História Of Hatred to Love - Ainda não acabou

                - Eu não disse porque você se recusaria a fazer.

                - O que eu recusaria fazer?

                Passaram-se alguns segundos e nada da resposta da raposa branca de olhos escarlates. Abri a boca para falar algo, mas ela me interrompeu antes que você pudesse dizer “faca”.

                - Pular desse penhasco para o abismo abaixo.

x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x

                Arregalei os olhos e franzi as sobrancelhas, dando um pequeno sorriso cético.

                - Pra parar o tempo... Eu preciso fazer isso? – Minha voz estava trêmula. Fuyuki me fitava com uma pequena pontada de tristeza. – Você está brincando... não é, Fuyuki?

                - Levy, sei que é difícil, mas...

                - NÃO!!! – Gritei, interrompendo ela, que ficou levemente surpresa. – Fuyuki, não farei isso... Eu não posso fazer isso! – Sentia algo molhado, suave e quente escorrendo da minha face, deixando um rastro úmido que gelava meu rosto com o vento frio das montanhas.

                - Oh, pelo amor de Jashin. – Fuyuki se levantou e foi até atrás de mim, me empurrando para o penhasco.

                - Não! Não!! NÃO!!! – Gritei desesperada, tentando recuar. Porém, algo inacreditável aconteceu...

                Fuyuki ganhou forma humana e me segurou, não deixando que eu escapasse. Aquela forma... Era um pouco nostálgica, e senti uma leve tristeza ao tentar lembrar de algo. Eu simplesmente não... Conseguia.

                Fuyuki era igual a mim, mas a cor de seus olhos era vermelha, e suas madeixas suaves eram tão brancas quanto o céu pálido de inverno, com breves mechas azuis. Sua pele parecia ser macia graças à cor pálida e suave que tinha. Fuyuki era... Realmente linda.

                Parei de resistir, fazendo com que Fuyuki também parasse de forçar-me a pular.

                - Fuyuki... Você é... você é... – Ela tombou a cabeça levemente pro lado, tentando entender algo. – Linda... – E antes que você possa dizer “faca”, ela começou a gargalhar.

                - Mas eu sou você, Levy! – Ela tentava dizer entre uma gargalhada ou outra. Corei de vergonha.

                - Não, Fuyuki! Ah... Pare de rir! É vergonhoso demais!!! – Gritei constrangida, com minhas maçãs do rosto pintadas de um escarlate intenso. Com isso, Fuyuki acabou rindo ainda mais. – S-Sem falar que eu não sou você! Não sou... t-tão bonita assim... – Revertendo as histéricas gargalhadas para um riso interno e fofo, ela sorriu, me fitando.

                - Você não entendeu, Levy. Eu sou você. – Ela disse dando ênfase no “sou”. – E se entendeu, pula essa merda de penhasco logo!

                Eu tinha esquecido totalmente desse assunto! E antes mesmo que eu pudesse resistir ou fugir, ela me deu um forte empurrão, fazendo com que eu caísse abismo abaixo.

                Um frio na barriga me invadiu com um medo extremo me consumindo. Quanto mais eu caía, mais sentia uma pressão incontrolável no meu peito. Eu não conseguia respirar. Eu desejava profundamente estar sonhando agora, e acordar do nada, respirando rápido.

                Olhava indignada para Fuyuki no alto do penhasco, que se distanciava aos poucos. Fechei os olhos forçadamente, esperando o impacto que logo tiraria minha vida.

                Algo tocou meus ombros e minhas pernas, pegando-me no colo em estilo noiva. Quase morri do susto. Achei que pudesse ser a Fuyuki, mas quando abri os olhos, não acreditei de primeira no que vi, e achei que pudesse ser apenas um sonho. Mas não era.

                - O que você está fazendo, idiota?! Quer morrer?! E sua luta?! – Certo loiro de olhos azul cobalto e com uma cicatriz sexy na sobrancelha estava me repreendendo. Eu estava sonhando, não é? Aquele não era o Sting, né?

                Lutei contra a vontade de ficar de olhos fechados e abri-os lentamente, observando meu salvador. Ele possuía asas negras cravadas cruelmente em suas costas, como se alguém tivesse as arrancado e depois colocado-as novamente. Seu peitoral nu estava à mostra, revelando diversas cicatrizes que eu nunca tivera visto antes. Seus olhos azuis não estavam ali. Quero dizer, até estavam, mas o azul não. A bela cor suave tivera sido substituída por um vermelho escuro, mas intenso.

                Ao perceber que eu o observava sem dizer nada, corou levemente. Achei aquele um ato muito fofo: Seu rosto alvo tivera sido levemente pintado de um vermelho delicado, como em uma pintura.

                - O... O que foi? – Ele gaguejou tímido.

                Estávamos sobrevoando o abismo. Eu tivera caído de uma altura considerável. O topo mais parecia uma fina linha branca acima de nós, enquanto o chão continuava invisível.

                - Sting, por que você está aqui? – Indaguei inocente, arqueando as sobrancelhas. Observei-o por alguns segundos, percebendo que suas bochechas ruborizaram-se ainda mais.

                - Por que você estava demorando demais. Fiquei preocupado e vim ver o que você estava planejando. – Uma veia saltou de sua têmpora, e seus olhos obscureceram-se por um momento. – Ao invés de lutar e ganhar, você estava aqui, se matando ao pular de um penhasco desse tamanho. Você é louca por acaso?!

                Ri por uns segundos. As gotículas de água nos cantos de meus olhos se acumularam. Algumas acabavam caindo por causa do vento. Eu simplesmente não assimilava direito o que ele dizia. Estava feliz por ter sido ele a vir me ajudar.

                “Espera... ESPERA!!!! Ele disse que eu estava demorando e veio ver o que eu estava fazendo, não disse? PUTA QUE PARIU!!!”

                - Sting! – Indaguei seu nome em um tom repreendedor. – Como você sabia que eu estava no meu subconsciente?! E como você entrou aqui?! – E se for apenas uma aparição?! E se for alguma assombração dentro da minha cabeça disfarçada de Sting?! Argh! Como é horrível estar repleta de dúvidas!

                - Ah... Sobre isso... – Pude perceber que ele hesitava em me contar. Afinal, o que era tão importante assim que ele não pode contar nem pra mim? – Olha, Levy... Como já tivemos algum tipo de contato... Enquanto você... Parava o tempo, meio que isso não funciona comigo dessa forma...

                Oi? Está me dizendo que não posso parar seu tempo só porque nos beijamos?! Meu Deus, como assim?!

                Antes que ele dissesse qualquer coisa, uma voz suave ao nosso lado me assustou, chamando nossa atenção.

                - Não é bem isso, mas é quase. – Fuyuki voava ao nosso lado com asas gigantes. Eram asas emplumadas, repletas de penas prateadas e brilhantes. “Fuyuki”, o nome, não era por menos. A bela plumagem que preenchia cada espaço das asas era tão branca quanto a neve das montanhas.

                Meu coração quase tivera parado. Eu tinha levado um baita susto!

                - Poxa, Fuyuki! Avise antes de aparecer assim do nada!!! – Desviei meu olhar pelo canto do olho para Sting, suplicando algum tipo de explicação. Fiquei com a boca meio aberta quando vi a reação de Sting.

                Seus olhos estavam arregalados enquanto fitava Fuyuki desesperado. Seus dentes estavam cerrados e eu podia sentir suas mãos tremerem enquanto me carregava. Suas asas oscilavam no céu e o suor escorria pela sua pele, que estava extremamente pálida, como se estivesse em uma crise anêmica.

                - Fu...yuki... – Balbuciou fraco, não conseguindo acreditar no que via. Olhou pra mim de repente, enquanto eu o fitava preocupada. Olhei Fuyuki pelo canto do olho. Ela sorria tristemente, o olhar baixo e a respiração calma. A albina se esforçava para voar. Suas asas pareciam querer parar no céu.

                Por um momento, Sting vacilou. Suas asas pararam de funcionar e voltamos a cair em direção ao fundo do abismo, que nunca chegava. Me agarrei forte ao pescoço do loiro, que acabou levando um choque de realidade e se tocou da nossa situação. Novamente estendeu suas asas negras no céu e voltou a subir. Suspirou fundo e me fitou com uma visível súplica de perdão.

                - Desculpe, Levy. Fiquei um pouco surpreso ao ver a Fuyuki outra vez e esqueci de bater as asas... – Ele riu fraco. Sorri, acariciando-lhe seus cabelos sedosos.

                - Um pouco? Vai, me conta mais. – Rimos juntos. O riso era fraco e sem muito humor. Fitei fundo em seus olhos escarlates. – O que você quis dizer com “ao ver a Fuyuki de novo”? – Indaguei sem muito interesse. Eu já sabia que ele não me responderia.

                O loiro sorriu e respondeu-me com um beijo calmo e demorado. Fechei meus olhos para poder aproveitar melhor aquele momento único. Dependendo de como seria o resultado da batalha, eu jamais teria aqueles momentos perfeitos outra vez.

                Sua língua passeava gentilmente dentro de minha boca, verificando cada canto da mesma. Ele me apertava forte de encontro ao seu corpo. Eu me sentia confortável naqueles braços fortes. Meu corpo inteiro formigava. Era como se houvesse apenas eu e Sting no mundo. Apenas nós. Sua língua se afastou sorrateiramente e ambos arfávamos em busca de ar. Após alguns segundos de olhos ainda fechados, eu não escutava mais a respiração ofegante do loiro, e nem mesmo o sentia. Pra falar bem a verdade, meu corpo todo doía, e eu tinha uma péssima sensação.

                Abri meus olhos lentamente e pulei pra trás. Aproveitei o momento e pulei para uma árvore próxima. Eu não acreditava, mas eu tinha voltado para o mundo real. E Minerva estava lá, pronta pra me atacar!!

                Eu fiquei surpresa, admito, mas por alguma razão, sentia que ficaria tudo bem, desde que eu atacasse logo sem dar brechas.

                Não... não era possível... Eu havia parado o tempo! “Você precisa pular desse penhasco para o abismo abaixo” Foi o que a Fuyuki disse. Será que... ela sabia que Sting viria?

                Parei de pensar em besteiras e me aproximei de Minerva. Ela não se mexia. Pulei uns passos pra trás, estendi meu braço direito na direção de Minerva e recitei um encantamento.

                - When the world falls into chaos, the divine flame burning will consume the fear and will bring peace to the humanity. Burn with all your strength! – Esse era um encantamento que Sting havia me ensinado sem ninguém mais saber. Ele disse que eu deveria usá-lo apenas quando eu mais precisasse, e agora era a hora. O encantamento dizia “Quando o mundo cair em caos, a chama divina flamejante consumirá o medo e trará paz à humanidade. Queime com toda a sua força!”.

                Assim que gritei a última frase, uma luz branca que cegaria qualquer um cercou Minerva. Era magia de luz, e eu sabia que Minerva não aguentaria aquele ataque, já que ela não tinha resistência alguma à luz, apenas à escuridão.

                Minha magia era devorada pelo encantamento que eu tivera invocado, e logo eu estava tão exausta que eu poderia desmaiar se não fosse a surpresa que tivera me atingido e o medo que começava a me consumir. Assim que a luz forte dissipou, olhei atentamente à Minerva: Nenhum arranhão. Nenhum! Nem sequer um único arranhãozinho!

                Suei frio. “Talvez tenha efeito retardado...?” Pensei, na esperança de que a cabeça dela explodisse ou alguma coisa assim acontecesse.

                Nada.

                “Droga” Pensei desesperada, e comecei uma série de ataques agressivos ao corpo da mulher à minha frente. Invoquei até mesmo uma espada e adicionei o elemento luz com meu kyofu fundido à luz do sol à lâmina afiada. Eu até mesmo finquei a lâmina prateada brilhante no meio do peito dela, cravando seu coração com toda a minha força; nem mesmo sangue saiu!

                Desesperada, pulei pra trás em uma tentativa de me salvar do que quer que viesse. Nesse momento, o tempo voltou à correr normal. Minerva pulou pra trás; ou melhor, seu corpo pendeu pra trás. Ela gritou dolorosamente agoniada ao cair no chão. O sangue jorrou de seus ferimentos (que apareceram apenas naquele momento em que o tempo voltou ao normal) e sua pele fora tingida de um tom avermelhado.

                No momento em que Minerva caiu pra trás, todos os meus amigos correram e se reuniram ao nosso redor. Todos a olhavam, esperando que ela ainda estivesse viva. Mas nada acontecia. Suspirei aliviada.

                Por um momento, eu achei que tivesse ganhado.

                Se apenas não fosse aquilo... Se apenas não fosse aquilo, talvez...

                - LEVY, CUIDADO! – Sting gritou, mas não fora rápido o bastante. Assim que eu escutara sua voz, uma dor lancinante perfurou meu peito. Arregalei os olhos e cuspi sangue. Muito sangue. Arqueei as costas de dor, tossindo forte. Eu não queria tossir. Tossir doía. Eu não queria respirar. Respirar doía. Eu não queria viver... viver doía.

                - V... Vadia... in-ingrata... – Ouvi a voz agoniada de Minerva atrás de mim, e quando olhei novamente para onde ela estava antes, apenas uma trilha de sangue se formava ali. – M-Morra... Sua p... puta...

                Olhei para meu peito, no lugar onde ficava meu coração. Uma lâmina afiada negra pendia dali. Meu coração, agoniado, parava aos poucos de bater. A dor era a única coisa que eu sentia naquele momento. Como se não tivesse sido suficiente, Minerva retirou a lâmina cravada na minha pele e novamente a mergulhou de encontro ao meu órgão vital. E como se ela quisesse me fazer sofrer até meus últimos segundos, perfurou meus dois pulmões com a mesma lâmina. O sangue jorrava quente dos meus machucados, e eu sentia que minha única salvação fosse ser a morte.

                - LEVY!!!! – Ouvi uma voz aguda e desafinada gritar atrás de mim. Sting. Lágrimas começaram a correr pelo meu rosto. Eu não queria chorar. Chorar doía. Me desculpe por ter sido tão idiota, Sting... Eu te amo tanto...

                Aos poucos, tudo ficou escuro. Eu só escutei os passos apressados de Sting correrem em minha direção. Ele havia gritado algo que eu não entendi. Ou melhor, que não tive tempo para compreender. Tudo ficou escuro, e por algum motivo, toda a dor se fora. Agora era apenas eu. Eu e a escuridão. Em profunda sincronia. Para sempre. Aos poucos, me tornei incapaz de pensar qualquer coisa. Eu tivera finalmente dado meu último suspiro. Eu apenas me arrependo por ter sido tão idiota. Me desculpe, Sting...