História Ômega - Capítulo único

Jeongguk ouviu o som da porta da sala abrindo e fechando, logo então os passos se aproximaram e o cheiro tão bem conhecido ficou mais forte. Olhou para a entrada da cozinha e sorriu ao ver o ômega largar algumas sacolas na mesa e ir até ele, Taehyung sorriu também e lhe deu um selinho demorado.

- Demorou hoje - O mais novo disse, parando de dar a papinha para o filho quando este empurrou a colher e esticou os bracinhos para o pai ômega.

- Demorei o dobro de tempo na última porque o cara tava com frescura e cada vez que a agulha encostava na pele dele parecia que tava dando choque - Taehyung revirou os olhos mas acabou sorrindo para a cena fofa de seu filho esticando os bracinhos gordinhos para si, pegou o bebê no colo e deu vários beijos na bochecha dele, arrancando uma risadinha gostosa do filhote - Pelo menos ele não estragou e não tive que refazer - Suspirou, mas sorria olhando para o pequeno.

- Menos mal - O alfa deu de ombros, fechando o pequeno pote de vidro e colocando a colher de plástico na pia.

- Alguma novidade? - O menor perguntou, se sentando na cadeira e colocando o filho sentadinho em seu colo - Não, Joon, você acabou de comer, meu amor, depois o papai dá - Taehyung tirou as mãozinhas gordinhas que puxavam sua blusa, tentando a todo custo tirar o tecido que atrapalhava seu acesso a sua fonte de leite.

- Na verdade, Tae, tava pensando em não arrumar emprego agora - Jeongguk arrumou o óculos e coçou a nuca, olhando apreensivo para o ômega mais velho - O Hae é muito novinho, não queria deixar ele na creche...

Jeongguk tinha sido despedido da empresa onde trabalhava por ela infelizmente ter falido, e agora estava nessa procura a mais ou menos dois meses.

- Ah... - O ex Kim piscou os olhos, digerindo a informação mas assentiu, calmo - Tudo bem, é uma boa idéia.

- Se você estiver muito cansado de ficar aumentando seu horário, eu vou atrás então - O maior avisou, puxando uma cadeira e se sentando na frente do marido.

- Não, eu concordo com isso, e o estúdio tá crescendo agora, não vejo problema - Taehyung sorriu, dando um selinho no alfa - Se eu tivesse que pagar a escolinha sozinho ai ficaria difícil, mas não tem esse gasto, então tudo bem.

Jeongguk sorriu bobo, apreciando como o piercing prata brilhava no canto do lábio inferior do mais velho quando ele sorria, pensava o quão bem ficava nele.

- Mas - Chamou a atenção do mais novo novamente - O Haejoon vai completar um ano daqui um mês, amor, acho que essa é uma boa idade para começar a ir...

- Eu acho que pelo menos dois anos - Jeongguk rebateu, com um biquinho nos lábios finos.

- Tudo bem, depois a gente decide isso - Taehyung disse risonho, colocando o filho no colo do marido e se levantando para ir pegar um prato e poder finalmente comer.

A comida ainda estava quente porque o alfa tinha acabado de cozinhar, tanto é que nem mesmo deu tempo de comer. Deixaram Haejoon no cadeirão dele e o deram um brinquedo para distrai-lo, o que deu certo, então o jantar foi bem calmo, os adultos falando sobre coisas aleatórias e o bebê soltando seus típicos barulhinhos fofos.

Foram para a sala depois, Jeongguk deu a idéia de assistirem um filme já que era sexta e amanhã o ômega não acordaria tão cedo para ir trabalhar. Haejoon prestava muita atenção nas luzes que passavam na tela enorme, e isso encantava os papais que acabavam rindo e até perdendo cenas do filme, mas quase no final o bebê começou a ficar enjoadinho por causa do sono e se encolheu contra Taehyung, à espera de seu alimento para finalmente poder se render ao cansaço.

O ômega mais velho entendeu o que seu filho queria e tirou a camisa, já que não faria diferença entre ter que levantar o tecido todo e isso. Jeongguk encostou a cabeça no ombro do ômega, o óculos atrapalhava um pouco mas não deu importância, e beijou a marca no pescoço amorenado dele, meio camuflada no meio de todas as tatuagens. Ficou observando o filhote deles de olhinhos fechados enquanto sugava o leite, deixando as bochechas gordinhas, maiores ainda.

- Guk, estava pensando... depois que o Hae parar de mamar, eu acho que vou colocar um piercing no mamilo - Taehyung comentou, olhando para o único alfa da casa.

- Queria falar sobre algo com você... - Jeongguk comentou, sorrindo de canto.

- Okay... pode falar - O de fios vermelhos franziu o cenho.

- Eu quero ter outro filho, quando eu arranjar um emprego - O Jeon mais novo falou de uma vez.

Por mais que Taehyung amasse Haejoon mais que a própria vida, seu plano inicial era não ter filhos, assim como Jeongguk, mas depois de um descuido Taehyung acabou engravidando. Acabaram se adequando a essa rotina, então se já tinham um, porque não ter dois?

Não queria que seu pedido fosse rejeitado, ficaria triste se fosse? Sim, mas não insistiria nisso se o mais velho não quisesse também.

- Ah, Guk... - Taehyung suspirou, pensando na possibilidade - Mas... agora? O Joon ainda é tão novinho.

- Daqui uns dois ou três anos talvez? - Os olhinhos do alfa brilharam - Mas para poder amamentar, acho que não pode colocar piercing...

- Eu coloco só em um - Taehyung deu de ombros, voltando a olhar o filho que já tinha dormido em seu colo.

O peito do mais novo se encheu de felicidade, e Taehyung sentiu isso graças a marca que ligava ambos, o que o fez sorrir e dar um beijo na testa do marido antes de se levantar com o bebê no colo e andar pelo corredor em direção ao quarto do mais novo. Colocou o bebê no berço dele e ligou a babá eletrônica, por mais que o apartamento não fosse tão grande, ainda tinha medo de Haejoon chorar e ele não conseguir escutar.

Jeongguk andou atrás do marido, observando a traseira do corpo menor, a bunda arrebitada apertada pela calça jeans, as coxas grossas, as tatuagens espalhadas pelas costas, a cintura gordinha e o quadril largo, o ômega não poderia estar mais gostoso na sua visão. O corpo do ex Kim tinha mudado muito desde a adolescência deles, tanto pelo passar dos anos, quanto pela gravidez de Haejoon, mas ele continuava perfeito e Jeongguk era e sempre seria perdida e completamente apaixonado por cada detalhezinho dele.

Não era só o físico que o fazia um idiota apaixonado, amava a essência do garoto, sua personalidade forte. Taehyung nem sempre fora muito autoconfiante, sua adolescência tinha sido um inferno porque as pessoas amam colocar rótulos e estereótipos, e condenam aqueles que não os seguem, o de - agora - fios vermelhos sempre fora um ômega muito rebelde e dono de si, se negava a fazer coisas que não gostava só porque seus pais pediam.

Por exemplo, parecia a obrigação de um ômega aprender a cozinhar, mas Taehyung conseguia queimar até ramen. Ômegas deveriam ser delicados, calmos e supostamente indefesos, mas Taehyung xingava, era explosivo e tinha aprendido Taekwondo escondido dos pais. O garoto sempre esteve de saco cheio desse conto de fadas mentiroso onde um ômega precisava de um alfa para ser salvo, onde um ômega precisa ser puro e aceitar tudo de cabeça baixa.

Foi então que começaram as cores de cabelo exóticas, os piercings e então as tatuagens. Taehyung gostava daquilo e não se proibiria de fazer algo que se sente bem fazendo por causa de outras pessoas. Única coisa que seus pais apoiavam era seu sonho de trabalhar com arte, era extremamente talentoso desenhando e escrevendo, e usou desse talento para virar tatuador - coisa que supostamente também era coisa de alfa e que, claro, seus pais abominaram, mas o ômega novamente tacou um belo de um foda-se e resolveu virar independente.

Foi com 19 anos que conheceu Jeongguk, o alfa medrosinho que apareceu no estúdio se tremendo por causa daquela pequena agulha, sendo obrigado pelos amigos por causa de um desafio bobo. O Jeon não sabia o que fazer e ficou muito tempo só parado encarando o ômega bonitinho de cheiro gostoso, que na época era só o recepcionista. Taehyung deu a idéia de homenagear alguém que ele gostava muito tatuando a primeira letra do nome, mas de repente o alfa de recém 18 anos completos começou a chorar, chorou de soluçar, ganhando um revirar de olhos dos dois amigos que estavam com ele. O - na época - Kim quis muito rir, mas ficou preocupado depois, se aproximou do garoto e conversou com ele, e foi assim que uma boa amizade nasceu.

Eles começaram a namorar um ano depois, coisa que não foi muito aceita pelos pais do alfa mas eles também não interferiram. Taehyung enrolou durante muito tempo para aceitar se casar com Jeongguk, porque bom, sempre achou que isso não seria para ele, mas acabou cedendo, e quatro anos depois era oficialmente um Jeon. Decidiram não ter filhos também, mas Haejoon nasceu dois anos depois do casamento.

- Jeongguk, para de olhar para a minha bunda - Taehyung falou, arrumando o filho no berço e cobrindo o corpo pequeno e gordinho.

- Tava só divagando, desculpa - Jeongguk sorriu e se aproximou, segurando a cintura do ômega e apoiando o queixo no ombro dele para poder olhar seu filho - Ele é tão perfeito, né?

- Claro que é, saiu de mim - Taehyung sorriu convencido e mordeu a bochecha do alfa.

- Ah e eu não tive nenhuma influência nisso? - Jeongguk perguntou, fingindo indignação.

- Não, eu sou o total responsável por ele - Taehyung deu de ombros, se afastando do mais novo e ligando o abajur do pequeno ômega antes de desligar a luz e sair do quarto.

Taehyung, atualmente, era muito seguro de si, por mais que seu corpo não fosse o padrão para ômegas - não era pequeno, já que por mais que fosse menor que Jeongguk, por alfas serem naturalmente maiores, sua altura ainda estava acima da média para ômegas então podia sim ser considerado alto;  nem tão magro; não tinha cintura fina; nem mãos e traços delicados -, tinha noção da própria beleza, e não é como se Jeongguk não fizesse questão de o lembrar todos os dias disso. Não se maquiava e não ia para a academia, apenas fazia exercício porque os médicos diziam que era saudável. E é feliz assim, então ponto final.

Jeongguk se deitou ao lado do ômega, os dois estavam sem camisa porque tinham acabado de tomar banho juntos - talvez não tenha sido só um banho -, e agora estavam abraçados na cama. Taehyung passou a mão pelas únicas linhas negras que marcavam aquela pele branca e lisinha, que estava no peito do alfa, quase na clavícula, no canto direito.

- E o nome do nosso segundo filho vai começar com H também? - Taehyung perguntou, com um sorrisinho de lado.

- Se estiver tudo bem para você - Jeongguk segurou a mão do ômega e entrelaçou os dedos dele com os seus, levando até perto dos lábios e beijando as costas da mão dele.

- Pensei em Heejin se for menina, o que acha? - Taehyung comentou, olhando para o mais novo, com a cabeça apoiada no braço dele.

- Haejoon e Heejin? Cadê a criatividade, amor? - Jeongguk brincou mas realmente gostou da combinação - Estou brincando, eu gostei, mas e se for outro menino?

- Hm... Hyeongjun? - Taehyung se esforçava para pensar em nomes com aquela letra em específico, claro que eram nomes que gostava também, não estava indo apenas pela letra.

O H tatuado no peito de Jeongguk tinha um significado, e passou a ter outro quando Haejoon nasceu. O mais novo queria deixar marcado algo do bebê para sempre, mas se recusava a passar aquela dor de novo, então resultou nesse nome. A letra vinha do nome da minha irmã mais velha de Jeongguk que faleceu quando o garoto tinha apenas 6 anos - essa foi a explicação que o Jeon deu aquele dia no estúdio quando chorou como uma criança, aquilo era importante para ele.

- Eu gostei também, dos dois - Jeongguk beijou a testa do de fios vermelhos.

- Mas será que daqui dois anos a gente ainda lembra desses? - Taehyung perguntou com o cenho franzido.

- Ah, quem sabe esse bebê não vem antes... - Jeongguk olhou sugestivo para o mais velho, com um sorrisinho ladino.

- Nem inventa, to tomando remédio - Taehyung sorriu vitorioso, Jeongguk não teria nem a chance de fazer esse filhote vir antes - Mas quem sabe a gente podia fazer bebês agora né...

- Mas você acabou de dizer que não quer agora - Jeongguk disse, confuso.

- Só o ato, mas a gente pode se proteger.

- Ah então não estamos fazendo um bebê...

- Jeongguk, você quer transar ou não?

- Quero!