História Obsessed - Party

Viro o meu corpo do lado oposto que eu estava, derrubando algo da cama.
Me levanto assustado, pelo barulho forte batendo no chão de madeira.

Eu tinha muitas perguntas sendo feitas na minha cabeça...
O motivo de estar tão fodido, com os cabelos bagunçados, com olheiras enormes, como de um panda.
O motivo de estar deitado por tanto tempo naquela cama.
E por fim, o motivo de estar com tanto medo do domingo acabar.

Era óbvio, Clifford era a resposta para tudo aquilo.

Sinto alguém bater na porta, tento colocar o objeto caído de baixo da cama.
Me levanto, tentando parecer uma pessoa totalmente lúcida, o que estava sendo difícil.

-Kamile me disse que não saiu desse quarto..- Minha mãe, tão linda com aqueles cabelos enroladinhos na ponta, me olhava nos olhos meio confusa.

-Eu só dei uma saída com Calum e meio que chegamos... tarde.- Suspirei, meio perdido nas próprias palavras.

-Calum..?- Minha mãe mantinha suas sobrancelhas franzidas, tentando entender algo que ela não se lembraria de qualquer maneira.

-Um amigo...- Tento forçar um sorriso, acariciando o rosto de minha mãe.
A mesma sorri, eu queria muito saber como ajudá-la, mas nada parecia ser o suficiente.

Era meio difícil acreditar que um dia ela iria esquecer meu nome por completo...

-Depois quero saber sobre esse amigo... Mas preciso ir fazer minha terapia.- Recebo um beijo na testa, vendo sua sombra deixar aquele quarto pequeno.

Ela não estava tão animada, a terapia não surgia mais os mesmos efeitos.

Me deito novamente, observando o teto sendo iluminado por uma pequena luz que entrava pela janela.
Sinto milhares de coisas borbulharem em minha mente, talvez a minha inspiração gritando por um papel e um lápis.

Tento correr até a minha mochila, pegando o primeiro lápis que encontro, rasgo a folha de um caderno, sentindo a inspiração fluir.

Me aproximo da cama, agachando na esperança de sentir o objeto de baixo da cama.
Suspiro ao conseguir puxá-lo para o meu lado.

Ligo o botão,  enquanto me arrumava para finalmente guspir aqueles pensamentos da minha cabeça.

" 4 DICAS PARA VER UMA ESTRELA CADENTE
Não perca sua chance de contemplar um meteoro cortando o céu..."

A caixinha de som ecoava pelo quarto, a voz de meu pai totalmente animada ao falar o que mais amava.

" 1. Marque na agenda as principais chuvas de meteoros do ano.
2. Fuja da cidade.
3. Baixe aplicativos para localizar constelações.
4. Tenha paciência
O céu tem um plano para você! "

Aperto o lápis contra a folha, escrevo tudo que era gritado pela minha mente.
Saia sem pontos e vírgulas, apenas era colocado na folha.
Aos poucos os pontos e vírgulas foram entrando na brincadeira.
Eu formulava cada espaço e cada parágrafo.

" Leia os versos,
  se perca na noite,
  me recite para as estrelas...
talvez o universo nos dê uma chance."

*LUKE! Sua baranga! Abre a porta!*- Escuto o grito e os murros que Calum dava na minha porta.

Ele me fez perder aquela inspiração que dançava na minha cabeça e gritava ao mesmo tempo.
Arrumo tudo, escondo a caixinha e a folha, estava demorando muito mas não me importava.

Abri a porta já escutando os berros de Calum logo cedo.
*-Como pode sair da festa sem me avisar?! Pensei que tinha sido estuprado e morto e enterrado e mortinho da Silva!*- Sua voz saia sem mesmo ter  um tempo para respirar, ouvia calado só o esperando acabar.

-Você estava com o Ashton... Eu não ficaria a noite inteira esperando ele te levar para cama, depois vocês se comerem, ficar com aquelas carícias e finalmente irem embora...- Senti que fui meio rude, mas de qualquer maneira era a verdade.

-Como assim... nos comermos?- Calum corou como um pimentão, era difícil o imaginar corando.

-Sim, olha eu posso ser lerdo, mas esse clima irritante que rola entre vocês não passa despercebido.- Me taquei na cama, olhando novamente o teto.

-Não! Meu senpai tem uma namoradinha...- O mesmo fala manhoso, deitando ao meu lado, de barriga para cima.

-Sen o que?- Viro o rosto até ele, com as sobrancelhas arqueadas.
O sinto rir como uma hiena.

- Senpai Luke! Como você é velho mesmo!- Bato em sua testa escutando um pequeno choro, se tornando uma risada novamente.

-Falando em se velho! Tenho outra festa para ir e adivinha...- Calum se levanta animado, batendo palmas e dando chiliques.

-O que é bicha louca?- Continuo deitado olhando para o teto, apenas esperando por sua resposta.

-Hoje é o aniversário de Anne!- O mesmo sobe em minha cama e pula como um desgovernado.

-Anne? Hãn? - Calum para imediatamente, se sentado novamente.

-Como é lerdo mesmo! Anne era a menina que estudava com a gente na sexta série, aquela que me ajudava com os boys..- O mesmo falava tudo sobre ela, na esperança que eu lembrasse.

É claro que eu me lembrei.
A menina que conversava sobre constelações comigo.

-Que nostalgia...- Murmurei entre os chiliques de Calum.

-Por isso mesmo que vai comigo...- Neguei, Neguei e Neguei.
Mas eu sabia que não tinha outro jeito, eu seria puxado para outra festa do mesmo jeito.

-Hemmings ninguém vai querer um velho como você! Levanta esse bunda gorda e branca, vamos!- Apenas ouvia Calum abrir o meu armário e tacar umas roupas na minha cara.- Se vista! Vamos!.- Resmunguei, me perguntando o motivo de uma festa ser tao cedo.

Vou até o banheiro, retirando tudo, tomando rapidamente um banho.
A água gelada me arrepiava, sentindo de algum modo, um peso das minhas costas acompanhar aquela coisa gelada até o ralo.

Me sentia renovado, talvez o banho não sirva apenas para se manter cheiroso.
Serve para tirar a sujeira da sua alma também.

×POV.Clifford×

Procurava na rádio alguma música boa, mas ultimamente a rádio não anda prestando.

Brincava com a poesia, eu e ela, a poesia me alimentava e eu a criava.

Mas andava difícil por existir uma criatura, mais conhecida como a minha prima, que fazia muito barulho no quarto ao lado.

-Bonequinha falsificada! Faz mais barulho porque ainda não tá bom!- dizia em um tom sarcástico, escutando passos pesados até a minha porta.
Ela realmente chutou a minha porta.

-Você está realmente incomodando a minha existência. - A sombra pequena, com seus cabelos pink, dizia entre caretas.

-Está na minha casa. Por que simplesmente não convida teu crush da sexta série para sair ao invés de fazer uma festa?- Resmunguei, finalmente tocando uma música naquela rádio.

-Pela mor de Deus! Sem sofrência! - A mesma logo mete o dedo e desliga a rádio.- Luke só foi uma quedinha, não estou fazendo uma festa para ele e eu, é para todos.- Suspirei ao ouvir o nome.

Hemmings não era o único com aquele nome Clifford!
Seu nome ecoava na minha cabeça e eu achava que ele deveria saber.
Ele deveria saber? Afinal, era só um arrependimento, não?

-Tanto faz...- Deixo minhas poesias no calor do caderno.
Fui obrigado à ficar na festa, como se meus tios achassem que eu seria uma babá.
Na primeira chance eu me trancaria novamente no quarto.

Engolia de uma vez a bebida, já notando pessoas entrando pela porta.
Eram muitas.

Logo mal cabia pessoas direito na casa, achei uma ótima chance de sair antes que minha prima me visse.
Social o cacete!
Foda-se as pessoas.

Subia rapidamente naquelas escadas até a campainha tocar e eu ser obrigado à abrir, porque a criatura estava ocupada.
Suspirei arrastando os pés até a porta, abri fazendo com que a porta batesse na parede.
Senti um choque elétrico percorrer todo o meu corpo.
Aquele era Luke?

Senti seu olhar no meu, suas bochechas avermelhadas e seus lábios rosados, carnudos.
Que diabos eu estava fazendo? Observando um rapaz como um escritor descrevendo o personagem.

Evitei que nossos olhares se cruzassem, eu queria manter a palavra daquele jeito.
Éramos estranhos.

Senti a sombra dele e seu amigo passando ao meu lado, sem notar meus olhos o observaram.

Seu perfume era o mesmo, não tinha como não lembrar da minha mãe perfumando a casa.

Suspirei, suando frio. Era como se o destino estivesse brincando, já estava perdendo a graça.

Já estava perdendo a graça vê-lo encher a cara e dançar como louco.
Da maneira que ele rebolava e colava em pessoas que provavelmente mal conhecia.

Já havia conseguido criar um adjetivo, ou dois sobre ele.
Ele era como um que precisava de cuidados e ao mesmo tempo alguém insano que precisava de cura.
Um anjo e um demônio, resumia aquele jovem.

Engoli outra bebida de uma vez, esperando que minha visão ficasse turva e eu não o visse mais.
Notei um jovem sussurrando algo em seu ouvido, aproximando cada vez mais o rosto, involuntariamente me levantei.

Por que tudo é involuntário?
Eu precisava de controle.

Quando notei já segurava seu pulso, naquela pele tão delicada.
Eu não era o único que precisava de controle, ele também precisava.

Seus olhos confusos, pareciam me olhar mas ao mesmo tempo pareciam estar em outro mundo.
Ele já estava bêbado,  muito rápido.

O tirei daquela bagunça, sua pele suava mais do que eu estava suando.
Ele não parecia estar desconfortável, talvez pelo fato de ter superado.

Sua mão largou da minha, no meio da escada.
Ficou um silêncio corroendo por toda a eternidade que eram apenas segundos para o relógio.

De repente Luke faz uma careta e sobe as escadas, correndo e tropeçando.
O acompanho, preocupado, meio perdido também.
Era tudo tão estranho, que já não sabia como lidar.

Me deparo com uma pequena pessoa vomitando na minha privada, suspiro ao ver sua pele pálida.

-Eu acho que preciso tomar...Um banho....- As coisas pioraram no momento em que o mesmo tirou sua camisa, mostrando seu abdômen.

Eu tinha mesmo que corar?
Sério?

Ainda tropeçava no vento enquanto tentava também tirar suas calças.
Evitei o olhar, já estava muito esquisito, eu não precisava olhar.

-Não está gelado né...?- Sua voz rouca murmurava, entrando no chuveiro.

Nego com a cabeça, querendo sair de lá. 
Não é como se ele fosse destruir meu banheiro.
Antes que eu pudesse virar a maçaneta, ouvi um choro.

Era horrível ouvir aquele choro novamente.
Merda de arrependimento que me matava.

-Merda... Luke por favor...- Largo a maçaneta indo até ele.
O mesmo ri tentando fingir que não estava chorando, mas seu rosto o entregava.

-Eu...Eu...E você... ficamos evitando e desviando um do outro... Sempre fico pensando... Se por acaso a gente se cruzasse...- Hemmings tentava dizer entre soluços.

Me desmontei.
Por Deus! Não me faça me apaixonar de novo!

-Eu sinto muito por aquilo.- Mantive os olhos nos seus, vi um sorriso em seu rosto.
Ele havia me perdoado?
Tão rápido?

-Sua partida foi o pior jogo que você poderia ter feito comigo- Sua voz sai como uma bronca, mas o vejo calmo.

Luke se vira e continua seu banho, sem se importar de estar no meu banheiro.
Eu costumo ser muito chato com coisas que eram minhas.

Meus olhos acompanham aquele corpo, aquela cintura que nunca havia visto em um homem.
Sua box toda molhada, expondo demais sua bunda.
Era muito errado estar o observando daquele jeito.

-Só termine isso logo...- Deixo finalmente o banheiro, dando um longo suspiro.
Caralho... Que dia mais fodido.

Me deito na minha cama, sentindo meu próprio cheiro, como eu amava estar no meu lugar...

Coloco o travesseiro na cabeça, amenizando o barulho em meus ouvidos, a música estava estridente de tão alta.

Ouço a porta abrir, penso que seja a minha prima.
Até me deparar novamente com um cheiro que eu conhecia, era o cheiro do meu shampoo.

-Só vim agradecer... E me desculpar por ter sido tão... Oferecido?- Luke tentava falar, provavelmente nem ele estava se entendendo.
Suspirei e sorri meio de lado.

-Se cuide.- O vi deixar o meu quarto.
Liguei a rádio, pensando naquele dia que mal havia terminado e já tinha acontecido tudo que eu não esperava.


Recebi uma vibração no meu celular, o desbloqueei, me surpreendi ao ver uma mensagem de um desconhecido.

"-O que faz numa festa se está triste?"

Dou uma risada entre ofegos, era meio que óbvio quem estava do outro lado da tela.
Seu nome estava marcado como:

Hemmings...