- Por que você fez isso? - Han-na gritava deveras inconformada.
- Conheço bem a teimosa esposa que tenho. - o Jeon rebateu com falso ar de desânimo.
- Pois me parece que conhece bem mal. Eu não vou à lugar nenhum fazer exame, pare com essa sandice de achar que... - abruptamente parou sua sentença, as sílabas entaladas na garganta.
- Achar que...? - tentou persuadir risonho. Achava graça na forma como a ruivinha franzia o nariz, como uma criança pirracenta.
- E-esquece isso. Eu vou para a empresa, saia da frente. - bradou firme enquanto era interceptada pelo esposo de braços abertos.
- Não, não vai. Tomei a liberdade de te dar folga. - Jung-kook não hesitou em dizer à garota, que arregalou os olhos pela audácia alheia.
- Você não é meu patrão. - a ira latente em seu tom a denunciava.
- Por que tanta relutância em ir ao médico? - questionou insistente ao som dos bufares irritadiços da jovem.
- Eu não tô grávida. - a empregada beta que se direcionava ao recinto, derrubou a bandeja estridente, assustando aos dois que se duelavam em olhares.
- P-perdão, tropecei na... - a mulher gaguejou nervosamente diante dos patrões e logo o moreno ruidou um riso nasal.
- Tropeçou na pestinha dorminhoca e peluda. Aish, bem que dizem que os animais se parecem com os donos. - alfinetou numa tentativa frustrada de pegar a coelho ligeira, que lhe olhava ameaçadora.
- Tire suas mãos da Yune. - ditou a herdeira resoluta.
- Não. - negou prontamente e exibiu seu sorriso mais largo ao segurar enfim a mascote, que pulava agitada no colo. - Só se for na consulta. A doutora Eun-jung é muito boa. - findou o lúpus.
- Boa? Sei bem que tipo de "bondade" você e seu amiguinho perverso Ji-min falam sobre, eu já os ouvi. - a ruiva deixou claro sua ironia ao dizer e o lupino obviamente acendeu-se, já que adorava esse tipo de reação.
- Oh, isso é... ciúmes? - quis provocar, mas uma mordida de Yune o atrapalhou no processo. - A-ai! - arfou abandonando o bichinho teimoso sobre o sofá.
- Bem feito. E eu vou à médica, satisfeito? - a ômega desconversou levemente afetada pelo perigo daquela prosa, visto que estavam marcados e qualquer sentimento era compartilhado, algo pouco proveitoso para ela.
- Ah, espera. - Jeon emendou afoito assim que a jovem se virou.
- Qual o problema? Você marca uma droga de compromisso sem minha autorização, insinua que tô grávida quando estou dizendo que não existe a possibilidade, não me deixa trabalhar e quer dar ordens também? Vai à merda, alfa, eu n... - o marido a corta furtivo.
- Sua mãe vai com você. - disse sem delongas.
Silêncio. Foi tudo o que se estendeu durante alguns segundos de encaradas entre o casal.
- Não me diga que você... encheu a cabeça da minha mãe com essa baboseira? - a Kim alterou-se de forma relevante.
- Eu não disse nada, até porque não entendo de coisas do universo feminino, apesar de meus instintos e faro serem muito astutos. - sorriu convencido e seguiu. - Só disse que estava um pouco abatida e pensei que não gostaria de ir sozinha, sei lá... vai que... - o moreno quase sentiu medo da lúpus naquele instante. A marca deixando ainda mais evidente que ele corria "riscos".
- Vai que o quê, Jung-kook? - berrou à plenos pulmões.
- Se joga na frente de um carro ou toma veneno. - as palavras se tornavam mais difíceis conforme o diálogo se desenrolava.
- Haha. Se fosse pra fazer isso, já teria feito quando me obrigaram à casar com você. - discutiu a moça sem rodeios.
- Porque quando tento ser legal você me despreza? - o alfa sibilou sério. Sério até demais, na opinião da esposa.
- Tá falando do que? - com semblante confuso, uma troca de olhares se deu. Jung-kook, que estava de pé, sentou ao lado da herdeira desconfiada e era como na primeira vez que o fizeram, estavam conectados de alguma forma inexplicável.
Bastaram alguns segundos de calmaria até estarem próximos o suficiente, ouvindo os batimentos e a respiração de cada um. Havia um laço muito forte que os remetia à concretizarem aquele momento num beijo, mas...
- Han-na, meu beb... opa! - Seo-rin, que veio exultante pela porta de entrada, não esperava encontrar uma cena tão íntima de seu genro e filha.
- E-eomma. - a ruiva tratou de se afastar ressabiada. Em seu peito, uma carência estranha e especial ainda em processo.
- E-eu... vou pra Big Hit. Tchau senhora Kim e... amorzinho. - apelidou num beijo singelo no rosto corado de Han-na, contudo... de imediato levou um tapa estalado em seu peitoral. - Aigoo, eu sou um lúpus, mas sinto dor, sabia? - reclamou num adorável bico que a parceira decidiu ignorar, o vendo partir.
- Não sabia que estavam tão... introsados assim. - a matriarca observou discreta.
- Não estamos. Ele continua sendo um pesadelo. - rebateu a filha empinando a fronte.
- E você continua sendo minha garotinha orgulhosa. - a ômega riu abraçando a mais nova brevemente. - Já tomou café? Está marcado pra onze horas. - apressou-se em lembrar, erguendo o corpo do assento.
- Estava indo. - a garota redarguiu acompanhando o gesto.
- Ótimo. - ambas seguiram até a cozinha onde as serviçais se empenhavam em trabalhar corretamente e trazer aquele cheiro divino de comida ao cômodo. No entanto... - Han-na? O que foi? - não houve tempo para que a lupina respondesse, apenas cruzou a porta do banheiro com pressa.
Enjôo não era usual em sua rotina. Ainda mais por conta de odores. E temerosamente, Han-na cogitou pensar na ideia descabida do Jeon. Será que...?
- Filha. Meu Deus! Se sente mal? Quando seu marido disse que estava doente, não pensei que fosse tanto. - o timbre de preocupação foi dito à jovem que naquela manhã, não conseguiu mais comer, mesmo perante os protestos da Kim mais velha.
- O suco é suficiente, eomma. - retificou a herdeira após ser chamada a atenção em meio aos devaneios, em que cismava desde o episódio anterior. Tudo lhe vinha em mente, mas somente uma opção era péssima e... plausível.
- Han-na, precisa se alimentar. - arriscou uma última vez sob o menear de cabeça da garota amuada em seu canto. - Há quanto tempo está assim? Dado as circunstâncias que vi hoje, existe a hipótese de estar gr... - a mera suposição soou assustadora aos ouvidos da Jeon que não permitiu a continuação daquilo.
- Não importa, eomma. Vamos nos atrasar. - desvencilhou-se outra vez naquele conturbado dia. Agora mais do que nunca queria ir até Lee.
[...]
No consultório, Eun-jung ostentava enorme alegria em ver Han-na investigando o motivo de sua suposta "doença". E eis que no meio do entusiasmo da outra, começou a tensão para a Kim.
- Avaliando esses sintomas, tenho que perguntar. Você e o Jeon transaram quando? - indagou ajeitando as lentes dos óculos sobre a face bonita.
- N-na viagem. - balbuciou a ômega se negando à acreditar que realmente estivesse sendo bombardeada com coisas tão polêmicas para si. Sorte que a senhora Seo-rin havia ficado do lado de fora, à pedido da profissional.
- Hum... isso é bem interessante. Comeu algo estranho lá? - interrogou de forma mansa, quase traiçoeira.
- Não, quem quase morreu foi meu honorável marido e suas manias de comer e beber tudo que vê. - soltou entediada.
- Certo. Fez teste de gravidez? - tornou a terapeuta e dessa vez a ruiva se viu em maus lençóis. Não só pelo teor da interrogativa, mas pela insinuação por trás.
- O que? Não. - relinchou numa careta. - Olha, só me peça algum exame de sangue, provavelmente isso é uma simples anemia, estresse ou coisa do lobo. - a herdeira se alvoroçou em gesticular perante a figura intacta de Lee.
- Han-na, eu tenho que descartar possibilidades aqui para direcionar o melhor tratamento. Você é ômega lúpus, ficou com um alfa lúpus no heat. Tem muita chance. - a beta suspirou tomando a palma fria da paciente. - Por favor, eu quero te ajudar. Acredite. - completou.
Não havia escapatória, precisava tirar à limpo a suspeita que tanto lhe atordoava. E com esse intuito, Han-na assentiu por fim ao teste.
[...]
- A Han-na tá no médico e meu irmão rindo feito um bobo, o que tá rolando afinal? - So-min conspirava cheia de incerteza.
- Sem ofensa, mas seu irmão é um imbecil o tempo inteiro. - zombou Seok-jin dando de ombros à carranca da loira.
- Sim, o mesmo imbecil que paga suas refeições, Kim. - devolveu apertando as orbes com astúcia.
- Nada mais justo. Eu criei esse menino desde quando vinham pra cá com Jung-woo. Um garoto bem mal-educado, por sinal. - o moreno revirou os olhos com desgosto.
- Bons tempos. - relembrou a ômega numa risada baixa.
- Interrompendo essa melação... o que deu naquela esquisita ali? Todo mundo resolveu ficar mostrando os dentes hoje? - Yoon-gi apontou para Hye-sun, que de fato estava como mencionado.
- Ah, essa vive se jogando no Kookie. E o idiota nem se dá conta ou finge que não. - a fraterna cochichou cética.
- No idiota, vou concordar. - o Kim logo se intrometeu.
- Aigoo. - chateou-se a vice-presidente incomodada.
- Esculhambação gratuita. - Min debocha recebendo uma encarada de aviso da mais nova. - Eita, vou me mandar pro "cativeiro". - ergueu os braços se referindo ao próprio escritório, entretanto...
- Jung-kook, Jung-kook! Cadê? Eu vou entrar agora. - sob altos xingamentos tempestuosos, certa ruiva surge diante dos funcionários.
- Han-na? Anjo, você não devia estar aqui. - o alfa Kim foi o primeiro a acalentar o clima de agressividade da garota, esta que recuou.
- Dane-se. Onde eu encontro o maldito Jeon? Falem! - retumbou impaciente.
- Se acalme Han-na, está à beira de um colapso. - agora era a cunhada quem tentava tranquilizar.
- Amor? R-ruivinha. - corrigiu envergonhado e não teve sequer tempo de raciocinar quando a parceira veio até ele à passos rápidos.
- Eu vou dizer onde você enfia esse "ruivinha", seu animal. - esbravejou uma implicante lúpus.
- Segura ela, chefe. - o diretor quis agitar, sob um silvo do diretor Kim em seu sussurrado "para".
- Parece que você recebeu uma notícia péssima. - Jeon atiçou com pleno divertimento ao pegá-la no colo. Sua intuição dizia que o destino revelaria surpresas. - Voltem às suas obrigações. - ordenou sem cerimônia.
- Deseja alguma coisa, senhor? - Hye-sun se insinuou com falsa nobreza e resquícios de contentamento, perante a briga do casal que desejava destruir.
- Privacidade e um chá para minha ômega. - respondeu sucinto e a morena marchou contrariada, de volta à sua função com duas novas tarefas para desmanchar sua felicidade tão prematura.
- O que está havendo? - Seok-jin coçou o queixo ao indagar.
- Confusão das grandes. - sibilou So-min torcendo os lábios.
- Será que foi chifre? - um certo diretor Min cochichou sendo ouvido pela superior, que o encarou firme.
- Será que você quer levar dois tapas na sua cara? - arqueou as sobrancelhas ferrenha.
[...]
- Me solta, me solta! - esperneou a Kim ao chegarem no escritório privado.
- Calma, ômega. Quebrou outra unha? - Jung-kook não temeu em instigar frente à lupina, que lhe rosnou em resposta.
- Quem dera. - choramingou e o marido viu que era algo grave, pois chorar não era do feitio da ruivinha. - Você é o culpado de todas as infelicidades da minha vida! - vociferou aos prantos.
- Eu? Culpado? Mas eu não te fiz nada, tô até te tratando bem. - se defendeu o alfa.
- Você não usou o inferno da camisinha! - chiou com desgosto.
- P-pera, hein? Como você sabe? Estava no cio e não leva à mal, mas só pensava em sexo. - o lúpus expressou em riso torto.
- Exatamente. Eu estava fora de mim e você tendo controle da situação, não se preveniu e agora eu tô pagando pela negligência, grávida. - a voz falhou e o moreno arregalou grandemente as íris escuras.
- G-grávida? - após um período de emudecimento e reflexão, o rapaz disparou.
- Ah! - a ruiva chorou alto e nessa execução tropeçou, sendo amparada por um Jeon deveras atormentado.
- Machucou? - Han-na não deu nenhuma resposta à ele e simplesmente iniciou uma "guerra", lhe tacando todos os objetos de decoração e trabalho da mesa dele para o alto. - Ai, ai, ai. - o alfa se encolheu sob o "furacão" que se tornara sua esposa lastimosa e briguenta ao mesmo tempo. Se antes ela já estava louca o odiando, imagine agora... mas ainda sim, ele estava eufórico.
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