— Meu Deus! — Exclamou Hércules, ao ver a minha situação. — Me desculpe por ter feito isso! Sou um imbecil mesmo!
Ele sentou-se do meu lado, com os olhos apavorados. — Não queria ter te machucado! Por que não me avisou que estava doendo?!
Sorri. Eu gosto de dor, pensei em responder. Mas não acho que ele entenderia.
— Estava gostando tanto de jogar com você, não queria ser chata... — Respondi.
— E eu não queria você neste estado! — Ele enterrou o rosto nas mãos, sentindo-se muito culpado. — O que posso fazer para que me perdoe?
Segurei a risada maliciosa, e tentei conter meus pensamentos também.
Quando abri a boca para responder, lady Tremaine apareceu na porta de meu quarto. O barulho das vozes de suas filhas a seguiam pelo corredor.
— Hércules! — Exclamou ela, com os olhos arregalados. — Sabe o quão inapropriado é aparecer no quarto de uma dama desta forma!
Ele se levantou, envergonhado. — Desculpe. Só queria ver se Odile estava bem.
Estava melhor agora, pensei em opinar.
Não demorou muito para que Hércules de despedisse e lady Tremaine entrasse em meu quarto, fechando a porta atrás de si.
— Espero que tenha acordado melhor, meu bem. — Ela disse, com a voz aveludada. Eu havia dormido não apenas a tarde inteira após o ocorrido, como também a noite e na manhã do dia seguinte. Acordara apenas na hora do almoço. — Eu e as meninas fomos para a cidade enquanto descansava. Fizemos algumas compras, encontramos espartilhos adoráveis.
Assenti, enquanto ela pegava uma de suas sacolas. — Me dei a liberdade de comprar um para você também, se não se importa.
Dei um grande sorriso. Também nunca havia ganhado presentes.
— Está sendo boa demais para mim, lady Tremaine.
— Ora, pare com isso. — Ela acenou, tirando o espartilho da embalagem. — Já é parte da família.
Fiz esforço para me levantar e admirar a peça. Era branco e de renda.
— É lindo. — Sorri, sentindo a delicadeza do tecido com os dedos. — Posso experimentar?
— Mas é claro, ele é seu. — Ela sorriu. — Venha, eu te ajudo.
Retirei o roupão.
— Bom que aproveitamos para trocar as ataduras. — Comentou lady Tremaine.
Ela me ajudou a colocar o espartilho. Enquanto ela amarrava a peça em minhas costas, aproveitei para me admirar no espelho.
Eu estava radiante.
— Você tem bons seios. E boa cintura. — Disse a condessa. — Será uma boa mãe.
Meus olhos vagaram. Preferi não responder.
— Fiz uma boa escolha. — Ela concluiu. — Coube perfeitamente.
Eu sorri.
-
Para a minha alegria, Hércules continuava dando um jeito de visitar meu quarto para ver como eu estava.
Escondido, obviamente. O que só era possível à noite.
Em uma destas noites — fatídica noite — ele me confessou o seguinte:
— As filhas de lady Tremaine... Me adoram. — Ele riu. Sussurrou: — Não conte para ninguém, mas... As duas já... Bem...
Eu ri, abismada. — Você ficou com as duas?
Suas bochechas coraram. — Em momentos diferentes. Sim.
— E elas sabem? — Meus olhos brilharam de curiosidade.
— Com certeza devem saber. — Supôs. — As duas falam bastante.
— E ficam disputando a sua atenção? — Ergui minha sobrancelha. — Que fofo.
Hércules coçou sua nuca. — É... Um pouco esquisito, na verdade. — Ele riu.
— Me avise quando abrirem mais vagas. — Insinuei, com nenhum pudor.
Seus olhos se viraram para mim com grande surpresa, um tanto acanhados.
Honestamente, o que esperava de mim, me visitando em meu quarto todas as noites?
Se era um empurrãozinho que ele precisava, ali estava.
— Você está interessada? — A mão de Hércules tocou a minha. Retribuí seu olhar.
Como se aquilo fosse segredo para alguém.
Inclinei-me para mais perto, beijando-o.
Seu beijo era doce, tranquilo e suave.
Mas não demorei muito para levar a minha mão o meio de suas pernas, em uma oferta sugestiva.
Ele pareceu gostar. Continuei apalpando-o.
Querendo impressioná-lo, me ajoelhei no chão à sua frente, desabotoando sua calça. Acariciei seu membro, agora já para fora.
— Depois me conte quem você prefere. — Sussurrei.
Introduzi seu membro em minha boca lentamente. O ouvi suspirando, ao engoli-lo por inteiro.
Aumentei o ritmo e a profundidade gradualmente, enquanto massageava seu escroto. O fiz olhando-o diretamente nos olhos. Sua expressão de ingenuidade e prazer me faziam querer mais e mais, sem parar.
Observando a forma como ele tremia e mordia os lábios, percebi que não conseguiria manter por muito tempo. Fui ainda mais fundo, sentindo seu membro tocar minha garganta.
Senti seu líquido preencher a minha boca. Eu o engoli.
Um pouco sem jeito, ele se levantou, se vestiu e buscou sair do quarto com discrição.
Não disse nada. Nem mesmo um “obrigado”.
Acho que, ingenuamente, eu esperava que ele ficasse.
Fiquei um pouco insegura e confusa. Será que ele não gostou? Suspirei. Ou será que ele só não se importa?
Subitamente, me senti a pessoa mais estúpida do mundo.
Contrariada e frustrada, dormi.
-
Em algum ponto da noite, eu acordei com muita fome. Desci para ver se não conseguia alguma coisa para comer.
Percorri as penumbras do corredor até alcançar a cozinha. Para a minha surpresa, a lareira ainda não se encontrava apagada — e um delicioso cheiro de caldo de abóbora inundou meus sentidos.
Cinderela pulou de susto ao perceber minha presença.
— Desculpe, desculpe. — Sussurrei. — Será que teria um pouco para mim? — Perguntei, apontando para o caldeirão.
Ela assentiu, apressando-se para servir uma tigela para mim. Sentei-me em um banco do seu lado, aproveitando-me do calor do fogo.
— Não quer que eu apronte a mesa, milady? — Me perguntou Cinderela.
— Prefiro que não percebam que estou aqui. — Sussurrei. — Vou apenas terminar de comer e logo subirei.
Ela assentiu, voltando-se ao seu prato.
A proximidade com a fogueira revelou-me uma face de Cinderela. — O que é isto em seu rosto? — Perguntei-lhe. Ela se encolheu. — Se machucou?
— S-sim, milady. — Ela mostrou uma marca arroxeada ao redor de seu olho direito. — Esbarrei-me no parapeito, desastrada que sou.
O parapeito foi bastante específico. Pensei comigo mesma.
— Como veio parar aqui? — Me vi perguntando. — Trabalhar nesta casa.
Ela se abraçou, forçando um sorriso. — Sempre morei aqui. — Ela explicou. — Era a casa do meu pai.
Franzi o cenho. — Seu pai... Era o antigo proprietário?
— O conde. — Ela pontuou.
Franzi o cenho, apontando para o andar de cima. — Está querendo me dizer que a Lady Tremaine é a sua...?
— Madrasta. — Ela assentiu.
Minha cabeça dava voltas. Nada daquilo fazia sentido.
— E você está vivendo como mendiga em sua própria casa porquê...?
— Porque ela me odeia. — Concluiu por fim. Seus olhos azuis úmidos se encontraram com os meus.
Engoli à seco. Não. Não podia ser.
E mesmo que fosse, aquilo não era problema meu. Eu não deveria me importar. Era só mais uma história triste em um oceano de misérias. O que eu tinha com aquilo?
Talvez aquilo me incomodasse por eu ter tentado projetar em lady Tremaine uma figura materna que nunca tive. E talvez por internamente querer sua aprovação para facilitar minha proximidade de Hércules...
Suspirei, com os ombros murchos.
— Mas... Tenho certeza que ela não é de todo má. — Cinderela me garantiu, pondo sua mão em meu ombro quase como se me consolasse. — Ela é maravilhosa com você e com Hércules, não é?
Alguma coisa naquela sentença não necessariamente me confortava.
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