História Omelas - O resgate da garota - Capítulo 12

-Vovó! -Hoseok abraçou empolgado a velinha que revirou os olhos -A senhora não me avisou que vinha!

Arregalei os olhos confusa...Se aquela era a avó dele, e ele era meu primo, então...Eu tinha uma avó?! 

Eles se abraçaram por algum tempo e trocaram carinhos. Assim que se separaram a avó dele se apoiou na bengala.

-Nem eu sabia que vinha, querido, tive que sair rápido, tem mais polícias na cidade do que uvas passas no natal -Ela levou uma mão as costas com uma expressão de dor -Agora pegue uma cadeira para mim, sua pobre avó já está cansada de ficar em pé, Deus perdoa mas a idade não.

Ele assentiu empolgado e se virou para trás, mas Jimin foi mais rápido e pegou a cadeira de madeira que a Jiho costumava usar.

-Tia, o que a senhora faz aqui? Aconteceu algo? -Jimin perguntou ajudando-a a se sentar. A senhora sorriu e fez uma carícia no rosto do garoto de modo quase maternal.

Ela negou com a cabeça e sorriu para o garoto.

-Espera...É todo mundo parente nisso aqui? - Perguntei assustada, será que eu não sabia nada sobre eles? 

-Não, não, querida! Não sou tia do Jiminzinho...-Ela apertou a bochecha dele com uma doce expressão-Infelizmente. Apenas o conheço desde criança, por isso ele me chama assim.

-Ahhh, agora ficou um pouco menos estranho -Disse esclarecida e me apoiei na bancada -Mas, a senhora é minha avó também? É meio impossível isso...Conheci as duas.

-Não -Ela respondeu de maneira simples -A ligação de você é do Hobi é materna, mas eu venho do lado paterno dele, não temos conexão nenhuma de sangue.

Eu apenas assenti aliviada, por algum motivo eu não queria encontrar mais parentes talvez para evitar a dor de ter que me separar.

-Vovó -Hoseok chamou com uma cara confusa e colocou uma mão no ombro dela -Então a tia...Era mãe dela? -A senhora fez que sim e escorregou na cadeira.

-Por que afinal você acha que ela insistiu tanto em ajudar? Porque foi culpa dela, simples assim. -Ela bateu a bengala no chão, e deu de ombros como se não fosse nada importante.

Hoseok olhou para mim, como que perguntando se era verdade. Eu apenas concordei, antes eu ainda tinha dúvidas, mas agora era uma certeza.

-Eu não estou me sentindo bem...-Ele se sentou na bancada -Então...É tudo confuso.

-Na verdade é simples querido -Ela bateu com a bengala na perna dele -Se você não entendeu é retardado.

Ele fez uma expressão chocada mas ficou em silêncio.

-E você, querida -Ela quase enfiou a bengala nos meus olhos -Qualquer coisa pode me perguntar, mas antes, sua mãe me pediu para passar um recado que ela escreveu  caso não sobrevivesse.

Ela colocou a mão na bolsa e tirou um pequeno papel dobrado.

Eu peguei delicadamente e comecei a ler, a caligrafia era mesmo a dela.

"Querida, S/N, se você está lendo isso eu faleci antes de te encontrar...Espero que você possa me perdoar, pois sozinha eu já me culpo demais. Eu agi errado, mas leve em consideração que eu sofri uma grande pressão antes de te entregar, e não dormi por meses, estou imensamente arrependida. Não espero que você volte a me amar, mas pelo menos, não me odeie, porque eu nunca deixei de te amar, mesmo que os momentos fossem difíceis e eu não conseguisse demonstrar, você sempre esteve no meu coração, é uma pena eu não ter dito isso antes.

Ass, 

       Mamãe."

Enquanto eu lia a carta meu corpo começou a tremer e quando terminei eu percebi que estava chorando. Minha mãe...Ela não me odiava, ela havia morrido para me salvar, e eu nunca poderia agradecê-la por pelo menos tentar, eu não poderia dizer que não a odiava também.

Hoseok me abraçou e deixou que eu chorasse em seu peito por algum tempo. Era bom, apesar de tudo, ter algum familiar para compartilhar da minha dor.

-Vocês são todos tão sentimentais -A avó comentou revirando os olhos -Não vão sobreviver até o final desse jeito, que geração mais chorona.

-Vovó, a senhora não quer ir para o quarto? -Ele perguntou cansando-se dela.

-Claro, estou exausta da viagem...Jimin, pode levar minhas malas por favor? -Ele concordou e pegou as bagagens, levando para o andar de cima.

-Sinto muito por ela, acredite, ela só fala por bem. -Hoseok disse antes de ir embora também.

Decidi ir até o refeitório para ficar sozinha mais um pouco, o silêncio seria ótimo, já estava sendo informação demais para uma manhã. Mas no meio do caminho eu encontrei Yoongi, e soube que as confusões ainda não haviam acabado.

Ele me cumprimentou e eu sorri ajeitando a camiseta do pai do Jungkook no meu corpo.

-E aí? Quais as novidades? -Perguntou começando a caminhar comigo de forma espontânea como se já estivesse assim a muito tempo.

-Bem, eu sou prima do Hoseok e avó dele é estranha. -Ele riu, mas ao perceber que eu me mantive séria ele voltou ao normal -Está falando sério? Como assim?

-Longa história...Minha mãe morreu e -Eu balancei a cabeça para afastar os maus pensamentos -Eu não quero falar disso, se não se importar.

Entramos no refeitório e nos sentamos no chão de frente um para o outro.

-Sobre o que quer falar então? -Ele debruçou sobre a mesa olhando nos meus olhos e eu fiquei em dúvida se deveria ou não perguntar sobre o que Taehyung havia falado, mas como sempre, a curiosidade foi mais forte.

-Bem, eu estava conversando com o Taehyung e ele disse algo sobre você estar querendo preencher um vazio. -Ele fechou a cara e bufou.

-É óbvio que falou...-Ele murmurou olhando para o nada e eu me tornei rígida.

-O que ele quis dizer? Confesso que fiquei um pouco confusa...Ele do nada disse que você não me amava e que só queria preencher um vazio.

Ele estava claramente e irritado, e sei quer olhava nos meus olhos.

-Isso é mentira, eu não tenho que preencher um vazio. 

-Então você me ama? -Eu perguntei apenas para provocar, mal nos conhecíamos, e uma coisa desse nível demora muito para surgir.

-Não, ainda não, óbvio -Ele baixou o olhar e ficou vermelho -Eu sei que não lutei por você, sei que eu não fiz nada para te merecer. Mas eu quero fazer, eu quero por mérito próprio, não por ser mais rápido, quero que o mundo nos queira juntos...Então, pode esquecer aquele beijo? Vamos recomeçar do zero.

Eu sorri e segurei a mão dele que finalmente me olhou nos olhos.

-Eu adorei essa ideia, Yoongi. -Ele riu aliviado.

-Caramba, eu fiquei realmente nervoso. -Ele apoiou a cabeça na mesa e entrelaçou os dedos nos meus.

Bem que eu queria que tudo fosse assim, que se pudesse simplesmente recomeçar do zero quando as coisas não saíssem como se esperava.

A porta do refeitório se abriu bruscamente a Jiho entrou puxando Taehyung pela gola.

-Ótimo! Vocês já estão aqui -Ela o jogou no chão -Hora de organizar as coisas...Todos calados, deixem que eu falo. -Fechou a porta e se sentou na ponta da mesa nos olhando com um sorriso doce. Será que eu nunca teria descanso?