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História Okay - Erick


Escrita por: GSilva

Capítulo 9 - Erick


Fanfic / Fanfiction Okay - Erick

 — Esse novo garoto, identificado tardiamente como Erick Vargas, se me permite perguntar, aparentava ser igual a vocês ou diferente? Ele tinha o “algo em comum”? E qual foi seu primeiro contato com ele?

 

CAPÍTULO 8 – ERICK

 

Eu e Yian ficamos parados enquanto as conversas no andar de cima tornavam-se mais claras. A voz do sequestrador era claramente a mais alta, quase calorosa, como se ele estivesse feliz em receber mais uma vítima. Também ouvi a voz de Montmore e de mais um homem desconhecido.

— O que vamos fazer? — Sussurrei para Yian.

— Vamos ficar parados. — Ele respondeu, segurando os meus ombros.

— Mas não podemos ficar aqui enquanto mais uma vítima entra. — Rebati.

— E para onde iríamos? — Kaio respondeu, com a voz autoritária. — Estamos presos e em breve esse garoto estará também. Vá por mim: é melhor ficarmos quietos.

Olhei na direção da voz de Kaio, mas não pude vê-lo, pois ainda estava escuro. De repente, os conhecidos feixes de luz se acenderam, mostrando que a luz no andar de cima foi acesa. Pisquei freneticamente por causa do contraste.

Yian segurou no meu antebraço com força e foi nesse momento que eu percebi que nada mais poderia ser feito. Nada mais. Nós estávamos presos, um de nós iria morrer; estávamos famintos, machucados, violados e assustados. Não havia mais nada a ser feito, apenas aceitar que um novo garoto entraria ali e passaria pela mesma coisa que nós. E nesse momento eu quis abraçar o garoto atrás de mim, Yian, e dizer que não queria que ele morresse. Por algum motivo eu queria fazer isso.

Eu segurei de volta no braço de Yian, puxando-o para mim, mas fui interrompido quando o alçapão se abriu novamente naquela noite. Uma luz branca irradiou por todo o porão e tivemos que cobrir nossos olhos por causa da claridade. Lentamente, consegui enxergar o que estava acontecendo. O sequestrador e Montmore estavam descendo, lado a lado, mas havia alguém entre os dois, amarrado e com a cabeça abaixada. Um garoto.

— Yian... — Eu supliquei, imaginando que ele tomaria uma atitude e atacaria o sequestrador ou Montmore, mas todos ficaram imóveis.

Sem rapidez, o sequestrador deixou o garoto parado no último degrau. Eu esperei que o menino fosse ficar em pé, eu esperei que ele fosse tentar voltar ou algo parecido, mas não: ele caiu. Foi uma queda seca, de cara ao chão.

Contive o impulso de sair correndo.

— Esse é o novo amigo de vocês. Façam bom proveito. — Disse que sequestrador, virando-se e subindo os degraus novamente. Eu olhei para o garoto que estava caído, percebendo que ele estava como nós, nu, mas cordas amarravam suas mãos ao tronco. Quando levantei o meu olhar para a escada, Montmore estava me olhando com um sorrisinho no rosto.

— Oliver, lembre-se. — Disse ele, com a voz rouca. — O sistema está acabando.

Subitamente avancei contra a escada, mas Montmore foi mais rápido e subiu os degraus de novo. De repente, toda a sala ficou escura e eu percebi que aquilo tinha acontecido rápido demais.

 

Eu esperei alguns segundos para me certificar de que o alçapão não ia abrir de novo. Quando os barulhos no andar de cima foram se tornando cada vez mais distantes, eu finalmente comecei a andar na direção do garoto caído aos pés da escada. Abaxei-me rapidamente, ofegante, e toquei o ombro do garoto. Ele estava imóvel, completamente parado, e eu mal podia ouvir sua respiração (curvei-me sobre ele para ter certeza de que seus pulmões ainda funcionavam). Yian juntou-se a mim, aparecendo do lado oposto. Eu quase não conseguia ver seu contorno, na escuridão.

— Ele está morto? — Yian perguntou. Eu balancei a cabeça freneticamente.

— Acho que não. — Respondi. — Ele parece estar respirando, bem lentamente, mas está.

Coloquei minhas mãos sobre o ombro do garoto. A pele dele estava gélida, como se tivesse acabado de sair duma geladeira. Eu recuei no momento que senti isso.

— Ele está muito gelado. — Comentei. —Ajude-me a levantá-lo.

Yian olhou por um tempo para mim, parecendo avaliar meus movimentos para determinar se eu estava falando a verdade, e, depois de uns instante, segurou o garoto pelo outro braço. Posicionei minhas mãos entre os ombros do garoto e seu tríceps, apertando com o máximo de força que podia sem machucá-lo. Eu e Yian (com muito esforço, pois o novo menino era grande, musculo) viramos a vítima de lado, deixando-o virado para cima.

— Ele não vai conseguir ficar em pé. — Yian disse ofegantemente.

— É, eu percebi. — Respondi. — Ele nem está acordado.

Ficamos olhando para o garoto enquanto ele respirava lentamente, com os olhos fechados, os lábios brancos, a pele tão pálida quanto papel. Pensei no que poderia ter acontecido a ele, como ele deveria ter sido sequestrado... Haviam marcas em seus tornozelos e em seu pescoço (a pouca luz do porão que deixava ver isso), bem como cortes em seu peitoral e abdômen. As marcas mais recentes, proporcionadas pelas cordas nos pulsos e tornozelos, estavam quase sangrando.

— Como faremos para acordá-lo? — Yian perguntou.

— E por que você gostaria de acordá-lo? — Perguntei de volta.

— Não vamos poder ajudá-lo se estiver dormindo. — Ele respondeu.

Desviei o olhar para o garoto. Ele estava imóvel. Senti um calafrio horrível quando vi sua boca entreaberta, os olhos tremendo. Ele parecia prestes... Prestes a morrer.

— Como... — Comecei a perguntar sobre o modo como iríamos acordá-lo, mas Kaio me interrompeu rapidamente.

— Esperem. — Disse ele. — O corpo humano se cura e se regenera mais fácil enquanto a pessoa dorme. Não acordem ele. Vamos esperar.

Olhei para Kaio, que estava logo ao meu lado, e decidi que era o melhor a se fazer. Esperar. Afinal, eu havia concordado em aceitar os planos de Kaio, então não podia simplesmente ir contra as coisas que ele dizia; a última coisa de que eu precisava era justamente criar uma desavença com Kaio.

Não saí de perto do garoto até ele abrir os olhos.

 

***

 

A minha primeira reação quando vi aquele menino abrindo os olhos, a respiração aumentando, os ombros se movimentando, foi de espanto, mas, depois, senti-me aliviado. Pelo menos ele não estava morto. Afastei-me rapidamente, gesto um tanto quanto infundado, pois ele estava completamente amarrado e não poderia me atacar, mas foi um reflexo pela surpresa. Kaio se aproximou mais rapidamente do que eu, já colocando as mãos sobre o peitoral do garoto.

— Ei, garoto. — Disse Kaio. — Você está bem? Ei, acorde!

O garoto deitado no chão abriu os olhos lentamente, mas, mesmo no escuro, pude ver que ele estava apavorado. Seu primeiro impulso foi se afastar, assim como eu fiz, mas, quando ele o fez, se aproximou de mim. Foi instantâneo. Ele quase não conseguia se mover por causas das cordas, então ficou se remexendo até conseguir se levantar, com as mãos atadas à frente do corpo.

— Calma, nós não vamos machucá-lo. — Disse Kaio, levantando as mãos, mas, diga-se de passagem, o tom de voz dele e o modo como se movia não eram nada acalmantes.

— Saia de perto de mim! — O garoto gritou. Sua voz era grossa, percebi isso no momento em que falou, e suas artérias saltaram no pescoço quando sua voz ecoou pelo porão.

— Acalme-se. — Kaio respondeu, com o mesmo tom de voz.

A expressão do garoto era aterradora, evidenciando que ele realmente achava que nós quatro éramos seus sequestradores. Eu não reclamei por isso, porque, quando eu fui sequestrado, também teria pensado a mesma coisa se não tivesse visto o sequestrador.

— Espere, Kaio. — Yian disse, entrando na frente do garoto e bloqueando a minha visão dele.

Nesse momento, por algum motivo, o sequestrador desligou as luzes do andar de cima e os feixes que antes iluminavam meramente o porão desapareceram. Eu não conseguia ver nada, não conseguia ver o garoto nem Yian na frente dele.

Num impulso de susto e medo (por causa do momento mais do que atípico), tateei com os pés até achar a escada. Lentamente, subi os degraus, um por um, quase batendo minha cabeça no teto, e fiquei procurando pela cordinha que, quando puxada, acendia a lâmpada do porão. Não demorei muito para achar. A luz amarelada irradiou pelo recinto, iluminando as áreas que eu ainda não tinha visto, incluindo Kaio e Alan.

— Mas que merda é essa? Oliver, você ficou louco? — Kaio disparou imediatamente. — Desligue essa luz. Não podemos ficar com a luz acesa. Ordens do Mestre.

— Quantas vezes vou ter que repetir que ele não é o meu mestre? — Rebati. Nossos olhares se encontraram e eu juro que vi um espasmo de raiva passando pelo rosto dele. Qualquer que fosse o pensamente dele, desapareceu quando eu virei minha visão para o garoto amarrado.

Yian estava parado na frente do menino, que estava meio sentado, meio encostado à parede oposta do porão. Era uma cena que eu nunca tinha imaginado.

— Nós não iremos te machucar. — Disse Yian, com um tom calmo, agachado na frente do garoto. Em outros casos, eu até teria achado sexy o momento, com Yian nu, agachado, mas naquele momento eu só achei aquilo aterrador. Não era nada sexy.

— Quem… Quem são vocês? — O garoto perguntou, olhando para cada um de nós, inclusive para Alan, que estava na extremidade oposta. Agora, a expressão do novo garoto parecia ter mudado de medo para desentendimento, pois ele parecia confuso. Parecia que a luz tinha feito-o enxergar com mais clareza, entender com mais clareza.

— Por que não começamos com você nos dizendo o seu nome? — Yian respondeu, gentilmente.

O garoto engoliu em seco e olhou para cada um de nós. Eu respirei fundo e tranquei o ar nos pulmões, lutando para lembrar se o conhecia. Não consegui lembrar de nada.

— Meu nome é Erick. Erick Vargas. — Respondeu ele, com a voz rouca.

— Muito bom. — Yian respondeu. — Eu sou Yian. Esse atrás de mim é Kaio, aquele na escada é Oliver, e garoto mais distante é o Alan. Sei o que deve estar pensando, mas também somos vítimas aqui, então não precisa ter medo.

— Eu não estou com medo. Não de vocês. — Erick respondeu, engolindo em seco novamente. A voz dele parecia impassível, imutável, mas qualquer um que estivesse olhando para os olhos dele poderia dizer que aquilo era mentira. Ele estava apavorado, assim como fiquei quando fui levado à casa.

— Ótimo. Esse é um bom começo, porque não temos o menor desejo de assustá-lo. — Yian respondeu.

Eu percebi que estava sendo um pouco rude por estar longe do garoto, onde ele mal podia me ver, onde ele não podia olhar nos meus olhos e perceber que podia confiar em mim, então comecei a descer a escada. Enquanto isso, fiquei me perguntando como Yian conseguia soar tão gentil, como conseguiu acalmar um garoto que acabou de perceber que foi sequestrado, amarrado e jogado num porão. Coloquei na minha cabeça que perguntaria sobre isso para Yian, quando tivéssemos a chance.

— Oliver. Me ajude a desamarrá-lo. — Yian pediu quando me aproximei. Eu olhei rapidamente para o novo garoto e para Yian. Erick parecia dizer “tudo bem, pode me desamarrar” com os olhos.

Abaixei-me ao lado de Yian e toquei as cordas que amarravam o corpo de Erick – elas não eram tão grossas, de modo que se ele se agitasse demais, acabaria por arrebentá-las. Ainda assim, Yian e eu puxamos começamos a mover as cordas. Erick tentou ajudar, mas o máximo que ele podia fazer era ficar parado.

— Espere. Estamos quase lá. — Disse Yian, quando um bolo de cordas caiu ao chão. Mas, as mãos de Erick ainda estavam amarradas.

— Como vamos desamarrar as mãos e os pés? — Perguntei, notando que, além de cordas, ele estava preso com fitas adesivas.

— Não, não façam isso. — Erick interrompeu assustadoramente rápido, com a voz séria. — Por favor, não.

— O quê? — Yian perguntou. — Não podemos te soltar.

— Não. — Erick respondeu. — Montmore me disse que devia manter as fitas e cordas das mãos e dos tornozelos.

— Espere. — Kaio entrou na conversa sem ser convidado, aparecendo ao nosso lado como uma muralha. Ele mirava o novo garoto com uma raiva escondida sob o olhar; fiquei pensando se apenas eu enxergava aquilo. — Como você conheceu o Montmore? Acho melhor explicar isso bem detalhadamente.

Olhei rapidamente para Erick, que parecia engolir em seco pela 53453ª vez somente naquele minuto. Não pude deixar de lado o desejo de também querer algumas respostas, então não me afastei quando Kaio se aproximou do garoto.



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