Depois da conversa com o novo pretendente de Louise, eu e Hans – principalmente ele – ficamos inquietos. Hans queria descobrir tudo que fosse possível sobre ele, mas, misteriosamente, não havia nenhum registro de sua chegada em Arendelle. O nome “Richard de Smogdain” não constava como passageiro de nenhuma embarcação das que tinham vindo para o nosso reino. Hans estava ficando cada vez mais desconfiado, e por isso decidiu falar com Magnor, confiando em sua capacidade de descobrir se Smogdain existia de fato.
– É claro que eu posso descobrir, mas levará um tempo – disse Magnor.
– Quanto? – perguntou Hans.
– Eu não sei, se é um reino pequeno, pode levar meses até encontrar algum documento que comprove a existência. Será preciso fazer uma busca minuciosa, mas não se preocupe, pedirei a Patrick para me ajudar e escreverei a Wilheim. Juntos, nós vamos encontrar algo. Ou não – acrescentou.
– Magnor, nós não temos tanto tempo.
– Certo, eu prometo que até o dia 20 de dezembro deste ano, vocês terão uma resposta definitiva. Serve?
– Bem, é bastante tempo... Acredito na capacidade de vocês. Tem certeza de que consegue descobrir até esse dia?
– Absoluta.
Hans fez uma mesura com a cabeça em sinal de agradecimento, e seguiu na direção oposta.
– Vou para o escritório terminar a papelada de hoje – anunciou.
– Eu vou com você.
– Não, Elsa, vá conversar com Anna ou fazer qualquer outra coisa. – disse com certa rispidez. – Nos vemos depois. – Ele deu um sorriso forçado e continuou andando.
Entendi isso como um claro sinal de que ele queria ficar sozinho, e não insisti. Considerei que conversar com Anna era mesmo uma boa ideia e fui procurá-la. Anna estava bordando na companhia de Lynae – que provavelmente estava cumprindo um castigo por ter fugido – numa sala de estar no primeiro andar.
– Bordando?
– Passando o tempo – respondeu ela.
Lynae resmungou baixinho e revirou os olhos, ao que Anna lhe respondeu com um “Fique quieta”.
– Mas não é justo! Enquanto eu estou presa aqui, Louise está cavalgando por aí com um príncipe lindo! – reclamou Lynae.
– Você não estaria de castigo se não tivesse fugido!
– Eu não fugi! Eu só... Saí sem o seu consentimento, mãe. Aliás, a Louise sabia que eu tinha saído!
– Mas ela não é sua mãe, é? Louise tem os próprios deveres para se preocupar, e garanto que já fez todos eles.
Olhei através da porta-janela da sala. Louise estava cavalgando com Richard.
– Pelo menos alguém está se divertindo.
– Essa diversão é muito perigosa. E você sabe disso, Elsa – acusou Anna.
– É claro que eu sei, Anna. – Sentei-me no sofá próximo a ela. – Mas o que eu posso fazer? Os jovens são assim. Sonhadores, apaixonados, imprudentes...
– Ah, Elsa, eu pensei que após tanto tempo você já tivesse aprendido a lidar com essas coisas...
Permaneci em silêncio por um tempo, então decidi falar com Anna o que tinha planejado antes de entrar na sala.
– O que eu quero saber é o que você pensa desse rapaz.
Anna parou de bordar e me fitou por alguns segundos.
– Nada de bom, é claro. Ele me lembra muito o Hans, sabe. Acho que também te lembra ele, Elsa.
Engoli em seco.
– Lembra, sim. E a Hans também. Por isso ele está tão incomodado com a situação, ele não quer que alguém faça para Louise o que ele fez para você.
A este ponto, Lynae estava espremida na cadeira, completamente ruborizada e parecendo muito concentrada no bordado. Esta era uma história constrangedora para todos nós, afinal.
– Olha, Elsa, eu não desejo de forma alguma que Louise passe pelo que eu passei, mas você sabe que eu não posso fazer nada. Mas você sim. Pode mandá-lo embora agora mesmo, antes que Louise se apaixone por ele.
– Anna, eu não posso fazer isso! É a escolha da Louise, ela acredita que ele possa ser o rapaz certo, então como eu poderia interferir? Como poderia separá-la da pessoa que gosta? Não, não posso fazer isso...
– Você que sabe, mas se quer minha opinião, é a seguinte: logo, você, eu e todo o mundo estaremos apaixonados por esse Richard. Ele não vai seduzir apenas Louise, mas todos nós. E então vai conseguir o que quer, seja lá o que for.
– Nem parece você falando isso... – murmurei.
– Eu aprendi com os erros do passado. Não quero correr o risco de perder minha família de novo.
– Credo, eu nunca vi vocês falarem do passado assim. É como se esse príncipe tivesse desenterrado tudo – arriscou dizer Lynae.
Não dissemos nada por alguns instantes, até que Anna perguntou:
– Tem notícias dele?
– Não, talvez Yran nos conte algo na carta que mandou.
– Carta? Que carta?
– Isaac e Joseph trouxeram uma carta consigo, disseram que devíamos ler juntos.
– Está com ela aí? – perguntou Anna com interesse.
– Sim.
Anna levantou-se com um salto.
– Vamos jantar?
– São apenas 18 horas... – respondi, olhando o relógio de pêndulo na parede.
– A gente espera um pouquinho. Venha, Lynae, seu trabalho terminou.
– Mas eu ainda estou na metade...
– Não importa, vamos. – Anna olhou para mim. – Vamos?
– Claro...
Ela sorriu e bateu palminhas, animada. Eu definitivamente gostava muito mais da Anna alegre e eufórica do que da Anna séria e irritada.
Enquanto esperávamos o jantar ser servido, eu peguei a carta que fora entregue pelos filhos de Yran e comecei a ler para todos os presentes – Anna, Kristoff, Syver, Daven, Lynae, Louise, Nikolas e Hans.
Queridos Elsa e Hans (e família),
Primeiramente, eu gostaria de mandar meus parabéns ao Nikolas. Feliz aniversário, sobrinho, muita saúde e felicidade. Um dia você ainda será um grande homem e um príncipe responsável e maduro.
Agora, eu gostaria de lhes dar notícias sobre as Ilhas do Sul. Está tudo normal por aqui, embora ultimamente eu tenha tido mais trabalho que o habitual – por isso não pude ir à festa – porque temos tido alguns problemas com os registros e documentos de muitos prédios públicos. Sei o que vocês estão se perguntando: “Você tem notícias dele?”. E a resposta é: Sim, eu tenho. Não se preocupem, eu mandei soldados à clínica semana passada e eles me afirmaram que ele continua lá. Não disse nada, como sempre, permaneceu sentado e calado. Os médicos acreditam que seu caso esteja se agravando e ele esteja se isolando, e eu não quero nem pensar no que se passa pela mente perturbada dele.
Bem, é só isso. Repito: Não há com o que se preocupar. Aguardo retorno.
Atenciosamente,
Yran
P.S. Já estão todos convidados para passar o Natal nas Ilhas.
– E então? – perguntei.
– É, acho que são boas notícias. Magnor disse que esteve lá ano passado, pelo jeito, a situação não mudou muito – respondeu Hans.
– Você...
– Não, não pretendo visitá-lo.
Consenti com a cabeça, e então começamos a jantar.
_______________
À noite, eu lia um livro na cama. Hans entrou no meu quarto pela porta anexa que ligava nossos quartos e sentou-se na cama, suspirando.
– Se sente melhor agora? – perguntei.
– Com certeza. Hoje foi um dia desgastante, não vejo a hora de dormir e esquecer tudo – respondeu ele.
– Esquecer?
– Se não posso fazer nada para solucionar o problema, então prefiro esquecê-lo.
Fechei o livro e o coloquei no criado-mudo ao lado da cama. Voltei-me para Hans, mirando-o fundo nos olhos.
– Hans, você sabe que não podemos fazer nada, então vamos deixar acontecer, certo? Louise já é adulta, sabe o que faz. Um dia ela será a rainha, precisa fazer suas próprias escolhas.
– Eu sei disso, Elsa, mas... – Ele suspirou. – Não posso ter mais esse peso.
– Peso? Mas do que você está falando?
– Eu não posso suportar mais um peso na consciência. Se esse homem fizer algum mal à Louise, eu nunca irei me perdoar.
– Você não tem culpa de nada, e nem terá. O que quer que aconteça, não será nossa culpa. Não será culpa de ninguém. Não podemos controlar o destino, sabia?
– Infelizmente... Bem, não importa. É melhor dormirmos, amanhã será um dia... Especial, não é?
– Argh, nem me fale. Eu não acredito que estamos reatando a parceria comercial com Lillesand. E o pior de tudo: Estamos oferecendo Syver em casamento como garantia.
– Ah, mas ele parece bem disposto a fazê-lo...
– E que escolha ele tem?
– É, bem, deixe que ele mesmo decida se quer fazer isso. Boa noite.
Hans me deu um beijo de boa noite, desligou o abajur e se acomodou na cama. Fiz o mesmo, mas ainda demorei a pegar no sono, pensando em tudo que estava acontecendo.
_______________
Já fazia quase duas semanas desde que Abigail chegara à Arendelle. Até então, ela tinha se mostrado arrogante, prepotente e extremamente exigente. O seu quarto, o seu chá, suas empregadas, vestes... Tudo deveria ser como ela queria. E até mesmo Syver deveria ser do seu gosto. Logo ficou muito claro que nem Syver, com toda a sua compreensão e paciência, seria capaz de aturá-la. E ele não aturou.
– Eu não vou me apaixonar por essa mulher! Simplesmente não posso! – gritava ele para os pais.
– Então não se apaixone! Mas que você vai casar com ela, vai! – respondeu Kristoff.
– Você não pode exigir isso de mim! Ela é insuportável! Eu não quero casar com ela, não pode me obrigar a isso!
– Eu sou seu pai, Syver, eu posso e vou! Sinto muito, mas você não me deixa escolhas. Pensei que fosse mais maduro. Você vai casar com a condessa Abigail, querendo ou não. Vai casar nem que seja à força.
Hans e eu estávamos trabalhando no escritório, mas descemos até o salão no instante em que ouvimos a gritaria.
– O que está acontecendo aqui? – perguntei.
– Estão me obrigando a casar com uma mulher que não amo, é isso que está acontecendo, tia! – respondeu Syver, furioso.
– Isso não está aberto a discussões. Você vai casar e pronto – disse Kristoff.
– Mãe, por favor! – implorou Syver.
– Eu lamento, filho, não acho que seja justo com você... Mas já está decidido, assinado... Não há como voltar atrás. Eu lamento, mesmo...
– Mas será que não podemos anular...? – começou Hans.
– Não! Syver já é homem, tem que cumprir com sua palavra – respondeu Kristoff, irritado.
Syver cerrou os dentes, segurou algumas lágrimas que ameaçavam cair e correu escada acima, passando por nós. Só então percebi que quase todos os moradores do castelo estavam assistindo à cena – inclusive Olaf, que surgira do nada.
– Eu vou falar com ele – disse Louise, e foi atrás do primo.
Logo, todos se dispersaram, e restaram apenas Hans e eu, que saímos para caminhar no jardim depois da situação estressante pela qual tínhamos acabado de passar.
– Escreva o que eu digo: isso ainda vai acabar muito mal – disse Hans.
– O quê? – perguntei, distraída.
– Syver não vai casar com Abigail, pode ter certeza. Se a parceria não for cancelada, ele não terá escolhas. Eu acho que nós estamos prestes a perdê-lo. Talvez para sempre...
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