento, percebi seus olhos em mim. 

Seu estado estava péssimo e seu rosto era fracamente iluminado. Descabelado, bochechas e nariz vermelhos, sangue escorrendo de um corte na boca. Podia sentir que eu me encontrava do mesmo jeito. 

Fiquei preso nos seus olhos coloridos. Seu rosto estava muito perto do meu e podia sentir seu corpo quente abaixo de mim. Era hipnotizante. 

Podia sentir sua respiração, quente e ofegante pelo esforço, batendo no meu rosto. Seu cheiro inconfundível estava impregnado no meu olfato. 

Por algum motivo, não quebrávamos o contato visual ou ao menos nos mexíamos. 

Meu olhar desceu para sua boca involuntariamente. Minha respiração estava entrecortada e meu nariz encostava fracamente no dele. Era uma posição bastante sugestiva. 

Sentia uma queimação por todo o corpo. O coração estava acelerado. Era assim com ele também? Só podia ser a abstinência pra sentir tanto por tão pouco. 

Subi umas das mãos que estavam em seu pescoço para alcançar e puxar seus fios que caíam na nuca branquinha. Seus olhos ficaram semicerrados quando levantou a cabeça um pouco por causa do movimento. 

Nesse momento, não ligava para mais nada. Nem pra porra de responsabilidade que eu tinha com meu filho que iria nascer. 

Era pura atração. No seu estado mais bruto. 

Acabei por encostar minha testa na dele. Fechei os olhos por um momento, apenas respirando o mesmo ar que o seu. Desci um pouco a cabeça e beijei seu queixo, sentindo seu corpo estremecer. 

Seu corpo esfregou-se ao meu quando se remexeu. Tudo poderia acontecer naquele momento. Era um jogo de sedução. Nenhum de nós queria perder, orgulhosos como só podíamos ser. 

De repente, senti nossos lábios unidos. Não sei dizer quem começou, quem cedeu, mas tenho quase certeza que desistimos juntos. Era tão macio. Úmidos. Quentes. Gostoso como nunca pensei que um beijo poderia ser. 

Ansiei por seu gosto. Ansiei por muito mais daquilo. 

Não conseguia pensar em mais nada a não ser aquele momento. 

Abrimos a boca no mesmo momento. Adentrei minha língua dentro daquela cavidade e busquei pela dele. O metal gelado do piercing batia de encontro com meu músculo quente. Mordi levemente seu lábio inferior. 

Podia jurar que ouvi um pequeno gemido sendo abafado pela minha boca. 

Fiquei ainda mais animado, puxando seus fios mais ainda. Senti que ele mordeu meu lábio também. Era uma delícia. 

Tomei a iniciativa de chupar sua língua. Era sensual e gostoso. 

Apesar de desajeitado, aquele maldito me beijava muito bem. Nunca havia apreciado beijos, era algo íntimo demais pra mim. Não sei como estava amando aquilo. 

Era tão maravilhosamente excitante. 

A língua dele mexia-se no ritmo da minha, procurando espaço e explorando a boca um do outro. Era afoito, desesperado. Não parecia que tínhamos tempo, mas tínhamos todo do mundo. 

Quando intensificamos mais ainda o contato, nos separamos por causa da falta de ar. A respiração era acelerada. Encarei seu rosto e percebi que seus olhos pareciam nublados. 

Os lábios inchados, molhados e vermelhos. Suas bochechas coradas. Era tudo uma tentação. 

No instante seguinte, senti uma ardência no meu rosto. Havia levado um tapa! Antes que pudesse levar a mão ao local dolorido para massagear, sua boca estava colada a minha novamente. 

Ele tinha gosto do bolinho de morango. 

Merda, tudo nele era algo novo demais pra mim. 

Senti seu volume no meio das pernas. O russo estava excitado. Percebi isso no exato momento que percebi que era o mesmo comigo. Acho que ele também havia notado. 

Isso foi como um choque de realidade. 

O que estávamos fazendo ali dentro? 

Antes era tudo provocação, mas isso não estava nos meus planos. Mesmo pensando em coisas maliciosas, nunca pensei que fosse sair dos meus pensamentos. 

Fui empurrado pro lado e nem protestei. O maldito apenas fechou os olhos e virou de costas pra mim, sem dizer nada. 

Encolhi-me no meu lado em posição fetal e voltei a me cobrir com o cobertor. Estava tão confuso e, mais ainda, excitado. Não sabia o que fazer. 

Não podia me aliviar ali e, com certeza, não pensando nele. 

Tentei pensar em tudo que havia de mais broxante nesse mundo. Doía e estava incomodando, mas teria que suportar. E ainda tinha o corpo dolorido pela briga. Estava cansado, não só fisicamente. 

Suspirei. 

Eu era mesmo um idiota.


Notas Finais


Desculpem se não estiver legal ou se eu decepcionar, não estava num momento muito bom, então pode não ter saído tão gostoso de ler como vocês têm esperado.
A música de hoje é "Another Love" by Tom Odell. O link é esse: https://www.youtube.com/watch?v=MwpMEbgC7DA
Muito obrigado e espero vê-los nos comentários.


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