História Olhos vendados: Pequena Laura - Aprendendo com a queda

Dan havia explicado que com a situação de Cássia e Laura, ficou preocupado e esqueceu de dar mais detalhes sobre a viagem. Iriam para Vitória, no Espírito Santo. Dan tinha parentes por lá, com uma casa que alugavam para férias. Ele alegou que era para agradar Laura(na verdade, continuava alegando).
Cássia, ainda cismada, decidiu viajar, por mais que toda a história estivesse estranha, mal contada, e ainda sim, estranha. Dan ainda era o seu candidato predileto para genro. Eles viajaram horas em uma kombi, Dan dizia que era de seu tio. Não era muito velha, mas também não era muito nova. Era possível verificar a alegria estampada no rosto de Laura, e o gosto de Dan por presenciar e proporcionar esses momentos para a garota que ele tanto gostava. Enquanto que Cássia estava cada vez mais grilada com toda a situação. Ela esquecia, e outrora voltava a ideia de que tudo era muito suspeito. Dan percebeu que sua futura sogra estava muito calada, e resolveu interagir com ela...
-Não está gostando da viagem?- ele forçou um sorriso. 

-Não! Não! Que isso!- Cássia devolveu a simpatia- Apenas estou com a cabeça em outro lugar, sabe? Tantas preocupações...- disfarçou.

-Mas é para isso que serve a viagem! Vamos! Se anime. A senhora também é convidada, não está aqui só para fazer companhia- Dan sabia bem como deixá-la à vontade.

-Ah, obrigada! Você realmente é um menino de ouro. Mas você não entenderia... 

-Com todo respeito, mas eu nem quero entender! Esquece um pouco, nós temos que ter um refúgio às vezes. Olha, não aceito convidada minha, distraída. 

-Tá bom, tá bom, você conseguiu- Cássia se deu por vencida, e começou a puxar assunto. Mas novamente se calou, a paranóia voltou. Ela gostava da altivez de Daniel, mas ao mesmo tempo, isso a intimidava. Estava decidido. Depois de olhar, pensar e analisar todo o(aparentemente) jogo de Dan, resolveu ficar de olho nele. Atenta a todos os passos, atos e palavras.

[...]

Já estava perto da hora de sair com Victoria, e Felipe estava se arrumando. De sua janela, via a janela de Laura. Na realidade via a casa por inteiro, mas o foco era a janela. Percebeu que estava tudo muito quieto e parado. Mas Laura morava somente com a mãe, completamente normal, o sossego que se encontrava na casa 19. Mas também não podemos esquecer que se tratava da casa de Laura! Ela era agitada e exagerada por natureza. Costumava acordar cedo. Achou melhor falar com Isadora, era bem provável que soubesse, agora só tinha que torcer para encontrá-la na saída.
Felipe caiu em si e se distanciou do que poderia ter acontecido na casa de Laura quando o telefone tocou. Desceu as escadas correndo, eram 8:15 da manhã, o telefone ecoava pela casa. Atendeu. Pensou que podia ser Laura pedindo desculpas pelo dia anterior? Sim! Expectativa quebrada. Era Victoria dizendo que iria se atrasar e se poderia esperar mais. Ele aceitou, teriam que ir de bicicleta. Mas, a pistoleira, quero dizer, Victoria não sabia andar de bicicleta... Então Felipe teve a ideia de ensiná-la a andar. Previa-se aí um dia de vários tombos.
Passou uns 20 minutos, Victoria ligou de novo. Era pra avisar que estava pronta e que o aguardava do lado de fora de casa. Felipe subiu para pegar sua carteira que havia esquecido no quarto e quando desceu novamente, ouviu a voz de Alan. Estranhou.

-Está fazendo o que aqui essa hora?- Alan fez que ia responder, mas provavelmente não saíria nada inteligente e ele precisava ser rápido, logo, Luísa se adiantou:

-Eu chamei. 

-Você chamou?!- Felipe parou por um instante e ficou olhando para os dois. Sim, ele insinuou que... -Vocês dois não estão... 

-Nojo, Felipe. Eu o chamei porque... porque...

-Você vai sair com a Victoria... ela se sentiu sozinha, e como você está com a melhor amiga dela, ela pensou em me chamar- Luísa olhou de forma iluminada para Alan, como se quisesse dizer: "Como pensou numa resposta tão lógica e rápida?", mas logo Felipe jogou um balde de água fria. 

-Ciúmes, Luísa, sério? Achei que você me apoiasse com a Vic...

-Não são ciúmes! Eu só fiquei um pouco chateada por quase não sair com ela- ela forçou um ar de decepção. 

-Ah! Não sabia que ficaria assim. Se quiser... vem com a gente, na verdade os dois e... -Alan logo se movimentou, como se fosse junto, mas sossegou quando percebeu a reação de Luísa.

-Não, deixa para lá, estou chateada com a Victoria- Luísa sabia que a amiga surtaria se não conseguisse momentos sozinha com Felipe, e também precisava "ajudar" Alan com Mariana. 

-Nós vamos nos resolver, fique tranquilo, só não quero ter que pensar nisso agora. O Alan vai ficar comigo. Vai me divertir- no mesmo momento, veio Alan com frutas nos braços, e com algumas até escapando. Os três riram, e os dois irmãos foram ajudá-lo. 

-Vão sair?- Felipe perguntou.

-Sim. 

-Não!- Alan e Luísa se olharam.

-Não. 

-Sim!- precisavam entrar num consenso.

-Vocês vão sair ou não?

-Felipe, para de ser chato e pegar no meu pé? Você ia sair com a Victoria, e olha... ela detesta esperar. Se fosse você, ia logo. 

-Por quê eu tenho a impressão de que está querendo me enrolar? 

-Porque você é desconfiado com tudo. 

-É uma pergunta simples, se vão sair ou não...

-Mas é claro que vamos- Alan respondeu, o que fez Felipe desconfiar novamente.

-Calma! Somente amigos, tudo bem?- e Alan veio com um comentário nada legal.

-Não entendi essa insatisfação em entrar para a família, saiba que isso pode aconte... - Luísa tapou a boca do tagarela antes que ele se comprometesse mais. 

-Felipe, já falei, a Victoria não gosta de esperar! Ignora o Alan, você sabe, são poucas as coisas boas que saem daqui- falou soltando o garoto- E ah... não comenta nada com a Vic... acho melhor resolver essa história com ela- Felipe que já estava cansado de ficar ouvindo Alan, resolveu atender sua irmã e saiu.
Não demorou muito, Mariana desceu, disse que acordou com o falatório dos meninos. Alan, todo cuidadoso, explicou para ela que Felipe não gostava da ideia dos dois saírem juntos(mais uma vez falando demais). A garota questionou, o que era de se esperar. Surpreendentemente, Luísa mudou de assunto e conseguiu distrair Mariana. A mesma subiu para se arrumar para sair com Alan.
Enquanto isso, a nossa "cupida" dava uma dura no enrolado...
-Alan! Deixa eu só te dar um toque... A Mariana não sabe desse plano, ouviu? Então você não pode, em hipótese alguma, comentar sobre a posição do meu irmão e nem mesmo da minha mãe em relação a vocês dois. Esquece isso por hoje. E ah, olha lá o que vai falar para ela também, você dá muito mole! 

-Luísa, pode confiar. Você está falando com o queridinho das garotas. 

-Sim... Isso, antes de você se apresentar, não é? 

-Caramba, Luísa, dá um desconto! Posso ser um pouquinho afobado, mas...- ele olhou para baixo, e quando voltou seu olhar para Luísa, teve que consertar o que falou- Tudo bem... muito afobado. E sei, falo o que não devo. Mas eu gostei da Mariana e vou tomar cuidado. 

-Ah, eu espero! 

-Pode deixar, confie em mim. 

-Confiar não dá, Alan. Em você, é difícil. Mas algo me diz que isso tudo ainda vai vingar. 

-Muito obrigado pela ajuda, não vai se arrepender. 

-Espero que não.

Luísa só estava esperando o momento certo para colocar tudo o que planejou por trás em prática... e não iria demorar muito. Mariana e Alan saíram. Preparados para curtir esse casal?

Felipe e Victoria tiveram de ir andando até o zoológico da cidade. Tudo porque a mocinha não sabia andar de bicicleta. Ficara decidido, então, esse seria o  passatempo do casal de amigos no dia.
Victoria subiu na bicicleta e Felipe veio escorando para que a mesma não caísse.

-Me conta, a "madame" não tem medo de cair? 

-Não!- Victoria respondeu de forma rápida-Confio no meu "professor", sei que não me deixaria cair- ele concordou, sorrindo.

-Confia no que eu digo, então? 

-Confio tanto quanto aposto em mim mesma.

-Nossa, estou bem assim?- ele sorriu

-O que te faz pensar que não?- era impossível não perceber o sorriso de encantado em Felipe. E por um momento era notável que ele esquecera um pouco de seus desentendimentos com Laura e se concentrava em seu momento com Victoria, uma pessoa tão importante quanto. Ela o chamou, tirando de seu estado de êxtase. 

-Está aqui comigo ou na lua?- ela estalou os dedos e sorriu, e pôde escutar como resposta, mesmo que bem baixinho: 

-Se eu estivesse em outro lugar faria de tudo para vir para cá. 

-Falou comigo?- ela perguntou, animada.

-Nada. Estava apenas pensando alto- ele tentou disfarçar.

-Uma coisa você fez certo. Não veio com roupa branca. Poderia se sujar. 

-Ah! 1 ponto já consegui? 

-É, só o primeiro ponto, agora faltam outros 9 pontos, na prática. Vamos parar de enrolar!-
Felipe, então, começou a guiá-la, sem soltar, e indicando o que ela devia fazer. Depois de 4 "rodadas" com o auxílio dele, ele começou a se afastar, avisando se devia acelerar ou diminuir a velocidade. Victoria ameaçou cair 5 vezes, mas Felipe não deixou, pois mesmo de longe, acompanhava ela. Por fim(ou quase no fim), e em sua penúltima tentativa na bicicleta, Victoria caiu mesmo. Para sua sorte(ou talvez nem tanta), Felipe caiu junto. Um do lado do outro. Riram por um tempo. Pareciam duas crianças. Felipe se levantou, puxou e sugeriu tentarem mais uma vez.

-Não acha que está colocando fichas demais em mim, acabei de cair, não viu? Chega!- Victoria disse, desanimada.

-Ih! Essa não é a Vic que eu conheço, muito pessimista. Eu não vou desistir não, você já sabe andar, só precisa praticar. 

-Ah, mas eu estou tão cansada... 

-Vamos parar com as desculpas?- Felipe parou e ficou olhando para Victoria e viu que nada estava adiantando- Você é uma das minhas melhores alunas- "vou mexer com o ego dela", ele pensou

-Sério? Isso é bom... Quantas alunas você já teve?- ela se animou um pouco, e prestaria atenção em cada coisa que ele falaria.

-Contando com você? 

-Sim! 

-Uma aluna. 

-Não entendi- ela riu- Já estava pensando que meu desempenho era bom! 

-E é! Você não parou e nem desistiu.... até agora. Não acha que falei essas coisas para te incentivar? 

-Ai, vamos! Não era o que queria? Deu certo. 

-Na má vontade não, não é Vic? 

-Vou me esforçar. 

-Vamos. Não vou deixar você cair, prometo- ele levantou o dedo mindinho e puxou o dela. Ela riu, mas aceitou.

-Queria que desse certo assim com a Luísa. Ela desistiu nos primeiros 10 minutos. E era com o meu pai. Ela é muito impaciente- Felipe comentou enquanto observava Victoria subir na bicicleta e quase perder o equilíbrio.

-Eu sei exatamente como ela é- ela riu, mas provavelmente por suas pernas estarem bambeando de nervosismo, até que Felipe segurou a bicicleta e ela se alinhou. Andou. Andou mais um pouco. Fez a volta e encostou perto de Felipe.

-Não quer apostar uma corrida? 

-Já está assim?- Felipe se surpreendeu.

-Eu pensei um pouco, mesmo caindo, gostei do passeio e da tua companhia, então qualquer coisa que eu faça com você, será melhor. 

-Reconhece também que não somos perfeitos para acertar tudo? 

-Sim, uma hora eu ia cair. Só estava cansada. Mas é com você. Vamos! 

-Entendi, dona- respondeu sorrindo- Só cuidado para não cair!- subiu na bicicleta e deu um empurrãozinho em Victoria.