História Oceans - One Hot Minute parte 1

Virava de um lado para o outro na cama, totalmente submergido em devaneios, procurando acordar o quanto antes. Finalmente abrira os olhos, as orbes verde azuladas passeavam por cada canto daquele quarto, mentalmente implorava aos deuses que tudo aquilo fosse um sonho. Suspirou e afastou o cobertor de si, olhou para o lado e avistou um Christopher sonolento. Havia acabado de acordar. Esperava receber um sorriso ou ao menos um preguiçoso "bom dia", mas Chris apenas virou para o outro lado e fechou os olhos novamente.

Eddie até o deixaria dormir mas não pretendia enfrentar Andrew sozinho, por isso armou-se de um travesseiro e golpeou o moreno, sem piedade do sono alheio.

— Chris, acorda. - acertou-lhe mais algumas vezes, recebendo como resposta apenas gemidos e grunhidos ininteligíveis. Abandonou o travesseiro e resolveu apelar para  a luz do sol. Afastou as cortinas e abriu a janela, enfim obtendo algum progresso.

Chris sentou-se na cama e passou alguns minutos olhando para as próprias pernas, perguntando-se o porquê de ter acordado naquele horário. Suspirou e enfim tomou coragem para propriamente levantar. 

— O que quer? - indagou e prendeu os cabelos com um elástico qualquer que encontrara na penteadeira. 

— Bom dia pra você também. - suspirou e aproximou-se, subiu em cima da cama para igualar a altura e soltou-lhe os fios, arrumando-os apropriadamente. — Vai lavar esse rosto, você tá parecendo um zumbi. - suspirou, e colocou uma mecha que acabara de lhe cair sobre a face atrás de sua orelha. 

Christopher até o elogiaria se não estivesse tão sonolento a ponto de estar impossibilitado de raciocinar. Gostava de chamar isso de bloqueio matinal.

Seguiu até o banheiro, evitando encarar o próprio reflexo no espelho, afinal detestava se decepcionar com coisas as quais poderia evitar. Escovara os dentes e quando voltou ao quarto, deu instruções a Eddie de como encontrar as coisas no banheiro, por exemplo escova de dentes, toalhas, sabonetes, etc. 

Vira o rapaz adentrar o banheiro e aproveitou a deixa alheia para trocar de roupas, também deixando sob a cama algumas peças que talvez servissem em Eddie. 

Sentou-se do outro lado da cama e ficou encarando a si mesmo no espelho. Sua mente permanecia nublada, parecia querer manter distância de qualquer tipo de meditação complexa demais. Saíra de tal transe quando Eddie finalmente voltara. Este se vestiu e ajeitou os cabelos em um rabo de cavalo. 

Ambos andavam pelo corredor lado a lado, sem trocar uma palavra sequer, Chris agia totalmente no automático e Eddie era do tipo enérgico em qualquer horário do dia. 

Adentraram a cozinha e ali depararam-se com outras pessoas além de Andrew - este que cozinhava algo desconhecido no fogão - que não pertenciam àquele cenário. 

Chris sentou-se em uma cadeira vaga e agarrou uma maçã da fruteira, logo arrancando-lhe a primeira mordida. 

— Bom dia. Jeff, Stone, esse é o Eddie. - apontou.

— Caralho, quantos metros você tem? - indagou Jeff. Trocou olhares com Stone como se ambos compartilhassem do mesmo pensamento e os dois passaram de sérios - com aparência de segurança de shopping - para dois retardados rindo de algo aleatório.

— Não liga pra ele não. É um prazer conhecê-lo Eddie. - Stone cortou a vibe do amigo, porém, segurando o próprio riso. Estendeu-lhe a mão e mandou todo o auto controle pro inferno quando ao invés de um aperto de mão, recebera um toque. Riu tão alto que Andrew até parou seus afazeres para entender o que estava acontecendo.

O loiro revirou os olhos e jogou um ovo frito no prato alheio. 

— Além de roubar meu namorado, vai roubar meus amigos também? - resmungou enquanto ligava a torneira sob a frigideira quente, produzindo vapor.

Ao ouvir a palavra "namorado", Chris automaticamente engasgou com um pedaço da maçã, tossindo incessantemente com as mãos no pescoço, tentando desentalar. 

Se Stone algum dia tivera controle, o perdera ali e de vez, voltou a rir, precisando de alguns goles de água para conter-se novamente.

— A culpa não é minha se você é chato e seus amigos preferem a minha companhia. - comentou, ajudando Chris, que parecia estar à beira da morte. 

— Pra quem não pegava ninguém, você tá bem disputado, viu Chris? - comentou Stone, recebendo olhares de ódio advindos de Andrew. 

— Se as coisas continuarem assim eu não sei do que vou precisar primeiro; um psiquiatra ou um seguro de vida. - respirou fundo, enfim retomando as correntes de ar vitais.

— Eu preciso é de um emprego. - comentou Eddie. Serviu uma xícara de café e fungou várias vezes próximo ao líquido, tentando detectar vestígios de veneno ou algo do tipo.

— Pode trabalhar pra mim cuidando do meu cachorro. - comentou Jeff, comendo a especialidade de Andrew, - segundo ele próprio - panquecas.

— Você nem tem um cachorro. - resmungou Stone, que sorriu sem mostrar os dentes, evitando uma crise.

— Cala a boca. - jogou um pedaço de panqueca no cabelo alheio, recebendo uns tapas como resposta.

— Enfim. - respirou fundo, retomando o fôlego. — Hoje vai ter uma festa na casa do Anthony. - deu uma pausa para beber um gole da água e prosseguiu: — Seria legal se você fosse Eddie, só não confia muito nas pessoas de lá. Principalmente se eles te oferecerem umas paradas diferenciadas. Caso aconteça, você sai correndo. - riu discretamente.

— O Eddie não vai. - Chris respondeu antes que o rapaz se pronunciasse. 

— E por que não? - indagou, injustiçado, sentindo-se como se ainda morasse com os pais.

— Essa galera do Red Hot é uma péssima influência pra você. 

— Você também é. - fez um biquinho revirou os olhos e cruzou os braços.

— Bem, a gente já vai. Mas caso queira ir, Eddie, o endereço é esse aqui. - Jeff entregou-lhe um pequeno pedaço de papel levemente amassado, ali haviam letras caprichosamente escritas indicando a rua e o número da casa. 

Olhou para o conteúdo no bilhete e o memorizou antes que Chris o pegasse por conta própria e desse um fim nele.

Os dois rapazes despediram-se de Andrew e se foram. Eddie sentia-se irritado e nem fazia questão de esconder. Abandonou o café na mesa e levantou-se, indo em direção ao quarto. Voltara minutos depois com suas roupas casuais.

Chris não pôde deixar de notar a breve saída do rapaz. Pigarreou e enfim pronunciou-se.

— Onde vai? - deu um gole no chá, apreciando o sabor suave do pêssego em perfeita harmonia com o doce do açúcar.

— Arrumar um emprego. - resmungou enquanto amarrava os cadarços do coturno.

♬♪♫

Eddie voltava para casa após uma frustrada tentativa de encontrar um trabalho, não pretendia depender de Christopher para sempre e ainda tinha o conserto de um carro pra pagar.

Acabou encontrando um dos garotos que vira pela manhã na casa do Chris, enquanto passava na frente de um posto de gasolina. 

Era Jeff, o cumprimentou, evitando falar que estava em busca de um emprego. Afinal, seria uma vergonha se alguém descobrisse que passara um dia inteiro procurando uma vaga pra trabalhar e não conseguira nenhuma.

— Então, decidiu se vai na festa? Se quiser, tem espaço no carro. - comentou Jeff que aguardava Stone e Andrew, ambos pareciam estar comprando algo na conveniência.

Suspirou e por um momento, tudo o que vivera ao lado do Chris - que não fora liquidado pelo apagão alcoólico - passou-se como um filme em sua cabeça. Meneou a cabeça afastando tais pensamentos, e sorriu. Aquela era sua chance de enfim adentrar o mundo da música, e a melhor forma de fazê-lo era enturmando-se com as pessoas de tal âmbito. 

— Eu vou. - finalmente respondeu.

Andrew finalmente voltara e quase teve um surto ao avistar Eddie ali.

— O que você quer aqui?